Fórum Personalidades do Mundo Judaico - JUDAISMO HUMANISTA2024-03-29T10:48:36Zhttp://judaismohumanista.ning.com/groups/group/forum?groupUrl=personalidades-do-mundo-judaico&id=3531236%3AGroup%3A46307&feed=yes&xn_auth=noO "Caso Dreyfus" e Edgard Degas por Reuven Faingoldtag:judaismohumanista.ning.com,2018-08-13:3531236:Topic:1219722018-08-13T21:45:07.245ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>No final do século 19, a França ficou convulsionada pelo “Affaire Dreyfus”. Um oficial judeu do Estado Maior, Alfred Dreyfus, havia sido condenado por alta traição. O “Affaire” dilacera a opinião pública, dividida entre os dreyfusards, que defendiam sua inocência, e os antidreyfusards, que acreditavam em sua culpa. intelectuais, escritores e artistas franceses também se posicionaram. E um dos mais ferrenhos antidreyfusards foi Edgar Degas.<br></br> Edição 100 - Junho de 2018</p>
<p>Pano de fundo…</p>
<p>No final do século 19, a França ficou convulsionada pelo “Affaire Dreyfus”. Um oficial judeu do Estado Maior, Alfred Dreyfus, havia sido condenado por alta traição. O “Affaire” dilacera a opinião pública, dividida entre os dreyfusards, que defendiam sua inocência, e os antidreyfusards, que acreditavam em sua culpa. intelectuais, escritores e artistas franceses também se posicionaram. E um dos mais ferrenhos antidreyfusards foi Edgar Degas.<br/> Edição 100 - Junho de 2018</p>
<p>Pano de fundo do Caso Dreyfus<br/> O caso Dreyfus ocorre em uma França derrotada na guerra franco-prussiana (1870-71), que deixou em seu rasto uma forte crise econômica, tensões sociais e confrontos políticos.<br/>
Num cenário como esse, são descobertas evidências da existência de um traidor nas fileiras do exército, que pretendia repassar aos alemães informações sobre a artilharia francesa. O traidor precisava ser descoberto e Dreyfus era o “ traidor ideal”. Primeiro judeu a servir no Estado-Maior do Exército, sua presença irritava os oficiais franceses. Pouco importavam a falta de provas e as irregularidades no processo;para as Forças Armadas francesas sua condenação evitaria que um francês cristão fosse apontado “Traidor da Pátria”.<br/>
Acusado de espionagem a favor da Alemanha, Dreyfus é sumariamente julgado e condenado à prisão perpétua na famigerada prisão na Ilha do Diabo (na Guiana Francesa). Em janeiro de 1895, após ser submetido a uma humilhante degradação militar, diante de uma multidão que exigia sua imediata execução aos gritos de “Mort aux juifs”, ele é despachado à Ilha do Diabo, onde ficou preso até 1906.<br/>
O caso parecia encerrado; ninguém, àquela altura dos acontecimentos, poderia conceber a tormenta que desabaria sobre a França, nos anos seguintes. Não conformada com a condenação, a família de Dreyfus consegue o apoio, a favor de um novo julgamento, de figuras públicas, como os escritores Anatole France e Émile Zola.<br/>
Em janeiro de 1898, o momento da virada surgiu com a histórica denúncia de Zola – seu ‘’J’accuse’’, impresso no jornal L’Aurore, que vendeu 300.000 cópias em um único dia.<br/>
Famoso escritor, coberto de condecorações, não hesitara em se arriscar a perder tudo, inclusive sua liberdade, por não tolerar a ideia de que um inocente estivesse preso. Em seu célebre manifesto “Eu acuso” Zola expressa sua indignação perante as intrigas preconceituosas que envolveram o caso.<br/>
O “Caso Dreyfus” acaba incendiando a opinião pública e dilacera o país, que se divide em dois campos. De um lado estavam os antidreyfusards que culpavam o oficial judeu e opunham-se à reabertura do processo. Do outro, os dreyfusards, partidários da inocência de Dreyfus, denunciavam as irregularidades do julgamento e demandavam uma revisão imediata do processo.<br/>
Em 1899, Dreyfus é levado mais uma vez a julgamento, perante um tribunal militar. Apesar das contundentes provas de sua inocência, é condenado mais uma vez, recebendo logo a seguir um indulto. Sua inocência só foi verdadeiramente reconhecida em 1905 e, no ano seguinte, foi reabilitado pelo governo francês.<br/>
Intelectuais e artistas se posicionam<br/>
Hoje não restam dúvidas de que Dreyfus foi vítima do antissemitismo arraigado na sociedade e Forças Armadas francesas, uma “diabólica conspiração” como a chamou Zola.<br/>
Na época, o país estava dividido entre uma direita reacionária, ligada às Forças Armadas e à Igreja Católica; e, de outro lado os republicanos liberais e as forças de esquerda. Verifica-se um considerável aumento nas publicações antissemitas, com frequência acusando os judeus, aberta e causticamente, de “trabalhar contra os interesses da França e arquitetar sua destruição”.<br/>
Se a França estava dividida, também o estavam seus artistas. O mundo das Artes passava por um período de grandes mudanças e Edgar Degas foi um de seus mais aguerridos protagonistas. Conhecido hoje como “o pintor das bailarinas”, Degas além de um exímio pintor foi gravurista, escultor e fotógrafo. Em 1873, juntamente com Claude Monet, Camille Pissarro e Paul Cézanne, forma a Sociedade Anônima dos Artistas, que abriu sua primeira exposição impressionista em Paris.<br/>
Degas foi logo apontado pela crítica como o líder do novo grupo, que mais tarde seria conhecido como “os Impressionistas”. Eles propunham uma nova maneira de pintar, em que o movimento e a luz eram os elementos mais importantes. Apesar de ser classificado de “impressionista”, Degas gostava de se autodenominar “realista”. À exceção do grande escultor Auguste Rodin, que insistiu em se manter neutro, praticamente todos os artistas, famosos ou não, adotaram uma posição no caso Dreyfus. Ou eram a favor ou contra o oficial judeu.<br/>
Os pintores Claude Monet e Jacob Camille Pissarro, amigos de Zola, estavam entre os dreyfusards. Monet não hesitara em escrever uma carta a Zola, cumprimentando-o por sua coragem em defender o oficial judeu, e assinou uma petição em defesa de Dreyfus. Pissarro redigiu também uma missiva cumprimentando Zola por acusar abertamente a República Francesa de estar cometendo uma injustiça. Também acreditavam em sua inocência os artistas Paul Signac (1863-1935), Louis Vuitton (1821-1892) e Mary Cassatt (1844-1926). Das fileiras antidreyfsards, além de Degas faziam parte Paul Cézanne e Pierre-Auguste Renoir.<br/>
Apesar deste último manter grande amizade com as famílias judias Natanson e Cahen d’Anvers, sua atitude em relação aos judeus sempre foi hostil. Ele chegou a afirmar que “... não em vão os judeus são expulsos dos países”, e que “... na França lhes deveria ser vedado desempenhar cargos públicos”.Renoirafastou-se de Pissarro, acusando-o de que seus filhos não tinham servido ao exército “por não sentirem nenhum tipo de patriotismo com a França”. Em 1882, Renoir negou-se a expor junto a este último, declarando publicamente que “... expor ao lado de um judeu é gerar uma revolução”.<br/>
Mas, dos artistas impressionistas nenhum foi tão crítico e duro com Dreyfus como Edgar Degas. Certa vez, uma modelo que posava em seu ateliê, questionou a forma como a França lidava com Dreyfus. Enfurecido, Degas retrucou: “Com certeza, você também deve ser judia”, fazendo-a retirar-se imediatamente doestúdio.<br/>
Apesar de ter sido um grande admirador de Degas, Pissarro chamou-o de “antissemita selvagem”, em carta dirigida a seu filho Lucien. Certa vez, comentou com o pintor Paul Signac, que “Degas e Renoir se haviam distanciado dele desde os trágicos acontecimentos de 1894”, fazendo uma clara referência ao caso Dreyfus. Degas passou a criticar Pissarro duramente, argumentando que “... sua arte é desprezível”. Quando soube que Pissarro o admirava, mais que a qualquer outro artista, chegando a afirmar que “Ele (Degas) é, sem dúvida, o maior artista desta época”, Degas se justificou: “Sim, mas isso foi antes do Affaire Dreyfus”. Fica evidente que, na França do século 19, política e arte se retroalimentavam.<br/>
Degas pré-Dreyfus<br/>
Hoje, críticos de arte e historiadores acreditam que o Caso Dreyfus trouxe à tona o até então velado antissemitismo de Degas.<br/>
No século 19, artistas e amantes das artes buscavam a companhia dos artistas e intelectuais judeus; e Edgar Degas não foi exceção. Antes de eclodir o Affaire, ele mantinha uma aparente postura favorável aos judeus. Como vimos acima, ele mantinha relações profissionais com Pissarro, organizando com ele exposições de arte. Sabe-se que ele foi um dos primeiros artistas impressionistas a comprar quadros de Pissarro. Frequentava, inclusive, um círculo de artistas judeus composto por Ludovic Halévy e seu filho Daniel, Geneviève Halévy (cônjuge de Georges Bizet) e um dos advogados dos Rotschilds, que administrava um Salon parisiense. No grupo de Halévy havia outros judeus, como o compositor de óperas Ernest Reyer (1823-1909), o marchand Charles Ephrussi (1849-1905) e Charles Hess. Este último inspirou o personagem Swann, de Marcel Proust, na obra “Em Busca do Tempo Perdido”. <br/>
Ademais, Degas retratou dezenas de amigos judeus: Ernest May, Émile Levi (1826-1890), o judeu-português Monsieur Brandão, pai do pintor Édouard Brandão (1831-1897), e o artista Henri Michel Levi (1844-1911), que retratou Degas, entre outros.<br/>
O viés antissemita contra seus compatriotas judeus começa a ser visível, com seu quadro o “Retrato do Rabino Eli Aristide Astruc e o General Émile Mellinet” (V. página anterior). A tela, uma das obras mais admiradas do artista, foi pintada 23 anos antes do “Affaire Dreyfus”. Astruc, uma autoridade em História Judaica, foi rabino na Bélgica, enquanto Mellinet foi um militar republicano, anticlerical e maçom, que ajudou Astruc a socorrer feridos durante a revolta da Comuna de Paris, em 1871. Ambos procuraram Degas para serem retratados. As opiniões de Degas podem ser vistas no resultado de seus portraits: na tela, o rabino Astruc aparece menos forte, menos confiante e menos importante. Ele está tentando encontrar um lugar na própria composição. A mensagem talvez seja demostrar a superioridade do Estado diante da religião.<br/>
Em 1878, o pintor termina o óleo a “A Bolsa”. À primeira vista, o quadro não retrata judeus, apenas faz um retrato social da modernidade. Mas, Degas retrata o banqueiro e marchand judeu, Ernest May, postado nas escadarias da Bolsa de Valores, junto a Monsieur Boulatré. O quadro não apresenta o tipo de caricatura antissemita utilizada na época, na França. Os recursos antissemitas utilizados são mais velados. Reparamos certa semelhança com “Amigos do Teatro” (1879),talvezpelas vestimentas pretas, os movimentos, traços físicos dos personagens e até pelas cores da coluna. Se olharmos a posição em que foram retratados os personagens, movimentando suas mãos e se falando em voz baixa, ao pé do ouvido, revela-se um complô, um momento em que figuras enigmáticas com sobretudos e cartolas planejam dar um golpe mortal na sociedade francesa. Degas retrata May com um judeu de nariz adunco, com olhos saltados e lábio protuberantes – “marca artística do status judaico de estrangeiro. A cena incorpora a realidade da hegemonia financeira judaica, bem conhecida por Degas, com a emergência dos Rothschild como força econômica na França e em toda a Europa.<br/>
Para alguns críticos de arte, como Louis E. Duranty (1833-1880), no óleo, Degas retrata o mito do “complô financeiro judaico” fortemente arraigado nas sociedades europeias dos séculos 18-19. O objetivo desse suposto complô judaico era “dominar” a economia das nações. Este suposto complô surge do retrato preservado daquilo que “eles” (judeus) guardam em total sigilo de “nós” (franceses). É uma imagem que revela velado antissemitismo.<br/>
A Amizade Degas e Halévy<br/>
Degas frequentou a casa da família Halévy. Uma carta encontrada nos “Archives Israélites” revela que ele era presença constante nos almoços dessa família. Seus membros foram retratados várias vezes e assim os Halévy viraram o centro das atenções do artista, a ponto de um deles, Daniel Halévy, afirmar num “Diário”: “Nós o criamos”, referindo-se ao pintor. <br/>
Retratos dos membros da família Halévy, pintados por Degas, foram encontrados numa “Caderneta de Desenhos”. Num deles, Ludovic escreve: “Degas desenhou, em minha casa, todos os retratos que fazem parte desta coleção”. O próprio Ludovic e seu filho Daniel foram pintados por Degas no quadro “Seis amigos em Diepp” (1885).<br/>
O ressentimento do artista com o “aumento do poder judaico na França” fica mais evidente em sua pintura de 1879, “Portrait of Friends in the Wings”. Na obra ele retrata Ludovic Halevy, judeu autor de libretos para óperas, conversando nos bastidores da ópera com Albert Boulanger-Cave, rico patrono das artes não-judeu. Na tela fica evidente o destaque que Degas dá à discrepância entre a aparência de Halevy e o ambiente. Baseando-se nitidamente na opinião francesa de que “os judeus não estavam em seu ambiente, na França, e sugavam a vida do país”, Degas criou um portrait em que Halevy estava completamente deslocado na vida pública francesa, assim como ali, na ópera francesa.Em contraste com o pano de fundo brilhante e colorido, Halevy aparece em seu próprio plano sombrio, sua expressão abatida em desacordo com o restante da pintura, sua presença anuviando a cena alegre. Degas usou o estado de ânimo abatido de Halevy, e o completou com os traços estereotipados do judeu, com nariz adunco e barba, para demonstrar que Halevy, “o judeu”, era um estranho no ninho cultural da vida francesa.<br/>
Ludovic Halévy nasceu em Paris (1834-1908), época em que a literatura francesa estava influenciada pelo romantismo. Filho de escritor, Ludovic vivia em um ambiente propício para as letras. Ainda jovem, escreveu novelas em que fazia duras críticas à sociedade parisiense. Aos 31 anos, abandonou seu trabalho na administração pública para se dedicar à literatura.<br/>
Em 1868, ele publica os contos “A Família Cardinal”. Seus textos ironizam os costumes da sociedade parisiense durante a Terceira República. Halévy situa seus personagens na Ópera de Paris, retratando-os como cidadãos deslumbrados pelo abastado modo de vida da classe alta, frequência assídua nas galerias de arte, espetáculos de dança e teatro.<br/>
Descreve, também, nessa obra, os anseios de uma família pequeno-burguesa, seus limites e tentações, suas posturas políticas, suas perversões e devaneios. A desigualdade de classes emerge em meio à transição, sobrevivendo aos costumes e à vida cotidiana. Halévy narra com ironia teatral as tribulações de uma família classe média parisiense: mãe dominante, pai politizado, membro da Comuna e simpatizante da Terceira República, e duas adolescentes totalmente dedicadas a performances de ballet na Opéra parisiense.<br/>
Nos anos 70 do século 19, Degas desenha a série “A Família Cardinal”. É difícil perceber se o imaginário do artista consegue distinguir entre as jovens bailarinas e as dançarinas do famoso Moulin Rouge. Sabemos que esses desenhos não agradaram a Ludovic Halévy e, portanto, não foram incluídos em nenhuma edição até 1938, data em que ambos já tinham falecido. Mesmo após esse incidente, Halévy continua ajudando economicamente o artista.<br/>
Mesmo após o início do Caso Dreyfus, Degas continua pintando membros da família Halévy. Numa tela de 1896, Degas retratou o filósofo e pensador judeu Eli Halévy (1870-1937), filho de Ludovic. Refletindo, sentado num sofá, ele segura o queixo com a mão. Totalmente mergulhada em pensamentos, sua mãe, Madame Louise Halévy, está sentada no mesmo sofá. Na parede, dois quadros de bailarinas completam a composição.<br/>
Mas, no outono de 1897, a amizade de anos entre Edgar Degas e Ludovic Halévy é subitamente interrompida. Mesmo sendo judeus assimilados, os Halévy demostravam uma forte preocupação pelo clima de animosidade contra seus correligionários reinante na França, especialmente quando todo o clã defende a inocência de Dreyfus.<br/>
No diário pessoal, Daniel Halévy descreve os motivos da ruptura com o artista: “Terça-feira, 25 de novembro de 1897. Nunca havíamos levantado o tema [caso Dreyfus], mas ontem, conversando no fim da tarde, papai estava muito tenso frente à Degas, um destacado antissemita. Foi nossa última conversa cordial. Nossa amizade, surgida ainda nainfância, foi cortada repentina e silenciosamente... Degas jantou em casa pela última vez. Não falou nada a noite inteira... seus lábios pareciam lacrados... Mantinha seu olhar sereno, parao alto, como se desejasse desconectar-se dos convidados que o circundavam. Para Degas, Ludovic disse não haver dúvidas de que Dreyfus queria defender o exército, um exército cuja herança respeitava demais, e que agora era ofendida com nossas teorias intelectuais. Degas não abriu a boca e, encerrado o jantar, sumiu de casa para nunca mais voltar”.</p> Simone Veil, um ícone mundial - Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2018-01-12:3531236:Topic:1186312018-01-12T16:39:32.419ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<h3>Simone Veil, um ícone mundial</h3>
<p>A França ficou de luto em junho deste ano de 2017 ao tomar conhecimento do falecimento de Simone Veil. Judia, sobrevivente do Holocausto, ela ocupou vários postos governamentais, tornando-se um ícone na luta contra a discriminação das mulheres. Empenhada em todas as causas em que acreditava, conquistou os franceses, e sua popularidade ia muito além dos limites da política.</p>
<p class="num-edicao">Edição 98 - Dezembro de 2017</p>
<hr></hr><p>A vida de…</p>
<h3>Simone Veil, um ícone mundial</h3>
<p>A França ficou de luto em junho deste ano de 2017 ao tomar conhecimento do falecimento de Simone Veil. Judia, sobrevivente do Holocausto, ela ocupou vários postos governamentais, tornando-se um ícone na luta contra a discriminação das mulheres. Empenhada em todas as causas em que acreditava, conquistou os franceses, e sua popularidade ia muito além dos limites da política.</p>
<p class="num-edicao">Edição 98 - Dezembro de 2017</p>
<hr/><p>A vida de Simone Veil foi turbulenta. Vivenciou épocas de terror e de luto, assim como de amor e de vitórias, sempre demostrando uma dignidade e uma seriedade que incutiam o respeito e admiração de todos em sua volta. Uma pesquisa realizada em 2010 a indicou como a preferida entre as mulheres da França.</p>
<p>Dona de uma força de vontade ímpar aliada a um talento intelectual singular, a força de Simone Veil residia em sua capacidade de adaptação e luta diante dos desafios. Suas tendências políticas dependiam da causa em que estava envolvida. Convidada para o programa L’Heure de Vérité (A Hora da Verdade) para revelar suas tendências políticas, ela se declara “à esquerda em certos assuntos, à direita em outros”. Ao ser eleita para a Academia Francesa, o escritor Jean d’Ormesson, escolhido para dar as boas-vindas, disse: “Contra todas as probabilidades, sem jamais alterar a voz, você conseguiu convencer a todos. Podemos dizer sem presunção, no coração da vida política, você ofereceu uma imagem moral e republicana”.</p>
<p>Apesar de não praticante, Simone jamais negou seu judaísmo. Participou ativamente de várias organizações de sobreviventes do Holocausto e conquistou o respeito internacional por sua atuação para a preservação das memórias das vítimas de Hitler.</p>
<p>Em uma das primeiras reações à sua morte, o presidente francês, Emmanuel Macron, declarou esperar que Simon Veil “possa inspirar, com seu exemplo, os franceses a encontrar o melhor da França”.</p>
<p><strong>Sua vida</strong></p>
<p>A família Jacob tem suas origens em Bionville-sur-Nied, na região da Lorraine. Seu pai, André Jacob, era arquiteto de renome, tendo obtido, em 1919, o segundo grande prêmio de Roma. Ele se casou, em 1922, com Yvonne Steinmetz, filha de um peleteiro também judeu. Após o casamento, Yvonne abandona seus estudos na universidade por exigência do marido. Em sua autobiografia, Simone escreveu que apesar de sua “família ser laica”, “o fato de pertencer à comunidade judaica jamais foi um problema para mim. Essa condição era altamente reivindicada por meu pai”.</p>
<p>Após o nascimento de seus dois primeiros filhos, Madeleine e Denise, o casal trocou Paris por Nice. Nessa cidade, na Riviera Francesa, nasceram seu filho Jacob e, no dia 13 de julho de 1927, Simone. Com a crise de 1929, os projetos arquitetônicos do pai diminuem drasticamente e a família se muda para um apartamento menor. Sua mãe, Yvonne, começa a fazer roupas de tricô para famílias necessitadas.</p>
<p>Simone tinha 10 anos no dia 3 setembro de 1939, quando a França e Grã-Bretanha declararam guerra à Alemanha nazista que havia invadido a Polônia dois dias antes. Exércitos alemães invadiram a França em maio de 1940 e, no dia 14 de junho, tomam Paris. A Itália de Mussolini, que, no dia 10 de junho, entrara na Guerra ao lado do Terceiro Reich, invade o território francês.</p>
<p>A França se rendeu oficialmente no dia 22 de junho, e assina um armistício com Alemanha e Itália. O país é, então, dividido – o norte e a costa do Atlântico, inclusive Paris, ficam sob ocupação nazista, enquanto o sul e o sudeste, a chamada Zona Livre, passam a ter um governo leal à Alemanha, o Regime de Vichy, do marechal Pétain. E uma área do sudeste fica nas mãos da Itália fascista. Milhares de judeus refugiam-se na Zona Livre, inclusive Nice, onde viviam Simone e sua família. Em 11 de novembro de 1942, alemães e italianos invadem o território francês, quebrando o Armistício, e Nice fica sob domínio italiano até 1943.</p>
<p><strong>A Shoá</strong></p>
<p>Os judeus franceses acreditavam estar seguros e que não seriam perseguidos, mas estavam enganados. Os anos seguintes foram de muito sofrimento. A França de Vichy voluntariamente promulga, em 4 outubro de 1940, as primeiras leis contra os judeus. O ‘<em>Statut des Juifs</em>”, que se baseava nas “diretrizes“ nazistas já postas em prática na zona de ocupação alemã, impunha segregação racial e a obrigatoriedade de que os judeus se identificassem como tal junto às autoridades. Eles foram excluídos da vida pública e militar, da indústria e comércio, das profissões liberais e das artes.</p>
<p>André Jacob foi um dos milhares de judeus que obedeceram a determinação de se registrar como judeu e perdeu o direito de exercer sua profissão. Sua esposa, Yvonne, passava o dia em busca de algum trabalho para alimentar a família. Os Jacobs passam a enfrentar a segregação cada vez maior decorrente das leis anti-judaicas.</p>
<p>Em novembro de 1942, Nice, como vimos acima, fica sob ocupação italiana. Apesar de aliada de Hitler, a Itália de Mussolini se recusava a entregar judeus aos nazistas, a despeito de repetidas exigências. Apesar do antissemitismo, a vida dos judeus melhorara. Simone e seus irmãos frequentavam a escola e participavam ativamente nas atividades do Escoteiros e das Bandeirantes. A situação em Nice, e em toda Riviera Francesa, mudaria em setembro de 1943, quando após a assinatura do armistício entre a Itália e os Aliados, as tropas italianas são forçadas a se retirar. Os alemães, sob o comando de Alois Brunner, ocupam a Côte d’Azur. Para os judeus, o perigo rondava cada esquina, pois para os nazistas, tornara-se uma questão de honra pôr um fim na vida judaica na Riviera.</p>
<p>Em março de 1944, então com 16 anos, Simone vivia com sua professora de letras, Madame de Villeroy. Usava o sobrenome Jacquiers numa tentativa de escapar às garras nazistas. No dia 30 desse mês, quando estava com amigos no centro da cidade comemorando o término dos exames de <em>baccalauréat<sup>1</sup></em>,foi detida por dois alemães em trajes civis. Foi levada ao Hotel Excelsior, quartel-geral nazista e local de concentração dos judeus que seriam deportados. O restante da sua família, que, até então, vivia escondida na casa de amigos não judeus, é também preso pela Gestapo.</p>
<p>No dia 7 de abril de 1944, Simone, sua mãe e sua irmã Madeleine, foram enviadas para o campo de Drancy no comboio número 71, no qual estavam, também, Anne-Lise Stern e Marceline Rosenberg, que viriam a se tornar suas melhores amigas. De Drancy foram despachadas em trens de gado para Auschwitz-Birkenau, onde chegaram no dia 15 do mesmo mês. Seu pai e seu irmão Jean foram deportados para a Lituânia no comboio 73 e ela jamais os reviu.</p>
<p>Assim que chegou em Auschwitz, um prisioneiro que falava francês a alertou que ao ser interrogada pelos nazistas devia dizer que tinha mais de 18 anos, quem sabe assim ela conseguiria sobreviver à “seleção”.</p>
<p>Ela se torna o prisioneiro número 78651, tatuado em seu braço, e teria que “descarregar as pedras enormes que chegavam diariamente em caminhões e, com elas, aplainar o solo”. Poucos sobreviviam muito tempo a essa tarefa.</p>
<p>Uma prostituta que se tornara <em>Kapo</em> lhe salva a vida ao decidir transferi-la para um anexo de Auschwitz. Disse-lhe que ela era “muito bonita para morrer”. Simone disse que iria se mudar, na condição de que sua mãe e irmã Madaleine pudessem acompanhá-la, o que de fato aconteceu. Em julho de 1944, Simone com a mãe e a irmã Madeleine foram transferidas para Bobrek, perto de Birkenau. Nesse ínterim, sua irmã Denise, então com 19 anos, que fazia parte de um grupo da Resistência em Lyon, foi presa e, em 1944, deportada para Ravensbruck. Ela conseguiu sobreviver.</p>
<p>Em janeiro de 1945, pouco antes da libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas, ocorrida no dia 27, os nazistas evacuaram o campo e enviaram os prisioneiros a Bergen-Belsen, numa das chamadas “Marchas da Morte” durante as quais eles eram forçados a caminhar longas distâncias em direção à Alemanha, expostos ao frio extremo, sem roupas, comida, água ou descanso. Simone, sua mãe e sua irmã contam-se entre os poucos que sobreviveram. Ao chegar em Bergen-Belsen, Simone é indicada para trabalhar no refeitório. Sua mãe, muito enfraquecida, não conseguiu resistir e morreu de tifo, em março de 1945. Tanto Simone quanto a irmã Madeleine ainda estavam vivas quando os britânicos libertaram o campo, em 15 de abril de 1945.</p>
<p>Ao voltar para a França ela estava pronta para revelar o que era Auschwitz, os horrores vividos, mas tinha a impressão de que ninguém estava interessado em ouvir. Nunca esqueceu, no entanto, o tempo em que ficou presa nos campos nazistas e lutou para manter a viva a memória dos crimes nazistas. De 2001 até 2007 foi presidente da Fundação pela Memória da <em>Shoá</em>. Ao deixar o cargo, tornou-se Presidente de Honra. Em 22 de dezembro de 2004 aceitou retornar a Auschwitz, com seus cinco netos, a convite do diretor da revista <em>Paris Match</em>, Alain Genestar.</p>
<p><strong>De volta à França</strong></p>
<p>Simone chegou em Paris no dia 23 de maio de 1945. Assim como os outros sobreviventes teria que enfrentar o duro desafio de reconstruir a vida. Foi alojada no Hotel Lutetia, com outros sobreviventes dos campos, recebendo um documento de repatriamento, roupas e comida. Foi também informada de que havia sido aprovada nos exames de <em>baccalauréat</em> prestados antes de ser presa - a única de sua turma a passar.</p>
<p>Ainda em 1945, ela entra na Faculdade de Direito e no Instituto de Ciências Políticas de Paris. Em 1946, conheceu Antoine Veil, judeu, futuro Inspetor das Finanças e empresário, durante umas férias numa estação de esqui. Foi amor à primeira vista e Simone e Antoine se casam em 26 de outubro. Eles viveram juntos durante 67 anos, até o falecimento de Antoine, em 2013. O casal teve três filhos: Jean, advogado; Claude-Nicolas, médico, e Pierre François, advogado e presidente do Comitê Francês do <em>Yad Vashem</em>. Claude-Nicolas faleceu em 2002.</p>
<p>Em 1952, ela fica abalada por mais uma perda dolorosa. Sua irmã Madeleine morre com o filho Luc em um acidente de carro na estrada. Ela era a única pessoa com a qual podia falar sobre os anos passados nos campos.</p>
<p><strong>Carreira em ascensão</strong></p>
<p>Simone se muda por algum tempo para Wiesbaden e depois para Sttugart, em função da carreira de Antoine. Formada em Direito e em Ciências Políticas, ela revela ao marido que não quer desistir de uma carreira, como sua mãe fizera, para ser apenas dona de casa. Na época, apenas 40% das francesas trabalhavam e, ainda menos, no círculo da burguesia parisiense.</p>
<p>Decide entrar para a Magistratura, onde passa a ocupar cargos no alto escalão, até chegar ao Ministério da Justiça, de 1957 a 1959. Seu primeiro passo em direção à vida política foi participar do governo do primeiro-ministro René Pleven. Ela representou a França na Sociedade Internacional de Criminologia, em 1959, e se dedicou a lutar por reformas nas leis relativas à adoção, e a adultos com necessidades especiais. Indicada como assessora no Gabinete de Pleven, era encarregada do relacionamento com a imprensa e questões de leis civis e judiciárias.</p>
<p>Em 1970 foi indicada secretária do Conselho Superior de Magistratura. Seu trabalho foi reconhecido ao ser nomeada Cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito e membro do Conselho da ORT da França e da Fundação da França.</p>
<p>Em maio de 1974, Valéry Giscard d’Estaing, presidente recém-eleito, a escolheu como ministra de Saúde no gabinete do primeiro-ministro Jacques Chirac. Durante seu mandato, Simone Veil conseguiu que fosse aprovada pelo Parlamento a “Lei Veil”, que descriminalizou na França a interrupção voluntária da gravidez. Na ocasião, Simone teve que enfrentar uma oposição particularmente dura da Direita. Alguns deputados chegaram a acusá-la de “apoiar o genocídio e de comportamento similar ao dos nazistas”. No Parlamento, proferiu um emocionante discurso em que revelou sua preocupação sobre os riscos enfrentados pelas mulheres que realizavam abortos clandestinos, cujo número aumentara drasticamente na França. O projeto de lei foi aprovado na íntegra e a “Lei Veil” entrou em vigor em 1975. Após esse famoso embate político, o jornal <em>Nouvel Observateur</em> concede-lhe o título de “Revelação do Ano”.</p>
<p>Em 1979, ela mesmo fumante, encabeça a luta contra o tabagismo no país, impondo serias restrições. Manteve até julho daquele ano a pasta da Saúde, quando abandonou o governo para participar, a pedido de Giscard d’Estaing, das eleições do Parlamento Europeu. Simone presidiu o Parlamento Europeu de 1979 até 1982, na primeira vez em que seus integrantes foram eleitos por sufrágio universal. Na época, o Parlamento tinha poucos poderes, mas Simone lhe deu visibilidade com sua atuação na área de direitos humanos.</p>
<p>Em março de 1980, recebe o Prêmio Athenae concedido pelo Fundo Aristóteles Onassis por sua contribuição para a reaproximação dos povos e pelo respeito à dignidade humana. Em 2005 é a vez do Prêmio Príncipe das Astúrias para a Cooperação Internacional.</p>
<p>Volta a ocupar um cargo no governo da França, em março de 1993, quando é nomeada ministra de Estado dos Assuntos Sociais, no governo de Édouard Balladur, onde permanece até julho de 1995. Foi membro do Conselho Constitucional entre 1998 e 2007.</p>
<p>Em 31 de outubro de 2007 publica a autobiografia “Uma vida”, traduzida para mais de 15 idiomas. Somente na França foram vendidos mais de 550 mil exemplares.</p>
<p>Em 2008, é eleita para uma cadeira na Academia Francesa de Letras, uma distinção rara entre os políticos do país. Sobre sua espada de Imortal, criada pelo escultor tcheco Ivan Theimer, foram gravados o número que lhe fora tatuado em Auschwitz – 78651 - e o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” ao lado da expressão “<em>in Varietate concordia</em>”, unidos pela diversidade.</p>
<p>Após a morte de seu marido Antoine, em 2013, e de sua irmã Denise Vernayem, no mesmo ano, Simone se afasta da vida pública. Ainda assim, manteve-se no coração dos franceses. Em 2016 ainda aparecia nas pesquisas como a terceira personalidade preferida do país.</p>
<p><strong>“Sou judia”</strong></p>
<p>No artigo “Sou judia: o <em>Kadish</em> será recitado diante do meu túmulo”, Simone escreveu em 2005: “Nasci e cresci no seio de uma família francesa de longa data, fui francesa sem nenhum questionamento. Mas ser judia, o que isto significava tanto para mim quanto para meus pais, já que, ambos agnósticos – como já o tinham sido meus avós –, a religião estava totalmente ausente de nosso lar? Do meu pai pude aprender que sua ligação com o judaísmo estava mais relacionada ao conhecimento e à cultura que os judeus adquiriram ao longo dos séculos, em épocas em que muito poucos tinham acesso aos mesmos. Haviam permanecido como Povo do Livro, fossem quais fossem as perseguições, a miséria e a vida errante. Para minha mãe, o judaísmo era uma questão de um compromisso com valores com os quais, ao longo de sua longa e trágica história, os judeus jamais haviam deixado de lutar: a tolerância, o respeito dos direitos de cada um e de todos, a solidariedade. Ambos morreram no exílio, deixando-me como única herança os valores humanistas que, para eles, o judaísmo representava. Desta herança não me é possível dissociar as lembranças sempre presentes, de certa forma obsessiva, dos seis milhões de judeus exterminados pelo simples fato de serem judeus. Seis milhões dentre os quais meus pais, meu irmão e inúmeros familiares. Não posso me separar deles. Isto é suficiente para que, até a minha morte, meu judaísmo seja imprescritível.</p>
<p>O <em>Kadish</em> será recitado diante de meu túmulo. Sou judia”. Seus filhos atenderam sua vontade.</p>
<p>Simone faleceu em 30 de junho de 2017, sexta-feira, aos 89 anos, em sua residência em Paris. Segundo seu filho Pierre-François, a última palavra que pronunciou antes de morrer foi “obrigado”. Simone foi enterrada no Cemitério de Montpanasse, em Paris. Diante de seu túmulo, seus filhos Jean e Pierre-François recitaram o <em>Kadish</em>. A cerimônia fúnebre foi conduzida pelo grão-rabino da França, Haim Korsia. Foi muito simples, na presença apenas de pessoas muito próximas que ali foram para prestar sua última homenagem à uma mulher que, após ter passado os horrores dos campos de concentração nazistas, deixou sua marca pessoal na história e na política da França. Sobre ela o <em>Journal Dimanche</em> escreveu: “Numa época em que a política só inspira desconfiança, Simone Veil será sempre lembrada como um exemplo de coragem e dignidade tanto pela sua trajetória pessoal quanto profissional”.</p>
<p>BIBLIOGRAFIA</p>
<p>Veil, Simone e Black,Tamsin, <em>A Life .</em> Kindle edition</p>
<p>Deloeuvre, Guy, <em>Simone Veil: Destin</em>. Kindle edition</p>
<p>Jactance, Assoumou Ondo, <em>Ce que serait devenue la femme française sans Simone Veil</em>. Kindle edition</p> As Stolpersteine - Arte e Memória por Reuven Faingoldtag:judaismohumanista.ning.com,2017-08-16:3531236:Topic:1157102017-08-16T23:24:10.043ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>“Uma pessoa só é esquecida quando seu nome cai no esquecimento”, afirma o Talmud. Há 20 anos, o artista alemão Gunter Demnig trabalha contra o esquecimento, instalando “stolpersteine”, pedras de recordação na calçada diante das casas onde moravam as vítimas do Nazismo.<br></br> Edição 96 - Junho de 2017</p>
<p>Gunter Demnig pertence à geração pós-2ª Guerra. Nascido em 1947, estudou Artes e Desenho Industrial na Universidade de Berlim. Ele já disseminou suas pedras de recordação, as…</p>
<p>“Uma pessoa só é esquecida quando seu nome cai no esquecimento”, afirma o Talmud. Há 20 anos, o artista alemão Gunter Demnig trabalha contra o esquecimento, instalando “stolpersteine”, pedras de recordação na calçada diante das casas onde moravam as vítimas do Nazismo.<br/> Edição 96 - Junho de 2017</p>
<p>Gunter Demnig pertence à geração pós-2ª Guerra. Nascido em 1947, estudou Artes e Desenho Industrial na Universidade de Berlim. Ele já disseminou suas pedras de recordação, as stolpersteine (em português, pedras-obstáculo) por toda a Europa. Seu moto é “one victim - one stone”, para cada vítima uma pedra, como se cada indivíduo ali tivesse seu túmulo. As primeiras 50 stolpersteine foram instaladas ilegalmente nas calçadas de Berlim, em 1996. Depois foi a vez de Colônia, com 600, e, assim, a ideia foi ganhando força e vigor. Hoje, seu projeto é o maior memorial descentralizado do mundo.<br/> O que são as stolpersteine? Trata-se de paralelepípedos de concreto, de 10 cm x 10 cm, cimentados nas calçadas. Um lado é coberto por uma chapa de latão dourado, com uma inscrição. Geralmente, nela aparece: “Aqui morava” (hier wohnte) ou “aqui vivia” (hier lebte) ou “aqui atuou” (hier wirkte), tendo, logo depois, o nome da pessoa homenageada, data, lugar de nascimento e o destino que teve: suicídio (selbstmord) ou, na maioria dos casos, deportação e assassinato nos campos (deportation ou ermordet). O objetivo dessa intervenção artística é criar pequenos memoriais para relembrar as vítimas do nacional-socialismo, mortos nas deportações, nos campos, nas câmaras de gás. Em maio de 2016 o sol brilhava no bairro de Scheunenviertel, Berlim. O lugar abrigava antigamente uma considerável população judaica, em sua maioria originária da Europa Central e Oriental. Ali, um grupo de pessoas vindas da Alemanha, Israel e Holanda e estudantes do Canadá (em viagem de pesquisa sobre a Shoá) estão prestes a iniciar uma cerimônia. Trajando seu chapéu típico, Gunter Demnig chega ao local. Ele carrega baldes de cimento, ferramentas e duas reluzentes placas em memória das vítimas judias, Erzsebet e Jakob Honig.</p>
<p>Após uma curta introdução, ajoelha-se e começa a cavar. Atrás do público presente, crianças brincam onde antes havia numerosos prédios habitados por dezenas de famílias. Muitas foram forçadas a sair, para depois serem assassinadas em Auschwitz. O artista termina o trabalho em 10 minutos. Após inserir as placas na calçada, ele lhes dá uma polida, tira o chapéu e volta para o carro.<br/> À noite, numa cerimônia para lembrar os 20 anos das stolpersteine, Demnig conta que naquele dia colocara pedras comemorativas em 17 endereços berlinenses. Em 2015, passou 258 dias viajando pela Europa, colocando placas em até três cidades num só dia. Algo inimaginável em 1996, quando depositou as primeiras “pedras-obstáculo” para os 50 moradores judeus do bairro de Kreuzberg, em Berlim, como parte de um projeto artístico intitulado “Künstler forschen nach Auschwitz” (Artistas pesquisam Auschwitz). Na ocasião, as stolpersteine eram ilegais e em sua colocação não havia imprensa, polícia ou parentes, apenas alguns curiosos.<br/>
Agora são mais de 7 mil “pedras-obstáculo” somente na capital alemã e 60 mil pela Europa: de Trondheim (Noruega) até Salônica (Grécia); de Orel (Rússia) até l’Aiguillon-sur-Mer (França). Elas já se tornaram parte inseparável da paisagem urbana da Alemanha, Bélgica e Holanda. Há inclusive visitas guiadas especialmente para vê-las em cidades como Amsterdã, Budapeste e Roma.<br/>
Hoje as placas são tantas que Demnig não tem mais tempo de produzi-las. Desde 2005, o escultor Michael Friedrichs-Friedländer as faz manualmente em seu ateliê na periferia de Berlim. O artista considera todas as “pedras-obstáculo” comoventes, mas ficou particularmente emocionado com 34 delas, fabricadas para 30 órfãos e seus quatro cuidadores, colocadas diante de um orfanato de Hamburgo. Com a voz embargada, ele desabafa: “Eles tinham entre três e cinco anos... Eu não pude dormir por semanas”.<br/>
Uma “stolpersteine” para o Dr. Félix Bloomfield<br/>
O arquiteto Peter Bloomfield e sua família participaram em Kassel de uma cerimônia de colocação de “stolpersteine” em homenagem a uma vítima da Shoá, o avô de Peter, o Dr. Félix Bloomfield, um destacado médico de quem os nazistas cassaram, assim como de todos os médicos judeus que viviam nas áreas sob seu domínio, o direito de exercer sua profissão. O caso Bloomfield difere dos outros, pois ele foi homenageado com duas “pedras-obstáculo”: uma colocada na sua casa e outra frente ao “Kinderkrankenhaus Park Schonnfeld”, uma clínica para crianças. A clínica infantil que funcionava existiu até pouco tempo. Atualmente virou um abrigo para refugiados sírios, iraquianos e afegãos.<br/>
Quinze anos atrás, Peter Bloomfield visitou o hospital pediátrico, que era também o primeiro de Kassel, no qual o Dr. Bloomfield desenvolvera importantes avanços na pediatria, obtendo a fórmula de um medicamento para combater os então altos índices de mortalidade infantil. Em 1933, já impedido de exercer a medicina, o Dr. Félix ainda trabalhava no hospital que ele mesmo fundara. Patriota, negou-se a deixar Alemanha. Num primeiro momento, o círculo de conhecidos conseguiu evitar que fosse deportado. Mas, não podendo exercer a medicina para se sustentar, foi obrigado a trabalhar de gari, coletando o lixo da cidade. A humilhação, a falta de dignidade e a retirada da cidadania alemã levaram Bloomfield a cometer suicídio em 1942, deixando uma carta onde relata os momentos de degradação vivenciados. No ano de 2012, voluntários da comunidade judaica de Kassel formaram um grupo que preparou uma lista de vítimas do Holocausto, candidatos a serem homenageados com uma das stolpersteine. A moradora de Kassel, Barbara Bahr, ajudou a família Bloomfield a obter informações sobre o Dr. Félix em artigos de revistas e jornais. Barbara explica, emocionada, que “não gostaria que os nomes das vítimas fossem esquecidos”. Peter Bloomfield comenta que logo percebeu que se tratava de um projeto sério, envolvendo Gunter Demnig, e que o dinheiro deveria vir de patrocínios privados.<br/>
Peter Bloomfield chegou a Kassel com alguns membros de sua família direta. Na cerimônia também estavam presentes o irmão mais velho, Steven (68 anos) e seus familiares. Demnig queria que a cerimônia fosse realizada em um sábado, porém a pequena comunidade judaica de Kassel não concordou, ficando, então, a cerimônia para após o pôr do sol, em 1 de novembro de 2013. Emocionado, Steven Bloomfield disse: “É inacreditável que 70 pessoas entre membros da família, historiadores, médicos e boa parte da comunidade se fez presente numa noite tão fria e chuvosa”.<br/>
Durante a cerimônia, médicos e funcionários do hospital renderam uma homenagem ao Dr. Félix Bloomfield. Uma senhora idosa relembrou seu encontro com o médico. Na época, ela tinha uma doença de pele que ninguém conseguia tratar. Sua mãe a levou ao Dr. Félix que aceitou tratá-la, mesmo já banido da prática médica pelos nazistas. Arriscando sua vida, ele a tratou e curou.<br/>
Uma stolpersteine para Charlotte Salomon <br/>
Filha única de Albert e Fränze Salomon, Charlotte Salomon (1917-1943) foi uma artista plástica que expressou sua arte de uma forma sui-generis. Enquanto a 2a Guerra devastava a Europa e os nazistas matavam milhões de judeus, a artista criou uma opereta que, através da ficção, contava a verdadeira história de sua família desde a 1ª Guerra até 1941.<br/>
Em sua obra, ela transformou a si mesma e a todos aqueles que fizeram parte de sua curta vida em personagens com nomes fictícios que aludiam a alguma de suas características pessoais. O resultado foi uma obra muito interessante e muito peculiar à qual deu o título tão pouco comum quanto a própria obra, “Leben? Oder Theater? Ein Singspiel”, ou seja: “Vida? Ou Teatro? Um Drama Musical”.<br/>
Após deixar a Alemanha, em janeiro de 1939, Charlotte foi enviada por seus pais para Villefranche-sur-Mer, sul da França, próximo a Nice, onde então viviam seus avós maternos. Encantada pela paisagem da Riviera francesa, tudo que ela queria era ficar sozinha e desenhar. Em setembro de 1939, estoura a 2a Guerra Mundial. Desesperada, a avó de Charlotte tenta o suicídio e, para alegrá-la, a jovem decide criar um livro de história, ilustrado, sobre o passado da família. Era a sua primeira tentativa na direção de Leben? Oder Theater?.<br/>
Ela levava seu caderno de desenho para o ar livre e, assim, pintou mais de 1 mil guaches reproduzindo tragédias familiares reais e imaginárias, misturando-as com acontecimentos históricos. Os últimos guaches são compostos apenas por palavras, pois pressentia que o tempo lhe fugia e ela precisava terminar de contar sua história. No final, escolheu 760 guaches, organizando-os em atos e cenas, e introduziu um narrador. A história de “Charlotte Kann” será contada pela voz dela. <br/>
Até o ano de 1942, a Riviera francesa estava sob domínio da Itália. Apesar de aliados de Hitler, os italianos não pretendiam deportar judeus, o que lhes permitiu viver dentro de certa normalidade até setembro de 1943 quando a área é ocupada pelos alemães. Eichmann envia para lá o SS Alois Brunner com a missão de deportar 1.800 judeus que ainda viviam na região. Fracassaram as tentativas de organizar o resgate desses judeus, pois Brunner foi mais rápido e, em 24 de setembro, prendeu centenas, entre eles, Charlotte Salomon e Alexander Nagler, seu marido. Os dois são deportados para Drancy e, em seguida, para Auschwitz. Charlotte, já grávida de cinco meses, não sobreviveu à primeira seleção, enquanto Nagler viveu até 1944.<br/>
Pouco antes de ser deportada, Charlotte tinha uma única preocupação: salvar seu trabalho se não fosse possível salvar sua vida. Assim, entregou as mais de mil pinturas a um amigo próximo, o médico Dr. Moridis, pedindo-lhe: “Guarde isto em segurança, toda a minha vida está aqui”. Ela jamais poderia imaginar quão longe “sua vida” chegaria, após a guerra.<br/>
Terminada a guerra, o Dr. Moridis entregou o trabalho de Charlotte a Ottilie Moore, velha amiga da família. Finalmente, o pai, Albert, e sua segunda esposa, Paula Lindberg-Salomon, foram a Villefranche-Sur-Mer para reivindicar o que Charlotte pintara nos anos em que lá vivera. Ottilie, no entanto, só lhes entregou o pacote que continha os guaches de “Vida? Ou Teatro?”.<br/>
Os stolpersteine de Albert Salomon, Paula Lindberg-Salomon e Charlotte Salomon, foram colocados na Wielandstrasse 15,Berlim, em 25 de agosto de 2012, por iniciativa de Gerhard Schoenberner, amigo da família.<br/>
Uma stolpersteine para Olga Benário<br/>
Em 12 de fevereiro de 2008, Olga Benário Prestes completaria 100 anos. Como ponto alto das homenagens, a “Galeria Olga Benario”, de Berlim, inaugurou uma pedra-obstáculo em frente ao último endereço que esta revolucionária ocupou na capital alemã. Sua stolpersteine está instalada na calçada da Innstrasse 24, no bairro de Neukölln, e foi inaugurada por sua filha única, a professora Anita Leocádia Prestes, nascida na prisão de Barnimstrasse, Berlim, em 1936, e arrancada dos braços de sua mãe 14 meses depois.<br/>
Olga Benário nasceu em Munique e nos anos 1920 já era considerada pela República de Weimar como uma agitadora comunista. Juntamente com seu amigo, Otto Braun, mudou-se para Berlim, tornando-se membro da Juventude Comunista. Ocuparam um pequeno apartamento na Innstrasse, onde foram presos. Olga logo foi libertada, organizando junto com os camaradas uma ação para resgatar Otto Braun da prisão de Moabit.<br/>
Em abril de 1928, invadiram a sala do tribunal para onde Braun era conduzido, rendendo os policiais e libertando o preso. Após esta operação, Olga e Braun fugiram rumo a Moscou para trabalhar pelo “Movimento Trabalhista Internacional”.<br/>
Em 1935, Olga conheceu Luiz Carlos Prestes nas fileiras do Partido Comunista Internacional. Logo se apaixonaram e partiram de Moscou para Rio de Janeiro, onde organizaram, sem sucesso, a Intentona Comunista de 1935. Em 1936, Olga foi presa, grávida, e entregue à Gestapo pelo presidente Getúlio Vargas. Em setembro do mesmo ano, foi enviada a Berlim, tendo a filha, Anita, na prisão. No começo de 1938 foi separada da criança e enviada para o campo de concentração de Lichtenburg.<br/>
Olga passaria ainda três anos no campo de mulheres de Ravensbrück, antes de ser deportada, em 1942, para as câmaras de gás em Bernburg. Em 1984, a “Associação dos Perseguidos pelo Regime Nazista” fundou a Galeria Olga Benario. O espaço vem-se tornando nos últimos anos uma referência sobre a coragem feminina.<br/>
Itália coloca suas “Stolpersteine”<br/>
A Itália se rendeu à ideia de Gunter Demnig, também homenageando dessa forma suas vítimas do Holocausto. Os italianos entenderam que a memória não se limita ao único dia comemorativo, como, por exemplo, o Dia da Deportação dos Judeus de Trieste, mas se torna parte inseparável do presente e do futuro. O local onde as stolpersteine foram colocadas em Roma estão listados no site <a href="http://www.memoriedinciampo.it">www.memoriedinciampo.it</a>. Há sete instituições que participaram do projeto, dentre elas o Antigo Centro Histórico de Roma. O projeto de Demnig é financiado por inúmeras entidades e conta com o apoio do presidente da Itália.<br/>
A Itália constituiu um comitê científico para dar suporte ao projeto das stolpersteine, com renomados historiadores. Em janeiro de 2012 foi agraciado com uma “pedra-obstáculo” o padre Pietro Pappagallo, que escondeu judeus durante a guerra. Traído por uma alemã, ele foi preso e condenado à morte em 1944. Um cubo de latão no chão da Via Urbana 2, em Roma, homenageia o sacerdote.<br/>
Houve, na Itália, atos de vandalismo contra as stolpersteine. No início de 2012, em Santa Maria in Monticello, pessoas desconhecidas removeram e substituíram por pedras normais as comemorativas ali colocadas. Elas estavam dedicadas à memória das três irmãs Spizzichino: Graziela, Letizia e Elvira, judias mortas no Holocausto. Atos bárbaros, ultrajantes e vergonhosos como estes não apagarão jamais a memória destas três pessoas, pois a memória de um ser humano não está ligada à materialidade visível de uma placa, vivendo eternamente na mente e no coração daqueles que os valorizam.<br/>
Palavras Finais<br/>
As stolpersteine convidam à reflexão. Lidar com datas e acontecimentos históricos é emocionante, mas descobrir uma inesperada “pedra-obstáculo”, começar a ler a sua inscrição e ver a casa onde a pessoa viveu ou trabalhou, é totalmente diferente. O projeto stolpersteine devolve às vítimas o seu nome. Deixa evidente que se está diante do que foi um ser humano com nome, um lar, uma família e uma história única. Fatos cruéis vão adquirindo um rosto e se tornam tangíveis. Vizinhos se emocionam ao ver as pedras e, assim, tomam consciência dos seus destinos dramáticos. Descobre-se que o horror não poupou a cidade, o bairro ou a rua; mas que numa realidade triste houve também pessoas corajosas que arriscaram a vida contra o regime de terror.<br/>
As pedras de Gunter Demnig são lápides. Elas relembram a morte de crianças, mães, avós, tios, parentes com nome e sobrenome. Registram a data em que cada um foi preso, humilhado, deportado, escravizado, morto, incinerado em nome das nefastas filosofias e políticas do Terceiro Reich. Apesar de sua tradução em português, estas pedras não devem representar um “obstáculo”. Elas testemunham o quanto um Estado totalitário conduzido por seres inescrupulosos, adeptos a filosofias imorais, pode converter-se numa máquina de destruição.<br/>
Há também críticos do projeto stolpersteine, como Charlotte Knobloch, ex-presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha. Segundo ela, colocar pedras memoriais no chão é ofensivo, pois as vítimas judias voltam a ser pisoteadas. Gunter Demnig contesta a crítica afirmando: “Quem se abaixa para ler a inscrição na pedra-obstáculo, curva-se diante das vítimas”.<br/>
Encerro este artigo registrando um poema anônimo intitulado “Stolpersteine”:<br/>
Me deparei com você,<br/>
alma irmã transformada em pedra,<br/>
gravada numa calçada pavimentada, <br/>
transitada por milhares.<br/>
Como dente dourado,<br/>
extraído do passado urbano,<br/>
reintegrado em espaços perdidos<br/>
e inutilizados, ao longo do tempo.<br/>
Quintal - Hinterhof,<br/>
[mistura] de luto e culpa,<br/>
que arde nos meus olhos,<br/>
piscando com o brilho do sol,<br/>
daquele último verão; <br/>
mexendo no passado,<br/>
agitando seu nome,<br/>
dos pés à cabeça:<br/>
Gisela e Elvira, <br/>
Sofia, Edith e Kira.<br/>
Uma memória brilhante,<br/>
perdida, porém polida,<br/>
lembrada nas calçadas,<br/>
e nas “pedras-obstáculo”.<br/>
BIBLIOGRAFIA<br/>
Aquino, Felipe, As pedras de tropeço de Roma. Editora Cléofas, 2012.<br/>
Charlotte Salomon, A obra de uma vida. Morashá, abril de 2012<br/>
<a href="http://www.stolpersteine.eu/en/home/">http://www.stolpersteine.eu/en/home/</a><br/>
Festiner, Mary Lowenthal, To paint her life: Charlotte Salomon in the Nazi era. University of California Press, 1997<br/>
Morais, Fernando, Olga. 2ª edição. Companhia das Letras, 1993. <br/>
<a href="http://stolpersteine.jimdo.com/">http://stolpersteine.jimdo.com/</a> biografien/ dr-felix-blumenfeld/<br/>
Prof. Reuven Faingold é historiador e educador; PHD em História e História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. É sócio fundador da “Sociedade Genealógica Judaica” do Brasil e, desde 1984, membro do “Congresso Mundial de Ciências Judaicas” em Jerusalém. Atualmente, é responsável pelos projetos educacionais do “Memorial da Imigração Judaica” de São Paulo.</p> Leonard Cohen, compositor e poeta Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2017-03-23:3531236:Topic:1128002017-03-23T19:19:20.167ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Ele foi cantor, compositor e, sobretudo, um poeta cujas palavras eram destinadas a atrair a atenção dos Céus. Neto de um rabino, Leonard era um contador de histórias que conseguiu capturar em seus poemas e músicas a essência, a beleza e a dor que nos rodeiam.</p>
<p class="num-edicao"></p>
<hr></hr><p>Leonard Cohen foi um dos mais influentes artistas dos séculos 20 e 21. Autor da canção “Aleluia”, um dos maiores sucessos de todos os tempos, ele era um ícone do universo musical, um artista…</p>
<p>Ele foi cantor, compositor e, sobretudo, um poeta cujas palavras eram destinadas a atrair a atenção dos Céus. Neto de um rabino, Leonard era um contador de histórias que conseguiu capturar em seus poemas e músicas a essência, a beleza e a dor que nos rodeiam.</p>
<p class="num-edicao"></p>
<hr/><p>Leonard Cohen foi um dos mais influentes artistas dos séculos 20 e 21. Autor da canção “Aleluia”, um dos maiores sucessos de todos os tempos, ele era um ícone do universo musical, um artista singular que não pertencia a uma época em particular. Começou sua trajetória artística como poeta, chegando aos 30 anos antes de decidir-se a entrar no mundo da música. Seu sucesso chegou lentamente, primeiro na Europa e em Israel e, posteriormente, nos Estados Unidos – e neste país quando já tinha completado 50 anos.</p>
<p>Era uma pessoa muito discreta, relutante em revelar aspectos de sua vida particular. Quando entrevistado, costumava dizer que as únicas respostas que realmente importavam eram as referentes às suas canções. Morreu aos 82 anos, em 7 de novembro do ano passado, em Los Angeles.</p>
<p><strong>Vida familiar</strong></p>
<p>Em 21 de setembro de 1934, com o nascimento de Leonard, Masha e Nathan Cohen tornaram-se pais pela segunda vez – já tinham uma menina. A família vivia então em Westmount, subúrbio afluente na ilha de Montreal, no sudoeste de Quebec, Canadá. Era uma florescente comunidade judaica. Seu avô materno era o Rabi Solomon Klinitsky-Klein, conceituado erudito e autor de várias obras. Tanto o rabino Solomon como Lazarus Cohen, bisavô paterno de Leonard, nasceram na Lituânia, onde eram considerados promissores estudiosos talmúdicos.</p>
<p>Pobreza e pogroms levaram os dois a deixar sua terra natal, estabelecendo-se inicialmente na Inglaterra e, em seguida, no Canadá. Enquanto Rabi Klinitsky-Klein continuou trilhar o caminho espiritual, Lazarus Cohen decidiu buscar o mundo dos negócios. Trabalhou primeiro em um depósito de madeira e lutou muito até conseguir se tornar um dos mais importantes empresários de Montreal. Seu filho, Lyon, avô de Leonard, fez crescer ainda mais a fortuna da família ao fundar uma empresa extremamente bem sucedida no ramo de vestuário.</p>
<p>Os Cohens eram amigos da família Klinitsky-Klein desde a Lituânia, e Lyon ficou feliz quando Masha, filha de Rabi Salomon, casou-se com seu filho Nathan. Foi assim que Leonard cresceu em um ambiente de fartura e judaísmo. O judaísmo sempre foi muito presente em sua vida. Lazarus Cohen, seu bisavô paterno, era um homem religioso e sionista. Ajudou a construir a mais importante sinagoga de Montreal, <em>Shaar Hashamayim</em>, ou Portão do Paraíso.O jovem Leonard ia à sinagoga todo sábado de manhã.</p>
<p>A família Cohen era sionista e acreditava que os judeus poderiam um dia voltar ao seu Lar. Quatro anos antes do 1º Congresso Sionista, realizado na Basileia em 1897, Lazarus já tinha ido a <em>Eretz Israel</em> onde adquiriu terras. Lyon, o avó de Leonard, herdou de seu pai o amor por nosso povo e nossa Terra. Na porta de sua casa, havia uma grande Estrela de David esculpida e, em 1919, ele se tornou membro fundador e primeiro presidente do Congresso Judaico do Canadá, que congregava as organizações judaicas do país.</p>
<p>Leonard perdeu seu pai ainda muito jovem, em janeiro de 1944. Lutando na 1ª Guerra Mundial como tenente da 4ª Companhia de Campo de Engenheiros Canadenses, Nathan foi ferido gravemente. Após a morte do pai, seus tios o convidaram para trabalhar na empresa da família. Mas, após um verão inteiro na fábrica, pendurando casacos nas araras, teve a certeza de que, embora houvesse um lugar para ele no mundo dos Cohen, aquilo não era para ele. Ele sabia que o intuito de seus tios era “salvar o pobre coitado do filho do irmão”. Além disso, a indústria têxtil tinha poucos atrativos para um jovem que estava descobrindo os poetas e os profetas judeus...</p>
<p>Vários anos após a morte do pai, seu avô, Rabi Solomon, viveu um ano em sua casa, revelando-lhe uma visão mais espiritual do judaísmo. O avô costumava ler e reler para Leonard passagens do Profeta Isaías e de outros profetas do <em>Tanach</em>. Lia para ele versos como: “O Senhor castigará a Terra: com o castigo de Sua boca e a respiração de Seus lábios Ele destruirá os malvados”. Com sua linguagem de punição e justiça, de condenação e salvação, as palavras dos Profetas do Tanach apontavam para um judaísmo totalmente diferente da que Leonard ouvia na sinagoga. Era uma visão espiritual que fascinou o jovem.</p>
<p>Crescendo sem uma figura paterna para guiá-lo, Leonard foi obrigado a traçar sozinho os seus caminhos. Enquanto frequentava o Ensino Médio, interessou-se por garotas, estudou oratória e concorreu à liderança estudantil; fez esportes e foi monitor em colônias de férias; aprendeu a tocar razoavelmente vários instrumentos, inclusive a guitarra, e formou um banda chamada Buckskin Boys.</p>
<p>Não era muito próximo de sua irmã, e sua mãe se casara novamente, porém logo se divorciou. Leonard considerava a mãe uma mulher amorosa, mas impulsiva e emotiva. E, quando estava em casa, ele passava a maior parte do tempo no seu quarto, lendo, escondendo-se de todos. Desenvolveu o hábito de fazer longas caminhadas que o levavam às mais diferentes partes da cidade. Como suas notas eram boas, mantendo as aparências podia fazer o que quisesse. <br/> Amor à poesia</p>
<p>Leonard Cohen começou sua vida artística como poeta. Herdara do avô materno a percepção de que as mais elevadas formas de literatura falam de justiça e almejam à transcendência.</p>
<p>Em 1951, com apenas 17 anos, foi aceito na Universidade McGill, de Montreal, tornando-se o talento literário da instituição. Enquanto cursava, escreveu uma coletânea de poemas, “Let Us Compare Mythologies”, publicados em 1956.</p>
<p>Após se formar, fez um semestre de Direito, além de trabalhar nas empresas da família durante alguns meses. Insatisfeito, mudou-se para Nova York, alugando um apartamento em Riverside Drive e matriculando-se na Universidade de Columbia, onde estudou inglês. Enquanto isso, escrevia. Mas nada disso o satisfazia. Nem a rotina do trabalho nem tampouco o curso de graduação conseguiram diminuir seu desejo, sua percepção de que havia uma maneira melhor de viver e de ser que ele ainda não descobrira.</p>
<p>Já tinha publicado duas coletâneas e a crítica o chamara de “O melhor poeta de sua geração”. Podia ser visto fazendo leituras de seus poemas, à noite, sentado em uma banqueta, com pouca iluminação, apenas um foco sobre si. Tímido, ele tinha receio de palco. Quando tinha que se apresentar publicamente, seu sorriso era nervoso, apertava seu livro de poemas contra o estômago, evitando fixar seu olhar. Mas assim que começava a falar, seu ritmo era perfeito, e o público era embalado por suas palavras.</p>
<p>Em 1964, aos 30 anos, deixou os Estados Unidos e passou a viver na ilha grega de Hydra, em uma casa branca no alto de um penhasco. Dali via o mar Egeu. Passava horas, diariamente, escrevendo. Inicialmente escrevia sobre redenção, um tema judaico amplo o suficiente para o trabalho de uma vida.</p>
<p>Depois vieram trabalhos mais ousados, trabalhos que deixaram os críticos boquiabertos e afastaram muitos fãs. Em 1964, quando sua coletânea de poemas sobre Hitler e sobre crueldade foi finalmente publicada, sob o provocativo título de “Flowers for Hitler”, ele prefaciou a obra com a seguinte citação: “Se de dentro do campo de concentração Primo Levi, um sobrevivente, escrevesse uma mensagem que pudesse ser levada aos homens livres, teria sido esta: ‘Tomem cuidado para não sofrer em suas próprias casas o que nos é infligido aqui’”.</p>
<p>Cohen acreditava que a capacidade de fazer o mal estava dormente em todos nós, e se quiséssemos expurgá-la, antes de mais nada era preciso aprender a falar sobre ela.</p>
<p><strong>De poeta a cantor</strong></p>
<p>Aos 32 anos, Leonard decidiu tornar-se cantor. Era o ano de 1966 quando deixou a ilha de Hydra e se mudou para Nova York. Tinha planos audaciosos em relação à sua carreira e queria reinventar-se como autor de canções. Sentia que, finalmente, havia encontrado a expressão artística que lhe permitiria transmitir e disseminar suas ideias. </p>
<p>Há quem diga que essa sua decisão pode ter sido influenciada, em parte, por motivos financeiros, mas certamente nunca foi a única razão, sequer a principal. O lado espiritual da música atraía Leonard, ele sabia da importância da música para o espírito humano. O Livro dos Salmos, que o fascinava – instruía os que o estudavam: “Cante ao Senhor com graças; cante cânticos de louvor com a harpa para o Senhor, nosso D’us”. Cohen, que estudara os Cinco Livros de Moshé, sabia ainda da importância da música na época do Grande Templo de Jerusalém. Quando ofereciam os sacrifícios, os <em>Cohanim</em> eram acompanhados por música e cânticos dos <em>Leviim</em>.</p>
<p>Quando passou a compor música o resultado foi sublime. Eram músicas produzidas lentamente e com grande esforço, Cohen levava meses escrevendo cada uma delas. Escrevia dezenas de versos para cada uma e, então, lentamente, ia ajustando-os até alcançar sua essência. Isso levava às vezes anos. Ao cunhar seus versos, ele os transformava de confissões pessoais em invocações universais. Numa entrevista que deu anos mais tarde, revelou que tudo o que já tinha escrito, fossem seus poemas, canções, todos era, na verdade, “um grande diário, regulado pela música de violão”.</p>
<p>Ao se mudar para Nova York, em 1966, conheceu um jovem músico, 10 anos mais novo do que ele, Bob Dylan, sentindo-se logo imensamente atraído por suas músicas.</p>
<p>Em 1966, o <em>rock n’ roll</em> mudara. Compositores como Dylan se preocupavam com a poesia das letras e a mensagem a ser transmitida. Ainda que isso combinasse bem com a música de um poeta interessado na redenção e na espiritualidade, o universo do <em>rock n’ roll</em> não recebeu Leonard de braços abertos. O início de sua carreira foi difícil. Ia de agente em agente, sendo repetidamente rejeitado. Diziam-lhe que era muito velho e suas canções melancólicas. Tampouco agia como alguém que tinha como prioridade impressionar Nova York. No fundo, ele ainda era o jovem que lia os Salmos, o Profeta Isaías e que escrevera, em uma de suas músicas, que “... esqueceram-se de rezar aos anjos e os anjos se esqueceram de rezar por nós<em>...”.</em></p>
<p>Finalmente, através de um amigo, foi apresentado à canadense Mary Martin, que o apresentou a John Hammond, o homem que descobrira, além de Dylan, vozes como Billie Holiday e Aretha Franklin. Martin telefonou a Hammond e lhe disse: “Há um poeta canadense que acho que vai-lhe interessar. Ele toca bem a guitarra e é um compositor maravilhoso, mas não lê música e é estranho...”.</p>
<p>O empresário recorda que percebeu imediatamente o potencial de Leonard. “Ele era encantador.... não se parecia a nada que eu já tivesse ouvido. Eu sempre quis ser o agente de alguém verdadeiramente original, se eu pudesse encontrar um, pois não há muitos no mundo. E o jovem sentado à minha frente ditava suas próprias regras, e era realmente um poeta extraordinário”.</p>
<p>Hammond lembra ainda que quando Cohen terminou de tocar ele lhe disse: “Você tem o que é preciso”. Cohen ficou sem saber se ele se referia ao talento Divino ou a uma recompensa mais terrena de um contrato de gravação com a poderosa Columbia. Hammond provavelmente quis dizer ambos, e, em agosto de 1967, Cohen entrava no estúdio para gravar seu primeiro álbum.</p>
<p>Em novembro daquele ano de 1967, duas de suas primeiras composições foram gravadas por Judy Collins em seu álbum “In My Life” – “Dress Rehearsal Rag”, e “Suzanne,” um de seus primeiros poemas, então musicado. No mesmo disco, a cantora interpretou músicas de Dylan e dos Beatles. O álbum ganhou o Disco de Ouro e Cohen pôde, a partir de então, considerar-se “um compositor”.</p>
<p>Com todo o seu talento, no entanto, Leonard ainda ficava aterrorizado diante de um palco. Apresentar-se ao vivo, diante de uma multidão, era extremamente difícil para ele. Caminhava hesitante em direção ao palco, com a guitarra escondida e suas pernas tremendo. Mas, assim que começava a cantar encantava o público.</p>
<p><strong>Sua relação com Israel</strong></p>
<p>Em 19 de abril de 1972, ele aterrissou no Aeroporto Ben-Gurion, em Israel, para realizar um concerto em Tel Aviv e dois em Jerusalém. Ficou extasiado ao ver Jerusalém, a Cidade de David. Em uma entrevista, um dos repórteres lhe perguntou se ele era “um judeu praticante”, ao que respondeu: “Estou sempre ‘praticando’. Às vezes sinto temor a D’us. Sinto, mesmo, esse temor, às vezes”.</p>
<p>Leonard sabia que era famoso, em Israel. Durante os shows que deu nesse país percebeu o quanto a multidão o amava – e o quanto ele amava aquele público. Durante um de seus shows, já no camarim, Leonard ouviu a agitação no auditório com o público pedindo sua presença no palco. Milhares de pessoas passaram a aplaudir e cantar “<em>Hevenu Shalom Aleichem</em>,” popular música de uma única estrofe, que significa “Trouxemos a paz para você”. E ao ouvir essa música, decidiu entrar palco. O público passou a cantar mais alto ainda e aplaudir mais forte, com mais entusiasmo do que Leonard ou seus músicos jamais tinham ouvido em qualquer apresentação. Com lágrimas nos olhos, Leonard pegou o microfone e disse: “Ei, pessoal, minha banda e eu estamos todos chorando. Estamos muito emocionados e não podemos continuar. Quero apenas dizer-lhes muito obrigado e boa noite!”. “Que público!”, disse, para ninguém em especial ao deixar o palco”.</p>
<p><strong>A Guerra de Yom Kipur</strong></p>
<p>A Guerra de Yom Kipur eclodiu em 6 de outubro de 1973. Leonard estava em Hydra e assim que soube do ataque a Israel partiu para Atenas e, de lá, pegou um avião para Tel Aviv. Acidentalmente encontrou em um café um homem chamado Levi que o reconheceu. Para Levi, foi um sonho, pouco provável ver Leonard sentado sozinho naquele café. O artista lhe disse que não podia ficar longe de lá e tinha vindo assim que soubera do ataque contra Israel. Não sabia por que, nem o que faria ao chegar. Mas tinha que vir.</p>
<p>Levi lhe respondeu que sua mera presença, em meio à guerra, faria milagres para o moral dos soldados, e que ele o levaria até eles nas bases militares e até nas várias frentes de batalha. A primeira parada foi numa base, onde foi improvisado um palco. Quando Levi apresentou-se e então anunciou o convidado especial, Leonard Cohen, inicialmente ninguém aplaudiu, pois ninguém acreditou que fosse verdade. O silêncio se manteve quando Leonard entrou, mas foi subitamente rompido pelos aplausos de soldados exaustos. Aquele momento o transformou. Assim que o show acabou, pegou sua guitarra e escreveu uma nova canção: “Lover, Lover, Lover.” No segundo show daquele dia, ele apresentou ao público a sua nova música. E os versos diziam: “E que o espírito desta canção, que possa alçar-se puro e livre, que possa ser um escudo para vocês. Um escudo contra o inimigo”...</p>
<p>Leonard estava incansável e manteve um ritmo intenso de apresentações, até umas oito por dia, durante quase três meses. Em alguns locais, cantou de pé, com um soldado segurando uma lanterna para permitir que vissem seu rosto. Frequentemente ele e Levi simplesmente dirigiam ao longo das frentes de batalha, parando onde avistassem um grupo de soldados e surpreendendo-os com algumas canções. Em uma apresentação para uma unidade de paraquedistas, no Deserto do Sinai, poucas horas antes deles partirem para a batalha, Leonard pediu aos homens que se aproximassem e começou a cantar os primeiros versos de “Até logo, Marianne”. A canção, disse Cohen, fora feita para ser ouvida em casa, com uma bebida em uma das mãos e com a outra abraçando a mulher amada.</p>
<p>A guerra deu um novo <em>insight</em> ao artista. Afastado da fama e de expectativas, ele vivenciou no deserto novas ideias sobre a vida em um mundo estilhaçado. No deserto, ele começou a trabalhar em seu próximo álbum, que não lembraria em nada suas criações anteriores.</p>
<p>O disco, lançado em 1974, foi bem recebido pela crítica, que ressaltou em suas resenhas as mudanças nas criações de Cohen. Mas, novamente, era um homem que não estava em sincronia com o seu tempo. No universo artístico que então se desenvolvia, não havia muito espaço para com cantor e compositor com obsessões transcendentais.</p>
<p><strong>Vida pessoal</strong></p>
<p>Em 1969 Leonard conheceu Suzanne Elrod. O casal teve dois filhos, Adam e Lorca. Quando sua filha nasceu, em 1974, sua relação com Suzanne já estava bem estremecida. Em 1978, pouco tempo após a morte de Masha, mãe do artista, o casal se separou. Suzanne se mudou com os filhos, então com sete e quatro anos, para a cidade francesa de Avignon.</p>
<p>Arrasado longe dos filhos, o artista ficava viajando entre a França, Nova York e Los Angeles. O jovem que, décadas antes, tinha declarado que a solidão era o único caminho para o Divino, era agora um homem que tinha vivido o suficiente para saber que estava certo.</p>
<p>Cohen tinha então 44 aos, com alguns álbuns recebidos pelo público com certo entusiasmo e, como confessara, “quase nenhuma vida pessoal”. A única coisa que ele podia fazer era escrever letras, fazer arranjos e gravar. O fruto de seus esforços apareceu no ano seguinte, na segunda metade de 1979, e chamava-se “Recent Songs”.</p>
<p>Leonard envolveu-se com a seita japonesa Rinzai Buddhism. O compositor sempre afirmou que nunca abandonou o judaísmo, o que era frequentemente dito. Quando sua relação com o monge budista Roshi tornou-se pública, ficou muito aborrecido. Leonard manifestou sua revolta em uma carta ao jornal <em>Hollywood Reporter</em>, em 1993. “Meu pai e minha mãe, de abençoada memória, teriam ficado muito perturbados com o fato de eu ser identificado como budista pelos jornalistas. Eu sou judeu. Mas é verdade que tenho estado bem curioso, já há algum tempo, com os murmúrios indecifráveis de um velho monge zen. Há pouco tempo, ele me disse: ‘Cohen, eu o conheço há 25 anos e nunca tentei dar-lhe minha religião”.</p>
<p><strong>“Hallelujah”</strong></p>
<p>Em 1984, Cohen estava afastado dos refletores. Ele era uma espécie de anomalia para o público dos Estados Unidos. Naquele mesmo ano, Walter Yetnikoff, da Columbia Records, convocou-o para uma reunião e, olhando para ele, disse: “Olhe, Leonard, sabemos que você é um dos grandes, mas não sabemos se você ainda é bom”.</p>
<p>Ele então apresentou seu novo álbum com a canção “Hallelujah”. Os diretores da Columbia Recordsnão acharam a canção “grande coisa”, sequer queriam lançar o álbum, que acabou saindo naquele ano na Europa e, somente no ano seguinte, nos Estados Unidos. Mas, foram poucos anos para que “Hallelujah” se tornasse um clássico.</p>
<p>A música é a mais famosa das composições de Leonard Cohen, apesar de que muitas pessoas sequer imaginem que tenha sido ele quem a escreveu. Um dos primeiros a perceber a beleza da música foi Bob Dylan, que a tocou em vários shows, em 1988. A música foi regravada mais de 300 vezes e tem sido interpretada por inúmeros artistas, de Bon Jovi a Bono. Há, inclusive, uma versão gravada em hebraico por soldados da IDF.</p>
<p>A palavra hebraica <em>halleluyah</em> é um termo composto por <em>hallelu,</em> que significa “louvar com júbilo” e “<em>yah</em>”, forma abreviada do indizível Nome de D’us. Portanto, “<em>halleluyah</em>” é uma instrução de cantar um louvor ao Eterno. Cada verso da música termina com a palavra que deu seu título à canção, então repetida quatro vezes, dando-lhe sua inconfundível marca encantatória.</p>
<p>Ao ouvir a letra da música, tem-se a impressão de que se trata de uma canção de influência bíblica. O primeiro verso se refere ao Rei David, à sua música espiritual e seu relacionamento com D’us, e ao amor do Rei por Bathsheba<em>.</em> Diz o verso: “Ouvi dizer que havia um acorde musical secreto que David tocava e que agradava ao Senhor... / Sua fé era forte, mas você precisava de provas / Você a viu banhar-se no terraço. Sua beleza e o luar o derrubaram”... <em>Hallelujah.</em> Em seguida a canção faz referência, à queda de Sansão por causa de Dalilah: “Ela cortou seus cabelos e de seus lábios ela tirou <em>Hallelujah...”.</em></p>
<p>Mas, a música se torna uma confissão pessoal e Cohen termina a canção falando com D’us, admitindo a derrota e sua devoção: “Fiz o melhor que pude e era pouco… E, mesmo assim, tudo deu errado. Postar-me-ei diante do Rei da música / Com nada em minha língua, a não ser <em>Hallelujah...”</em></p>
<p>No decorrer dos anos, em inúmeras entrevistas, perguntaram a Leonard Cohen por que tinha escrito essa música e qual a sua mensagem. Numa entrevista em 1985, ele revelou: “É um desejo de afirmar minha fé na vida... Eu acredito que ao dizer: ‘Hallelujah’ – quando você a declara diante de todo tipo de acontecimento e mesmo de catástrofe que estamos vendo em toda parte – invocamos algum tipo de energia benéfica”. Como escreveu a revista Rolling Stones, em dezembro de 2012, “a música é a mensagem de Cohen de esperança e perseverança diante das adversidades da vida. Leonard Cohen nos diz para não nos rendermos ao desespero ou ao niilismo.”</p>
<p><strong>O reconhecimento</strong></p>
<p>Demorou para que a música de Leonard Cohen obtivesse a admiração universal. Para muitos artistas, ele foi o maior letrista de canções de todos os tempos, e seus fãs acreditavam que ele deveria ter recebido o Prêmio Nobel de Literatura.</p>
<p>No início da década de 1990, ele parecia realizado. Em 1991 foi indicado ao Canadiam Musical Hall da Fama, uma honraria que havia recusado quando mais jovem por não achar que merecia. Não parecia mais estar em conflito, como décadas antes, por receber a mais importante láurea do país, e aceitou a premiação com um sorriso. Em 2008 entrou para o <em>Rock and Roll Hall of Fame</em> dos Estados Unidos e dois anos depois, recebeu um Grammy por sua trajetória musical. Entre outros era membro da Ordem do Canadá e da Ordem Nacional de Quebec e, em 2011, recebeu o Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras.</p>
<p>“Old Ideas,” seu 12º álbum, foi lançado em 2012, aos 77 anos. Foi o primeiro a entrar na lista dos dez mais da Billboard. Em 2014, na semana de seu 80º aniversário, Cohen lançou seu 13º álbum gravado em estúdio, denominado “Popular Problems<em>”</em>.</p>
<p>Em outubro de 2016, lançou “You Want it Darker”, produzido por seu filho Adam, também cantor e compositor. Um trabalho introspectivo, focado em temas como a mortalidade. Em entrevista recente para a revista <em>The New Yorker</em>, Leonard revelou que estava pronto para a morte.</p>
<p>Leonard Cohen morreu dormindo, em Los Angeles, em 7 de novembro de 2016. Seu filho contou que ele continuou escrevendo até seus últimos momentos.</p>
<p>Antes de sua morte, o compositor exigiu que fosse enterrado de acordo com o ritual judaico ortodoxo, ao lado de seus pais, avós e bisavós. Leonard Cohen foi enterrado em Montreal, horas antes de sua morte se tornar pública, no cemitério <em>Shaar Hashomayim</em>.</p>
<p>BIBLIOGRAFIA <br/> Leibovitz, Liel, <em>A Broken Hallelujah: Rock and Roll, Redemption, and the Life of Leonard Cohen</em>, e- eBook Kindle<br/> Cohen, Leonard, Burger, Jeff, <em>Leonard Cohen on Leonard</em>,eBook Kindle<br/> Simmons,Sylvie,<em>I’m Your Man: The Life of Leonard Cohen</em>, eBook Kindle</p> Rashi, o Mestre dos Mestres - Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2016-11-05:3531236:Topic:1109962016-11-05T18:10:27.623ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Rabenu Shlomo ben Yitzhak, Rashi, o maior de nossos mestres e o erudito bíblico mais brilhante de todos os tempos, é o comentarista clássico da Torá e do Talmud. Sua contribuição ao estudo da Torá é atemporal. Decorridos quase mil anos desde a publicação de suas obras, estas permanecem insuperáveis.</p>
<hr></hr><p>Desde o século 12, quando seus escritos foram publicados, os mesmos se tornaram um recurso indispensável para o estudo dos textos sagrados judaicos, adquirindo praticamente o status…</p>
<p>Rabenu Shlomo ben Yitzhak, Rashi, o maior de nossos mestres e o erudito bíblico mais brilhante de todos os tempos, é o comentarista clássico da Torá e do Talmud. Sua contribuição ao estudo da Torá é atemporal. Decorridos quase mil anos desde a publicação de suas obras, estas permanecem insuperáveis.</p>
<hr/><p>Desde o século 12, quando seus escritos foram publicados, os mesmos se tornaram um recurso indispensável para o estudo dos textos sagrados judaicos, adquirindo praticamente o status de texto bíblico. Ao longo da história judaica, muitos sábios e místicos escreveram comentários sobre os Cinco Livros da Torá e o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>, mas nenhum deles alcançou a importância e a imortalidade de Rashi.</p>
<p>É imensurável o impacto de suas interpretações e explicações sobre o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Tanach</em>, particularmente sobre os<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Chamishá Chumshei Torá</em>, em todo o mundo judaico. De fato, é raro alguém estudar o Pentateuco sem consultar os comentários de Rashi. E é graças à sua obra que o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>, uma verdadeira enciclopédia da Lei e Sabedoria Judaica até então hermeticamente fechada, tornou-se compreensível. As mais brilhantes mentes ainda se surpreendem com a exatidão de suas interpretações e pelo vastíssimo conhecimento que possuía.</p>
<p>A verdade é que em toda a história judaica, ninguém, além de Rashi, conseguiu escreveu um comentário bíblico capaz de ensinar uma criança que acabou de iniciar seus estudos da Torá e, ao mesmo, enriquecer o conhecimento de um grande erudito com toda uma vida dedicada ao estudo dos textos sagrados.</p>
<p>Quase mil anos após ter sido escrita, sua obra ainda é estudada e analisada, pois sempre há algum novo ensinamento a ser descoberto. As palavras de Rashi contêm camadas quase infinitas de significado e até o número de palavras em cada comentário tem um significado especial. É também quase infinito o número de ensinamentos ocultos, muitos dos quais místicos, acobertados por sua linguagem simples ao olhar do leigo.</p>
<p>Ao estudar a obra de Rashi percebe-se que há algo de extraordinário e sobrenatural em seus escritos. É evidente que seu trabalho é fruto da Providência Divina: Rashi foi um canal por meio do qual D’us revelou muitos dos segredos de Sua Torá a Seu Povo. Nenhum Sábio – antes ou depois dele – conseguiu produzir algo que se assemelhasse a seus comentários.<span class="Apple-converted-space"> </span><br/><br/><strong>O Mestre dos Mestres</strong></p>
<p>Por que Rabi Shlomo ben Yitzhak é conhecido pelo seu acrônimo? Uma explicação nos é dada por Rabi Chaim ben Attar, o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Or HaChaim</em>: o nome Rashi advém das letras iniciais do título<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Raban shel Israel</em>, “Mestre de todo o Povo de Israel”. Já o grande mestre chassídico, Rabi Nachman de Bretslav, apelidou Rashi de “irmão da Torá”. O título é cabível, pois desde que Rashi publicou seu comentário sobre o Pentateuco, a Torá e ele se tornaram inseparáveis. Contudo, a melhor denominação é simplesmente “<em>ha-Moré ha-gadol</em>” – o Grande Mestre. Rashi é o professor dos professores, o mestre dos mestres, pois, independentemente de idade, sabedoria ou nível de conhecimento, somos todos seus alunos.</p>
<p>Na literatura chassídica, ele é chamado de “o sagrado Rashi”, pois sua pena foi guiada pela própria<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Shechiná</em><span class="Apple-converted-space"> </span>– a Presença Divina. É impossível para um ser humano realizar tudo o que ele realizou. Foi provado que é fisicamente impossível alguém ter tido tempo de escrever todos os comentários que escreveu. Não obstante, não há dúvida de que foi Rashi, sozinho, quem os escreveu.</p>
<p>Nenhum outro Sábio escreveu tanto a respeito de tantas obras judaicas. Os comentários de Rashi elucidam além dos Cinco Livros da Torá, os Livros dos Profetas (<em>Nevi’im</em>), as Escrituras Sagradas (<em>Ketuvim</em>) e quase todos os tratados do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>Bavli.</p>
<p>Evidentemente, Rashi possuía poderes que iam além das leis da natureza: ou o seu dia possuía mais de 24 horas ou ele conseguia fazer parar o tempo. De qualquer forma, não se trata de um ser humano como outro qualquer. As leis da natureza não se aplicavam a Rashi: sua extensa obra o comprova.</p>
<p>Graças a ele – sua erudição, genialidade e generosidade – qualquer judeu tem a possibilidade de compreender a Palavra de D’us. Se não fosse por ele, o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>permaneceria um livro fechado. Antes de seus comentários, poucos eram os que entendiam essa sagrada obra, que é o fundamento da Lei judaica, pois mesmo os eruditos judeus se perdiam no gigantesco labirinto que é o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud Bavli</em>.</p>
<p>Por meio de seus escritos – de seu conhecimento enciclopédico e de seu estilo, sempre claro e cativante, preciso e inspirador – os segredos da Torá foram revelados e o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>se tornou compreensível. As explicações de Rashi são tão claras, tão didáticas, que, às vezes, quando um aluno estuda sua obra, tem a nítida sensação de que o mestre está estudando ao seu lado, guiando-o.</p>
<p>Apesar de sua grandeza e genialidade, no entanto, a obra de Rashi irradia simplicidade. Em geral, quando buscava a palavra ou a frase certa para explicar um verso bíblico ou um ensinamento talmúdico, o “mestre de todo o Povo de Israel” escolhia a mais simples e acessível. O principal objetivo de Rashi era esclarecer as coisas, principalmente as mais difíceis e complicadas. Ele jamais tentou impressionar com sua sabedoria sem fronteiras, seu domínio dos conhecimentos laicos ou religiosos. Em alguns casos, Rashi até candidamente confessava desconhecer o significado de um verso bíblico ou ensinamento talmúdico, tampouco hesitando em admitir que não conhecia a resposta para uma pergunta ou a solução para uma dificuldade. Nenhum outro Sábio fez o mesmo de forma tão franca e frequente.</p>
<p>A genialidade de Rashi ilumina o texto bíblico. Graças a seus comentários originais e, ao mesmo tempo, fiéis ao texto, o significado de um verso se torna claro, a armadilha das más interpretações é driblada, fazendo emergir detalhes e nuanças que nunca antes haviam sido notadas.</p>
<p>O que mais importava para Rashi era a verdade e seu principal objetivo era revelar o significado literal do texto. Seu principal intuito ao escrever seus comentários sobre os Cinco Livros da Torá foi torná-los compreensíveis até mesmo para uma criança de cinco anos.</p>
<p>Ele próprio declarou: “Vim apenas para explicar o significado simples da Torá ”. Contudo, suas explicações são tão ricas e profundas, tão cheias de sabedoria e significado, que enriquecem até os maiores eruditos da Torá.</p>
<p>A Torá com os comentários de Rashi foi o primeiro livro hebraico a ser publicado – em 1470. Nenhuma obra judaica foi tão difundida: logo atravessou as fronteiras e cruzou os mares. O mesmo vale para seus comentários sobre o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>. E é notável que estes, diferentemente dos escritos de Maimônides, nunca foram criticados. Suas obras tiveram aceitação imediata e praticamente unânime.</p>
<p>Mesmo eruditos cristãos se beneficiaram de seus comentários. O erudito franciscano, Nicolas de Lyra, que viveu durante o século 13 e foi o líder dos franciscanos na França, traduziu a obra de Rashi para o latim. Essa tradução teve grande influência sobre Martinho Lutero, cuja tradução da Bíblia para o alemão transformou não apenas a face do cristianismo, mas influenciou toda a história do Ocidente.</p>
<p>Vale ressaltar que Rashi não era apenas um mestre da Torá, mas também dos outros âmbitos do conhecimento humano. Eruditos, inclusive não judeus, ainda estudam suas obras para se aprofundar na língua francesa falada durante a Idade Média; há termos em francês nas obras de Rashi que não se encontram em nenhum outro lugar.</p>
<p><strong>Sua vida</strong></p>
<p>Descendente direto do Rei David, Rabi Shlomo ben Yitzhak nasceu no ano de 1040, em Troyes, França. Sabe-se pouco sobre sua vida.</p>
<p>Acredita-se que seu pai foi um grande erudito. Sua obra sobre os Cinco Livros da Torá faz alusão ao fato, pois seus comentários têm início com uma pergunta de Rabi Yitzhak: por que a Torá, que é, fundamentalmente, um livro de leis, começa com a descrição da criação do mundo? De acordo com vários comentaristas, “Rabi Yitzhak” teria sido o pai de Rashi, e a inclusão da pergunta teria sido uma forma por ele encontrada de homenagear seu pai.</p>
<p>Se são poucos os detalhes históricos que nos chegaram sobre sua vida, muitas, porém, são as lendas que envolvem seu nascimento, sua vida e, mesmo, sua morte.</p>
<p>Uma das lendas conta que a mãe de Rashi, nos últimos meses de gravidez, estava andando por um beco sem saída, estreito e escuro, quando uma carruagem quase a atropela. É salva por milagre, pois, ao apoiar a barriga contra a parede, a pedra curvara-se para dentro. Diz-se que em Troyes ainda pode ser visto um nicho arredondado nas pedras.</p>
<p>Outra lenda conta que no dia de seu<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Brit Milá</em>, seu pai, Rabi Yitzhak, não estava conseguindo reunir um<span class="Apple-converted-space"> </span><em>minyan</em>, 10 homens judeus, para a cerimônia. Os Céus o ajudaram, pois o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>minyan</em><span class="Apple-converted-space"> </span>foi completado por Avraham, nosso Patriarca, o primeiro judeu a ter sido circuncidado. De acordo com outra versão, quem veio para completar o<em><span class="Apple-converted-space"> </span>minyan</em><span class="Apple-converted-space"> </span>foi Eliyahu HaNavi. É bem verdade que nosso profeta Eliyahu está espiritualmente presente em todo<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Brit Milá</em>, mas, na circuncisão de Rashi, ele teria comparecido em carne e osso, e, segundo outra lenda, foi Eliyahu HaNavi quem se sentou na cadeira e segurou o menino no colo, durante a circuncisão.</p>
<p>Esse homem racionalista, cuja missão foi tornar compreensível o incompreensível, foi também um grande místico, que vivia uma vida “sobrenatural”, desafiando as leis da natureza e do tempo. Rashi acreditava em milagres – e não apenas os que haviam ocorrido durante os tempos bíblicos e talmúdicos. Ele era da opinião que o advento da Era Messiânica não ocorreria de forma natural – acreditava que o Terceiro Templo não seria construído pelo<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Mashiach</em>, e sim, pelo próprio D’us, que o faria descer dos Céus à Terra.</p>
<p>Na realidade, Rashi personificava a face revelada e a oculta da Torá: a<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Halachá</em><span class="Apple-converted-space"> </span>– Lei Judaica – e a Cabalá – o misticismo judaico. O perito em<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Halachá</em><span class="Apple-converted-space"> </span>estuda os escritos de Rashi e se maravilha com a contribuição que ele fez à nossa compreensão acerca da dimensão legal da Torá. Ao mesmo tempo, o Cabalista se aprofunda nas palavras de Rashi e se encanta com a forma pela qual o mestre transmitiu profundos ensinamentos cabalísticos por meio de seus comentários, aparentemente simples.</p>
<p>Rashi, que recebeu o nome do homem mais sábio de todos os tempos, o Rei Salomão, Shlomo, nasceu com uma missão e com talentos singulares. De acordo com alguns comentaristas, ele falava todas as línguas, dominava todas as ciências e viajava para terras distantes.</p>
<p>Aluno precoce, começou a escrever seus famosos comentários na juventude. Como vimos acima, na época, era difícil entender o significado das palavras da Torá e o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>era indecifrável para a grande maioria dos judeus. O jovem Rashi decidiu, então, escrever explicações e comentários, em linguagem simples, para facilitar o estudo dos textos sagrados. </p>
<p>A Providência Divina o abençoou com oportunidades singulares e com mestres extraordinários, que o ajudaram a cumprir sua missão. Em sua infância, estudou com um tio materno, Rabi Shimon bar Yitzhak, conhecido como Shimon, o Ancião. Aos 18 anos foi estudar em Mainz, na Alemanha, na<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Yeshivá</em><span class="Apple-converted-space"> </span>que havia sido fundada por<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Rabenu</em><span class="Apple-converted-space"> </span>Gershom. Chamado de “A Luz do Exílio”, Rabi Gershon foi o primeiro grande erudito do judaísmo do Norte da Europa.</p>
<p><em>Rabenu<span class="Apple-converted-space"> </span></em>Gershom já não vivia quando Rashi chegou à<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Yeshivá</em>. Mas o jovem estudou com grande eruditos que haviam sido discípulos e alunos da “Luz do Exílio”. O mestre que mais o marcou foi Rabi Yaacov ben Yakar, a quem Rashi admirava e amava mais do que a qualquer pessoa no mundo. “Tudo que sei devo a ele, meu entendimento, minha compreensão e meu coração”, escreveu Rashi a respeito de seu mestre. Foi Rabi Yaacov quem introduziu o jovem aluno aos raros manuscritos do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>e a comentários do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Midrash</em>, sem os quais seria impossível estudar o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>em profundidade. Rashi teve acesso, também, a manuscritos do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>que haviam sido escritos por anciãos e pelo próprio<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Rabenu</em><span class="Apple-converted-space"> </span>Gershom – um privilégio raro.</p>
<p>Após deixar Mainz, Rashi foi estudar durante vários anos em Worms, na<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Yeshivá</em><span class="Apple-converted-space"> </span>liderada por Rabi Yitzkah Ha-Levi. Na época, os mais renomados centros de estudos judaicos se encontravam na Alemanha, não na França.</p>
<p>Quando Rashi finalmente voltou a Troyes, fundou uma<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Yeshivá</em><span class="Apple-converted-space"> </span>que passou a atrair alunos da França e de outros países, inclusive da Alemanha e da Europa Oriental.<span class="Apple-converted-space"> </span><br/>O conhecimento de Rashi era extraordinário, ele sabia muito sobre praticamente tudo: não apenas a Torá e o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>, mas também as Ciências, inclusive Matemática, Astronomia, Geologia e Zoologia.</p>
<p>Ele também entendia muito a respeito de sua profissão: a vinicultura, pois vivia da produção de seus vinhedos. Como muitos outros grandes Sábios de nossa história, Rashi não usou a Torá como fonte de sustento, jamais cobrou de seus alunos e tampouco recebia salário como rabino.<br/>É um mistério como ele encontrava tempo para aprender tudo que aprendeu, ensinar tudo o que ensinou, escrever tudo o que escreveu e, além de tudo isso, trabalhar para sustentar a si, à família e a seus alunos.</p>
<p>Rashi não teve filhos homens, teve apenas três filhas: Miriam, Yocheved e Rachel. As três ajudavam o pai no vinhedo e em seu trabalho sagrado. Pois Rashi não apenas lhes ensinara a ler e escrever em hebraico e francês, mas também a Torá e o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>, algo muito incomum na época. As filhas de Rashi se tornaram famosas por cumprirem um mandamento da Torá que tradicionalmente recai apenas sobre os homens: a colocação dos<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Tefilin</em>. O marido de Miriam, Rabi Yehudá ben Nathan, foi um grande Sábio. Yocheved também se casou com um grande erudito: Rabi Meir ben Shmuel. A terceira filha de Rashi, Rachel, era conhecida por sua beleza: seu apelido era “<em>Belle-assez</em>”, bela demais.</p>
<p>Os alunos de Rashi estão entre os maiores eruditos em toda a história judaica, inclusive seus dois genros, que se tornaram os ilustres Tosafistas franceses. De fato, os genros de Rashi colaboraram na obra do sogro – como consultores, copistas e editores de seus manuscritos. Rabi Yehudá conseguiu escrever comentários sobre o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>que replicaram o estilo original do sogro. Após o falecimento deste último, foi ele quem concluiu seus comentários sobre o Tratado Makot do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud Bavli</em>. Já o outro genro de Rashi teve um filho, Rabi Shmuel ben Meir, o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Rashbam</em>,<span class="Apple-converted-space"> </span><br/>que foi um grande Sábio e comentarista.</p>
<p>Mas o mais famoso e admirado dos netos de Rashi foi outro filho de Rabi Meir, Yaacov, mais conhecido como<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Rabenu<span class="Apple-converted-space"> </span></em>Tam (Ver Morashá 70). Ele nasceu quando Rashi tinha 60 anos. Rabi Yaacov ben Meir, o maior dos Tosafistas, foi, simultaneamente, o maior defensor e o maior crítico dos comentários de Rashi. O avô tornou o estudo do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>acessível; o neto o tornou mais profundo. Rashi permitiu que todos os judeus nadassem no mar do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>;<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Rabenu</em><span class="Apple-converted-space"> </span>Tam convidou-nos a explorar suas profundezas. Juntos, avô e neto revolucionaram o estudo da Torá e modelaram a<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Halachá</em><span class="Apple-converted-space"> </span>– a Lei Judaica – de forma significativa. Muitas das leis e dos costumes fundamentais do judaísmo, como o horário de início e término do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Shabat</em>, a forma como a<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Mezuzá</em><span class="Apple-converted-space"> </span>é colocada no umbral da porta – são realizados conforme os decretos de Rashi,<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Rabenu</em><span class="Apple-converted-space"> </span>Tam ou uma combinação dos ensinamentos de ambos.</p>
<p>Mas, apesar de todas as contribuições dos netos e genros, e de outros alunos, a grandeza de Rashi e o impacto de sua obra sobre o mundo judaico permanecem singulares, incomparáveis, insuperáveis. Já faz quase um milênio desde que ele deixou este mundo, mas ainda permanece sendo o companheiro de eruditos e o tutor dos alunos que começam a dar seus primeiros passos no estudo da Torá. Sua autoridade é indiscutível e a ajuda que ele presta através de seus comentários, indispensável.</p>
<p>Se há muitas lendas a respeito do nascimento de Rashi, há tantas outras sobre sua morte. De acordo com uma lenda chassídica, Rashi nunca faleceu. Assim como o profeta Eliyahu, ele não morreu fisicamente, mas ascendeu aos Céus. Isso explicaria o porquê de ninguém saber onde se encontra seu túmulo. Devemos acreditar nessa lenda? Talvez. Mas o que sabemos é que mesmo em seus momentos finais de vida, ele não parou de trabalhar para difundir os ensinamentos da Torá.</p>
<p>Na página 29 da edição de Veneza do Tratado de<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Bava Batra</em><span class="Apple-converted-space"> </span>do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>da Babilônia, está escrito: “Aqui faleceu Rashi, abençoada é sua memória. Daqui em diante, segue o comentário de (seu neto) Rabi Shmuel ben Meir”. Mas em outro Tratado do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>, no de<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Makot</em>, na página 19, encontra-se a outra anotação semelhante: “A alma pura de nosso Mestre aqui deixou seu corpo puro. E ele parou de comentar. Daqui em diante, a linguagem é de seu aluno, Rabi Yehudá ben Natan”. Será que Rashi estava escrevendo comentários sobre dois tratados do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>simultaneamente? É muito provável.</p>
<p>Se ele tivesse vivido mais, teria escrito ainda mais comentários sobre todo o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud Bavli,</em><span class="Apple-converted-space"> </span>o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>Babilônico, e, também, sobre o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud Yerushalmi</em>, o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>de Jerusalém. Cada momento de sua vida se reverteu em um enriquecimento espiritual para o mundo.</p>
<p>De fato, não é possível estudar o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>e não apreciar a contribuição singular e eterna de Rashi à compreensão desse texto sagrado. É inegável que outros comentaristas também escreveram comentários brilhantes, mas Rashi foi o pioneiro. Além disso, ninguém foi tão claro e didático como ele. É impossível estudar suas obras e não amá-lo – e agradecer-lhe – por elas. Rabi Akiva, o maior Sábio do<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>, ensinou que um judeu sem a Torá é como um peixe fora d’água. A Providência Divina escolheu Rashi para ser aquele que ensinou nosso povo a nadar.</p>
<p>Aos que perguntarem como se estudava a Torá e o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>antes dele publicar seus comentários, respondemos: Poucos estudavam a fundo e apenas os grandes eruditos compreendiam o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>. Depois de Rashi, a Torá se tornou acessível a todos os judeus. Rashi mantém o título de Grande Mestre porque foi ele quem “democratizou” a Torá: por meio dele, a Palavra de D’us, que foi transmitida no Monte Sinai, verdadeiramente se tornou<span class="Apple-converted-space"> </span><em>morashat kehilat Yaacov</em><span class="Apple-converted-space"> </span>– a herança da congregação de Jacob, ou seja, do Povo Judeu.</p>
<p>No ano de 1105 da Era Comum, aos 65 anos de idade, Rashi deixou a Terra e voltou para seu lar, certamente na maior altura espiritual atingível por um ser humano. A data de seu passamento foi registrada no pergaminho Parma de Rossi por um de seus alunos: “A Arca Sagrada, o Sagrado dos Sagrados, o grande Mestre<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Rabenu</em><span class="Apple-converted-space"> </span>Shlomo, o justo de abençoada memória, filho do mártir Rabi Yitzhak, o francês, foi tirado de nós na quinta-feira, o dia 29 do mês de<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Tamuz</em>, no ano de 4865, na idade de 65 anos, e chamado de volta para a<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Yeshivá</em><span class="Apple-converted-space"> </span>de cima”.</p>
<p><strong>O legado de Rashi</strong></p>
<p>Transcorridos quase mil anos desde seu falecimento, Rashi permanece sendo o pai de todos os comentaristas. Como escreveu Nachmanides: “A ele [Rashi] pertence os direitos do primogênito”.</p>
<p>Desde que Rashi publicou seu comentário sobre os Cinco Livros da Torá, praticamente todos os<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Chumashim</em><span class="Apple-converted-space"> </span>são impressos com seus comentários. Estes se tornaram inseparáveis do Texto sagrado: não se estuda a Torá; se estuda a Torá com Rashi. Em muitas comunidades, há o costume de estudar, ano após ano, a<em><span class="Apple-converted-space"> </span>Parashá</em><span class="Apple-converted-space"> </span>da semana com os comentários de Rashi.</p>
<p>Mais de 300 obras já foram publicadas analisando os comentários de Rashi. O<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Maharal<span class="Apple-converted-space"> </span></em>de Praga, um dos maiores Sábios e Cabalistas de todos os tempos, escreveu uma obra prima,<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Gur Aryeh</em><span class="Apple-converted-space"> </span>– seu comentário sobre os comentários de Rashi sobre a Torá.</p>
<p>Desde que os escritos de Rashi foram publicados, foram estudados e analisados a fio por Sábios e eruditos que o sucederam. Seus comentários sobre o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>servem como fonte para outros comentários, que ajudam a elucidar os ensinamentos dessa Enciclopédia Sagrada.</p>
<p>Rashi viveu na época das Cruzadas – tempos difíceis e violentos, de muito sofrimento para o Povo Judeu. Apesar de sua erudição e fama, de sua espiritualidade, ele nunca se distanciou das necessidades de outros judeus. O que motivou seu trabalho não foi apenas seu amor pela Torá, mas também seu profundo amor pelo Povo de Israel. Sua obra fortaleceu a alma coletiva de seu povo, que estava sendo massacrado por sua lealdade ao judaísmo e sua fé inabalável em D´us.</p>
<p>Tudo o que Rashi fez foi em prol do Povo Judeu. Ele usou toda a sua genialidade, brilhantismo e intelecto incomparáveis, para trabalhar arduamente por um único objetivo: ajudar os judeus a compreender melhor o judaísmo. Esse é o motivo pelo qual escreveu comentários da forma mais simples e direta possível. Ele não se permitiu exibir seu intelecto sem igual e arriscar alienar qualquer judeu que estivesse iniciando seus estudos de Torá.</p>
<p>É notável que Rashi escrevesse sua opinião sobre os Cinco Livros da Torá após ter escrito a maioria de seus comentários sobre o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>. Esperar-se-ia que após explicar o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em>, Rashi escreveria um comentário sobre um texto mais místico – talvez o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Zohar</em>, Livro do Esplendor, ou outra obra cabalística – e não um comentário sobre o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Chumash</em>, para que até uma criança de cinco anos o entendesse. Mas Rashi, diferentemente de tantos outros comentaristas, optou pela inclusão, não pela exclusão. Ao final de sua vida, ele decidiu escrever sobre a Torá para que todo judeu pudesse compreender e apreciar a Palavra de D’us.</p>
<p>Contudo, é um erro pensar que Rashi era apenas um erudito, um grande professor, e não um místico. Ele possuía poderes sobrenaturais e o domínio da Cabalá. Seus comentários sobre o<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Talmud</em><span class="Apple-converted-space"> </span>e a Torá contêm referências ocultas a conceitos cabalísticos. Tampouco é necessário relatar os milagres que tenha realizado, pois sua própria vida foi um milagre. Suas obras são por si só milagrosas.</p>
<p>Há 613 mandamentos na Torá. Conta-se que Rashi jejuou 613 vezes antes de iniciar sua obra. Esses jejuns fizeram com que ele merecesse uma forte inspiração Divina, que o guiou em toda palavra que escreveu.</p>
<p>Os ensinamentos cabalísticos presentes nos comentários de Rashi sobre os Cinco Livros da Torá levaram Rabi Shneur Zalman de Liadi, o autor da obra cabalística<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Tanya</em>, a declarar: “Os comentários de Rashi sobre os Cinco Livros são o ‘vinho da Torá’. Eles abrem o coração da pessoa que os estuda e revelam seu amor e temor a D´us”.</p>
<p>Diz-se que quando o homem reza, ele fala com D’us, ao passo que quando ele estuda, D’us fala com ele. Rashi foi o canal por meio do qual D’us fala com nosso povo. O<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Zohar</em><span class="Apple-converted-space"> </span>revela que há um triângulo místico que liga D’us, Sua Torá e o Povo Judeu. Rashi, talvez mais que qualquer erudito que o precedeu ou o sucedeu, fortaleceu esse triângulo. Seu nome se fundiu com a Torá por toda a eternidade. Como Moshé Rabenu, não se sabe onde Rashi está enterrado, pois ele transcendeu a morte: ele continua a viver dentro da Torá, que, como D’us, Seu Autor, é Eterna, e ao lado de todo aquele que estuda seus comentários e o aprecia por sua contribuição inigualável.</p>
<p><strong><em>Zecher Tzadik Livrachá</em></strong><span class="Apple-converted-space"> </span>– Que sua memória seja uma fonte de bênção e mérito para todo o nosso povo.</p>
<p>Bibliografia:<span class="Apple-converted-space"> </span><br/>Wiesel, Elie, Rashi. A Portrait, ed. Schocken<br/>Schiller, Gail, Beam me up, Rashi, Olam Magazine<span class="Apple-converted-space"> </span><a href="http://www.olam.org/">www.olam.org</a><span class="Apple-converted-space"> </span><br/>Rabbi Mindel, Nissan, Rabi Shlomo Yitzchaki, Rashi,<span class="Apple-converted-space"> </span><a href="http://www.chabad.org/">www.chabad.org</a><span class="Apple-converted-space"> </span><br/>Miller, Chaim. Rashi's Method of Biblical Commentary,<span class="Apple-converted-space"> </span><a href="http://www.chabad.org/">www.chabad.org</a></p>
<p> </p>
<p><strong>Um comentário cabalístico sobre o Talmud</strong></p>
<p>Conta-se a seguinte história: Rabi Shimshon de Ostropol, famoso por seus dois livros sobre a Cabalá, decidiu escrever um comentário cabalístico sobre o Talmud, explicando os segredos e ensinamentos místicos dessa obra.</p>
<p>Ele fez uso de toda sua sabedoria cabalística e escreveu um comentário místico. Sendo homem devoto, decidiu sujeitar sua obra ao teste do sonho,<span class="Apple-converted-space"> </span><em>sheeilá chalom</em>. A resposta que recebeu dos Céus foi que sua obra era por demais longa e elaborada.</p>
<p>Ele então a condensou e a sujeitou a outro teste do sonho. Recebeu a mesma resposta: “Longa demais”. Novamente reduziu o trabalho, mas, mais uma vez, foi-lhe revelado que sua obra não era suficientemente precisa e clara. Quando ele finalmente a terminou, conseguindo escrevê-la da forma mais concisa possível, descobriu que havia escrito<span class="Apple-converted-space"> </span><em>Perush Rashi</em><span class="Apple-converted-space"> </span>– o comentário de Rashi sobre o Talmud.</p>
<p><em>Rabi Adin Steinsaltz</em></p> ISRAEL SE DESPEDE DE ELIE WIESEL Por PLETZ.comtag:judaismohumanista.ning.com,2016-07-08:3531236:Topic:1102132016-07-08T10:59:55.385ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p></p>
<h1 class="entry-title"><strong>Líderes israelenses se despedem do sobrevivente do Holocausto e escritor Elie Wiesel.</strong></h1>
<p></p>
<div class="td-post-content td-pb-padding-side"><img alt="Elie Wiesel, famoso sobrevivente do Holocausto e laureado com o Prêmio Nobel da Paz, falecido em 2.7.2016" class="size-full wp-image-42440 td-animation-stack-type0-2 lazyloaded" height="577" src="http://www.pletz.com/blog/wp-content/uploads/2016/07/Elie-Wiesel-famoso-sobrevivente-do-Holocausto-e-laureado-com-o-Pre%CC%82mio-Nobel-da-Paz-falecido-em-2.7.2016.jpg" width="700"></img> Elie Wiesel, famoso sobrevivente do Holocausto e laureado com o Prêmio Nobel da Paz, falecido em 2.7.2016<p>Vários altos funcionários israelenses expressaram suas condolências pelo falecimento do escritor, sobrevivente do Holocausto e laureado com Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel, falando de…</p>
</div>
<p></p>
<h1 class="entry-title"><strong>Líderes israelenses se despedem do sobrevivente do Holocausto e escritor Elie Wiesel.</strong></h1>
<p></p>
<div class="td-post-content td-pb-padding-side"><img width="700" height="577" class="size-full wp-image-42440 td-animation-stack-type0-2 lazyloaded" alt="Elie Wiesel, famoso sobrevivente do Holocausto e laureado com o Prêmio Nobel da Paz, falecido em 2.7.2016" src="http://www.pletz.com/blog/wp-content/uploads/2016/07/Elie-Wiesel-famoso-sobrevivente-do-Holocausto-e-laureado-com-o-Pre%CC%82mio-Nobel-da-Paz-falecido-em-2.7.2016.jpg"/>Elie Wiesel, famoso sobrevivente do Holocausto e laureado com o Prêmio Nobel da Paz, falecido em 2.7.2016<p>Vários altos funcionários israelenses expressaram suas condolências pelo falecimento do escritor, sobrevivente do Holocausto e laureado com Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel, falando de seu incansável trabalho em nome do povo judeu, do Estado de Israel e da humanidade.</p>
<p>“Elie Wiesel era a bússola moral coletiva do povo judeu”, disse o presidente da Agência Judaica Natan Sharansky, um refusenik da antiga União Soviética e prisioneiro de Zion. “Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio em torno da situação dos judeus soviéticos, e ele acompanhou nossa luta até que alcançamos a vitória. Nós vamos sentir falta dele profundamente.”</p>
<p>Em seu livro “The Jews of Silence” (Os Judeus do Silêncio), de 1966, Wiesel escreveu sobre a luta dos judeus que viviam na União Soviética, os quais ele havia observado durante uma visita à URSS no ano anterior. Muitos acreditam que este trabalho foi um dos principais fatores que conduziram ao chamado para ação dos judeus americanos em nome dos judeus soviéticos.</p>
<p>“Esta foi uma noite triste para o povo judeu”, disse Nir Barkat, o prefeito de Jerusalém. “Apenas alguns meses atrás, tive a honra de conceder o prêmio Cidadão Honorário da Cidade de Jerusalém ao Professor Elie Wiesel.”</p>
<p>O prêmio Cidadão Honorário de Jerusalém é concedido a pessoas ilustres que fizeram significativas contribuições para a capital de Israel.</p>
<p>“Com sua missão sionista de princípio e moral, seus numerosos escritos e suas atividades públicas, você contribuiu grandemente para o Estado de Israel e sua capital, Jerusalém”, disse Barkat para Weisel durante a cerimônia de premiação em dezembro de 2015. “Você é um embaixador fiel e verdadeiro amigo de nossa cidade, e por meio do seu trabalho, você tem demonstrado um inflexível apoio para aqueles que habitam em Zion, bem como um verdadeiro destino em comum”.</p>
<p>Wiesel respondeu a Barkat: “Em minha vida, publiquei mais de sessenta livros, mas acredite quando lhe digo, Sr. prefeito, que Jerusalém é o coração e a alma do meu trabalho. Estou emocionado por receber o título de Cidadão Honorário de Jerusalém, e vou continuar a agir por Jerusalém e pelo Estado de Israel”.</p>
<p>Em resposta à notícia do falecimento de Wiesel, o prefeito Barkat disse: “Quando concedi o prêmio a Wiesel em uma comovente cerimônia, disse-lhe que era um grande privilégio expressar o profundo apreço de Jerusalém por seu heroísmo e trabalho de vida. Elie Wiesel foi um leal embaixador e um verdadeiro amigo de Jerusalém, e demonstrou apoio incondicional e empatia para com o povo da cidade”.</p>
<p>Elie Wiesel era conhecido por denunciar não só o sofrimento de judeus, mas também em nome de grupos oprimidos em todo o mundo. Observando isso, o comitê do Prêmio Nobel descreveu-o em 1986 como um “mensageiro para a humanidade”.</p>
<p>O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse: “Por meio de seus inesquecíveis livros, palavras emocionantes e exemplo pessoal, Elie personificou o triunfo do espírito humano sobre o mais inimaginável mal. Sua vida e obra foram uma grande bênção ao povo judeu, ao Estado judeu e para toda a humanidade.</p>
<p>“O Estado de Israel e o povo judeu lamentam o falecimento de Elie Wiesel.”</p>
<p>Presidente Reuven Rivlin comentou que “a vida [de Wiesel] foi dedicada à luta contra todo ódio e em prol do homem, criado à imagem de Deus. Ele foi um guia para todos nós. Hoje à noite nós nos despedimos de um herói do povo judeu e um gigante de toda a humanidade”.</p>
<p>Em novembro de 2013, durante o seu mandato como presidente de Israel, Shimon Peres condecorou Elie Wiesel com a Medalha de Distinção Presidencial israelense, a mais elevada medalha civil de Israel, por seu trabalho em lembrança do Holocausto e na promoção da tolerância no mundo.</p>
<p>Em discurso na cerimônia, ele disse a Wiesel, “você está agitando a bandeira da humanidade, prevenindo o derramamento de sangue e desafiando o racismo e o antissemitismo, bem como prevenindo a guerra. Você pessoalmente passou pelos mais atrozes horrores da humanidade e, como um sobrevivente do Holocausto, você escolheu dedicar sua vida a entregar a mensagem — nunca mais”.</p>
<p>Ao receber a notícia da morte de Wiesel, Peres disse: “Hoje, o povo judeu e o mundo perderam um extraordinário indivíduo: sobrevivente do Holocausto, escritor e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel. Tive a honra e o privilégio de agradecer-lhe pessoalmente, por seus muitos anos de trabalho e por salvar o mundo de apatia, quando lhe entreguei a Medalha Presidencial em nome do Estado de Israel”.</p>
<p>Peres acrescentou, “Wiesel deixou sua marca na humanidade ao preservar e defender o legado do Holocausto e ao transmitir uma mensagem de paz e de respeito entre as pessoas de todo o mundo”.</p>
<p><em>Fonte: TPS / Texto: Jonathan Benedek / Tradução: Hannah Franco / Foto: GPO</em></p>
</div> A FANTÁSTICA VIAGEM DE BENJAMIM DE TUDELA - REVISTA MORASHAtag:judaismohumanista.ning.com,2015-11-12:3531236:Topic:1064462015-11-12T06:33:00.097ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Baseado nas anotações que fez durante sua viagem da Espanha à Terra Santa, no período de 1159 ou 1163 até 1173 – não há informações exatas sobre a data – o trabalho foi escrito originalmente em hebraico e, posteriormente, traduzido ao latim.</p>
<p>Com o surgimento das máquinas de impressão, transformou-se em uma das obras mais populares da literatura judaica, sendo traduzido para vários idiomas.</p>
<p>Segundo historiadores da vida do rabino Benjamim, o famoso viajante do século XII partiu…</p>
<p>Baseado nas anotações que fez durante sua viagem da Espanha à Terra Santa, no período de 1159 ou 1163 até 1173 – não há informações exatas sobre a data – o trabalho foi escrito originalmente em hebraico e, posteriormente, traduzido ao latim.</p>
<p>Com o surgimento das máquinas de impressão, transformou-se em uma das obras mais populares da literatura judaica, sendo traduzido para vários idiomas.</p>
<p>Segundo historiadores da vida do rabino Benjamim, o famoso viajante do século XII partiu de Tudela, cidade espanhola na qual vivia, rumo à Terra Santa, com um objetivo bem definido: fazer uma peregrinação aos locais sagrados do judaísmo. E o que deveria ser uma rápida viagem de alguns meses, acabou transformando-se em uma aventura que durou mais de dez anos, com longas escalas durante as quais o rabino Benjamim procurou visitar comunidades judaicas e não judaicas, informando-se sobre seu estilo de vida, os governos vigentes, suas tradições e cultura, sua economia e, acima de tudo, suas populações.</p>
<p>Com os olhos e ouvidos sempre atentos, o viajante mantinha seu espírito aberto para registrar nomes, números, localizações geográficas, distâncias, velhos e novos monumentos. O resultado de sua epopéia pela Europa e pela Terra Santa foi descrito em uma narrativa marcada pela admiração diante de tudo que seus olhos viam e que se transformou em uma espécie de guia para aqueles que se propuseram a seguir seus passos e aproveitar de sua experiência.</p>
<p>A leitura do Livro de Viagem do rabino Benjamim ofereceu aos leitores de então uma maior compreensão do mundo, ampliando seus horizontes e dando-lhes a oportunidade de imaginar como era a vida além dos muros que cercavam suas províncias e cidades. Entre as contribuições práticas da obra, destaca-se o fato de se tornar uma espécie de “Guia de endereços úteis” para os peregrinos judeus durante a Idade Média, informando-lhes, por exemplo, sobre as cidades que ofereciam hospitalidade aos viajantes, entre as quais mencionou Montpellier, Gênova e Constantinopla. Ele descreveu as condições econômicas dos mercadores de Barcelona, Montpellier e Alexandria, falou sobre as atividades dos judeus, como os tintureiros de Brindisi, os tecedores de seda de Tebes, os curtidores de couro de Constantinopla e os vidraceiros de Alepo e do Tigre.</p>
<p>O livro contém, também, informações demográficas sobre as comunidades judaicas de algumas cidades da época: 20 judeus em Pisa, 40 em Lucca, 200 em Roma, 300 em Cápua, 500 em Nápoles, 600 em Salerno, 20 em Amalfi, entre outras. O Rabino Benjamim incluiu em seu diário de viagem também os nomes das principais lideranças comunitárias das regiões por onde passou; das cidades que possuíam boas escolas para estudos judaicos, como Montpellier, ou como Lunet, onde a comunidade subsidiava a educação dos jovens. Mencionou, também, a existência de uma escola de medicina cristã em Salerno e o fato de os acadêmicos de Constantinopla conhecerem profundamente a literatura grega.</p>
<p>Durante sua viagem, o Rabino Benjamim, levado pela curiosidade e sede de saber, visitou igrejas e mesquitas. Descreveu Roma como “a capital do cristianismo, governada pelo papa, seu líder espiritual”. Constantinopla, em suas palavras, “sedia o trono dos patriarcas gregos, pois estes não obedecem o papa”. Em suas andanças descobriu, ainda, que as cidades de Trani e Messina eram os principais pontos de partida dos peregrinos cristãos à Terra Santa.</p>
<p>Seus relatos da vida intelectual na Provença e em Bagdá são de extrema importância, assim como os da organização da vida na sinagoga, no Egito. Interessou-se não apenas pelas seitas dos samaritanos da Palestina, mas também pelas dos caraítas de Constantinopla, além da seita herética de Chipre, cujas leis se assemelhavam às dos judeus durante o Shabat.</p>
<p>Para os estudiosos, são informações como essas que fizeram do Livro de Viagens do Rabino Benjamim de Tudela um guia turístico, de comércio internacional, das comunidades judaicas espalhadas pelo mundo na Idade Média e também uma obra para estudantes. Tudo em um único documento cujo mérito maior talvez tenha sido a capacidade do autor de narrar o que via não apenas através dos olhos, mas principalmente através dos sentimentos.</p>
<p>O roteiro de Tudela</p>
<p>O ponto de partida do Rabino Benjamin foi a cidade de Tudela, ao norte da Espanha, rumo a Barcelona, Provença e Marselha, de onde foi, de navio, até Gênova. Depois foi a Pisa e Roma, cidades nas quais, por causa das descrições detalhadas sobre os monumentos e antigüidades, deduz-se que ele tenha permanecido um tempo maior. Escreveu, também, sobre a comunidade judaica e suas relações um tanto dúbias com o papa Alexandre III.</p>
<p>De Roma, o Rabino Benjamin se dirigiu ao sul da Itália e descreveu as condições em Salerno, Amalfi, Melfi, Benevento e Brindisi. Navegou de Corfu até Arta, visitou vários locais na Grécia onde observou os tecedores de seda judeus e a colônia agrícola de Crissa, no monte Parnasos. Sua descrição de Constantinopla, tanto das condições judaicas quanto as não-judaicas, é melhor do que qualquer outra feita no século XII.</p>
<p>Navegou, também, pelo arquipélago de Agiam até Chipre, antes de chegar à terra firme. Seguiu, então, por Antióquia, Sidon, Tiro e Acre, na Terra Santa, a qual ainda estava sob o domínio dos cruzados. Viajou por vários locais descrevendo os lugares sagrados, os quais ainda chamava pelos nomes em francês. Assim sendo, Hebron é São Abrão de Bron. Em geral, suas descrições são muito mais objetivas do que aquelas dos viajantes cristãos da época. Sua narrativa dá uma visão clara de Jerusalém e da comunidade judaica de então.</p>
<p>De Tiberíades, Benjamim viajou para o norte até Damasco, chegando até perto de Bagdá. Ele desenhou a corte dos califas e as instituições de caridade da cidade. Descreveu também a organização das academias talmúdicas ainda existentes. O relato que fez sobre os drusos foi o primeiro em língua não-árabe. Segundo os historiadores, as anotações e descrições feitas após a passagem por Bagdá não são muito consistentes e, embora tenha realmente viajado até a Pérsia, suas descrições das condições locais aproximam-se mais das lendas do que de observações objetivas. Detalhes fantásticos surgem também durante suas impressões sobre a China, Cochin e Ceilão.</p>
<p>O realismo volta a permear sua narrativa quando menciona sua visita ao Egito em geral e, principalmente, a vida judaica no Cairo e em Alexandria, de onde iniciou a viagem de volta.</p>
<p>Nesta etapa, sua obra apresenta descrições ricas sobre a Sicília e sobre Palermo, de onde provavelmente voltou à Espanha de navio. Entrou em seu país de origem através da região de Castela.</p>
<p>Bibliografia:<br/> “Benjamin of Tudela’s Fantastic 12th Century Book, Jewish Digest <br/>
(maio 1963). Turning back the clock: a look into history.</p> Muere Yitzjak Navón, quinto presidente de Israel y defensor del legado sefardí - AURORAtag:judaismohumanista.ning.com,2015-11-07:3531236:Topic:1066202015-11-07T18:19:24.138ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Yitzjak Navón, quinto presidente del Estado de Israel y paladín del legado sefardí en todo el mundo, falleció a los 94 años, informó la familia.</p>
<p>"Falleció con 94 años y medio, en su casa, rodeado de amor y cariño, después de una vida plena y feliz", dijo su segunda mujer, Miri Shafir.</p>
<p>Mano derecha -junto al también ex presidente Shimón Peres- del fundador del Estado de Israel, David Ben Gurión, diputado, ministro y jefe del Estado, Navón nació en Jerusalén en 1921 en el seno de…</p>
<p>Yitzjak Navón, quinto presidente del Estado de Israel y paladín del legado sefardí en todo el mundo, falleció a los 94 años, informó la familia.</p>
<p>"Falleció con 94 años y medio, en su casa, rodeado de amor y cariño, después de una vida plena y feliz", dijo su segunda mujer, Miri Shafir.</p>
<p>Mano derecha -junto al también ex presidente Shimón Peres- del fundador del Estado de Israel, David Ben Gurión, diputado, ministro y jefe del Estado, Navón nació en Jerusalén en 1921 en el seno de una familia sefardí, se cree, que de las primeras en llegar a la Tierra de Israel durante la dominación otomana tras la Expulsión de los judíos de España en 1492.</p>
<p>El político, que militó toda su vida en el Partido Laborista y desde muy temprano abogó por el diálogo con los palestinos, era también un conocido dramaturgo e historiador, y su obra reflejó en todo momento el legado de los judíos sefardíes por todo el mundo.</p>
<p>Su famoso "Jardín sefardí" es la obra más representada del teatro israelí, y sigue en escena de su estreno en 1969.</p>
<p>A nivel social, su elección como presidente en 1978 supuso la elección del primer judío no askenazí (de origen centroeuropeo) para un alto cargo político, lo que se tradujo en un acercamiento entre ambos colectivos.</p>
<p>Desde la segunda mitad de los noventa encabezaba la Autoridad de Ladino, el organismo público que se encarga de defender ese legado en el país. EFE y Aurora</p> Alexander Bogen, resistência com armas e tinta por por Reuven Faingoldtag:judaismohumanista.ning.com,2015-10-09:3531236:Topic:1044942015-10-09T04:55:37.981ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Experimentar sons, tatear e sentir o gosto da obra artística ao limite, transbordar tensões e mergulhar nas sensações do mundo à sua volta, todas estas experiências fazem de Alexander Kazenbogen uma figura ímpar. Só um artista que se dispõe a abraçar a arte e respirá-la até seu último suspiro consegue aventurar-se por diversos sentimentos, mesmo que estes sejam momentos de extremo perigo e dor.</p>
<p>Edição 85 - Setembro de 2014</p>
<p>VIDA DE PARTISAN</p>
<p>Alexander (Shura) Katzenbogen…</p>
<p>Experimentar sons, tatear e sentir o gosto da obra artística ao limite, transbordar tensões e mergulhar nas sensações do mundo à sua volta, todas estas experiências fazem de Alexander Kazenbogen uma figura ímpar. Só um artista que se dispõe a abraçar a arte e respirá-la até seu último suspiro consegue aventurar-se por diversos sentimentos, mesmo que estes sejam momentos de extremo perigo e dor.</p>
<p>Edição 85 - Setembro de 2014</p>
<p>VIDA DE PARTISAN</p>
<p>Alexander (Shura) Katzenbogen (1916-2010) nasceu em Durpat, na Estônia, e cresceu em Vilna, cidade conhecida na história judaica como a “Jerusalém da Lituânia”. Filho de um casal de médicos, pelo lado materno Alexander era neto do rabino Tuvia de Wolkovysk, um erudito da Torá e personalidade destacada entre os 55 mil judeus que constituíam a comunidade de Vilna no início do século 20. Desde cedo frequentou a Universidade de Vilna, aprendendo os rudimentos da pintura e da escultura.</p>
<p>Com 23 anos, no começo da 2ª Guerra, Alexander Bogen, nome que adotou, juntou-se aos “partisans”, guerrilheiros das florestas que circundavam o lago Naroch, localizado nos frondosos bosques da Bielorrússia, a 200 km de Vilna. Ao encontrar preconceito e provocações antissemitas entre os partisans da resistência antinazista (especialmente entre russos, estônios e bielorrussos), Bogen conseguiu formar um seleto grupo de 30 combatentes judeus, denominado “Nekamá”, que em hebraico significa “vingança”.</p>
<p>O objetivo desses judeus era vencer as treinadas forças alemãs da Wehrmacht. O grupo “Nekamá” era responsável por ações especiais, como dinamitar vias férreas por onde passariam comboios repletos de soldados, causar sabotagem nas encomendas de armas direcionadas aos nazistas, contrabandear alimentos e disseminar a informação nos guetos sobre o extermínio em massa de judeus.</p>
<p>Por volta de 1943, durante o atribulado período da 2ª guerra, Bogen serviu como comandante chefe de uma unidade, auxiliando no transporte de judeus do gueto de Vilna antes que fosse totalmente destruído. Foi precisamente nessa época que Alexander Bogen conheceu o combatente Abba Kovner (1918-1987), uma figura central na heroica revolta do gueto de Vilna.</p>
<p>Os dois combatentes tiveram duas formas diferentes de avaliar a maneira em que deveriam lutar contra os alemães em Vilna. Para Abba Kovner, desde o início havia que realizar ataques em grande escala, mesmo que a revolta resultasse em inúmeras baixas, um verdadeiro “al Kidush Hashem” (Santificação em Nome de Deus). Já Alexander Bogen argumentava que a ideia de Kovner era impraticável, pois não havia forma de combater (muito menos de vencer) os nazistas com armas primitivas e escassas. Portanto, seria necessário ir até as florestas para obter armas melhores e poder enfrentá-los. Encerrada a guerra, ambos emigraram da Europa para Israel, cultivando uma forte amizade. Abba Kovner se tornou um grande poeta e, por sua rica obra literária relacionada com o Holocausto, recebeu em 1970 o Prêmio Israel de Literatura.</p>
<p>Entre os anos 1939-1942, Bogen colocou em seus desenhos aquele olhar forte e característico que nascia a partir da simples observação da vida de seus companheiros e colegas guerrilheiros, momentos de tranquilidade de dor e luta. Surpreendentemente, ele achava pedaços de papel largados no meio da floresta, pedaços de embrulhos, outros ainda queimados e pedaços de carvão das fogueiras que utilizava para desenhar.</p>
<p>Seus traços são fluidos e intensos, mostrando quase sempre uma dramaticidade única, revelando, no desenho, pleno conhecimento do uso do espaço. Seu traço forte, muitas vezes nervoso, vai-se unindo às partes mais sensíveis e poéticas. Suficiente lembrar que este artista judeu criou, num ambiente de guerra, sofrimento e sobrevivência, como forma de valorizar ainda mais sua obra.</p>
<p>Encerrada a guerra, em 1945, Alexander Bogen retorna à Universidade e, dois anos depois, completou seus estudos de arte; torna-se professor titular na Escola de Estudos Avançados em Artes de Lodz, na Polônia.</p>
<p>Em 1951, Bogen, sua esposa Rachel (Rela) e seu filho pequeno, Michael, emigram para o jovem Estado de Israel, ainda incipiente. Lá, o combatente sobrevivente continuou seu trabalho como artista e professor na Universidade Hebraica de Jerusalém, inspirando-se em pintores clássicos como Henri Matisse, Marc Chagall e Pablo Picasso.</p>
<p>Entre os anos 1969-1981, assumiu o cargo de “Diretor da Associação de Pintores e Escultores de Israel”. Em vida, recebeu numerosos prêmios: em 1950, o “Prêmio do Governo da Polônia”; em 1961, o “Prêmio Histadrut” (Confederação Geral dos Trabalhadores); em 1962, o “Prêmio do Ministério da Educação”; 1983, o “Prêmio Neguev”, e, em 1992, o “Prêmio Sholem Aleichem”.</p>
<p>Em 9 de abril de 2008 foi inaugurado um “Monumento aos Partisans” na localidade de Latrun, de autoria de Alexander Bogen. Catálogos com suas principais obras foram publicadas pelo Kibutz “Lochamei Haghetaot”, Museu de Yad Vashem e Museu do Holocausto de Washington.</p>
<p>A OBRA “REVOLTA”</p>
<p>Alexander Bogen detém uma produção artística norteada por uma força retirada do próprio âmago, é um artista cru e verdadeiro. Transmite ao apreciador de sua arte algo notável e essencialmente inspirador. Todas estas afirmações aparecem claramente em seu livro “Revolta”, em hebraico, “Mered”, uma obra na qual reflete profundamente sua função de comandante e artista, de lutador e herói da resistência judaica contra os nazistas.</p>
<p>O livro de Bogen traz vários desenhos a carvão, nanquim, gravuras de metal e outras tantas técnicas artísticas, todos eles produzidos no decorrer da 2ª Guerra Mundial. Trata-se de uma artista plástico que não se contentou apenas em acalentar ideais poéticos de liberdade, mas teve um papel fundamental como comandante, combatente e pensador de uma resistência judaica embrionária que surgia nas florestas da Europa.</p>
<p>Infelizmente, a obra “Revolta” não informa as datas de suas gravuras, portanto fica extremamente difícil determinar quando foram realizadas, se durante a 2ª Guerra ou já em Israel. As diversas técnicas e os nomes dos desenhos, sim, aparecem no livro. Além dos trabalhos, existem também trechos literários escritos por colegas combatentes ou pessoas que o conheceram. Nesses textos memoriais fica bem clara a perspectiva de seu processo criativo e a visão de mundo também retratada em sua arte.</p>
<p>Um dos depoimentos mais bonitos a ser lembrado é o do sobrevivente Itzhak Rudnicki, depois conhecido como General Itzhak Arad, Diretor do Museu Yad Vashem, em Jerusalém, entre 1972 e 1993. Dez anos mais jovem que Bogen, Arad confessa: “Durante o Holocausto, Alexander Bogen serviu comigo na unidade militar. Ele foi um guerrilheiro das florestas e um comandante dos guerrilheiros. Apesar de todos os deveres encomendados e as funções a ele impostas, jamais esqueceu sequer por um minuto que era um artista. Nós (os partisanim) nunca conseguimos entender como ele conseguiu, naquelas condições, literalmente a partir do nada, produzir os materiais para seu trabalho. Tudo é um enigma para nós, (especialmente) o que o inspirou a produzir aqueles esboços relâmpagos, mesmo em momentos de perigo ou no meio da ação contra o inimigo”.</p>
<p>VIVÊNCIAS DE CINZAS</p>
<p>O que chama a atenção na arte de Bogen são as precárias condições de trabalho que tinha à sua disposição. Se muitas vezes é difícil criar trabalhos artísticos e deixar fluírem as sensações em um confortável ateliê, ou em algum lugar com uma estrutura física boa, o que dizer de produzir em tempos de guerra, de movimentação e deslocamentos permanentes. Borgen nutria uma vontade enorme de desenhar a partir de suportes simples, sem nenhuma opção de escolha ou ideia preconcebida. Praticamente, criou uma arte própria com base no seu fôlego de batalha, sua aura de desbravador em meio a um caos assumidamente dilacerante.</p>
<p>Outro ângulo que certamente desperta nosso interesse é a cumplicidade de Bogen com o aspecto processual de seus trabalhos, encarando a traumática vivência da 2ª Guerra Mundial em fusão permanente com sua intrínseca expressão pictórica. Ele não se limitou apenas a pintar em momentos de descanso, mas também em situações de confronto e luta. Como já disse Arad, para serem retratadas, muitas dessas situações, “não possuíam o menor respiro de tranquilidade e, mesmo assim, Bogen retirou das profundezas de seu coração artístico força quase tátil para poder transformar aquelas vivências em arte”.</p>
<p>Encerrada a 2ª Guerra Mundial, os trabalhos artísticos de Bogen, a maioria deles expostos no Kibutz “Lochamei Haghetaot” e no “Museu de Arte de Yad Vashem” continuam a evocar traços de maior segurança, vestígios de um olhar sumamente crítico diante da devastação e das atrocidades causados pela guerra. O artista judeu é, sem sombra de dúvida, uma figura que surgiu das cinzas de um conflito, e como tal decidiu repensar e filosofar seu lugar no mundo, codificando sua sensibilidade através de linhas, manchas e, sobretudo, muito suor.</p>
<p>Existe outro depoimento, desta vez do sobrevivente Yehuda Leib Bialer, que nos remete a aspectos centrais da obra de Bogen: “Ele (Bogen) estava imbuído com o espirito de Vilna. Por ela lutou e pelo bem dela completou sua missão artística, enquanto mantinha a fé em seu lado mais humano e judeu. Além de pintar imagens de homens em situações variadas, ele retratou aquela cidade judaica que não existe mais”.</p>
<p>As telas de Alexander Bogen não evocam somente o “partisan judeu” (perfil similar aos irmãos Bielski), o combatente do gueto (perfil de Mordechai Anilevich, em Varsóvia) ou guerrilheiros em fuga rumo às florestas da Europa. Seus trabalhos, mais especificamente as gravuras, retratam edifícios e fachadas de sua querida Vilna. A forte caracterização da angústia e do sofrimento subsistem no traço caótico dessas representações, pulsando diretamente no cuidadoso olhar do espectador, segurando velhos vestígios de um vilarejo em ruínas com poucos monumentos arquitetônicos que sobreviveram. São prédios e construções que emergem de um emaranhado de linhas como manifestos de resistência e perseverança em meio à destruição ocasionada pela guerra</p>
<p>O artista possui uma plasticidade única e uma posição bem nítida em relação a seu processo artístico, que podem ser facilmente vinculados a trabalhos de outros artistas, como William Kentridge e Lasar Segall. Tanto o lituano Segall como o sul-africano Kentridge sustentam suas obras através de aspectos incisivos de suas vidas para logo desenhar e demarcar suas aflições e paixões em determinado período, gerando experiências artísticas próprias e reutilizando características pictóricas e poéticas em seus trabalhos plásticos, tal qual Bogen fez no período da 2ª Guerra Mundial.</p>
<p>Independente de qualquer tipo de posição política, é inegável que Alexander Bogen tem sido um artista excepcional, infelizmente pouco conhecido dentro do cenário artístico. Tive a grande felicidade de poder estudar sua produção através de trechos do livro “Revolta”; uma obra ímpar tanto pela força de seu nome como pelo seu rico conteúdo.</p>
<p>Durante a pesquisa encontrei uma frase de Alexander Bogen que me marcou profundamente e resume a verdadeira essência de sua arte. Ele escreve: “Recentemente, tenho indagado muito acerca do motivo pelo qual desenho, mesmo havendo combatido dia e noite. Há aqui algo intimamente relacionado com a continuidade biológica. Cada ser humano, cada povo, precisa vivenciar isto uma vez... Ser criativo durante o Holocausto era também uma forma de resistir. Cada homem que se encontra frente a frente com seu inimigo, cruel e perigoso, age de forma pessoal. Assim, o artista tem seu próprio caminho para agir, pois essa (arte) é sua própria arma. Isso nos ensina porque os alemães não conseguiram destruir nosso espírito”.</p>
<p>Alexander Katzenbogen morreu em 2010 e hoje está enterrado no cemitério judaico de Kyriat Shaul, em Tel Aviv. Este artista colocou sua vida em sua arte de forma explícita, sem máscaras, e isso é o que faz dele um verdadeiro sobrevivente, não apenas da 2ª Guerra, mas também do mundo artístico em geral.</p>
<p>BIBLIOGRAFIA <br/> Bogen, Alexander, Revolt. Publicado por Yehuda Leib Bialer, Jerusalém, 1974 <br/>
Blater, Janet & Milton, Sybil, Art of the Holocaust. Ed. Pan Books. Londres , 1982 <br/>
Constanza, Mary S., Living Witness: Art in the Concentration Camps and Ghettos. The Free Press. Nova York, 1982 <br/>
Norvitch, Miriam, Resistenza Spirituale (Spiritual Resistence 1940-1945: 120 Drawings from Concentration Camps and Ghettos). The Commune of Milan, Milão,1979.</p>
<p>Prof. Reuven Faingold é historiador e educador, PHD em História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. É sócio fundador da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil e membro do Congresso Mundial de Ciências Judaicas de Jerusalém.</p> CARTA PARA CAETANO E GIL por Israel Klabintag:judaismohumanista.ning.com,2015-07-05:3531236:Topic:1031192015-07-05T21:24:28.749ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p> Meus caros Caetano e Gil, quero me solidarizar com a sua resposta à carta do Sr. Roger Waters propondo que vocês endossem o movimento, hoje se universalizando, que atende pela legenda BDS (Boycott, Divestment and Sanctions).<span id="more-36524"></span></p>
<p>Por outro lado, quero propor que vocês se solidarizem com um movimento chamado BTI (Breaking The Impasse). Enquanto um propõe a dissolução do Estado de Israel, o outro constrói, através de propostas objetivas, soluções de convivência…</p>
<p> Meus caros Caetano e Gil, quero me solidarizar com a sua resposta à carta do Sr. Roger Waters propondo que vocês endossem o movimento, hoje se universalizando, que atende pela legenda BDS (Boycott, Divestment and Sanctions).<span id="more-36524"></span></p>
<p>Por outro lado, quero propor que vocês se solidarizem com um movimento chamado BTI (Breaking The Impasse). Enquanto um propõe a dissolução do Estado de Israel, o outro constrói, através de propostas objetivas, soluções de convivência e de avanço em negociações para formação de um Estado Palestino, além de outras concessões necessárias de lado a lado para chegar à tão almejada paz.</p>
<p>O BTI é um grupo de proeminentes palestinos e israelenses, empresários e líderes da sociedade civil que acreditam na urgência de se encontrar uma solução pacífica para o conflito Israel/Palestina através do recurso “dois Estados para dois povos”.</p>
<p>Além de várias outras atividades, sempre no mesmo sentido da encontrar simbioses bilaterais, a fim de apressar soluções e encontrar áreas de colaboração, desde já, entre palestinos e israelenses. É melhor construir pontes do que aprofundar diferenças.</p>
<p>O impasse em questão já vem de longe e é produto das diversas guerras de agressão que Israel sofreu em seu território e que enlutou tanto os países árabes agressores, quanto Israel, o agredido.</p>
<p>Como judeu e brasileiro e que já era habitante do planeta Terra na época do nazismo e do holocausto, pude viver a construção de Israel através do sangue derramado em guerras e agressões feitas pelos países árabes em conflitos sangrentos e dos quais Israel sobreviveu, porém sempre com a mão estendida à procura de paz naquela região, porém sem abrir mão de sua segurança.</p>
<p>Os inimigos no Oriente Médio são os próprios países árabes. Os radicalismos religiosos dentro do Islã e uma cultura econômica não inclusiva procuram culpar Israel pela sua própria desordem e desorganização. Esse não é o caso de Israel, onde os valores democráticos e humanísticos são os mesmos que os nossos aqui no Brasil e que tanto prezamos.</p>
<p>Caetano, fiquei muito feliz com a tua resposta. O Gil é meu colega ambientalista e vocês dois são um admirável exemplo de talento e inteligência.</p>
<p>Que país magnífico é o nosso, onde esse tipo de problema e radicalismo não impera.</p>
<p>Israel é um país judeu, é uma aspiração milenar de retorno ao seu próprio país, onde a sua história foi, e é, fator fundamental para toda a cultura ocidental.</p>
<p>Roger Cohen, um dos mais brilhantes colunistas do NYT, escreveu uma excelente análise dos objetivos do BDS: “A doce retórica de democracia, direitos e justiça mascara os objetivos tortuosos do BDS que não são nenhum outro, além de acabar com o Estado judaico, criado pelas Nações Unidas através de um inequívoco mandato, em 1947. O antissionismo desse movimento pode facilmente disfarçar um antissemitismo”.</p>
<p>Seria gratificante se israelenses e palestinos pudessem, da noite para o dia, aprender a conviver como cidadãos com direitos iguais em algum “Estados Unidos da Terra Sagrada”, entre o Mediterrâneo e o Rio Jordão, num Estado secular, binacional e democrático que convive com suas diferenças. No entanto, seria uma ilusão acreditar que fosse possível realizar a utopia em um só Estado.</p>
<p>As diferenças são muito profundas. Um único Estado não é capaz de definir seu “Dia de Independência” e “Dia da Catástrofe” em uma mesma data. Por essa mesma razão, há a necessidade transcendente de dois Estados: o judeu e o palestino, o que acontecerá não por pressões externas, mas pela evolução da necessidade de convivência dos dois povos. Para isso, vocês dois, Caetano e Gil, podem colaborar enormemente através de sua arte, trazendo compreensão e beleza aos dois lados. Seguramente, muitos palestinos irão assisti-los, bem como do lado judeu vocês terão aplausos retumbantes não só de lá, mas também daqui.</p>
<p><em>Israel Klabin é Ambientalista e presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Artigo publicado originalmente no <a href="http://oglobo.globo.com/opi%E2%80%A6/carta-para-caetano-gil-16627154" target="_blank">O Globo</a>.</em></p>