Todas as Discussões Marcadas 'Pais' - JUDAISMO HUMANISTA2024-03-29T07:25:12Zhttp://judaismohumanista.ning.com/group/nucleodeadolescentesjudeushumanistas/forum/topic/listForTag?tag=Pais&feed=yes&xn_auth=noPirkê Avot – Ética dos Pais - Os Oito Capítulos - A busca pelo equilíbrio Rodrigo Bersottag:judaismohumanista.ning.com,2012-02-03:3531236:Topic:663172012-02-03T17:04:14.253ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<h3 align="left" id="sites-page-title-header"> </h3>
<div class="sites-canvas-main" id="sites-canvas-main"><div id="sites-canvas-main-content"><div class="sites-layout-name-two-column-hf sites-layout-vbox"><table cellspacing="0" class="sites-layout-hbox">
<tbody><tr><td class="sites-layout-tile sites-tile-name-content-1"><div dir="ltr"><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><font face="georgia,serif" size="6">U</font>m dos…</span></p>
</div>
</td>
</tr>
</tbody>
</table>
</div>
</div>
</div>
<h3 id="sites-page-title-header" align="left"> </h3>
<div id="sites-canvas-main" class="sites-canvas-main"><div id="sites-canvas-main-content"><div class="sites-layout-name-two-column-hf sites-layout-vbox"><table class="sites-layout-hbox" cellspacing="0">
<tbody><tr><td class="sites-layout-tile sites-tile-name-content-1"><div dir="ltr"><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><font size="6" face="georgia,serif">U</font>m dos textos mais estudados e comentados da literatura talmúdica é, sem dúvida Pirkei Avot, ou Ética dos Pais, como é conhecido em Português. A explicação para tamanha popularidade talvez resida no fato de ser um texto extremamente simples e com conselhos práticos. Outro fator que pode explicar seu sucesso está no fato de ser uma obra incomum, pois apresenta sinteticamente os ensinamentos dos sábios de várias gerações. Seu texto pode ser encontrado num Sidur completo.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Apesar de sua simplicidade, é um tratado que dá margem à diversificadas e profundas interpretações. A obra mais completa sobre Pirkei Avot em Português pode ser encontrada no livro <em>A ética do Sinai</em>, da editora Sêfer. Lá o autor Irving M. Bunim dá diversas interpretações de vários sábios judeus durante a história, além de introduzir seu próprio parecer.</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><font size="4"><em>"'Mesmo sendo este tratado pequeno e de fácil compreensão na superfície, agir de acordo com o seu conteúdo não é fácil para todos, nem suas intenções compreensíveis, sem uma explicação detalhada'."</em></font></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">O livro em estudo (<em>Os oito capítulos</em>, editora Maayanot) trata-se de uma introdução ao Pirkei Avot feita por Moshê Ben Maimon, mais conhecido como Maimônides ou RAMBAM no meio judaico. Com explicações sobre a alma, Maimônides ensina os pré-requisitos para cumprir os ensinamentos éticos do tratado, através da conduta moral. Segundo o próprio autor "mesmo sendo este tratado pequeno e de fácil compreensão na superfície, agir de acordo com o seu conteúdo não é fácil para todos, nem suas intenções compreensíveis, sem uma explicação detalhada. No entanto, leva à grande perfeição e à verdadeira felicidade".</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Esta introdução foi escrita por Maimônides em oito capítulos. Segundo o autor os ensinamentos contidos neles podem despertar o indivíduo a tomar uma nova postura de vida pautada na busca pelo Conhecimento Divino, que seria, ainda segundo o autor, o objetivo principal dos que se guiam pelos ensinamentos da Torá.</span></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Recomendamos a leitura de todos os oito capítulos, pois encerram em si séculos de uma profunda sabedoria.</span></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Neste artigo nos limitaremos a apresentar uma resenha do quarto capítulo, onde há uma interessante discussão sobre a virtude e o vício. Entretanto, a leitura de todos os oito capítulos é de fundamental importância para o pleno entendimento das ideias do filósofo.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><em><strong>Capítulo 4</strong></em></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><em>Sobre o tratamento das doenças da alma</em></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Neste capítulo, Maimônides aborda a questão da alma de uma maneira mais prática. Como um médico, ensinará como é possível melhorar as ações, para que se possa livrar-se dos excessos e das faltas. Para tal, definirá quais são as virtudes da alma, introduzindo o conceito do equilíbrio. Bom é aquilo que se situa entre o exagero e a escassez. Esse equilíbrio vale para todas as ações.</span></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana;"><font size="4"><em>"A virtude pode ser definida como uma característica resultante do estado de equilíbrio da alma."</em></font></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Assim, diz RAMBAM, são ruins todos os extremos: tanto o excesso quanto a deficiência. Dessa forma a virtude pode ser definida como uma característica resultante do estado de equilíbrio da alma. O primeiro exemplo dado por Maimônides refere-se à moderação. Esta é a virtude que se encontra entre os extremos da luxúria e da insensibilidade ao prazer. Esses dois extremos são, nos dizeres do sábio, "vícios morais".</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">RAMBAM dá outros exemplos. Para melhor vizualizá-los utilizamos aqui uma tabela:</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"> </p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div align="center"><div align="center"><table style="border-width: 1px; border-color: #888888; text-align: center; border-collapse: collapse;" border="1" cellspacing="0">
<tbody><tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444"><strong>DEFICIÊNCIA</strong></font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444"><strong>VIRTUDE</strong></font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444"><strong>EXCESSO</strong></font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">insensibilidade</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">moderação</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">luxúria</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">avareza</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">generosidade</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">extravagância</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">degradação</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">amor próprio</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">altivez</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">apatia</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">agrado</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">irritabilidade</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">rebaixamento</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">humildade</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">orgulho</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">preguiça</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">contentamento</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">ganância</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">coração ruim</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">bom coração<strong>*</strong></font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">coração muito bom<strong>**</strong></font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">insensibilidade</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">paciência</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">raiva</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">timidez</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">modestia</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">impudência</font></p>
</td>
</tr>
</tbody>
</table>
</div>
</div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><strong>*</strong> "(...) a pessoa de bom coração é aquela que tem toda a intenção de fazer o bem para as pessoas (...) sem ferir ou envergonhar a si própria: este sim é o equilíbrio." (p.24)</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><strong>**</strong> "O de coração muito bom é quem faz as coisas descritas acima, com bom coração, mesmo que o prejudique ou envergonhe ou tenha de fazer muito esforço e tenha grande prejuízo com isto, este é o outro extremo." (p.24)</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><em>A origem dos vícios morais</em></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Maimônides diagnostica a forma como esses vícios morais enraizam-se na alma, e, como consequencia, manifestam-se na prática. Segundo ele, todos esses vícios são fruto de uma repetição de uma ação referente a um hábito, em um longo período de tempo.</span></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana;"><font size="4"><em>"O meio familiar e social em que uma criança cresce faz com que ela se acostume às ações desse meio, que podem estar equilibradas, ou no excesso ou deficiência."</em></font></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"> </div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><table class="sites-layout-hbox" cellspacing="0">
<tbody><tr><td class="sites-layout-tile sites-tile-name-content-2"><div dir="ltr"><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Assim, podemos constatar que Maimônides, em sua filosofia, rejeita a teoria determinista. Ao contrário, afirma que os seres humanos são plenamente livres nas suas escolhas e formação moral. Apesar disso, relativiza a questão ao afirmar que o meio familiar e social em que uma criança cresce faz com que ela se acostume às ações desse meio, que podem estar equilibradas, ou no excesso ou deficiência (veja o quadro acima). O livre-arbítrio estaria, portanto, numa fase em que o indivíduo escolhesse continuar a viver da forma em que está acostumado ou buscasse outro caminho<em>.<span> </span></em></span></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><span><font size="4"><em>"<span style="font-family: Verdana;">Repetição - eis a chave da questão para Maimônides"</span></em></font></span></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Repetição - eis a chave da questão para Maimônides. Somente através dessa é que adquire-se, ao longo da vida, virtudes ou vícios morais, que estarão "firmemente estabelecidos na alma" até que haja um interesse de mudança.</span></p>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><em>O tratamento dos vícios morais</em></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Mais uma vez, Maimônides recorre à analogia com sua profissão - a medicina - para explicar o imaterial.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">O corpo humano necessita de equilíbrio para manter-se saudável. Tudo o que está em excesso no organismo deve ser reduzido, e o que está insuficiente deve ser suprido. Utilizemos um exemplo moderno e de fácil assimilação para entendermos o que RAMBAM quer nos dizer: a vitamina A. Todos nós necessitamos dela. O equilíbrio desta substância no organismo, entre outros efeitos, permite que ela combata os radicais livres, que são os responsáveis pelo envelhecimento. Um organismo, porém, que não possui quantidade suficiente estará sujeito a diversas doenças, como visão deficiente à noite, sensibilidade à luz, redução do olfato e do paladar, ressecamento e infecção na pele e nas mucosas, estresse, etc. Da mesma maneira, o excesso de vitamina A no sangue pode trazer sérias complicações (pele seca, áspera e descamativa, fissuras nos lábios, ceratose folicular, dores ósseas e articulares, dores de cabeça, tonturas e náuseas, queda de cabelos, entre outras moléstias).</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Uma pessoa que não possui a quantidade sificiente da vitamina no corpo, não poderá simplesmente ingerir a mesma porção da substância que uma pessoa normal. Provavelmente terá que tomar um suplemento.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">É neste ponto que a comparação se torna interessante. Para sanar os vícios da alma, deve-se aplicar tratamente semelhante. Se, por exemplo, um indivíduo está habituado com a prodigalidade, a extravagância, o tratamento que deve ser aplicado a ele não é outro senão tomar atitudes avarentas. Não pode simplesmente praticar atos generosos. Deve buscar o oposto ao vício. Do contrário, nunca conseguirá se livrar dessas atitudes extravagantes.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana;"><span><font size="4"><em>"É mais fácil para o indivíduo se virar da extravagência para a generosidade, do que da avareza para a generosidade."</em></font></span></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">O oposto também é válido. Se está habituado a ter atitudes avarentas, só conseguirá chegar ao equilíbrio - a generosidade - quando repetidamente tomar atitudes extravagantes. Uma ressalva é feita, porém: não se deve fazer o indivíduo repetir ações de avareza tanto quanto de extravagância. Segundo o sábio "esta sutileza é a regra da terapia, e é o seu segredo." E isto é facilmente compreendido: é mais fácil para o indivíduo se virar da extravagência para a generosidade, do que da avareza para a generosidade. Isto também é válido para as outras ações da alma, como a luxúria. Para tratar um indivíduo insensível não se deve estimulá-lo tanto quanto se deve fazer um indivíduo com luxúria praticar a insensibilidade, pois, novamente, é mais fácil um indivíduo passar do estágio da insensibilidade para o estágio da moderação, do que passar do estágio da luxúria para o da moderação.</span></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><span><font size="4"><em>"</em></font><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><font size="4"><em>A Torá, segundo a tradição judaica, é perfeita e conforta a alma. Assim, exige dos que a cumprem que tenham uma vida equilibrada, seguindo a moderação e evitando os extremos."</em></font></span></span></span></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">RAMBAM segue esclarecendo um tipo de comportamento trilhado pelos piedosos, ao fazerem mais do que a Lei pede, e, portanto, se inclinando para o excesso ou deficiência. Desta forma, inclinam-se à generosidade excessiva, por exemplo. Ao ver este comportamento, os ignorantes pensam que estarão sendo piedosos se também se comportarem de tal forma. O que eles não consioderam é que essa inclinação ao excesso ou deficiência faz parte do tratamento do caráter desses sábios, e que, portanto, não são comportamentos comuns, que devem ser imitados pelas pessoas de alma saudável. É como se alguém visse o médico aplicar um remédio a um doente e pensasse que este remédio poderia aumentar sua saúde, o que é absurdo.</span></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-family: Verdana;"><font size="4"><em>"O mais alto nível que um ser humano pode alcaçar viria quando este avaliasse suas ações e pensamentos e os dirigisse de acordo com o equilíbrio da Torá. Ao atingir este estágio, estaria perto do Criador."</em></font></span></span></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">A Torá, segundo a tradição judaica, é perfeita e conforta a alma. Assim, exige dos que a cumprem que tenham uma vida equilibrada, seguindo a moderação e evitando os extremos. Segundo o autor todos os mandamentos ajudam a trilhar esse caminho da moderação.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">O mais alto nível que um ser humano pode alcaçar viria quando este avaliasse suas ações e pensamentos e os dirigisse de acordo com o equilíbrio da Torá. Ao atingir este estágio, estaria perto do Criador. No final do capítulo Maimônides faz uma citação taxativa: "Todo aquele que avalia o seus caminhos e os observa, merece a salvação do Todo-Poderoso."</span></p>
</div>
</td>
</tr>
</tbody>
</table>
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</div> Educação e Talmud - uma Releitura da Ética dos Pais Ana Szpiczkowski*tag:judaismohumanista.ning.com,2011-12-15:3531236:Topic:641512011-12-15T21:42:00.434ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Antes de dar início a esta explanação sobre judaísmo e educação, proposta deste encontro, gostaria de iniciar com a retomada de alguns princípios básicos judaicos, sustentáculos que facilitam a compreensão desta religião e dos princípios que regem a vida de um dos povos mais antigos da história da humanidade e que permanece vivo até os dias de hoje.</p>
<p>A Torá (Bíblia), base do judaísmo histórico, é a religião do povo judeu que, em conjunto com os preceitos da Halakhá (Lei Rabínica),…</p>
<p>Antes de dar início a esta explanação sobre judaísmo e educação, proposta deste encontro, gostaria de iniciar com a retomada de alguns princípios básicos judaicos, sustentáculos que facilitam a compreensão desta religião e dos princípios que regem a vida de um dos povos mais antigos da história da humanidade e que permanece vivo até os dias de hoje.</p>
<p>A Torá (Bíblia), base do judaísmo histórico, é a religião do povo judeu que, em conjunto com os preceitos da Halakhá (Lei Rabínica), contidos no Talmud (Lei Oral), e das Mitsvót, (regras de conduta obrigatória, de essência divina) são entendidas como um todo indissociável, partindo, portanto, do princípio de que ambas foram transmitidas por Deus a Moisés.</p>
<p>Nesta concepção se encontra o dogma fundamental e único do judaísmo, segundo o qual, a revelação divina tem duas vertentes: uma escrita e outra oral que não são nada mais que dois aspectos da mesma Lei, transmitida a Moisés no Monte Sinai. A aceitação desde dogma é de tal importância, a ponto de que o próprio Maimônides [1] , em seus escritos, se refere à importância do homem escolher para sua moradia um lugar onde a Lei Escrita e a Lei Oral sejam estudadas, para preservar a manutenção dos estudos e de sua conseqüente prática.</p>
<p>O judaísmo é constituído pela memória de gerações, em que os mais velhos têm a obrigação de transmitir os conhecimentos para os mais novos. Tal fato, por si só, demonstra a importância que se atribui no judaísmo à questão do ensino e da educação de um modo geral. Encontramos na própria Bíblia, em Deuteronômio [2] uma alusão à importância do recebimento e da transmissão de conhecimentos por herança. Também Maimônides, em seus mandamentos, afirma o dever de ensinar e estudar a Torá e o de honrar os eruditos e idosos que nela são versados.</p>
<p>Na realidade, esta iniciação deve se dar desde a mais tenra idade, pela repetição de alguns versículos bíblicos, cabendo ao pai a responsabilidade por esta tarefa. Em seguida, a criança de três anos é encaminhada ao Heder, instituição característica da educação judaica tradicional no este europeu, destinada a ensinar às crianças a prática religiosa judaica e da língua hebraica.</p>
<p>A partir da idade de seis ou sete anos, este estudo poderá ser confiado a um professor, que receberá remuneração por seu trabalho. Em toda cidade deverá haver um professor de crianças, cuja importância equivale à de um médico, assim como de uma sinagoga e de um tribunal rabínico, sob pena de ser colocada no ostracismo. Finalmente, as crianças não devem interromper os estudos por motivo algum, por mais importante que este possa ser.</p>
<p>Estudar a Torá representa usar a sabedoria e a inteligência com a finalidade de levar uma vida digna e justa. Envolve o cumprimento, a ação, a prática da vontade de Deus, em que a fé e a Lei devem caminhar em perfeita sintonia.</p>
<p>A questão das ações associadas à sabedoria é tratada também por Abrabanel [3] , quando este atribui à palavra “sabedoria” o sentido de pensamento filosófico, e à palavra “ações”, o fato de seguir os caminhos da Torá. Assim, mesmo que a ciência do homem seja grande, mesmo que os resultados de suas investigações sejam muitos, toda essa sabedoria será frágil, se a raiz estendida pela Torá for pequena. Ao contrário, aquele que escolhe como base de reflexão e de investigação a palavra revelada por Deus, se prende a esta revelação e atua em sua vida de acordo com ela. Este homem se parece à árvore que tem poucos ramos e muitas raízes e, como tal, resiste a todas as tempestades. Mesmo que todos os ateus e os incrédulos do mundo o assaltem, não conseguirão alterar suas firmes convicções.</p>
<p>A prática da educação no judaísmo, entretanto, vai além do puro e simples acompanhamento dos princípios religiosos judaicos. Ela visa ao desenvolvimento do ser humano como um todo, em suas facetas intelectual, emocional, comportamental e moral, e propõe uma prática voltada a todas as atitudes do indivíduo, no seu dia a dia, desde as mais simples até aquelas consideradas mais complexas e difíceis de lidar.</p>
<p>Um dos líderes religiosos judaicos mais respeitados do séc. XX, Rabi Schneerson, mais conhecido como Rebe de Lubavitch, afirma que para atingir bons resultados em educação é preciso ir além do ensino relacionado ao desenvolvimento da capacidade cognitiva dos educandos. A verdadeira educação, segundo o citado Rabi, ocorre, principalmente, quando acompanhada pela responsabilidade, ponderação, firmeza, paciência e polidez do educador. Preocupa-se com a formação do homem como um todo, com respeito à sua verdadeira essência e caráter, à sua situação e ao ambiente no qual o mesmo se insere, com um grau de responsabilidade que vai além da simples transmissão de conhecimentos. Envolve respeito pelo ser humano que está ali, ávido por receber novos conhecimentos, e que merece receber mais. Sua base consiste no cumprimento humilde de um dever de educar a nova geração, também adquirida das gerações anteriores. Trata-se da manifestação do cuidado pelo outro, Akher, em hebraico. Por sinal, é possível estabelecer uma relação entre esta palavra Akher – outro - e o termo Akhraiut – responsabilidade. Ambas, na língua hebraica, partem do mesmo radical e representam, como afirma Lévinas, uma das mais importantes premissas educacionais, que é a de manifestação do cuidado e responsabilidade para consigo mesmo e pelo outro, tema-chave do pensamento filosófico, teológico, político e pedagógico/antropológico do séc. XX. A necessidade de convivência, e da aceitação das pessoas pela coletividade e pela sociedade em que se inserem, implica no estabelecimento de regras que sejam aceitas convencionalmente e que normalizem esta coexistência.</p>
<p>Desta necessidade de regras para a convivência em sociedade nasce a moral. Moral difere de ética, embora a ética inclua a moral. Enquanto a moral consiste em um conjunto de hábitos e costumes formados por acúmulo de experiência ou pela preservação das tradições, a ética diz respeito ao exercício individual diante de questões, em função de algum critério pessoal. Nas construções de normas morais estão incutidos conceitos de ética para tornar possível à convivência humana. Estes representam, desde a Antigüidade até os dias de hoje, a preocupação da civilização ocidental e do homem como indivíduo, em vincular o ser humano ao seu modo de ser e agir e ao modo de ser e agir do próximo, com vistas à universalidade e à criação e adoção de regras e normas de convivência em sociedade, independentemente das diferenças setoriais, geográficas e históricas.</p>
<p>A moral não ensina ao indivíduo como ser feliz. Para ser feliz é preciso, antes de tudo, que o ser humano busque dentro de si, e decida se quer ou não cumprir aquilo que a moral exige.</p>
<p>Há momentos em que a moral, por ser universal, se torna repressiva para a auto-realização do ser humano enquanto individualidade. Há mesmo situações de conflitos, em que temos que optar por uma conduta que representa o que queremos e uma conduta que nos é moralmente imposta.</p>
<p>Grande parte das normas morais tem como fonte a Bíblia. Embora a ética não seja necessariamente religiosa, a religião necessita da ética. Todas as religiões se fundamentam em princípios éticos. O mundo da religião é o mundo da crença. Ao delimitarmos nossas crenças delimitamos nossa ação.</p>
<p>No judaísmo, a atribuição da Bíblia a Deus, faz com que a moral e a ética se tornem muito próximas. Trata-se de uma moral que emana de Deus, não do ser humano. A moral é feita por mandamentos, aos quais o judeu deve cumprir de tal maneira, a exercitar e aprender a perder a sua própria vontade para chegar a aprender a vontade divina.</p>
<p>A unidade do povo judeu na Antigüidade se dava não em relação a um território, mas à sua história seqüencial, relatada e escrita em um livro, “O Livro”, a Bíblia.</p>
<p>O grande personagem da Bíblia não ó povo judeu, mas é Deus. A obra de Deus é perfeita, e nela está o paraíso. A queda do paraíso se deu em conseqüência da curiosidade pelo conhecimento do homem e da mulher.</p>
<p>Deus impõe sua moral ao seu povo, trazendo não apenas a visão do paraíso, mas também da perda, da decadência e da punição, como um destino a ser suportado, sofrido e resgatado.</p>
<p>A ética judaica consiste em obedecer ao código moral, ao sistema de mandamentos divinos, definidos por Maimônides como positivos e negativos. Mas ela vai além. O próprio Maimônides em sua obra “O Guia dos Perplexos” [4] refere-se à questão de que o homem foi criado à imagem de Deus [5] , semelhança espiritual e não física, em que Deus insuflou no homem seu próprio espírito. Isto significa que todos os homens foram igualados pelo recebimento do espírito divino e possuem possibilidades iguais de convivência e desenvolvimento na sociedade em que vivem, independentemente de sua cor, estatura, nacionalidade, religião, cultura e demais características. Para que isto ocorra é preciso, pois, que o ser humano pratique o princípio de “amarás a teu próximo como a ti mesmo...” [6] , conforme consta em Levítico.</p>
<p>Na filosofia judaica clássica existem diferentes teorias éticas, das quais chamo a atenção para um tratado ético judaico, parte do Talmud, e que representou um marco para a sociedade aristocrática da época, desde 300 a.C. até 200 d.C. Consiste em um tratado que contém toda uma coleção de ditos e sentenças dos “pais”, os Sábios de Israel, de caráter fundamentalmente ético que representa não um código de valores e normas, mas uma série de condições mínimas necessárias para a sustentação de toda sociedade humana e do homem simples do povo. Muitas de suas máximas exaltam a Torá, a Bíblia, ao mesmo tempo em que propõem um aprimoramento individual do homem enquanto ser atuante na sociedade em que vive, com direitos e obrigações, onde impera a responsabilidade pessoal e coletiva.</p>
<p>Minha escolha por este tratado deu-se, principalmente, pela inesgotável riqueza de ensinamentos e reflexões sobre educação e indiretamente sobre ensino, nele contidas.</p>
<p>Uma de suas máximas que mais chamou minha atenção foi proferida pelo Rabi Elazar ben Schamuá [7] que diz:</p>
<p>“Que a honra do teu discípulo seja tão querida para ti como a tua própria, e a honra do teu companheiro como a reverência pelo teu mestre, e a reverência pelo teu mestre como a reverência pelos Céus”.</p>
<p>Rabi Elazar distingue nesta máxima três classes de honra: a que o homem reivindica para si mesmo, a de seu aluno e a de seu colega. Por outro lado, menciona dois tipos de respeito: o que se deve ao professor e o que se deve a Deus.</p>
<p>Na visão de Abrabanel, Rabi Elazar está se referindo a três níveis de contatos sociais.</p>
<p>O primeiro é o relacionamento entre uma pessoa com alguém diferente dele na questão da autoridade, como a do mestre e seu discípulo. Nesse caso, o mestre é advertido para estender ao seu discípulo o mesmo respeito que ele gostaria de receber.</p>
<p>O outro nível de contato social é o relacionamento entre iguais. Aqui Rabi Elazar nos ensina a honrar nossos iguais com a reverência que é dada a um mestre.</p>
<p>O terceiro nível se refere a aquele que se encontra na companhia de uma pessoa superior a ela, uma personalidade, com quem o relacionamento deve ser de deferência, reverência e respeito.</p>
<p>A apresentação dos três níveis de contato enumerados no texto sugere uma ordem crescente entre os tipos de honra e respeito.</p>
<p>A primeira colocação de Rabi Elazar refere-se à honra que o homem deve reivindicar para si próprio. Ele parte do pressuposto de que o amor-próprio antecipa qualquer relacionamento e que, sem ele, todos os relacionamentos seguintes ficam comprometidos, princípio, por sinal, referendado por autores contemporâneos como Knibbeler (1989), Prabhu (1992), Orlowek (1993), Buber (1973) e outros.</p>
<p>Ao comparar a honra do companheiro à honra do mestre, Rabi Elazar, se refere àposição de educador-educando que pode inverter-se, e o companheiro de hoje poderá um dia converter-se em nosso professor, e vice-versa. Por sinal, é possível completar esta idéia com a referência à outra máxima do mesmo tratado ético, onde é afirmado que:</p>
<p>“Quem aprende de seu companheiro um capítulo, ou um parágrafo, ou um versículo, ou uma palavra, ou mesmo uma única letra, tem a obrigação de tratá-lo com honra...”</p>
<p>O respeito devido ao companheiro de estudos, ao condiscípulo, está comparado aqui com o respeito que temos ao professor. A prática dialética de argumentação, promove a educadores e educandos o encorajamento, o desafio e o direito à discordância, e possibilita a constante reavaliação de sua atuação, tão necessária para o próprio crescimento e para o crescimento do outro.</p>
<p>A mensagem principal desta máxima é, sem dúvida, a idéia do “respeito”, que permeia todos os tipos de relacionamentos, e especificamente aqueles voltados à educação.</p>
<p>Certamente, sua importância é tamanha, que pode ser considerado como elemento norteador do processo educacional democrático, em que o professor respeita seus alunos e outros professores, assim como os alunos respeitam seus colegas e mestres.</p>
<p>O “respeito” como qualidade para os relacionamentos é vastamente apresentada nesta coleção de ditos. Há uma, porém, que atraiu especialmente minha atenção, pois ela faz referência à questão do “olhar” do professor em relação aos seus alunos, e da percepção respeitosa que ele deve ter das diferenças, capacidades e competência dos mesmos para lidar com as situações que lhes aparecem e lhes são apresentadas no dia a dia. Ele passa, assim, a considerar cada um de acordo com seu potencial individual e a respeitar nele suas próprias capacidades e ritmos distintos de aprendizagem. É ela:</p>
<p>“Há quatro tipos entre os que se sentam perante mestres: esponja, funil, filtro e peneira. Esponja é aquele que absorve tudo; funil, o que recebe de um lado e deixa escapar de outro; filtro, o que deixa sair o vinho e retém a borra; peneira, o que deixa sair o farelo e retém a farinha”.</p>
<p>Falando do tipo que se assemelha a uma esponja, os Sábios não se referiam ao indivíduo que absorve de tudo, sem discernimento, mas àquele que, por sua imensa curiosidade, absorve avidamente tudo o que emana da boca do seu mestre. Quando apontam para o segundo tipo, o funil, associam a este objeto à sua capacidade de absorção, superior à sua capacidade de restituição, o que significa que o aluno que se assemelha ao funil restitui com dificuldade os conhecimentos absorvidos. A terceira categoria de alunos é comparada ao filtro, que retém os sedimentos e deixa passar o vinho, do mesmo modo que o bom aluno deve “sedimentar” o que aprendeu e transmitir aos seus futuros alunos um vinho claro, quer dizer, os conhecimentos, de acordo com sua capacidade de compreender. Por último, a comparação com a peneira, que serve para reter o melhor da farinha, corresponde ao aluno que é capaz de conservar o núcleo dos ensinamentos e desfazer-se dos desperdícios.</p>
<p>A questão do respeito mútuo pode ser também constatada nas academias de estudos superiores, que se baseia em uma metodologia própria denominada Pilpul - raciocínio dialético, que se traduz em uma experiência bastante rica dentro do processo educacional. Consiste na participação integrada de mestres e alunos em que as declarações de cada erudito são aceitas e agregadas às afirmações de outros Sábios, e onde a diversidade de juízos é vista como parte complementar do processo educacional, que tende a propiciar o crescimento das partes envolvidas e, conseqüentemente, da própria aprendizagem. Os mestres expõem a doutrina, as Leis, e os alunos que não a compreendem inteiramente, costumam fazer perguntas. A essas perguntas segue-se a contestação dos professores, explicando-a mais claramente. Surgem objeções, os defensores das teses de seus mestres se enfrentam com seus contraditores, e todos os envolvidos têm direito à participação, à opinião, à contestação e à indagação, que conduzem ao discernimento. Ao término do debate, algumas opiniões são definitivamente descartadas e outras adotadas pelo reconhecimento do seu valor, e esclarecem certos aspectos ou conseqüências das doutrinas que até então não estavam claros.</p>
<p>Traduz-se em uma metodologia que pressupõe o envolvimento afetivo com o objeto de discussão, e a participação ativa no processo de aprendizagem. Muitas vezes a melodia é associada ao sistema de estudo do Talmud que, pelo fato de imprimir seu ritmo ao texto e aos seus comentários, promove a participação integral das pessoas e pode conduzir à fixação do conhecimento. Ela busca proporcionar ao aluno uma autoconfiança tal que ele não tenha receio de expor seus pensamentos e lhe permita explorar e criar novas idéias. Na medida em que o aluno vai se desprendendo da timidez, adquire coragem para se colocar diante dos colegas e mestres, vencer etapas e adquirir auto-estima mais elevada. Com esta prática, ele não estará somente escutando aos outros, mas tem a oportunidade de ouvir também a si mesmo e de tentar, cada vez mais, atingir um nível de argumentação apropriada que o faça igualar-se aos seus colegas.</p>
<p>O movimento de dar e receber conhecimentos, certamente, conduz o estudante ao desenvolvimento de sua inteligência, aguça o sentido crítico do pensamento e permite a elucidação de problemas. Promove a participação ativa dos elementos envolvidos no processo educacional, em uma verdadeira lição de democracia, na qual todos têm o direito de questionar, de emitir opiniões, de ensinar e de aprender uns com os outros. O professor, envolvido e interessado em seus alunos e no próprio conteúdo, transmite seus conhecimentos e desenvolve, o interesse, a motivação e o envolvimento com o conteúdo da aprendizagem, pertinentes à realidade destes mesmos alunos.</p>
<p>A partir dos seis ou sete anos a criança começa a ser incentivada ao estudo em parceria, denominados de Havruta, cuja origem é a mesma que amizade ou camaradagem, em hebraico.</p>
<p>Por falar em idade é possível encontrar na “Ética dos Pais” uma máxima cujas idéias nos que remetem aos princípios cognitivistas do desenvolvimento humano apresentadas por Piaget (1974) e que propõe a compreensão do conhecimento do ser humano a partir das etapas de seu desenvolvimento. Vejamos:</p>
<p>“Ele dizia [8] : Aos cinco anos é tempo de começar o estudo da Mikrá – Lei Escrita; aos dez anos, o da Mischná - Lei Oral: aos treze anos, o dos Mandamentos; aos quinze, o do Talmud – Lei Oral; aos dezoito anos é tempo de casar; aos vinte, é tempo de perseguir o trabalho; aos trinta, plenitude da força física; aos quarenta, do entendimento; aos cinqüenta, do conselho; aos sessenta começa a velhice; aos setenta, as cãs; aos oitenta, se houver vigor; aos noventa começa o encurvamento; aos cem é como se estivesse morto, passado e extinto do mundo”.</p>
<p>Esta máxima aponta para a questão de que o conhecimento é adquirido e se acumula por toda a vida, desde a infância até a morte, e deve ser administrado de modo a poder ser utilizado tanto nas suas próprias experiências de vida como na experiência e modelo que devem ser passados para as gerações mais novas.</p>
<p>A presença do estudo durante toda a vida da pessoa permite a aquisição gradativa de conhecimentos, de acordo com o grau de desenvolvimento da mesma, uma vez que é atribuída aos idosos a sabedoria adquirida pelo estudo iniciado ainda na infância e continuado no decorrer da vida. Isto porque as meditações de um nonagenário têm por objeto a mesma Torá que a criança de cinco anos começa a estudar.</p>
<p>Ao destacar a importância do estudo desde cedo, os Sábios estão se referindo aos ensinamentos dados em casa pelos familiares, pais e avós da criança. Cabe ao pai, ainda em casa, iniciar seu filho no estudo da Torá, para depois encaminhá-lo à escola. Consiste em um movimento que atribui um valor muito grande à presença familiar na vida da criança, em uma integração harmoniosa entre lar e escola, assunto freqüentemente estudado e debatido entre os educadores dos dias atuais.</p>
<p>Cabe salientar aqui, a importância atribuída ao livro como instrumento de aprendizagem. Este objeto tão valioso tem estado um tanto esquecido ultimamente, em função do uso exacerbado da tecnologia, em detrimento da leitura. O judaísmo, pelo contrário, confere a ele um valor todo especial, quando propõe que o estudo da Lei Escrita - se dê a partir dos cinco anos. Quando a criança já estiver familiarizada com as fontes escritas do judaísmo, está preparada para iniciar o estudo da Lei Oral, e desenvolver e aprimorar cada vez mais a prática da argumentação e estudo dialético, ao qual já me referi anteriormente, que pretende desenvolver a maturidade e a aquisição de experiência e vivência pelo homem, e que lhe possibilita viver plenamente e com sabedoria, até atingir sua plenitude.</p>
<p>Quanto ao exercício da liderança, também citada neste tratado, são feitas referências às atitudes de humildade e modéstia, o interesse não possessivo pelo outro, a ação pela justiça, a flexibilidade, a tolerância e a liberdade. A problematização é sugerida para ocupar o lugar do autoritarismo e para evitar extremismos e discriminações, assim como a consciência de sua responsabilidade, individual e coletiva, já que, na condição de líder, propõe-se a deixar um legado de conhecimentos para as futuras gerações.</p>
<p>É possível encontrar no tratado de Pirkei Avot. – “A Ética dos Pais”, uma das mais completas sínteses dos princípios essenciais da prática judaica com base na Torá, a qual cito a seguir:</p>
<p>“A Torá é superior ao sacerdócio e à realeza, pois a realeza requer trinta qualidades, o sacerdócio vinte e quatro, mas a Torá requer quarenta e oito coisas. E elas são: estudo, atenção pelo ouvido, repetição em voz alta, inteligência do coração, respeito, temor, humildade, alegria, pureza, convívio com Sábios, aproximação dos companheiros, debate com os discípulos, bom senso, conhecimento da Escritura, conhecimento da tradição... paciência, bom coração, confiança nos Sábios, resignação no sofrimento, conhecer o seu lugar, contentar-se com a sua porção, medir suas palavras, não exigir créditos para si, ser amado, amar o Todo-Presente, amar o seu próximo, amar a retidão, prezar as críticas, afastar-se das honrarias, não inflar o coração por causa do desconhecimento, não se deleitar em dar ordens, ajudar o próximo a carregar o seu jugo: julgá-lo com indulgência, pô-lo no caminho da paz; estudar com método, perguntar conforme o assunto e responder conforme a regra, ouvir e aumentar o conhecimento, aprender para ensinar, aprender para praticar, estimular a sabedoria do mestre, raciocinar sobre o que ouvir e dizer coisas em nome de quem as disse. Sabe-se que todo aquele que diz uma coisa, citando o nome de quem a disse, traz a redenção ao mundo, pois foi dito: “E disse Ester ao rei em nome de Mordekhai” [9] .</p>
<p>A estrutura formal desta máxima separa por grupos as características enumeradas. Primeiramente foram citados os requisitos necessários para que o homem esteja preparado para o seu estudo. Em seguida, são apresentados comportamentos pertinentes ao convívio e aos relacionamentos interpessoais. Logo após, é lembrada a importância da aquisição do conhecimento, acompanhada de um grupo de comportamentos de contensão e respeito, seguidas de instruções de modéstia, indulgência e benevolência. Finalmente são tratadas as questões relacionadas ao estudo e ao ensino, concluindo com a orientação para o uso de citações, sempre com identificação de fonte e autor, numa atitude de respeito e deferência por aqueles que, através das gerações, deixaram seu legado à disposição de seus seguidores. Ester, mencionada nesta máxima teve, já no séc. II a.C., o zelo de citar Mordekhai, seu tio, como mandante para que se dirigisse ao rei Assuero, a fim de solicitar a redenção do povo judeu. Obteve o apoio do rei e a redenção do seu povo.</p>
<p>Para finalizar, cito: “Com que se parece aquele cuja sabedoria excede suas boas ações? Com uma árvore de muitos ramos e raízes poucas, e assim, quando sopra o vento, ele a arranca e derruba, pois foi dito:... “Porque será como o arbusto no deserto, não verá a chegada do bom tempo, viverá em lugares áridos do deserto, em terra estéril e inóspita”. (Jeremias, 17:6) Mas, com que se parece aquele cujas boas ações excedem sua sabedoria? Com uma árvore de poucos ramos e raízes muitas, de modo que, embora todos os ventos do mundo soprem e a fustiguem, não a moverão do lugar, pois foi dito: “Porque será como a árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para o ribeiro, não receia quando vem o calor, a sua folha fica sempre fresca; e no ano de secas não se afadiga nem deixa de dar frutos”.(Jeremias, 17:8)</p>
<p>Raschi [10] , se refere, com esta dupla metáfora, aos homens dignos e aos homens indignos, que são, de acordo com seu grau de enraizamento, mais frágeis ou menos frágeis. Ainda no que se refere à questão das raízes, é possível estabelecer uma analogia com ação e pensamento. As ações nobres devem ser, de certo modo, implantadas na criança como as raízes na terra, pois são elas que proporcionam à sabedoria o alimento e a força de que necessita para desenvolver-se. A ação é, nesta perspectiva, um elemento primordial para a obtenção de hábitos, para a retenção de conhecimentos e para o desenvolvimento do ser humano.</p>
<p>Finalmente, para concluir esta apresentação, gostaria de apresentar o seguinte dito: “... muito aprendi dos meus mestres, e de meus companheiros mais que deles, e de meus alunos mais do que de todos”. Creio que ele traduz, de maneira sucinta, a mensagem judaica de educação que tentei transmitir a todos. Espero que, por sua abrangência, esta mensagem possa servir como elo para a humanidade como um todo, e para o despertar do sentimento que une a todos os povos, independentemente de suas religiões e crenças, e preencher suas vidas de significado e de propósito.</p>
<p>Referências Bibliográficas</p>
<p>________________ A Bíblia Sagrada, Rio de Janeiro, Sociedade Bíblica do Brasil, tradução de João Ferreira de Almeida,1957.</p>
<p>________________ Abrabanel on Pirke Avot – New York, Shepher-Hermon Press Inc., compilado e traduzido por Abraham Chill, 1991.</p>
<p>________________ Maimônides - Comentário da Mishná - Ética dos Pais - Sanhedrin, São Paulo, Maayanot, 1993, tradução de Alice Frank.</p>
<p>_______________ Maimônides - Mishné Torá - Alumot, Jerusalém - Tel Aviv, 1965.</p>
<p>__ Maimônides - Os 613 Mandamentos - São Paulo, Nova Stella, 1990, tradução de Giuseppe Nahaïssi.</p>
<p>________________ Pirkei Avot: Ética dos Pais, São Paulo, B’nai B’rith, 1976, 1a ed., tradução e notas explicativas de Eliezer Levin.</p>
<p>Buber, Martin - Education, in Between Man and Man, cap.III. London, Collins, 1947.</p>
<p>Al Hamaasse Hakhinukhi, 1925, in Bessod Siakh, Jerusalém, 1973.</p>
<p>Caon, Claudia M. - A Educação Religiosa Ortodoxa Judaica - Princípios, Metas e Resultados, Dissertação de Mestrado em Educação, Universidade de São Paulo, 1995.</p>
<p>Kehati, Pinhas, Mishnah -Avot - Comentários a la Mishná: tratado de Pirké Avot, Jerusalém, Heichal Shlomo, 7a ed., 1976.</p>
<p>Knibbeller, Wil -The Explorative - Creative Way: Implementation of a Humanistic Language Teaching Model, Germany, Tübingen: Narr, 1989.</p>
<p>Lehmann, M. - Pirke Avot, Harambam Maimonides Corp., Miami Beach, Flórida, 1985, tradução e adaptação de Viviane Assa, revisão de Rachel Melul de Amselem.</p>
<p>Orlowek, Noach - My Disciple, My Child, New York, Feldheim Publishers, 1993.</p>
<p>Prabhu, N.S. - There Is No Best Method – Why? in Tesol Quarter Ly, vol. 24 n0 2, 1990.</p>
<p>Rogers, C. - Liberdade para Aprender, Belo Horizonte, Interlivros, 4a ed. 1978, tradução de Edgar Godoi da Mata Machado e Márcio Paulo de Andrade.</p>
<p>Schneerson, Yossef Y. - The Principles of Education and Guidance, New York, Kehot Publication Society, 1990.</p>
<p>Szpiczkowski, Ana – Educação e Talmud, Uma Releitura da Ética dos Pais, São Paulo, Humanitas/FFLCH/USP: Fapesp, 2002.</p>
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<p>* Profa. Dra. de Língua, Literatura e Cultura Judaicas, DLO, USP, SP.</p>
<p>[1] Também conhecido como “Rambam”. Nasceu em Córdoba, Espanha, 1135 -1204. Autor de várias obras dentre as quais destaca-se “Os 613 Preceitos”, “Sefer Ha - Maor” e “Schmoná Perakim”.</p>
<p>[2] .“E as intimarás a teus filhos”.(6:7); “Moisés nos deu também a lei por herança da congregação de Jacó” (33:4)</p>
<p>[3] Abrabanel, dom Isaac, (1437-1508); Importante comentador da Bíblia, fugiu da Espanha em 1492, com a expulsão dos judeus de Espanha.</p>
<p>[4] Redigido entre 1187 e 1190, ele estabelece um diálogo entre o mosaísmo e a filosofia, com a finalidade de tornar possível o acesso da razão aos aspectos da Torá que não estão ao alcance da capacidade humana.</p>
<p>[5] Gênesis, 9:6.</p>
<p>[6] Levítico, 19:18.</p>
<p>[7] Quarta geração de Tanaítas - professores e repetidores; período de 140 a 165 d.C.</p>
<p>[8] Yehudá ben Temá - quinta geração de Tanaítas - professores e repetidores; período de 165 a 200 d.C.</p>
<p>[9] Livro de Ester, 2:22.</p>
<p>[10] Erudito francês de ascendência davídica, autor de comentários, que se tornaram padrão, sobre importantes textos judaicos (1040-1105).</p>