JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Lições da Guerra Escrito por Miriam Sanger da Conexão Israel

 

Certa manhã, me espanto com a cena matutina: dois de meus vizinhos me disseram bom dia. E com sorriso. E com amabilidade. E não se dirigiram a mim exclusivamente para reclamar de alguma calamidade que eu tenha cometido, como acariciar gatos na entrada do prédio e, assim, “convidá-los” a ficar, segundo a visão de uma psicóloga de plantão do segundo andar. E de onde vem toda essa amabilidade?

Da guerra.

A corrida aos bunkers, que em Raanana se repetiu três vezes até agora e perde feio para as cidades do Sul, que alardeia seus cidadãos a correr para o abrigo dezenas de vezes por dia, tem provocado esse fenômeno de extrema simpatia entre israelenses. Não digo isso baseada apenas na minha impressão de imigrante – até mesmo meu namorado, israelense da gema, se espanta com a incrível onda de doçura que, nesses tempos tensos, se espalha pela população.

Essa semana foi aberta, por aqui, com sirene no meio da tarde. Estava com minha família no shopping da suburbana Raanana. De repente, ouvimos vozes no alto-falante, o balconista da loja onde estávamos recolhe os produtos que estávamos analisando sobre o balcão, e sussurra: agora vamos para o abrigo, aval bli lachatz, bli lachatz (mas sem estresse, sem estresse). Confesso que abri um sorriso ao ver o moço – que até o momento nos tratava com respostas monossilábicas como geralmente faz uma boa parcela da população israelense, que nasceu com estoque zerado de paciência – nos sugerir algo com delicadeza e ainda aconselhando-nos calma. Ficamos sob as escadas de emergência por uns 10 minutos. Minha mãe em silêncio, minhas sobrinhas abraçando a prima mais velha, todos os demais conversando animadamente ou consultando seus smartphones. Ouvimos um bum-bum ao longe. Pensei no post do Facebook que dizia “antes bum-bum ao longe (som do escudo antiaéreo) do que um pum bem pertinho (bomba acertando algum alvo)”. Saímos ilesos e, incrível!, não fomos atropelados pela multidão impaciente, como aconteceria normalmente em qualquer, qualquer outra situação.

Guerra é uma experiência muito didática, e ensina os israelenses a fazer fila.

Para mim, inocente que acredita que tudo sempre acaba bem, a parte mais difícil dessa guerra é lidar com tudo o que envolve o mundo das notícias. Em primeiro lugar, a preocupação manifestada pelos amigos. Adoro vê-los atentos ao meu mundo, mas fico sempre achando que não importa a resposta que dê, a mídia sensacionalista e parcial fará um trabalho melhor que o meu. Então me sinto sempre um tanto ridícula dizendo a verdade – estamos bem, protegidos e bem instruídos. Assim, comecei a dar respostas mais informativas – a sirene tem tocado, mas o escudo cumpre com excelência seu papel. Pelo tom das mensagens, de forma geral, vejo que não tem jeito: moro num país opressor, provocador e que se distrai matando criancinhas palestinas. Mas entendo. Mídia, essa vilã poderosa, pinta o cenário com as cores que quer.

E a guerra mostra que, mesmo em casos de autodefesa, não sabemos explicar ao mundo o que de fato acontece aqui.

Outro aspecto da notícia, e esse sim me assusta, são os boatos. Cumprem bem sua função, pois percebo, pelo Facebook e pelo Whatsapp, como eles nos desestabilizam. Vira e mexe, circulam as correntes que chegam até mim sem que eu peça. Tento não dar atenção até que se confirme, mas há como? Eu viajaria ontem para Jerusalém com minha família. Daí, sou avisada que justamente na hora em que estaríamos na estrada, Israel faria uma grande ofensiva em Gaza, com possível repercussão. Cancelamos. Meia hora depois, soube que era boato. Mas quem tem coração para voltar atrás e ir para Jerusalém? Eu não tive. Minha família volta para o Brasil sem ter cumprido o desejo de fazer repeteco na cidade sagrada e vamos jantar no concorrido Porto de Tel Aviv, em restaurantes às moscas e com os olhos voltados para o céu.

Tudo agora indica que, felizmente, haverá cessar-fogo em breve. Não é surpresa nenhuma para ninguém, pois a história se repete sempre, intocável, precisa: o Hamas passa meses lançando seus foguetes sobre a população no sul de Israel, até que toma fôlego e intensifica a chuva de mísseis; o escudo antiaéreo israelense funciona (e cada tiro dele custa 50 mil dólares a Israel), Israel arma uma ofensiva pra dar uma limpa nos estoques de armas do Hamas, o mundo grita em nossas orelhas por sermos malvados e atingirmos em cheio o escudo humano palestino – a arma da vez em Gaza. Daí eles pedem cessar-fogo, divulgam na mídia faminta fotos de mortos da guerra da Síria e a autoridade palestina não toma atitude nenhuma contra os terroristas que usam suas terras como base de operação e sua gente como uniforme de proteção.

E de novo aprendemos, com a guerra, que ela não faz nenhum sentido.

Foto de destaque: http://www.historama.com/online-resources/history-collecting-resour...

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