JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Dignitatis Humanae e Nostra Aetate - Escrito por José Luís. Publicado em Catequese

 

A unidade religiosa e o respeito pelas diferenças

Ao longo dos últimos quatro meses, apresentamos nesta secção as quatro constituições dogmáticas do Concílio Vaticano II. Elas são como que uma árvore, para fazer memória às palavras de D. Manuel de Almeida Trindade, bispo emérito de Aveiro, sobre o Concílio: «o tronco é a Igreja na sua constituição essencial: luz das gentes (Lumen Gentium). As raízes são a Sagrada Escritura (fonte constitutiva) e as Tradições (fonte interpretativa): Dei Verbum. A seiva é a Oração (de modo particular a Liturgia) que mantém vivo o tronco: Sacrosanctum Concilium. A casca é o contacto da Igreja com o mundo, do qual ela deve constituir a Alegria e a Esperança (Gaudium et Spes).»

Na presente edição entramos num novo espaço, as declarações e os decretos, que abordam assuntos importantes, mas não são essenciais. São como que ramificações das constituições. Vamos iniciar conhecendo as declarações sobre a liberdade religiosa (Dignitatis Humanae) e sobre o diálogo inter-religioso (Nostra Aetate), duas das três constituições. No mês de Julho analisaremos a terceira, sobre a educação cristã (Gravissimun Educationis).

A Dignitatis Humanae (DH) foi um dos textos mais discutidos e alterados do Concílio. Isso deve-se ao delicado tema que aborda, mas principalmente à grande transformação de mentalidade que trouxe. Ela contribuiu de forma decisiva para a mudança de atitude e superação de uma visão tradicional do magistério relativamente às outras tradições religiosas, passando a ver-se o lado positivo das religiões não cristãs. Representa a revisão da teoria de exclusividade da verdade que serviu para justificar séculos de intolerância. Os princípios expostos neste documento constituem um pressuposto essencial e estruturante para a dinâmica ecuménica e inter-religiosa concretizada pela Igreja nos anos posteriores.

O primeiro capítulo da constituição trata dos aspectos gerais da liberdade religiosa. Logo no segundo parágrafo afirma: «o Concílio declara que a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa». Cada um tem o direito de procurar a verdade em matéria religiosa de modo a formar juízos de consciência rectos e verdadeiros. Nenhum indivíduo ou comunidade religiosa deve ser coagido por qualquer pessoa ou grupo. Em muitos países vemos estes direitos desrespeitados, quer seja por parte dos cristãos, quer por parte de outras religiões. O documento chama a atenção para o papel do governo civil na garantia destes direitos. Ele deve garantir e promover a liberdade religiosa, que está também associada à responsabilidade social, segundo a DH 8.

No segundo capítulo, a temática da liberdade religiosa é abordada à luz da revelação. Aí está expresso o princípio teológico de que a resposta à revelação é sempre um acto livre e pessoal. A fé é esta resposta e por isso pode ter muitas variantes. Enfatiza, porém, que a Igreja Católica segue o caminho de Cristo na promoção da paz e da liberdade e que os cristãos devem dar exemplo de respeito pela liberdade religiosa.

Assim como as constituições analisadas mostram uma grande abertura e diálogo da Igreja com o mundo moderno, aqui vemos a abertura ao diálogo com as outras religiões, que fica ainda mais claro nos decretos Orientalium Ecclesiarum e Unitatis Redintegratio, sobre o ecumenismo (que veremos em Dezembro), e na Nostrae Aetate, sobre a relação com as religiões não cristãs. Este é o menor dos documento do Vaticano II, com apenas cinco números, e foi aprovado com 1763 votos a favor, 250 contra e 10 nulos.

A Nostrae Aetate (NA) inicia com a reflexão de que em todos os povos e em todos os tempos há uma busca da Divindade Suprema, o Absoluto, e todas as religiões têm algo em comum, pois buscam respostas para questões existenciais da condição humana: Que é o homem? Qual é o sentido e o fim da vida? Qual é o caminho para chegar à felicidade? Etc.

Depois segue com uma breve descrição do hinduísmo (NA 2), do budismo (NA 2), do islamismo (NA 3) e do judaísmo (NA 4). A nova relação com os judeus foi decisiva para a origem da presente declaração. O teólogo Faustino Teixeira afirma que o encontro de João XXIII com Jules Isaac, historiador judeu, em Junho de 1960, foi um momento importante na génese do documento. «Isaac sensibilizara-se com o gesto de João XXIII de abolir em 1959 as fórmulas negativas presentes no ritual romano sobre os judeus e muçulmanos, até então definidos como "pérfidos". Até ao memorável encontro não estava nos planos do Papa a previsão de uma reflexão do concílio sobre o tema do judaísmo e do anti-semitismo e muito menos de um documento sobre as outras religiões.»

A conclusão da Nostrae Aetate convoca todos para promoverem o diálogo fraterno e o mútuo conhecimento e estima, e afirma que a Igreja reprova qualquer tipo de discriminação e perseguição. Introduziu uma significativa mudança na forma de tratamento, passando a vigorar o respeito e o acolhimento.

Este documento carece de bases doutrinais e perspectivas teológicas mais aprofundadas, mas adequa-se perfeitamente ao espírito pastoral do Concílio, traduzindo uma visão mais aberta sobre o mundo e mais optimista em relação à dinâmica da salvação. Neste sentido, conseguiu promover uma mudança de perspectiva, conduzindo à compreensão, à estima, ao diálogo e à mútua cooperação.

Até ao Concílio era muito forte a visão medieval de que "fora da Igreja não há salvação". O Vaticano II não retoma esta afirmação, mas também não a nega. Mantendo a convicção da centralidade de Cristo na História da Salvação, reconhece o valor e os elementos positivos das religiões. Antes via-se as outras religiões como obstáculo a vencer. Agora abre-se espaço ao diálogo, adoptando-se as perspectivas da praeparatio evangelica - no plano da pedagogia divina as outras religiões são situadas como preparação ao Evangelho. Há no documento muita cautela: não assume o valor salvífico das outras religiões, mas respeita a parcela de verdade presente em cada uma delas.

Os documentos conciliares foram o ponto de partida necessário para promover o diálogo e o respeito cada vez mais necessário e exigido no mundo actual composto por cerca de 2,1 biliões de cristãos, 1,3 biliões de muçulmanos, 900 milhões de hindus, 400 milhões de seguidores das religiões tradicionais chinesas, 380 milhões de budistas, 23 milhões de siques e 15 milhões de judeus. Para nos motivarmos ainda mais ao diálogo, concluímos recordando as palavras do teólogo dominicano francês Claude Geffré: «um diálogo bem conduzido leva à maior estima e consideração da própria identidade, a ponto de sublinhar melhor a originalidade. O diálogo inter-religioso deve ser considerado como autêntico sinal de esperança, como uma conversão espiritual e uma cumplicidade entre as grandes tradições religiosas.»

http://www.abcdacatequese.com/index.php/evangelizacao/catequese/403...

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