Fórum Shoa - Holocausto - JUDAISMO HUMANISTA2024-03-28T12:59:00Zhttp://judaismohumanista.ning.com/groups/group/forum?groupUrl=shoa-holocausto&id=3531236%3AGroup%3A69471&feed=yes&xn_auth=noA Lista de Schindler Celebra 25 Anos Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2018-08-13:3531236:Topic:1219702018-08-13T21:43:17.380ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Em dezembro 1993, na estreia do novo filme de Steven Spielberg, A Lista de Schindler, ao se acenderem as luzes a plateia permaneceu em silêncio profundo, angustiada e pensativa. Era a mesma reação que tantos outros espectadores teriam ao longo dos anos que se seguiram. 25 anos após o lançamento, com o ressurgimento do antissemitismo e dos movimentos de negação do Holocausto, o filme se torna ainda mais relevante.<br></br> Edição 100 - Junho de 2018</p>
<p>A Lista de Schindler consegue chegar ao…</p>
<p>Em dezembro 1993, na estreia do novo filme de Steven Spielberg, A Lista de Schindler, ao se acenderem as luzes a plateia permaneceu em silêncio profundo, angustiada e pensativa. Era a mesma reação que tantos outros espectadores teriam ao longo dos anos que se seguiram. 25 anos após o lançamento, com o ressurgimento do antissemitismo e dos movimentos de negação do Holocausto, o filme se torna ainda mais relevante.<br/> Edição 100 - Junho de 2018</p>
<p>A Lista de Schindler consegue chegar ao âmago de milhões de pessoas, fazendo-as compreender a extensão da Shoá. À época do seu lançamento, apesar do Holocausto ter ocorrido há menos de meio século, o assunto era desconhecido por grande parte da humanidade. Após a 2a Guerra Mundial, foram produzidos alguns livros, filmes e documentários a respeito do Holocausto, mas A Lista de Schindler foi o que conscientizou e emocionou centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo. Hoje, quando grande parte das novas gerações desconhecem o próprio fato e a história do Holocausto. O filme de Spielberg continua sendo instrumento indispensável para mostrar o intenso sofrimento judaico durante a Shoá e até onde a maldade humana pôde chegar.<br/> Em 26 de abril de 2018, o Festival de Cinema de Tribeca, um dos mais importantes do mundo, realizado no Beacon Theatre, em Nova York, organizou a exibição em homenagem ao 25º aniversário de A Lista de Schindler. Assistindo o filme na companhia de parte do elenco, Spielberg se disse muito orgulhoso de sua realização, afirmando que nenhum outro filme que tenha dirigido, antes e depois, lhe tinha dado tamanha sensação de missão cumprida.<br/>
O filme, como veremos adiante, é a história dramatizada, mas verdadeira, de Oskar Schindler, um ganancioso e oportunista empresário alemão, que se estabeleceu em Cracóvia durante a 2ª Guerra, para enriquecer. Num momento de heroísmo, ele decidiu utilizar a grande fortuna que ganhara para “comprar” dos nazistas os judeus que empregava, que se autodenominavam os Schindlerjuden, os judeus deSchindler. Impedindo que fossem enviados para Auschwitz mediante pagamento, ele salvou a vida de 1.200 judeus, entre homens, mulheres, velhos e crianças.<br/>
Lançado em uma época em que o revisionismo histórico e o negacionismo do Holocausto estavam tomando força, o diretor afirmou, em entrevistas, que, enquanto produzia o filme, via-se como um “jornalista”. E queria produzir “um documento” sobre o Holocausto, tendo como alvo os que desconheciam a história dos judeus europeus durante a 2ª Guerra. “Estava preocupado em contar a história de Schindler da forma mais próxima possível da verdade. Este filme não deve jamais ser analisado como a história do Holocausto; é apenas uma das histórias do Holocausto”.<br/>
Contrariando a previsão de que seria um fracasso de bilheteria, o filme faturou mais de US 321 milhões nas primeiras semanas, valor 14 vezes superior ao custo da produção. Ao se decidir a dirigir o filme, Spielberg declarou que abriria mão de seu salário e destinou seus ganhos pelos direitos autorais à criação da Fundação Sobreviventes da Shoá, ajudando a preservar a memória do Holocausto através de testemunhos filmados dos sobreviventes, mundo afora.<br/>
O filme foi indicado a 12 prêmios no Oscar de 1994. Venceu em sete categorias: melhor fotografia, melhor diretor (primeiro Oscar de Spielberg nessa categoria), melhor adaptação, melhor edição, melhor cinematografia, melhor direção artística e melhor trilha sonora original. Em 2007, o American Film Institute classificou-o em oitavo lugar na lista do 100 melhores filmes norte-americanos de todos os tempos.<br/>
Para transmitir os horrores ocorridos e a forte mensagem de que um único homem pode salvar a vida de muitos outros, A Lista de Schindler se utiliza de inúmeras ferramentas artísticas. O longa-metragem foi filmado em branco e preto, para intensificar a dor e o sofrimento, à época e, ao mesmo tempo, tornar menos gráficas certas cenas. Spielberg utilizou as referências visuais do expressionismo alemão, o estilo que marcou os filmes europeus na época da 2ª Guerra. As únicas cores – além das cenas finais – são das velas de Shabat acesas no início do filme, no mundo pré-nazismo, onde ainda havia luz e cor, e o casaco vermelho de uma menina em plena Aktion nazista, no Gueto de Cracóvia. A trilha sonora de John Williams tornou-se um clássico e reflete o drama da história, elevando cada sequência ao seu auge e mantendo o espectador suspenso e angustiado.<br/>
Mas, não há dúvida que a ferramenta mais poderosa utilizada foi a individualização – das vítimas, dos algozes, da população polonesa perante o extermínio de judeus. Spielberg queria que os espetadores entendessem que o Holocausto foi algo personificado e contínuo – um nome, uma pessoa após a outra. Para os que não passaram pelos horrores da Shoá, é praticamente impossível compreender o sofrimento imposto aos judeus. Os números de judeus assassinados pelos nazistas e seus colaboradores, que hoje se acredita tenham sido cerca de 7 milhões, são uma realidade difícil de se assimilar emocional e intelectualmente. É menos dolorido se perder nas estatísticas, discutir números, e não entrar na monstruosidade ocorrida... Mas isso seria desumanizar as vítimas, uma vez mais...<br/>
O projeto<br/>
Por mais de 40 anos, Poldek Pfefferberg, um dos judeus salvos por Schindler e que, em 1948, mudou-se para Beverly Hills, na Califórnia, tentou tornar conhecida a história dos Schindlerjuden. Finalmente, em 1982, o assunto interessou Thomas Keneally, autor australiano, que escreveu o livro Schindler’s Ark.<br/>
Steven Spielberg leu esse livro à época em que filmava E.T. Impressionado com a história, particularmente com a apresentação do Holocausto através de relatos individuais, sentiu que queria fazer um filme sobre o livro. Mas foram necessários 10 anos até que ele estivesse emocionalmente pronto para embarcar em projeto daquela magnitude.<br/>
Tentou convencer outros diretores a dirigir o filme, entre eles Roman Polanski e Martin Scorsese, sem sucesso. Polanski recusou por considerar o filme “muito pessoal”, pois ele e seus pais foram trancados pelos nazistas no gueto de Cracóvia. Ele e o pai sobreviveram, mas sua mãe morreu em Auschwitz. Posteriormente, Polanski dirigiria “O Pianista”, seu próprio filme sobre a perseguição nazista aos judeus.<br/>
Após ler um roteiro que lhe fora enviado, Spielberg decidiu que chegara a hora de levar adiante o projeto, apesar de os executivos do estúdio lhe perguntarem “por que simplesmente não fazia alguma doação a entidades judaicas, ao invés de desperdiçar o tempo e o dinheiro de todos num filme tão ‘deprimente’”.<br/>
Ao saber da intenção de Spielberg, muitos historiadores e críticos mostraram-se céticos, questionando se um diretor de blockbusters de efeitos visuais, como ET e Tubarão, conseguiria abordar tema tão profundo quanto o Holocausto. Outros tinham receio de que a história de Schindler poderia ser capciosa, caso a ênfase recaísse mais sobre ele – e não nos judeus. Será que o filme criaria o mito de que na Polônia haviam surgido muitos heróis prontos a salvar judeus, ou que entre os membros do partido nazista havia Justos? – pois esse é muitas vezes o ônus por querer dar como exemplo uma pessoa que é uma exceção a regra. E se os documentários sobre o Holocausto, com suas dolorosas filmagens de crematórios e escavadeiras e cadáveres, mortos e vivos, são tão duros de se assistir – ao se misturar Hollywood com o Holocausto, os resultados seriam medíocres e melodramáticos, trivializados. Mas Spielberg provou estar à altura do projeto.<br/>
Os Schindlerjuden – sua história<br/>
A Lista de Schindler é construído com base no cuidadoso roteiro de Steven Zaillian. Esse script, de um extremo realismo, contém informações históricas precisas sobre a perseguição aos judeus na Polônia, a criação do Gueto de Cracóvia, em 1941, a invasão e fim do Gueto e a transferência de todos para o infame campo de concentração de Kraków-Płaszów, comandado pelo SS-Hauptsturmführer Amon Göth (Ralph Fiennes). Em termos históricos e pelos relatos das testemunhas, o roteiro atinge níveis de documentário.<br/>
No filme, Spielberg consegue transmitir aos espectadores o horror que os judeus poloneses enfrentavam, fazendo com que se sintam participantes dos acontecimentos, não meros observadores. O espectador conhece os nomes e rostos dos judeus, acompanha seu sofrimento de perto, desenvolvendo uma conexão com cada vítima. Tal conexão é o objetivo principal de Spielberg. Ele quer que o espectador se identifique com os personagens, sinta sua dor e seu pavor. Essa individualização força a plateia a perceber que cada judeu vítima dos nazistas tinha a sua história, seus entes queridos, um lar, um negócio, e, sobretudo, uma vida.<br/>
Nos minutos iniciais do longa-metragem, conhecemos o protagonista, Oskar Schindler (Liam Neeson), um membro do partido nazista, entretendo os oficiais alemães. Determinado a lucrar com a guerra, ele utiliza pessoas em seu favor. Ele enriquece usando o trabalho de judeus em sua fábrica de panelas, dirigida por seu contador judeu, Itzhak Stern (Ben Kingsley), pois Schindler nada entende de negócios. A princípio, Schindler mantém-se afastado dos horrores que acontecem à sua volta, mas ao ver as atrocidades cometidas pelos nazistas, ele vai se modificando. O momento da transformação ocorre quando Schindler, a cavalo, do alto de uma colina durante uma importante operação nazista contra os judeus do Gueto de Cracóvia, avista uma menina com um casaco vermelho – único objeto de cor além das velas de Shabat até o final do filme – que corre, perdida, em meio à multidão de judeus e nazistas. Naquele instante, ele é forçado a confrontar o horror e sua própria cumplicidade com aquele horror. Posteriormente, Schindler avista a menina numa pilha de cadáveres exumados, que estavam sendo levados para serem cremados em valas comuns.<br/>
Schindler não consegue mais ser um mero espectador e deixar “seus” funcionários judeus, com quem já tinha uma conexão pessoal, serem mortos. Decide, pois, usar os recursos financeiros que já ganhara para salvar o máximo de judeus que fosse possível, passando então a subornar os nazistas.<br/>
Em julho de 1944, a Alemanha nazista, ciente que irá perder a guerra, ordena às SS que fechem os campos de concentração e evacuem os prisioneiros que ainda estavam vivos. Schindler consegue “convencer”, através de um polpudo suborno, o SS-Hauptsturmführer Amon Göth a transferir sua fábrica e seus operários para Brünnlitz – e os salva mais uma vez da morte. A metamorfose de Schindler atinge seu clímax nos últimos momentos do filme, quando ele desaba frente a todos os judeus que tinha salvado, não suportando a noção de que poderia ter salvo ainda mais pessoas. Terminada a guerra, sem fortuna, às voltas com fracassos comerciais e a dissolução de seu casamento, Schindler foi ajudado financeiramente “pelos seus judeus” e por organizações judaicas internacionais. Em 1963, Oskar Schindler recebeu de Yad Vashem o honroso título de “Justo entre as Nações”. Ele veio a falecer em 1974.<br/>
A “consciência” de Schindler é Itzhak Stern, seu contador judeu. Stern é essencial para toda a narrativa. Desde o início do filme, salva judeus da morte certa, tudo enquanto convive com Schindler, incentivando-o a fazer algo. É Stern quem aproxima Schindler de centenas de judeus.<br/>
Spielberg procurou “individualizar” também aos nazistas. O personagem deAmon Göth nos oferece a visão da mente doentia de um oficial nazista corrompido pelo antissemitismo. Ele é um perfeito psicopata, a encarnação da ideologia nazista. Göth não vê os judeus como seres humanos, mas como uma massa não-humana. Contudo, está apaixonado por sua criada judia. Luta contra seus sentimentos. De um lado, a atração por ela e, do outro, o ódio puro aos judeus que ele não consegue superar. Com interpretação brilhante, Ralph Fiennes se torna a manifestação física de todo o terror ali presente. O que mais choca e assusta é a causalidade com que Göth comete as maiores crueldades. De sua varanda, por exemplo, ele atira nos judeus para praticar a pontaria. (O verdadeiro Göth foi enforcado em 1946 por crimes contra a humanidade.)<br/>
Spielberg não nos poupa nem por um momento sequer. Os focos pontuais nos personagens secundários ao longo da narrativa nos levam do interior do gueto e dos campos de concentração às câmaras de gás. Podemos sentir o medo de cada um daqueles judeus, sabendo que pode ser morto a qualquer instante, sem nenhuma razão. A hostilidade declarada aos judeus demonstrada pelos poloneses cristãos, seus compatriotas, aparece claramente no filme em várias ocasiões, uma delas quando os judeus de Cracóvia são forçados a entrar no gueto. Uma garotinha grita, na rua, repetidamente, “Adeus, judeus”. Através dela, Spielberg manda a mensagem de que a maldade nazista “infectara” comunidades inteiras....<br/>
Spielberg transformou a cena da “liquidação” no gueto de Cracóvia, apenas uma página no script original, em uma cena de 20 minutos de filme, com base em depoimentos dos sobreviventes. Por exemplo, a cena em que o jovem escapa da captura dizendo aos soldados alemães que tinha recebido ordens de retirar as bagagens da rua, foi tirada diretamente da história de um sobrevivente.<br/>
A morte e o medo da morte governam a vida dos judeus em A Lista de Schindler. As cenas de mulheres, homens e crianças sendo friamente assassinados, de modo aleatório e indiscriminado, são cruas, difíceis de se ver, mas nunca apelativas. E, ao contrário do que alguns críticos temiam, os judeus de A Lista de Schindler demonstram um espírito inquebrantável e o desejo de sobreviver. O evento que talvez melhor ilustre esse triunfo do espírito é o casamento no campo de trabalhos forçados de Plaszów. Ainda que vivessem sob constante medo da morte, com praticamente nenhum futuro à sua frente, os dois jovens se casam na esperança de sobreviver.<br/>
Spielberg segue com a ideia de individualismo até a forte cena final do filme. Pela primeira vez, com todas as cores, aparecem os Schindlerjuden que sobreviveram. Enfileirados, a perder de vista, muitos ao lado de suas contrapartes no filme, eles colocam pedras no túmulo de Oskar Schindler.<br/>
A decisão de Spielberg de mostrar os atores ao lado dos sobreviventes a quem representavam teve dois propósitos. Primeiro, mostrar aos espectadores que os personagens do filme são pessoas reais, não figuras inventadas. Segundo, com isso, ele está enviando uma mensagem a todos aqueles que colocam em dúvida a realidade do Holocausto, de que há provas humanas da tragédia e que a barbárie que lá ocorreu jamais poderá ser apagada. As testemunhas daquele horror estão vivas para contar sua história e assegurar-se de que jamais seja esquecida.<br/>
25 anos depois<br/>
Como parte da programação, o Festival de Cinema de Tribeca promoveu um debate com Spielberg, Liam Neeson (Oskar Schindler), Ben Kingsley (Itzhak Stern), Caroline Goodall (Emilie Schindler) e Embeth Davidtz (Helen Hirsch). No debate, cada um dos participantes contou suas experiências e impressões ao longo das filmagens.<br/>
Spielberg revelou que quando levou para casa os Oscars pela Melhor Fotografia e por Melhor Diretor, ele não sentia motivo para festejar. “Aquela noite não foi uma celebração... Não julgo que este filme seja uma celebração. O tema e o impacto que o filme causou em nós todos… retirou qualquer confraternização que pudesse haver”, disse. “Vencer foi maravilhoso, mas ao mesmo tempo me fez lembrar como me emocionei quando Branko Lustig, nosso coprodutor mostrou ao mundo que ele também estivera em Auschwitz, como comprovavam os números em seu braço”.<br/>
Spielberg e alguns atores relataram fatos que os marcaram durante a gravação. Spielberg contou que quando já haviam rodado a maior parte do filme, ele começou a temer que as pessoas não acreditassem que A Lista de Schindler era uma história verdadeira. Mas, vencer aquele temor levou a um dos momentos mais pungentes do filme, quando os sobreviventes e os atores que lhes representavam colocaram as pedras no túmulo de seu benfeitor, em Jerusalém. O diretor relembrou as longas caminhadas noturnas que fazia, quando lhe ocorreu a cena final com os sobreviventes salvos por Schindler. “Enquanto caminhava, pensei: Que tal se eu mostrasse muitos dos judeus de Schindler, sobreviventes do Holocausto, colocando pedras ao redor do seu túmulo?”.<br/>
Ele também revelou que a maioria dos atores que interpretaram os judeus eram de Israel e a maior parte dos que fizeram o papel de alemães eram alemães ou austríacos. Foi uma decisão difícil, pois sabia que ele e sua equipe teriam muita dificuldade em ver os atores com os uniformes nazistas. Durante as primeiras semanas, Spielberg disse que evitou contatos pessoais, principalmente por causa do realismo das cenas. “Conscientemente, eu sabia que eram atores, homens gentis e educados, mas eu não conseguia ser diferente”. Mas o ambiente mudou completamente após a realização do Seder de Pessach, durante as gravações. Em meio ao jantar, os atores alemães e austríacos entraram no local, sentaram-se ao lado dos demais participantes e começaram a acompanhar a Hagadá. “Algo se rompeu dentro de mim. Comecei a chorar e, a partir do dia seguinte, consegui conversar com todos”, contou Spielberg.<br/>
Neeson relembrou uma cena inesquecível, fora dos portões de Auschwitz, quando o coprodutor Branko Lustig lhe disse: “Você está vendo aquela cabana? Foi nela que eu fiquei”...<br/>
Muitas cenas foram baseadas em traumas reais e, por isso, difíceis de serem rodadas, para os atores. Spielberg relembrou a cena das mulheres entrando nos chuveiros em Auschwitz. “Foi traumático. Duas atrizes israelenses ficaram tão impactadas que não conseguiram filmar por três dias”.<br/>
O elenco se lembrou da sinistra realidade de sentir, enquanto filmavam, que mesmo após 50 anos, o antissemitismo não fora erradicado na Polônia. Spielberg lembrou que, quando Fiennes estava de uniforme das SS rodando uma cena, uma mulher no andar superior de um prédio próximo gritou, pela janela, que desejava que as SS ainda estivessem lá para protegê-los. Com frequência surgiam suásticas pintadas nas paredes ao redor dos sets de filmagem, lembraram. Kingsley recordou que, em um hotel, ele discutiu com um empresário, chegando ao ponto de expulsá-lo.<br/>
A discussão tinha começado quando o homem fingiu estar amarrando uma corda no pescoço do ator Michael Schneider, que dissera ser judeu, respondendo a uma pergunta do tal empresário.<br/>
O Holocausto foi, sem dúvida, um capítulo decisivo na história do Povo Judeu. A Lista de Schindler permitiu que um número incontável de pessoas, inclusive muitos judeus, aprendessem a respeito do extermínio de sete milhões de judeus, inclusive um milhão e meio de crianças, perpetrado pelo regime nazista. Passados 25 anos após o lançamento de A Lista de Schindler, o filme se tornou ainda mais relevante, especialmente com o ressurgimento da direita europeia, do antissemitismo e do negacionismo do Holocausto.</p> A Resistência Judaica durante o Holocausto - Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2018-06-15:3531236:Topic:1215122018-06-15T11:32:02.759ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Recentemente os historiadores passaram a considerar o número de judeus brutalmente assassinados pelo Terceiro Reich em torno de 7milhões – e não mais 6 milhões. A pergunta muitas vezes feita é por que estes não resistiram? Por que não lutaram? Por que se deixaram levar “como ovelhas”? Quem pergunta tem a objetividade do tempo transcorrido desde então e nenhuma vivência pessoal de um horror que a mente humana não consegue assimilar. Mas a pergunta precisa ser respondida.<br></br> Edição 99 -…</p>
<p>Recentemente os historiadores passaram a considerar o número de judeus brutalmente assassinados pelo Terceiro Reich em torno de 7milhões – e não mais 6 milhões. A pergunta muitas vezes feita é por que estes não resistiram? Por que não lutaram? Por que se deixaram levar “como ovelhas”? Quem pergunta tem a objetividade do tempo transcorrido desde então e nenhuma vivência pessoal de um horror que a mente humana não consegue assimilar. Mas a pergunta precisa ser respondida.<br/> Edição 99 - Abril de 2018</p>
<p>Uma guerra sem fronteiras havia sido declarada pela Alemanha de Hitler contra o Povo Judeu, sem restrição de homens ou armamentos. O fato colocava os judeus numa situação extremamente difícil. Eles não possuíam um Estado, tampouco forças de combate treinadas; e nem aliados. Eram uma minoria civil desarmada, espalhada em todos os países da Europa. No Leste Europeu eram desprezados. Hoje, temos provas e testemunhos de que houve centenas de atos, individuais e de grupo, de resistência judaica aos nazistas nos países da Europa Ocidental e Oriental. Essa resistência se manifestou de forma diferente dependendo do país, do grau de antissemitismo da população local e do momento histórico.<br/> Um dos grandes desafios na historiografia da resistência judaica durante o Holocausto é a definição do que deve ser considerado como “resistência” a um poder opressor. Deve-se considerar apenas a ação armada? Historiadores concordam que há duas categorias básicas: a resistência civil, não violenta, e a armada. E, mesmo a armada é subdividida entre a ofensiva e a chamada acorrentada. A resistência ofensiva inclui operações armadas não convencionais, ações de guerrilheiros ou de sabotagem. Um exemplo da resistência ofensiva foi a luta dos partisans1 nos territórios sob domínio alemão. A acorrentada, por sua vez, implica em ações armadas em situações em que são praticamente nulas as esperanças de sobrevivência. O Levante do Gueto de Varsóvia, há 75 anos, em abril de 1943, assim como os levantes ocorridos em outros guetos e campos de concentração, são exemplos de resistência acorrentada.<br/>
Há testemunhos sobre centenas de atos individuais de mulheres e homens judeus, que, sendo levados à morte, tentaram ferir seus algozes com facadas e até mesmo mordidas. E, é um fato histórico de que dezenas de milhares de judeus participaram da resistência armada, engrossando as fileiras dos movimentos nacionais de resistência, os partisans, na luta contra o inimigo comum. (Apenas em território polonês, com raríssimas exceções, os grupos de resistência não aceitavam judeus em suas fileiras).<br/>
Nunca é demais enfatizar que os partisansoperavam apenas em ações de guerrilhas. Um enfrentamento aberto, com armas em punho, contra os alemães ocorreu em apenas três ocasiões – em Varsóvia, Paris e Eslováquia, no final do verão europeu de 1944. Nas três ocasiões os resistentes sabiam que as forças Aliadas estavam próximas.<br/>
Em toda a Europa sob domínio nazista foram muito frequentes os casos de ajuda por parte de judeus a seus correligionários “em perigo ou em fuga”, de salvamento de crianças, de proteção aos que se escondiam. E, enquanto aumentavam os esforços nazistas para erradicar os judeus da História, dia após dia eles registravam a vida sob ocupação nazista, inclusive nos campos de concentração. Escrever era uma forma de resistir, era deixar a prova dos crimes nazistas.<br/>
Na Polônia, trancafiados em guetos, isolados e sem qualquer meio de comunicação com o exterior, os judeus criaram uma ativa resistência civil, entre outras, organizações assistenciais, religiosas e educacionais clandestinas. E conseguiram realizar levantes armados em cinco dos principais guetos, em 45 dos menores, em cinco campos de concentração e extermínio, e em 18 campos de trabalhos forçados.<br/>
A fuga era uma maneira de resistir. Mas, mesmo quando os judeus tinham os meios e a oportunidade, as dificuldades eram enormes. A pergunta era “para onde ir? ”. Praticamente nenhum país lhes abrira suas portas. Os que tiveram tempo de escapar para outros países da Europa não foram rápido ou longe o suficiente; judeus alemães e austríacos foram capturados na França, Bélgica e assim por diante. Sem ajuda era quase impossível se esconder, e sobreviver. A população não judaica muitas vezes era hostil; no melhor dos casos, indiferente a eles e à sua sorte. Em sua caça aos judeus, os nazistas contavam com a ajuda entusiasmada de ucranianos, lituanos e poloneses. E aquele que decidisse ajudar um judeu, sabia que, se descoberto, seria executado.<br/>
Ademais, qualquer tipo de resistência por parte de uma nacionalidade qualquer era fortemente inibido pela polícia nazista e seus métodos de terror. Porém, aos judeus os nazistas reservavam um “tratamento especial”. A punição a um não judeu suspeito de um ato de resistência era, em muitos casos, a execução sumária; a tortura era usada para extrair informações. Porém, para um resistente judeu a execução sumária era a melhor opção, pois, via de regra, ele devia “ser morto da maneira que mais conduzisse à disciplina e que impedisse qualquer outro tipo de resistência”. O sadismo nazista não teve limites. No Leste da Europa, os resistentes judeus eram esfolados, queimados vivos, jovens judias recebiam injeções de veneno que provocavam espasmos musculares antes da morte. Em Minsk, o comandante das SS cegava os judeus capturados com ferro em brasa e os enviava de volta para seus companheiros, como um “alerta”.<br/>
Mas, acima de tudo, a resistência era inibida pela política alemã de “responsabilidade coletiva”. Essa tática de retaliação atribuía a responsabilidade a famílias, até a comunidades inteiras por atos individuais de resistência. No caso judaico, a retribuição podia atingir todos os habitantes de um gueto. Caso um judeu fosse encontrado fugindo, de posse de um rádio, um telefone ou uma arma, dezenas ou até centenas de judeus eram assassinados em represália. E, na eventualidade de um judeu ferir ou matar um alemão, os números chegavam a milhares.<br/>
Portanto, a pergunta a ser feita é “como pôde haver uma resistência? ”.<br/>
Na Europa Ocidental<br/>
Nos países da Europa Ocidental são muitos os exemplos de resistência judaica – individual e organizada, civil e armada. Na França, por exemplo, às vésperas da eclosão da 2ª Guerra, quando as autoridades francesas anunciaram que evacuariam crianças francesas de Paris, os líderes dos Éclaireurs Israélites, (Escoteiros Judeus) organizaram a saída das crianças judias das famílias de imigrantes e montaram lares de infância coletivos no sul da França. Os Éclaireurs Israélites e outros movimentos judaicos juvenis tiveram papel crucial quando a perseguição ativa aos judeus chega ao país.<br/>
Por toda a Europa havia judeus engajados em ajudar seus correligionários “em perigo ou em fuga”. A partir da França, a entidade judaica Oeuvre de Secours aux Enfants (OSE), adotando o lema “Il faut sauver les enfants! ” (É preciso salvar as crianças), organizou uma rede clandestina de resgate de crianças judias de toda Europa, que ficou conhecida como Circuit Garel. A OSE os transportava para o sul da França, acomodando-os em lares e orfanatos. Em 1943, com a intensificação das deportações, conseguiram contrabandeá-las para a Suíça.<br/>
Como mencionamos acima, milhares de judeus combateram nas fileiras dos movimentos nacionais de resistência na França, Bélgica, Itália, Iugoslávia, Grécia e Eslováquia. Na França, foi grande o número de judeus na Resistência Francesa, La Résistance. Muitos inclusive ocuparam posições de liderança. Um dos grupos da Résistance era a Armée Juive (Exército Judeu), que operava no sul da França.<br/>
Quando os britânicos criaram a Special Operations Executive (SOE) para espionar os inimigos e organizar os movimentos de resistência, entre os agentes de campo infiltrados atrás das linhas alemãs havia muitos judeus, principalmente mulheres.<br/>
Na Grécia, o rabino Barzilai e os líderes comunitários que faziam parte do Judenrat de Atenas decidiram não atender nenhuma exigência nazista e agiram rapidamente. Foram queimadas todas as informações sobre a comunidade, o rabino raspou a barba, juntando-se aos partisans nas montanhas e incentivando todos os judeus a fugir. Entre os que se juntaram aos partisans gregos, destacam-se 40 indivíduos integrantes do grupo que explodiu a ponte da principal ferrovia, ligando o norte ao sul da Grécia.<br/>
A resistência não armada no Leste Europeu<br/>
Os guetos no Leste Europeu eram centros de morte lenta. Os judeus morriam de fome e de frio, pois a quantidade oficial de alimentos e combustível que os nazistas destinavam a eles era ínfima e constantemente reduzida. Morriam nas ruas por nenhum motivo além de serem judeus. Em Varsóvia, a taxa de mortalidade chegou a mil por semana.<br/>
Os judeus procuraram resistir à política nazista de inanição e desumanização. No início do seu confinamento – quando ninguém podia sequer imaginar a possibilidade de um extermínio em massa ou de câmaras de gás – a preocupação girava em volta da sobrevivência física, moral e espiritual.<br/>
Na maioria dos guetos maiores, uma “comunidade paralela”, uma rede de organizações sócias, assistências, e políticas underground, incluindo movimentos juvenis, passou a funcionar. Seus líderes haviam saído das fileiras das instituições judaicas, dos movimentos juvenis sionistas e dos partidos de esquerda do pré-guerra.<br/>
Alimentos, mercadorias e medicamentos eram contrabandeados para dentro dos muros do gueto, muitas vezes por crianças. Era o contrabando que mantinha o gueto vivo. A “comunidade paralela” criou refeitórios, orfanatos, clínicas e abrigos para refugiados e os mais pobres. Organizava ensino clandestino e atividades culturais. Em Varsóvia, os “comitês das residências” atuavam para cuidar dos que moravam em seus complexos habitacionais. Em muitos casos, as atividades sociais davam cobertura a movimentos políticos ilegais.<br/>
Sendo a prática da religião judaica proibida, uma resistência religiosa entra em ação para ajudar os judeus a observarem leis e feriados religiosos. Em casa de orações clandestinas havia diariamente minyanim; apenas emVarsóvia eram cerca de 600. Os rabinos continuavam a lecionar, a escrever comentários, a realizar casamentos, Brit milot, Bar Mitzvás. Jovens continuaram a estudar em yeshivot clandestinas.<br/>
Os médicos judeus não tinham acesso a medicamentos para salvar os doentes já enfraquecidos pela fome. Ao se dar conta de que a guerra contra a fome estava perdida, passaram a estudar os efeitos da inanição em seu próprio corpo e nos cadáveres. Suas conclusões foram publicadas após a guerra, em Paris.<br/>
Sob domínio nazista era “ilegal” que os judeus possuíssem rádio, telefone ou que publicassem um jornal. No entanto, a maioria dos grupos políticos clandestinos lutava contra o isolamento judaico publicando jornais e boletins clandestinos. As notícias eram compiladas de transmissões soviéticas ou da BBC, em rádios escondidos.<br/>
Muitos, judeus e não judeus, registram a vida sob julgo nazista, mas os arquivos mais completos foram coletados pelo grupo “Oyneg Shabbes “, fundado em Varsóvia pelo historiador Emanuel Ringelblum. As palavras de ordem de Ringelblum eram “reunir material, juntar impressões e registrá-las, imediatamente”. Ele acreditava que os arquivos permitiriam ao mundo pós-guerra ouvir as vozes dos que foram silenciados. Eram registros dos crimes cometidos pelos nazistas, e da vida, e morte dos judeus no gueto de Varsóvia e no resto da Polônia.<br/>
Um parêntese precisa ser aberto a respeito dos Judenrats, os Conselhos Judaicos criados pelos nazistas para executarem suas ordens. As atitudes de vários desses Conselhos são até hoje questionadas e criticadas, mas não cabe aqui analisar suas ações ou razões. Porém, é preciso ressaltar que muitos foram forçados a assumir o cargo, sob pena de morte, e que os Conselhos eram impotentes frente aos nazistas. Suas tentativas de aliviar as condições de vida nos guetos raramente tinham sucesso.<br/>
O ponto de inflexão<br/>
A operação Barbarossa, a invasão da União Soviética iniciada em junho de 1941, marcou o ponto de inflexão da política alemã em relação aos judeus. Com a invasão, dá-se início à matança rápida e indiscriminada de todo e qualquer judeu, independente de idade ou sexo. Crianças de colo não eram poupadas.<br/>
A velocidade, e sigilo e ardis usados pelos alemães e seus colaboradores eram essenciais para o “bom andamento das operações”. Quando havia qualquer tipo de resistência, esta era brutal e imediatamente silenciada. Dia após dia, cidade após cidade, os nazistas destruíram sistematicamente comunidades judaicas inteiras. Não foram poucas as vezes em que foram “ajudados” pela população local. Os alemães sabiam e exploraram ao máximo o antissemitismo reinante no Leste europeu.<br/>
Apesar do esforço alemão para manter a “Solução Final” em sigilo absoluto, alguns judeus rastejaram com vida das valas onde os nazistas os havia jogado junto com centenas de outros que haviam sido mortos a tiro. Eles revelavam aos judeus que os encontraram “o crime sem nome” que vivenciaram. A princípio, a maioria dos líderes dos movimentos judaicos clandestinos receberam os relatos dos assassinatos em massa com ceticismo; os que acreditaram não conseguiram interpretar o verdadeiro alcance dos acontecimentos. Em 1942, os testemunhos de judeus que haviam fugido de campos de extermínio fizeram-nos estremecer. A resistência polonesa também alertara seus contatos em Varsóvia sobre o que acontecia com os judeus em Treblinka. Um dos membros do Bund é então enviado para investigar, e volta com a confirmação de que se tratava de um campo de morte, onde os judeus eram assassinados em câmaras de gás. Outros couriers, foram despachados paraaveriguar e repassar as informações. Eles também voltam com a confirmação dos massacres. Esses jovens, em sua maioria mulheres, haviam criado uma rede de comunicação para conectar vários guetos. Com documentos falsos viajavam por toda a Polônia levando informações, jornais clandestinos e dinheiro; compravam e contrabandeavam armas para dentro dos guetos e organizavam rotas de fuga.<br/>
Ao receber confirmação dos assassinatos em massa e das câmaras de gás, as lideranças compreenderam a realidade da “Solução Final”. Perceberam que para evitar uma revolta em massa, os judeus eram ludibriados de forma a pensar que apenas estavam sendo levados a campos de trabalho. Os nazistas eram “ajudados” pela tendência do ser humano de racionalizar e de negar o pior. “Por que os nazistas nos matariam se podiam explorar nossa mão de obra? Vamos trabalhar nas piores condições possíveis, como escravos, mas vamos sobreviver”.<br/>
Para os movimentos clandestinos, a estratégia de não-provocação até então adotada, facilitava os planos dos nazistas. Decidiram que era imprescindível convencer outros judeus a resistir às deportações, convencendo-os de que eram o passo inicial para a liquidação judaica. E decidiram que era preciso enviar as informações para os Aliados, na esperança de que algo fosse feito em seu socorro. Iludiam-se pensando que a falta de ajuda decorria da falta de conhecimento...<br/>
Resistência armada<br/>
Vimos acima que a ferramenta nazista mais potente contra a resistência era a tática da “responsabilidade coletiva”. A pessoa podia estar decidida a lutar, a enfrentar a tortura e a morte. Mas estaria preparado para ver que suas decisões levaram os nazistas a assassinar seus familiares, seus amigos, quem sabe, o gueto inteiro? Os inimigos eram implacáveis e as represálias, selvagens. E, o crime supremo – matar um alemão – era vingado com rios de sangue judaico. Os exemplos não terminam. Em Dolhyhnov, próximo a Vilna, toda a população do gueto foi assassinada após a fuga de dois meninos que se recusaram a voltar atrás. Em Bialystok os alemães atiraram em 120 judeus, em plena rua do gueto, após um judeu ter matado um policial alemão, e ameaçaram destruir o gueto inteiro se ele não se rendesse – o que acabou acontecendo...<br/>
Os movimentos juvenis e os partidos de esquerda e o Judenrat – que diferiam em muitos assuntos – estavam de acordo em que uma resistência armada só poderia acabar em morte para os judeus. E, enquanto houvesse a possibilidade de sobrevivência, ainda que para uma minoria, teriam que aguardar. Mas eles se preparariam...<br/>
Em 1942 são criadas organizações de resistência armada. A primeira delas, a FPO, Organização dos Partisans Unidos, foi formada em Vilna. Um de seus comandantes, o poeta Abba Kovner, foi um dos primeiros a entender as intenções nazistas. Num discurso inflamado em uma reunião underground, Kovner conclama seus irmãos, judeus, a resistir. “Não acredite naqueles que pretendem enganar-nos.... O plano de Hitler é eliminar todos os judeus da Europa. É melhor cair como guerreiros do que viver à mercê dos assassinos. Levantem-se! Ergam-se com suas últimas forças!”<br/>
O ZOB (Zydowska Organizacja Bojowa, Organização de Combatentes Judeus, em polonês) deu seus primeiros passos em Varsóvia, em 1942, após a Grande Deportação. Esse movimento de resistência seria decisivo na organização do Levante do Gueto de Varsóvia.<br/>
A finalidade e velocidade da Solução Final deixava duas opções aos grupos de resistência – que sobreviveram às deportações: organizar fugas em massa ou ficar nos guetos e lutar. Os que optaram pela fuga, procuraram abrigo nas florestas. Alguns juntaram-se às unidades de partisans soviéticos, outros conseguiram formar grupos separados. Mas, muitos morreram de fome ou pelas mãos de partisans ou camponeses poloneses: o ódio da população em relação aos judeus era mais forte do que o ódio que nutriam pelos alemães.<br/>
A situação dos que ficaram para lutar era desesperadora e o tempo corria contra eles. Rodeados por uma força militar alemã treinada e equipada estavam em inferioridade numérica e seu “armamento” era irrisório; e era extremamente difícil e perigoso obter armas. Os combatentes judeus não recebiam armas, alimentos ou remédios “caídos dos céus”, jogados pelos Aliados, como os demais grupos de resistência. Os couriers ou os judeus que viviam no lado “ariano” tinham que comprar ou roubar armas, e contrabandeá-las para dentro dos guetos sem serem detectados.<br/>
No entanto, estavam preparados para lutar e morrer; sua honra e a honra do Povo Judeu estavam em jogo. Sabiam que não sobreviveriam, mas “por que não resistir quando a alternativa era a morte em momento e local escolhidos pelos nazistas?”, escreveu um dos combatentes do Levante do Gueto de Varsóvia, “Estamos sendo impelidos pelo desespero aliado ao desejo de vingança. Nossos familiares foram abatidos como gado e atirados em covas sem nome. O simples pensamento de dar um fim à vida de alguns alemães, que fosse, já é um poderoso incentivo”.<br/>
Nos guetos maiores, os combatentes das organizações clandestinas sabiam que não podiam contar, de modo geral, com o apoio dos Judenrat, nem com a população geral do gueto. Muitos líderes desses conselhos eram ambivalentes quanto a ajudar a resistência porque esperavam que a maior parte da população do gueto pudesse ser salva com seu trabalho, e viam a rebelião armada como um plano suicida. Apenas em Kovno e Minsk, os líderes do Judenrat cooperaram com o movimento clandestino.<br/>
A resistência mais bem-sucedida, uma fuga em massa, ocorreu em Minsk. Entre 6 mil a 10 mil judeus fugiram para as densas matas, e alguns milhares sobreviveram até o final da guerra. Em muitos guetos menores, nos territórios ocupados no leste da Polônia e da então URSS, os membros dos Judenrat eram atuantes no movimento ou cooperavam com a resistência. Em muitos desses guetos irromperam revoltas espontâneas durante sua liquidação final.<br/>
O exemplo mais famoso e dramático de resistência judaica armada durante o Holocausto foi o Levante do Gueto de Varsóvia, em abril e maio de 1943, que assumiu um significado muito além da revolta em si. Tornou-se um momento decisivo na História Judaica, como reconheceu Mordechai Anielewicz, líder da ZOB, ao escrever sua derradeira carta duas semanas antes de sua morte.<br/>
Revolta nos campos<br/>
Durante a Guerra, no período de 1939-1945, milhões de pessoas passaram por uma extensa rede de milhares de diferentes campos erguidos na Alemanha e nos países europeus ocupados por esse poder.<br/>
Acredita-se que 5,7 milhões de judeus, entre homens, mulheres e crianças foram mortos nos campos nazistas. A maioria foi envenenada por gás Zyklon-B logo após sua chegada em um dos seis campos de extermínio estabelecidos em território polonês: Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz-Birkenau e Majdanek.<br/>
A atmosfera de total terror e isolamento, nos campos, bem como a inanição crônica da maioria dos prisioneiros inibiram completamente sua vontade e suas possibilidades de resistir. A rotina diária nos campos era organizada de forma brutal. Incluía um sistema elaborado de duros castigos pelas menores “infrações”, vigilância acirrada e intermináveis chamadas para a contagem dos prisioneiros. Cercas de arame farpado e de alta voltagem, cães selvagens amestrados e torres de segurança deixavam pouca esperança de fuga. Quem tentava resistir ou fugir era morto de imediato.<br/>
Mas, apesar desses enormes obstáculos, houve vários atos de resistência em diversos campos. Mesmo nos de extermínio, à sombra das câmaras de gás e crematórios, os judeus encontraram formas de resistir a seus opressores: lutar contra a desumanização. Havia tentativas organizadas pelos movimentos clandestinos para informar ao mundo a brutalidade nazista, as cruéis condições físicas e a sistemática aniquilação de judeus nesses campos do inferno. Os judeus rezavam, acendiam velas de Chanucá; um par de tefilin era um bem precioso...<br/>
Três levantes corajosos e ousados ocorreram nos centros de morte de Treblinka, Sobibor e Auschwitz-Birkenau. De forma semelhante às rebeliões nos guetos, as revoltas organizadas nesses centros, onde a humanidade chegou ao seu nível mais baixo, surgiam do puro desespero e desesperança.<br/>
Yehuda Bauer, Professor Emérito de História e Estudos do Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém, e Consultor Acadêmico no Yad Vashem, é um dos historiadores e pesquisadores que, em seu livro Rethinking the Holocaust (“Repensando o Holocausto”), respondeu à pergunta: “Por que os judeus não resistiram? ”. Ele escreveu: “A análise sobre a reação ativa judaica à opressão nazista poderia resumir-se de maneira quase triunfalista: havia uma resistência não armada, havia a santificação da vida, havia a resistência armada... Ao se revoltar contra o regime hitlerista, que visava exterminar toda a população judaica, os judeus não se envolveram em um ato de heroísmo. Eles simplesmente quiseram preservar a substância moral e material de nosso povo. Seu sucesso lhes garantiu a imortalidade”.<br/>
BIBLIOGRAFIA<br/>
Dawidowicz, Lucy, The War Against the Jews: 1933-1945<br/>
Gutman, Israel, Resistência: O levante do gueto de Varsóvia<br/>
Kassow, Samuel D,Who Will Write Our History?: Rediscovering a Hidden Archive from the Warsaw Ghetto. Ebook Kindle<br/>
Gilbert, Martin, The Holocaust. Ebook Kindle<br/>
1A expressão é geralmente usada para se referir aos grupos armados organizados que combatiam</p> Os judeus na Polônia entre as duas guerras mundiais - Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2018-01-12:3531236:Topic:1185232018-01-12T16:37:51.315ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Com a criação, em 1918, da Segunda República Polonesa, os judeus acreditavam que passariam a ser aceitos na nova nação com igualdade de direitos. Mas, nas duas décadas de existência da República, as esperanças judaicas se transformaram em desespero. Os sinais do precipício que os iria tragar já se faziam ver. No entanto, apesar da hostilidade, discriminação e isolamento, no período entre guerras o judaísmo polonês forneceu grande vitalidade à vida judaica.<br></br> Edição 98 - Dezembro de…</p>
<p>Com a criação, em 1918, da Segunda República Polonesa, os judeus acreditavam que passariam a ser aceitos na nova nação com igualdade de direitos. Mas, nas duas décadas de existência da República, as esperanças judaicas se transformaram em desespero. Os sinais do precipício que os iria tragar já se faziam ver. No entanto, apesar da hostilidade, discriminação e isolamento, no período entre guerras o judaísmo polonês forneceu grande vitalidade à vida judaica.<br/> Edição 98 - Dezembro de 2017</p>
<p>No dia da invasão do Terceiro Reich, 1º de setembro de 1939, viviam na Polônia 3,2 milhões de judeus – era a maior comunidade judaica da Europa. Milhares de autores têm escrito detalhadamente sobre a Shoá, sem dúvida o mais doloroso período da História Judaica, e sobre o extermínio de milhões judeus em terras polonesas. Pouco, porém, tem-se escrito sobre o período em que existiu a Segunda República Polonesa (1918-1939), quando o endêmico e profundo antissemitismo dos “poloneses étnicos” cresceu ainda mais. E, infelizmente, sobrevive até os dias de hoje. Neste 11 de novembro de 2017 houve em Varsóvia uma manifestação durante a qual cerca de 60 mil pessoas gritavam “Europa Branca”, “Fora, judeus” e “Retirem os judeus do poder”.<br/> Em 1918, quando nasceu a Segunda República, os cerca de 3 milhões de judeus que viviam no país eram vistos como “elementos estranhos”, que ocupavam funções econômicas e posições de poder que deveriam estar em mãos dos poloneses étnicos, e, para “o bem da nação”, tais elementos deveriam ser removidos e substituídos por poloneses.<br/>
Varsóvia era a capital do novo estado, e os judeus que lá viviam desempenhavam um papel central na vida da cidade, da população judaica polonesa, bem como dos asquenazitas do mundo todo. Em 1921, viviam em Varsóvia cerca de 310 mil judeus, número apenas superado por Nova York. A vida judaica na cidade era ao mesmo tempo tradicional e criativa, religiosamente ortodoxa e sionista, politicamente atuante. Era grande o número de partidos, instituições, organizações beneficentes e movimentos juvenis com sede na cidade.<br/>
No período entre guerras o judaísmo polonês forneceu uma poderosa, podemos até dizer inigualável, vitalidade à vida judaica religiosa e secular, à sua cultura, ao teatro iídiche, assim como à vida política, apesar da hostilidade e pobreza de grande parte da população, principalmente após a Crise de 1929.<br/>
Era uma comunidade organizada, tinha suas próprias escolas, ieshivot, hospitais, instituições assistenciais, partidos políticos, editoras, jornais e teatros. Na Polônia se fortaleceram partidos e movimentos judaicos de todas as tendências - sionistas, religiosos, socialistas, revisionistas. Viviam na Polônia grandes rabinos e talmudistas, importantes mestres chassídicos, líderes de movimentos juvenis que se tornaram heróis, renomados sionistas, historiadores, artistas, escritores e músicos de renome. A comunidade judaica polonesa era a principal arena onde floresceram diferentes linhas de pensamento religioso, ideológico, político e cultural.<br/>
Os anos que antecederam a independência<br/>
No final do século 18, desaparece do mapa da Europa a Comunidade Polaco-lituana. Em 1772, 1793 e 1795 a nação foi invadida e seu território anexado por seus poderosos vizinhos. O Reino da Prússia ficou com a parte ocidental - Poznan, Silésia e Pomerânia até o Mar Báltico; o Império Austro-húngaro com o Sul, que incluía Galícia e Cracóvia; o Império Russo ficou com mais de 60% do território: a Ucrânia, Lituânia e Polésia, inclusive Varsóvia. Com as anexações, a vida política e econômica dos habitantes, principalmente dos judeus, passa a depender das decisões tomadas em Berlim, Viena e São Petersburgo.<br/>
A Era napoleônica, de 1799 a 1815, provocara mudanças geopolíticas em toda a Europa. Após a derrota de Napoleão, para trazer de volta a estabilidade, representantes dos países vencedores (Impérios Austríaco e Russo, Prússia e Reino Unido) reúnem-se, em 1815, em Viena e redesenham o mapa da Europa. No Congresso de Viena é criado o Reino da Polônia, mais conhecido como Polônia do Congresso, para distingui-lo de reinos poloneses anteriores. Seu território correspondia, a grosso modo, às regiões de Lublin, Lódz, Mazóvia e Kielce. O novo estado era uma monarquia constitucional, a princípio semiautônoma em relação ao Império Russo. O Czar da Rússia era também o Rei da Polônia. A Polônia do Congresso constituía o coração da Polônia étnica, centro político e cultural; uma área econômica de grande importância.<br/>
Após o esmagamento de uma revolta armada polonesa contra o domínio russo – o Levante de Novembro (1830-1831) pelas forças imperiais – a Polônia do Congresso perde grande parte de sua semi autonomia. No ano seguinte é abolida Constituição, fechada a Assembleia Legislativa e desmantelado o exército.<br/>
Há uma intensificação da política de “russificação”. Em 1863, após ter sido esmagada mais uma revolta, a Polônia do Congresso é incorporada ao Império Russo e, em 1874, o nome oficial da região passa a ser País do Vístula.<br/>
No entanto, apesar das repressões e ausência de estruturas políticas formais durante mais de um século, os poloneses mantiveram vivo o anseio por um estado soberano. As lutas pela independência fortaleceram o nacionalismo polonês. Nesse período são levantadas questões do que era a “Polônia” na ausência de um estado soberano e sobre a natureza da identidade nacional. O nacionalismo polonês era profundamente católico e praticamente imune à secularização, consequentemente, um “polonês étnico”, um “verdadeiro polonês”, era necessariamente católico. Nesse período, o lugar das minorias dentro de uma futura nação soberana, principalmente dos judeus, é questionado. Com a criação de novos partidos políticos poloneses, o tema das minorias torna-se questão de extrema importância.<br/>
Vida judaica antes da Independência<br/>
Após a anexação dos territórios da Comunidade Polaco-lituana, os impérios invasores viram sua população judaica aumentar consideravelmente, e a vida dos judeus passa a depender de cada um dos soberanos. Viviam em sua maioria, nas regiões anexadas pela Rússia e sua história será ainda mais sofrida do que a daqueles que ficaram sob domínio da Prússia e da Aústria.<br/>
Assim como havia uma identidade nacional polonesa, havia uma enraizada identidade judaico-polonesa. Inúmeros foram os esforços realizados pelos diferentes governos para assimilar os judeus, mas tais esforços não tiveram, na prática, nenhum impacto sobre as massas judaicas. Eles continuavam a falar o iídiche; eram ortodoxos – divididos entre Mitnagdim ou Chassidim. A educação judaica era a tradicional, no cheder ou na ieshivá. Casamentos com não-judeus eram raros, assim como conversões. Os judeus eram orgulhosos de seu judaísmo, de suas lindas sinagogas, de seus Rebes e sábios...<br/>
Em 1772, após a primeira anexação, milhões de judeus se tornaram os novos súditos indesejados e desprezados pelo Império Russo. Num primeiro momento de seu governo, a Czarina Catarina II, a Grande, concedeu-lhes o direito de residência. Mas, em 1775, ela promulga um decreto determinando seu confinamento numa parte de seu Império, a chamada “Zona de Residência” ou “Território do Acordo” – em russo, Cherta Osedlosti. A área incluía parte da Rússia Ocidental, a Ucrânia e os territórios atuais da Bielorrússia, Lituânia e Moldova. Na Cherta viviam mais de 90% dos judeus do Império; seus maiores contingentes na região das atuais Polônia e Bielorrússia. Em seu ponto alto, a Zona de Residência tinha uma população judaica de mais de 5 milhões, constituindo o maior componente (40%) da população judaica mundial, à época.<br/>
Era também substancial a população judaica que vivia na Galícia (os judeus Galitsyaner), que se tornara uma província do Império Austríaco. O Imperador José II sobe, em 1765, ao trono da Áustria. Entre todos os governantes da época, ele foi o mais adepto às ideias iluministas, introduzindo inúmeras reformas, inclusive em relação aos judeus. Em 1781, aboliu o infame distintivo amarelo nas roupas. No ano seguinte, emitiu o Toleranzpatent - o “Edito de Tolerância”, que, entre outros, eliminou algumas das restrições em vigor em relação à população judaica. Entre as concessões estava a liberdade de viver onde quisessem, apesar de não poderem adquirir imóveis, e podiam frequentar universidades. O Edito também removeu algumas das restrições a determinados ofícios e profissões liberais. Por outro lado, passaram a vigorar várias leis para acabar com as particularidades do judaísmo.<br/>
Na região anexada pelo Reino da Prússia, o nacionalismo polonês foi reprimido e seu povo submetido a uma política de germanização. A população judaica teria status legal separado até que a região foi incorporada no arcabouço geral da Prússia. Em 1812, a Prússia se torna o primeiro Estado a emancipar os judeus.<br/>
Na Polônia do Congresso eram substancialmente diferentes do restante do Império russo as leis que governavam os judeus. Em 1862, são removidas as restrições legais sobre eles, apesar de algumas terem sido reintroduzidas pelo Czar após 1863. O estatuto jurídico dos judeus que viviam na Polônia do Congresso ainda era preferível à dos judeus que viviam em outras partes do Império. Esse fato, juntamente com o desenvolvimento econômico da região na segunda metade do século 19, levou muitos judeus a migrarem para lá. Foi particularmente grande o influxo dos chamados Litvaks, os judeus originários de Lita, palavra em iídiche que identificava a Lituânia.<br/>
Nas últimas décadas do século 19, já emancipados, os judeus se organizam politicamente. Um de seus maiores problemas era a atitude a ser tomada em relação aos vários concorrentes à hegemonia sobre os territórios da antiga Comunidade Polaco-lituana onde viviam. Nas rebeliões armadas dos poloneses de 1830-1831 e 1863, haviam participado milhares de judeus. Muitos acreditavam que a independência polonesa levaria ao desaparecimento do antissemitismo. Mas, a “indecisão” demostrada pela população judaica no primeiro momento sobre quem deveriam apoiar não seria esquecida pelos poloneses.<br/>
No final do século 19, os judeus eram um elemento basicamente urbano em uma região grandemente camponesa. Eram um grupo econômico distinto, uma minoria mais educada cuja fé, idioma e costumes diferiam frontalmente dos da maioria. Apesar da emigração em grande escala para o continente americano, nos territórios da atual Polônia cerca de 14% dos habitantes eram judeus, sendo que em inúmeras cidades eram uma grande parcela dos habitantes e, nos shtetls, muitas vezes a maioria.<br/>
Os judeus haviam desempenhado importante papel na urbanização e industrialização da Polônia, inclusive em empreendimentos comerciais e financeiros. A média e alta burguesia judaica se destacava em todas as áreas econômicas e comerciais. No final do século, em Varsóvia, dos 26 principais bancos privados 18 eram propriedade de judeus ou de judeus convertidos ao catolicismo. E os judeus se destacavam cada vez mais nas profissões liberais.<br/>
O crescimento de uma classe média urbana católica, aliado ao fortalecimento do nacionalismo, levam à exacerbarão das relações entre os “poloneses étnicos” e população judaica. As acusações contra os judeus de práticas comerciais “desleais” e de “separatismo” vão ressoar doravante com força.<br/>
A criação, em 1897, do Endecja (ou Endeks), partido nacionalista de extrema-direita, profundamente antissemita, é sintomática do forte crescimento do anti-judaísmo. As raízes econômicas e políticas do novo antissemitismo (sem contar a tradicional vertente religiosa) manifestaram-se, claramente, em 1912, quando o Endecja organizou um boicote às empresas de proprietários judeus. Na véspera da 1ª Guerra Mundial, as relações entre poloneses e judeus estavam extremamente tensas.<br/>
Segunda República Polonesa<br/>
Em 1918, depois de 136 anos de ocupação, França e Reino Unido decidem restabelecer um estado polonês soberano, a Segunda República Polonesa. Os impérios que tinham anexado o território polonês no final do século 18 haviam entrado em colapso. Áustria-hungria e Alemanha, derrotadas militarmente, estavam arrasadas internamente. Na Rússia, a Revolução de 1917 depusera o Czar e o país estava engolfado numa sangrenta guerra civil entre os bolcheviques e as várias forças contrárias a eles, inclusive polonesas.<br/>
No Tratado de Versalhes de 1919, que encerrou oficialmente a 1a Guerra Mundial, os termos impostos à Alemanha incluíam a perda de uma parte de seu território para nações fronteiriças. A Polônia acabou ficando com territórios dos Impérios Austro-húngaro e Alemão – entre outros, a Província de Posen, outrora parte da Grande Polônia, “berço da nação polonesa”, e a parte leste da Alta Silésia. Ficou, também, com parte do território que a Rússia perdera no Tratado de Brest-Litovski1. Depois de anexar a região da Galícia oriental, a Polônia, no decorrer da Guerra Polaco-soviética (1919-1921), consegue expandir-se mais para leste. A guerra era, em parte, o resultado da insegurança dos poloneses em relação às fronteiras orientais por causa da Guerra Civil na Rússia. Mas, a verdade é que o Marechal Józef Piłsudski, revolucionário e líder das forças armadas, viu nesta instabilidade a oportunidade de expandir as fronteiras do jovem estado, como de fato ocorreu.<br/>
Em 1921, quando foram definidas as fronteiras, a Segunda República da Polônia era o sexto maior país da Europa, contando com 27,2 milhões de habitantes. Destes, cerca de 11 milhões eram minorias. Os judeus chegavam a 3 milhões.<br/>
Em teoria, as minorias, inclusive a judaica, eram protegidas por tratados internacionais assinados pelos recém-criados estados na Conferência de Paz de Versalhes, em 1919. Entre outros, esses tratados garantiam a liberdade religiosa e a igualdade civil; asseguravam o direito das minorias de manter suas tradições sem ser discriminadas, e seus idiomas. Entre as garantias dadas aos judeus, em particular, estava o respeito ao Shabat por parte do Estado.<br/>
Os tratados das minorias não foram bem recebidos pelos recém-criados Estados. Polônia, assim como Romênia, resistiram fortemente. Alegavam que outras nações não tinham o direito de interferir nos assuntos internos e que esses tratados eram fruto do lobby judaico-americano. As negociações desses tratados ocorriam enquanto na fronteira russo-polonesa eclodiam pogroms.<br/>
Que papel as minorias teriam no novo Estado era uma pergunta que muitos poloneses étnicos se faziam. Por que “estrangeiros” detinham o controle da indústria, comércio, e de outros setores fundamentais à economia? A bem da verdade, os judeus não eram o único alvo dessa hostilidade. Milhões de cidadãos das antigas potências imperiais eram também vistos como “estrangeiros” usurpadores da riquezas e direitos dos poloneses. Havia, porém, uma diferença básica: todos, a não ser os judeus, tinham um “estado-irmão” ao qual podiam recorrer mesmo não sendo cidadãos. Os judeus estavam sós.<br/>
Na época da criação da Segunda República, o pensamento político em relação a estrutura de um estado polonês independente apresentava duas vertentes principais. A da direita acreditava que deveria haver uma completa identificação do Estado com a nação polonesa étnica – ou seja, com a população polonesa e católica. A extrema direita, o Endecja, ia além, queria um estado polonês católico de domínio exclusivo dos poloneses étnicos. A esquerda e centro se inclinavam para uma “parceria” mais ampla do Estado com as minorias. Poloneses étnicos eram “os primeiros entre iguais”, mas a Polônia seria um estado de muitas nacionalidades. Parecia não haver muito espaço para os milhões de habitantes não poloneses que viviam no território da Segunda República, muito menos para a população judaica.<br/>
Os judeus na Polônia independente<br/>
A criação de um estado polonês soberano não levou, como muitos judeus acreditavam, a uma aproximação com os não judeus. Nenhum tratado internacional poderia mudar a atitude polonesa em relação a eles. Os judeus eram vistos como “elementos desnecessários”, até mesmo “prejudiciais”. Eles eram “estranhos”, sem nenhum direito legítimo de estar na Polônia. A Igreja católica para qual a esmagadora maioria de poloneses se voltava em busca de orientações morais, era profundamente impregnada de doutrinas antijudaicas e preconceitos antissemitas. Apesar do Papa Pio XI ter dito, em 1938, que o antissemitismo era “inadmissível”, ele próprio, enquanto Núncio Apostólico da Polônia, em 9 de janeiro de 1919, época marcada por pogroms, escreveu numa carta ao Cardeal Pietro Gasparri, Secretário de Estado do Vaticano: “Uma das influências mais fortes e nocivas aqui sentidas, talvez a mais forte e a mais nociva de todas, é a dos judeus”.<br/>
Ademais, a 1a Guerra e a independência polonesa haviam deixado um legado de profunda amargura. Para os poloneses, os anos de Guerra provaram que os judeus eram “anti-poloneses”, “pró-bolcheviques” e “pró-ucranianos”. Para a população judaica, foram anos extremamente trágicos. Milhares foram mortos pelos russos tanto durante a invasão do território do futuro Estado polonês, como na retirada de seu exército. Em inúmeras ocasiões os judeus foram apanhados entre forças inimigas – entre os poloneses e os lituanos em Vilna, entre os poloneses e os ucranianos em Lvov, e entre os poloneses e os bolcheviques durante a guerra de 1920. Como se não bastasse, haviam-se tornado alvo de uma campanha polonesa de terror e pogroms. Os dois principais ocorrerem em Lvov, em 1918, e em Vilna, em 1919.<br/>
Outros milhares foram mortos no decorrer da Guerra Polaco-soviética (1919 -1921), quando as forças polonesas invadiram regiões onde viviam um grande número de judeus ucranianos. O soldado típico, camponês-polonês, era católico fervoroso e crescera sendo alimentado com ideias antijudaicas. Seu ódio crescia ainda mais ao identifica-los com os odiados bolcheviques. No avanço ou retirada de suas tropas, os polacos devastavam comunidades judaicas inteiras, que já haviam sido massacradas pelos russos e ucranianos. Eles invadiam os bairros judeus, bombardeando casas, incendiando lojas, enfileirando os judeus que capturavam para os fuzilar. Cerca de 30 mil judeus foram mortos, outros milhares feridos, mulheres violadas. O assassinato em massa só terminou quando os Aliados ameaçaram intervir; mas as matanças esporádicas seguiram em frente.<br/>
Apesar do derramamento de sangue judaico, em termos jurídicos a situação da população judaica na Polônia independente era aparentemente excelente. Eram grandes as esperanças de um futuro pacífico lado a lado aos poloneses.<br/>
As esperanças não demoraram a cair por terra. Os líderes judeus encontravam dificuldades em assegurar a implantação dos termos do Tratado das Minorias. Os dois elementos fundamentais da autonomia judaica – a escola e a Kehilá (comunidade organizada) – não foram autorizados a se desenvolver livremente. Ademais, a República Polonesa chegou a tolher os poderes das Kehilot, restringindo-as a funções puramente religiosas. Os dispositivos legais discriminatórios remanescentes contra os judeus nos territórios herdados do Império Russo e Austríaco permaneceram até 1931. Nesse ínterim, uma série de medidas tornou o tratado ineficaz e, em 1934, diante da aprovação pública, o governo o repudiou.<br/>
Mas os judeus poloneses eram resilientes, determinados a lutar pelos seus direitos na arena política. A política judaica atingira nesse país seu mais pleno desenvolvimento. O sionismo, que emergira em meados do século 19, era uma força política não apenas na comunidade, mas também na política nacional, e internacional. Quando o governo polonês, que, no início, era constituído por partidos de centro e direita, tentou adotar um sistema eleitoral que afetaria a representação proporcional das minorias no Sejam (Parlamento), os judeus reagiram formando uma frente unida para concorrer às eleições. Em 1922, o “bloco das minorias” conseguiu uma substancial vitória. A facção judaica elegeu 35 dos 444 membros do Sejm, Câmara de Deputados. Mas a união entre as minorias não perdurou e a influência dos partidos judaicos foi diminuindo.<br/>
Política de Estado<br/>
Em termos da História Judaica, o que distingue o período antes da 1ª Guerra daquele entre as duas Guerras é a política de Estado abertamente antissemita. Em tempos caracterizados pelo papel dominante que o governo assumira na vida econômica, essa discriminação foi desastrosa. Na década de 1920, a situação econômica da Polônia era grave e o governo adotou a política de estatismo, uma forma de capitalismo de Estado. No campo econômico essa política implica uma forte intervenção do Estado que atua como empresário em diversos setores.<br/>
As medidas antijudaicas adotadas pelo governo, que podemos definir como um “pogrom morno”, era resultado dessa política, aliado a uma grande dose de antissemitismo.<br/>
À medida que o estado passa a controlar toda a economia, as políticas econômicas arruinaram muitos dos grandes comerciantes e industriais judeus, assim como os pequenos empresários tradicionais. Uma lei que obrigava a todos os cidadãos o descanso dominical acabou arruinando os lojistas judeus que perderam o lucrativo comércio dos domingos. Até os artesãos passaram a necessitar de licença para trabalhar. Ademais, os judeus deixaram de ser contratados para trabalhar na administração pública, em bancos e monopólios estatais. Milhares foram demitidos de fábricas de cigarro quando o Estado assumiu o monopólio do tabaco. Outros tantos ficaram sem emprego em outros setores controlados pelo estado. Líderes judeus chegaram a acusar o governo de estar promovendo “o extermínio econômico dos judeus poloneses”. Esse processo, já perceptível no final do século 19, foi acelerado de forma tremenda por um governo que queria todas as principais posições econômicas em mãos de elementos “leais”, a dizer, poloneses étnicos.<br/>
Em 1926, em meio a profunda crise econômica e uma inflação galopante, o marechal Józef Piłsudski, herói nacional, dá um golpe de Estado e assume o poder, instalando um governo autoritário. A princípio, seu governo tem uma atitude positiva em relação aos judeus. Apesar de odiá-los, pessoalmente – como demostrara durante a Guerra Polaco-soviética – um dos primeiros atos de Piłsudski foi acabar com a política antissemita do governo. Centralizando a maior parte de suas atenções nos assuntos de defesa e relações públicas, ele não demostrava um interesse especial em relação à “questão judaica” e nem exibia em público sentimentos contrários aos judeus. Um líder sionista, Apolinary Hartglas, escreveu que, no primeiro ano do governo de Piłsudski, a “propaganda antissemita cessara ... ninguém se atrevia mais a publicar listas negras de poloneses que ousavam comprar de estabelecimentos judeus… ninguém atacava ou surrava os judeus ...”. No entanto, nenhum avanço foi feito em relação às minorias, principalmente a judaica.<br/>
O banimento de Piłsudski ao antissemitismo “oficial” veio muito tarde para poder ajudar a população judaica. Menos de três anos mais tarde, a Crise de 1929 atinge a Polônia e o país entra em profunda depressão econômica. Empresas faliram e havia desemprego em massa entre os trabalhadores e os agricultores. Os que mais sofreram foram os judeus, que, já enfraquecidos economicamente pelo estatismo, foram alijados para uma marginalização econômica da qual nunca se recuperaram.<br/>
O desemprego entre sua população era bem maior do que entre os não judeus, em parte pelo fato de terem sido barrados do serviço público onde os empregos eram mais seguros, e porque era pequeno o número de trabalhadores judeus nas grandes empresas. A maioria trabalhava em pequenas oficinas que rapidamente foram à falência.<br/>
Em 1931, um milhão de judeus estavam desempregados. Lódz, importante centro têxtil, fora transformado num necrotério industrial. Em Lvov, 29 % dos judeus estavam sem emprego. Em 1931, em Varsóvia, onde dois de cada cinco habitantes eram judeus, 34% da força de trabalho judaica estava desempregada. A Beth Lechem, uma entidade de assistência social judaica, mantinha vans nas ruas oferecendo chá e pão para que judeus famintos não caíssem de fraqueza. A Sociedade de Proteção à Saúde dos Judeus (TOZ), fundada em 1921, forneceu em seus relatórios a trágica evidência do colapso econômico de sua gente. As comunidades judaicas do exterior ajudavam como podiam; o Joint (American Jewish Joint Distribution Committee - JDC), organização de assistência humanitária norte-americana2, sustentava mais de 150 mil famílias e fornecia fundos para a TOZ e outras congêneres. Mas a ajuda acabou sendo reduzida por causa da Grande Depressão de 1929 e, após 1933, pela necessidade de enviar recursos para ajudar os judeus alemães vítimas da perseguição nazista.<br/>
Cresce o fascismo polonês<br/>
Com a Crise de 1929, as ideias de Piłsudski de um Estado que abrangesse todos os cidadãos deu lugar à ideologia nacionalista. Com a paralização de um segmento da economia nacional após o outro, os camponeses, o proletariado urbano e a classe média polonesa começam a vociferar cada vez mais seu descontentamento.<br/>
As classes privilegiadas polonesas – os grandes industriais, a oligarquia nobre, assim como os latifundiários e a Igreja – donos de grande parte das terras cultiváveis da Polônia, não estavam dispostos a implementar as mudanças necessárias no tecido econômico do país, que implicaria necessariamente na perda de seus privilégios, para sanear a economia. Esses grupos usaram o antissemitismo da população ao máximo para ocultar das massas trabalhadoras e dos camponeses a verdadeira origem das dificuldades econômicas que a nação enfrentava.<br/>
A maioria dos poloneses estavam convencidos de que a economia, e consequentemente sua situação, melhoraria se os judeus fossem eliminados, ao menos da esfera econômica.<br/>
As atitudes políticas dos poloneses étnicos passaram a variar de profunda hostilidade da direita a uma atitude cautelosa da esquerda. Os partidos da direita, como o Endeks, defendiam abertamente a completa eliminação dos judeus da sociedade e dos postos de emprego remunerado e sua imigração em massa. Os socialistas, embora condenando os ataques físicos e verbais violentos que ocorriam na época contra os judeus, não estavam imunes ao antissemitismo. Havia inclusive socialistas entre aqueles que preconizavam a partida em massa da população judaica. O partido dos Camponeses, que se opusera ao antissemitismo na década de 1920, em meados da década de 1930 declara que os judeus eram uma “nação estrangeira”, endossando o incentivo à emigração judaica.<br/>
A partir de 1933, o problema da sobrevivência judaica se complicava. Um antissemitismo cuidadosamente cultivado somou-se ao desastre econômico da Grande Depressão. Após a morte de Piłsudski, em 12 de maio de 1935, o ódio aos judeus aumentou; parecia que com sua morte as forças que o haviam contido se desencadearam. Uma variedade de grupos paramilitares fascistas, apoiados pelos acontecimentos na Alemanha, proliferam pelo país inteiro, abertamente estimulados pela propaganda católica. Os grupos paramilitares mais notórios eram Endeks e Naraso. Vagando pelas ruas à procura de judeus, os grupos fascistas provocavam badernas, distúrbios públicos, atacando brutalmente os judeus nas ruas e nos trens. Lojas e residências judaicas eram saqueadas.<br/>
Uma campanha ativa, semioficial, procurou limitar o acesso dos judeus à instrução superior, com o fatídico numerus clausus. Os poucos que conseguiam ser aceitos nas universidades eram perseguidos; em inúmeras universidades eram obrigados a assistir às aulas nos “bancos do gueto”.<br/>
De 1935 em diante, a violência irrompeu em um clima de ardorosa retórica e de atividades políticas, com distúrbios organizados em 50 cidades polonesas que deixaram muitas mortes. Em março de 1936 um pogrom em Przytyk, um shtetl perto de Radom, deixou dois judeus mortos e muitos feridos. Em julgamentos subsequentes dos envolvidos, os defensores judeus receberam penas muito mais pesadas que os atacantes. Milhares de judeus participaram de marchas de protesto em Radom e outros lugares da Polônia. O clima entre judeus e não judeus se intensifica e cresce o número de pogroms.<br/>
Um boicote econômico foi iniciado tendo amplo apoio da população, e a aprovação da Igreja e membros do governo. Em 1936, uma carta pastoral do Cardeal Hlond, Primaz da Polônia, publicamente conclama a população de aderir ao boicote. O primeiro MinistroFelicjan Sławoj Składkowski o endossa, com a única ressalva de “não violência”.<br/>
No início de 1937 formou-se um novo agrupamento político, o OZON, “campo da unidade nacional”. A ênfase dessa facção política, que dominou até a invasão alemã, era sobre os princípios totalitários e os laços católicos. Era extremamente antissemita, não aceitando membros judeus, preconizando leis discriminatórias e também exigindo a emigração judaica.<br/>
Nos primeiros anos da república, o antissemitismo embora um fato aceito, era contido; em 1938 era aberto e unia governo e oposição. Na época, chegou a ser cogitada a imigração de judeus para o Madagascar. Eles eram vistos como um “empecilho” ao progresso da Polônia. Alguns círculos liberais e socialistas saíram em defesa do judaísmo, mas suas vozes se perderam.<br/>
A verdade era que para a maioria dos poloneses, a Polônia sofria de uma “superpopulação judaica” e sua emigração em massa era uma necessidade premente. Muitos judeus pensaram em deixar o país. Em 1936, Vladimir Jabotinsky, cognominado Ze’ev, que fundou o Movimento Revisionista Sionista Betar, declarou publicamente que os judeus deviam deixar a Polônia. Mas a pergunta era: para onde? Na década de 1930 inúmeros países, para não dizer a grandíssima maioria, não hesitavam em declarar sua má-vontade em recebê-los.<br/>
Os judeus poloneses estavam cercados de hostilidade. Sem poder contar com aliados poloneses, tampouco com nações-irmãs, os partidos judaicos e os líderes da comunidade não conseguiam influenciar o curso dos acontecimentos. A participação dos partidos judaicos no parlamento havia sido imensamente reduzida a partir de 1935. A resposta política dos judeus foi voltar-se para o nacionalismo judaico. O colapso econômico e crescimento do antissemitismo levaram a uma maior radicalização dos partidos e movimentos.<br/>
À medida que desapareciam as esperanças de uma autonomia judaica e de um avanço pacífico, ganharam mais adeptos as soluções mais extremas para a “questão judaica”. Dentro do Movimento Sionista cresceram as facções socialistas e a Direita Revisionista, encabeçada por Jabotinsky, assim como o Partido Sionista Religioso, o Mizrahi. O Bund disputava o terreno com o Comunismo e o Sionismo Socialista. Aumentam os movimentos como o Halutz, HeHalutz Hatzair, Hashomer Hatzair, que resultaram na emigração em larga escala para Eretz Israel. <br/>
Em 1939, Varsóvia com seus 381 mil judeus, número maior do que em qualquer cidade do continente, chegava mais perto do status de “capital da Diáspora Judaica”. Nos dias que antecederam a invasão alemã, a atmosfera entre os judeus da cidade era uma mistura de medo e euforia patriótica. A medida que aumentava a probabilidade de uma guerra, eles ingressavam na mobilização civil e militar. Estavam aliviados em perceber que, ao menos nessa crise suprema, os poloneses os aceitavam. Grave engano.<br/>
No dia 1º de setembro, quando a Alemanha nazista invadiu a Polônia, viviam no país 3,3 milhões de judeus, quase 10% do total de seus habitantes. Quando a guerra terminou, entre 50 a 70 mil estavam ainda vivos na Polônia, e outros 180 mil na União Soviética. Três milhões de judeus poloneses haviam sido assassinados.<br/>
1Tratado de Brest-Litovski, assinado em março de 1918 entre o novo governo russo e as Potências Centrais <br/>
(os Impérios Alemão, Austro-húngaro, Otomano e a Bulgária), reconhecia a saída da Rússia do conflito. A Rússia foi obrigada a abrir mão da Finlândia, Países Bálticos, Polônia, Bielorrússia e Ucrânia.<br/>
BIBLIOGRAFIA<br/>
Wasserstein, Bernard,On The Eve: The Jews of Europe before the Second World War. eBook Kindle<br/>
Gold, Ben-Zion, The Life of Jews in Poland before the Holocaust: A Memoir</p> Simone Veil, um ícone mundial - Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2018-01-05:3531236:Topic:1184102018-01-05T11:43:53.081ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>A França ficou de luto em junho deste ano de 2017 ao tomar conhecimento do falecimento de Simone Veil. Judia, sobrevivente do Holocausto, ela ocupou vários postos governamentais, tornando-se um ícone na luta contra a discriminação das mulheres. Empenhada em todas as causas em que acreditava, conquistou os franceses, e sua popularidade ia muito além dos limites da política.<br></br> Edição 98 - Dezembro de 2017</p>
<p>A vida de Simone Veil foi turbulenta. Vivenciou épocas de terror e de luto,…</p>
<p>A França ficou de luto em junho deste ano de 2017 ao tomar conhecimento do falecimento de Simone Veil. Judia, sobrevivente do Holocausto, ela ocupou vários postos governamentais, tornando-se um ícone na luta contra a discriminação das mulheres. Empenhada em todas as causas em que acreditava, conquistou os franceses, e sua popularidade ia muito além dos limites da política.<br/> Edição 98 - Dezembro de 2017</p>
<p>A vida de Simone Veil foi turbulenta. Vivenciou épocas de terror e de luto, assim como de amor e de vitórias, sempre demostrando uma dignidade e uma seriedade que incutiam o respeito e admiração de todos em sua volta. Uma pesquisa realizada em 2010 a indicou como a preferida entre as mulheres da França.<br/> Dona de uma força de vontade ímpar aliada a um talento intelectual singular, a força de Simone Veil residia em sua capacidade de adaptação e luta diante dos desafios. Suas tendências políticas dependiam da causa em que estava envolvida. Convidada para o programa L’Heure de Vérité (A Hora da Verdade) para revelar suas tendências políticas, ela se declara “à esquerda em certos assuntos, à direita em outros”. Ao ser eleita para a Academia Francesa, o escritor Jean d’Ormesson, escolhido para dar as boas-vindas, disse: “Contra todas as probabilidades, sem jamais alterar a voz, você conseguiu convencer a todos. Podemos dizer sem presunção, no coração da vida política, você ofereceu uma imagem moral e republicana”.<br/>
Apesar de não praticante, Simone jamais negou seu judaísmo. Participou ativamente de várias organizações de sobreviventes do Holocausto e conquistou o respeito internacional por sua atuação para a preservação das memórias das vítimas de Hitler.<br/>
Em uma das primeiras reações à sua morte, o presidente francês, Emmanuel Macron, declarou esperar que Simon Veil “possa inspirar, com seu exemplo, os franceses a encontrar o melhor da França”.<br/>
Sua vida<br/>
A família Jacob tem suas origens em Bionville-sur-Nied, na região da Lorraine. Seu pai, André Jacob, era arquiteto de renome, tendo obtido, em 1919, o segundo grande prêmio de Roma. Ele se casou, em 1922, com Yvonne Steinmetz, filha de um peleteiro também judeu. Após o casamento, Yvonne abandona seus estudos na universidade por exigência do marido. Em sua autobiografia, Simone escreveu que apesar de sua “família ser laica”, “o fato de pertencer à comunidade judaica jamais foi um problema para mim. Essa condição era altamente reivindicada por meu pai”.<br/>
Após o nascimento de seus dois primeiros filhos, Madeleine e Denise, o casal trocou Paris por Nice. Nessa cidade, na Riviera Francesa, nasceram seu filho Jacob e, no dia 13 de julho de 1927, Simone. Com a crise de 1929, os projetos arquitetônicos do pai diminuem drasticamente e a família se muda para um apartamento menor. Sua mãe, Yvonne, começa a fazer roupas de tricô para famílias necessitadas.<br/>
Simone tinha 10 anos no dia 3 setembro de 1939, quando a França e Grã-Bretanha declararam guerra à Alemanha nazista que havia invadido a Polônia dois dias antes. Exércitos alemães invadiram a França em maio de 1940 e, no dia 14 de junho, tomam Paris. A Itália de Mussolini, que, no dia 10 de junho, entrara na Guerra ao lado do Terceiro Reich, invade o território francês.<br/>
A França se rendeu oficialmente no dia 22 de junho, e assina um armistício com Alemanha e Itália. O país é, então, dividido – o norte e a costa do Atlântico, inclusive Paris, ficam sob ocupação nazista, enquanto o sul e o sudeste, a chamada Zona Livre, passam a ter um governo leal à Alemanha, o Regime de Vichy, do marechal Pétain. E uma área do sudeste fica nas mãos da Itália fascista. Milhares de judeus refugiam-se na Zona Livre, inclusive Nice, onde viviam Simone e sua família. Em 11 de novembro de 1942, alemães e italianos invadem o território francês, quebrando o Armistício, e Nice fica sob domínio italiano até 1943.<br/>
A Shoá<br/>
Os judeus franceses acreditavam estar seguros e que não seriam perseguidos, mas estavam enganados. Os anos seguintes foram de muito sofrimento. A França de Vichy voluntariamente promulga, em 4 outubro de 1940, as primeiras leis contra os judeus. O ‘Statut des Juifs”, que se baseava nas “diretrizes“ nazistas já postas em prática na zona de ocupação alemã, impunha segregação racial e a obrigatoriedade de que os judeus se identificassem como tal junto às autoridades. Eles foram excluídos da vida pública e militar, da indústria e comércio, das profissões liberais e das artes.<br/>
André Jacob foi um dos milhares de judeus que obedeceram a determinação de se registrar como judeu e perdeu o direito de exercer sua profissão. Sua esposa, Yvonne, passava o dia em busca de algum trabalho para alimentar a família. Os Jacobs passam a enfrentar a segregação cada vez maior decorrente das leis anti-judaicas.<br/>
Em novembro de 1942, Nice, como vimos acima, fica sob ocupação italiana. Apesar de aliada de Hitler, a Itália de Mussolini se recusava a entregar judeus aos nazistas, a despeito de repetidas exigências. Apesar do antissemitismo, a vida dos judeus melhorara. Simone e seus irmãos frequentavam a escola e participavam ativamente nas atividades do Escoteiros e das Bandeirantes. A situação em Nice, e em toda Riviera Francesa, mudaria em setembro de 1943, quando após a assinatura do armistício entre a Itália e os Aliados, as tropas italianas são forçadas a se retirar. Os alemães, sob o comando de Alois Brunner, ocupam a Côte d’Azur. Para os judeus, o perigo rondava cada esquina, pois para os nazistas, tornara-se uma questão de honra pôr um fim na vida judaica na Riviera.<br/>
Em março de 1944, então com 16 anos, Simone vivia com sua professora de letras, Madame de Villeroy. Usava o sobrenome Jacquiers numa tentativa de escapar às garras nazistas. No dia 30 desse mês, quando estava com amigos no centro da cidade comemorando o término dos exames de baccalauréat1,foi detida por dois alemães em trajes civis. Foi levada ao Hotel Excelsior, quartel-geral nazista e local de concentração dos judeus que seriam deportados. O restante da sua família, que, até então, vivia escondida na casa de amigos não judeus, é também preso pela Gestapo.<br/>
No dia 7 de abril de 1944, Simone, sua mãe e sua irmã Madeleine, foram enviadas para o campo de Drancy no comboio número 71, no qual estavam, também, Anne-Lise Stern e Marceline Rosenberg, que viriam a se tornar suas melhores amigas. De Drancy foram despachadas em trens de gado para Auschwitz-Birkenau, onde chegaram no dia 15 do mesmo mês. Seu pai e seu irmão Jean foram deportados para a Lituânia no comboio 73 e ela jamais os reviu.<br/>
Assim que chegou em Auschwitz, um prisioneiro que falava francês a alertou que ao ser interrogada pelos nazistas devia dizer que tinha mais de 18 anos, quem sabe assim ela conseguiria sobreviver à “seleção”.<br/>
Ela se torna o prisioneiro número 78651, tatuado em seu braço, e teria que “descarregar as pedras enormes que chegavam diariamente em caminhões e, com elas, aplainar o solo”. Poucos sobreviviam muito tempo a essa tarefa.<br/>
Uma prostituta que se tornara Kapo lhe salva a vida ao decidir transferi-la para um anexo de Auschwitz. Disse-lhe que ela era “muito bonita para morrer”. Simone disse que iria se mudar, na condição de que sua mãe e irmã Madaleine pudessem acompanhá-la, o que de fato aconteceu. Em julho de 1944, Simone com a mãe e a irmã Madeleine foram transferidas para Bobrek, perto de Birkenau. Nesse ínterim, sua irmã Denise, então com 19 anos, que fazia parte de um grupo da Resistência em Lyon, foi presa e, em 1944, deportada para Ravensbruck. Ela conseguiu sobreviver.<br/>
Em janeiro de 1945, pouco antes da libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas, ocorrida no dia 27, os nazistas evacuaram o campo e enviaram os prisioneiros a Bergen-Belsen, numa das chamadas “Marchas da Morte” durante as quais eles eram forçados a caminhar longas distâncias em direção à Alemanha, expostos ao frio extremo, sem roupas, comida, água ou descanso. Simone, sua mãe e sua irmã contam-se entre os poucos que sobreviveram. Ao chegar em Bergen-Belsen, Simone é indicada para trabalhar no refeitório. Sua mãe, muito enfraquecida, não conseguiu resistir e morreu de tifo, em março de 1945. Tanto Simone quanto a irmã Madeleine ainda estavam vivas quando os britânicos libertaram o campo, em 15 de abril de 1945.<br/>
Ao voltar para a França ela estava pronta para revelar o que era Auschwitz, os horrores vividos, mas tinha a impressão de que ninguém estava interessado em ouvir. Nunca esqueceu, no entanto, o tempo em que ficou presa nos campos nazistas e lutou para manter a viva a memória dos crimes nazistas. De 2001 até 2007 foi presidente da Fundação pela Memória da Shoá. Ao deixar o cargo, tornou-se Presidente de Honra. Em 22 de dezembro de 2004 aceitou retornar a Auschwitz, com seus cinco netos, a convite do diretor da revista Paris Match, Alain Genestar.<br/>
De volta à França<br/>
Simone chegou em Paris no dia 23 de maio de 1945. Assim como os outros sobreviventes teria que enfrentar o duro desafio de reconstruir a vida. Foi alojada no Hotel Lutetia, com outros sobreviventes dos campos, recebendo um documento de repatriamento, roupas e comida. Foi também informada de que havia sido aprovada nos exames de baccalauréat prestados antes de ser presa - a única de sua turma a passar.<br/>
Ainda em 1945, ela entra na Faculdade de Direito e no Instituto de Ciências Políticas de Paris. Em 1946, conheceu Antoine Veil, judeu, futuro Inspetor das Finanças e empresário, durante umas férias numa estação de esqui. Foi amor à primeira vista e Simone e Antoine se casam em 26 de outubro. Eles viveram juntos durante 67 anos, até o falecimento de Antoine, em 2013. O casal teve três filhos: Jean, advogado; Claude-Nicolas, médico, e Pierre François, advogado e presidente do Comitê Francês do Yad Vashem. Claude-Nicolas faleceu em 2002.<br/>
Em 1952, ela fica abalada por mais uma perda dolorosa. Sua irmã Madeleine morre com o filho Luc em um acidente de carro na estrada. Ela era a única pessoa com a qual podia falar sobre os anos passados nos campos.<br/>
Carreira em ascensão<br/>
Simone se muda por algum tempo para Wiesbaden e depois para Sttugart, em função da carreira de Antoine. Formada em Direito e em Ciências Políticas, ela revela ao marido que não quer desistir de uma carreira, como sua mãe fizera, para ser apenas dona de casa. Na época, apenas 40% das francesas trabalhavam e, ainda menos, no círculo da burguesia parisiense.<br/>
Decide entrar para a Magistratura, onde passa a ocupar cargos no alto escalão, até chegar ao Ministério da Justiça, de 1957 a 1959. Seu primeiro passo em direção à vida política foi participar do governo do primeiro-ministro René Pleven. Ela representou a França na Sociedade Internacional de Criminologia, em 1959, e se dedicou a lutar por reformas nas leis relativas à adoção, e a adultos com necessidades especiais. Indicada como assessora no Gabinete de Pleven, era encarregada do relacionamento com a imprensa e questões de leis civis e judiciárias.<br/>
Em 1970 foi indicada secretária do Conselho Superior de Magistratura. Seu trabalho foi reconhecido ao ser nomeada Cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito e membro do Conselho da ORT da França e da Fundação da França.<br/>
Em maio de 1974, Valéry Giscard d’Estaing, presidente recém-eleito, a escolheu como ministra de Saúde no gabinete do primeiro-ministro Jacques Chirac. Durante seu mandato, Simone Veil conseguiu que fosse aprovada pelo Parlamento a “Lei Veil”, que descriminalizou na França a interrupção voluntária da gravidez. Na ocasião, Simone teve que enfrentar uma oposição particularmente dura da Direita. Alguns deputados chegaram a acusá-la de “apoiar o genocídio e de comportamento similar ao dos nazistas”. No Parlamento, proferiu um emocionante discurso em que revelou sua preocupação sobre os riscos enfrentados pelas mulheres que realizavam abortos clandestinos, cujo número aumentara drasticamente na França. O projeto de lei foi aprovado na íntegra e a “Lei Veil” entrou em vigor em 1975. Após esse famoso embate político, o jornal Nouvel Observateur concede-lhe o título de “Revelação do Ano”.<br/>
Em 1979, ela mesmo fumante, encabeça a luta contra o tabagismo no país, impondo serias restrições. Manteve até julho daquele ano a pasta da Saúde, quando abandonou o governo para participar, a pedido de Giscard d’Estaing, das eleições do Parlamento Europeu. Simone presidiu o Parlamento Europeu de 1979 até 1982, na primeira vez em que seus integrantes foram eleitos por sufrágio universal. Na época, o Parlamento tinha poucos poderes, mas Simone lhe deu visibilidade com sua atuação na área de direitos humanos.<br/>
Em março de 1980, recebe o Prêmio Athenae concedido pelo Fundo Aristóteles Onassis por sua contribuição para a reaproximação dos povos e pelo respeito à dignidade humana. Em 2005 é a vez do Prêmio Príncipe das Astúrias para a Cooperação Internacional.<br/>
Volta a ocupar um cargo no governo da França, em março de 1993, quando é nomeada ministra de Estado dos Assuntos Sociais, no governo de Édouard Balladur, onde permanece até julho de 1995. Foi membro do Conselho Constitucional entre 1998 e 2007.<br/>
Em 31 de outubro de 2007 publica a autobiografia “Uma vida”, traduzida para mais de 15 idiomas. Somente na França foram vendidos mais de 550 mil exemplares.<br/>
Em 2008, é eleita para uma cadeira na Academia Francesa de Letras, uma distinção rara entre os políticos do país. Sobre sua espada de Imortal, criada pelo escultor tcheco Ivan Theimer, foram gravados o número que lhe fora tatuado em Auschwitz – 78651 - e o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” ao lado da expressão “in Varietate concordia”, unidos pela diversidade.<br/>
Após a morte de seu marido Antoine, em 2013, e de sua irmã Denise Vernayem, no mesmo ano, Simone se afasta da vida pública. Ainda assim, manteve-se no coração dos franceses. Em 2016 ainda aparecia nas pesquisas como a terceira personalidade preferida do país.<br/>
“Sou judia”<br/>
No artigo “Sou judia: o Kadish será recitado diante do meu túmulo”, Simone escreveu em 2005: “Nasci e cresci no seio de uma família francesa de longa data, fui francesa sem nenhum questionamento. Mas ser judia, o que isto significava tanto para mim quanto para meus pais, já que, ambos agnósticos – como já o tinham sido meus avós –, a religião estava totalmente ausente de nosso lar? Do meu pai pude aprender que sua ligação com o judaísmo estava mais relacionada ao conhecimento e à cultura que os judeus adquiriram ao longo dos séculos, em épocas em que muito poucos tinham acesso aos mesmos. Haviam permanecido como Povo do Livro, fossem quais fossem as perseguições, a miséria e a vida errante. Para minha mãe, o judaísmo era uma questão de um compromisso com valores com os quais, ao longo de sua longa e trágica história, os judeus jamais haviam deixado de lutar: a tolerância, o respeito dos direitos de cada um e de todos, a solidariedade. Ambos morreram no exílio, deixando-me como única herança os valores humanistas que, para eles, o judaísmo representava. Desta herança não me é possível dissociar as lembranças sempre presentes, de certa forma obsessiva, dos seis milhões de judeus exterminados pelo simples fato de serem judeus. Seis milhões dentre os quais meus pais, meu irmão e inúmeros familiares. Não posso me separar deles. Isto é suficiente para que, até a minha morte, meu judaísmo seja imprescritível.<br/>
O Kadish será recitado diante de meu túmulo. Sou judia”. Seus filhos atenderam sua vontade.<br/>
Simone faleceu em 30 de junho de 2017, sexta-feira, aos 89 anos, em sua residência em Paris. Segundo seu filho Pierre-François, a última palavra que pronunciou antes de morrer foi “obrigado”. Simone foi enterrada no Cemitério de Montpanasse, em Paris. Diante de seu túmulo, seus filhos Jean e Pierre-François recitaram o Kadish. A cerimônia fúnebre foi conduzida pelo grão-rabino da França, Haim Korsia. Foi muito simples, na presença apenas de pessoas muito próximas que ali foram para prestar sua última homenagem à uma mulher que, após ter passado os horrores dos campos de concentração nazistas, deixou sua marca pessoal na história e na política da França. Sobre ela o Journal Dimanche escreveu: “Numa época em que a política só inspira desconfiança, Simone Veil será sempre lembrada como um exemplo de coragem e dignidade tanto pela sua trajetória pessoal quanto profissional”.<br/>
BIBLIOGRAFIA<br/>
Veil, Simone e Black,Tamsin, A Life . Kindle edition<br/>
Deloeuvre, Guy, Simone Veil: Destin. Kindle edition<br/>
Jactance, Assoumou Ondo, Ce que serait devenue la femme française sans Simone Veil. Kindle edition</p> Encuentran en Sobibór medallas de una sobreviviente - AURORAtag:judaismohumanista.ning.com,2017-01-19:3531236:Topic:1123272017-01-19T21:04:49.790ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
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<p>Recientes excavaciones arqueológicas en el sitio del antiguo campo de exterminio nazi, Sobibór, han desenterrado…</p>
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<div class="td-post-header"><h1 class="entry-title"><a class="td-modal-image" href="http://aurora-israel.co.il/wp-content/uploads/2017/01/medalla2.jpg" style="font-size: 13px;"><img width="696" height="398" title="medalla2" class="entry-thumb td-animation-stack-type0-2" alt="" src="http://aurora-israel.co.il/wp-content/uploads/2017/01/medalla2.jpg"/></a></h1>
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<p>Recientes excavaciones arqueológicas en el sitio del antiguo campo de exterminio nazi, Sobibór, han desenterrado objetos personales pertenecientes a las víctimas del Holocausto. Los arqueólogos han encontrado varios artículos, incluyendo joyas y relojes, así como un colgante único con una fecha, las palabras “Mazal Tov” en hebreo y la referencia a la ciudad “Frankfurt A.M.”. Pertenecían a la niña Karoline Cohn. Sólo se sabe que existe otro colgante similar, perteneciente a Ana Frank, y ambas niñas nacieron en Frankfurt lo que podría revelar un parentesco entre ambas.<br/> El descubrimiento de los restos en el antiguo campo de exterminio nazi, fue en lo que probablemente fuera el lugar donde las víctimas se desnudaron y se afeitaron las cabezas antes de ser enviados a las cámaras de gas.</p>
<p><img width="181" height="224" class="alignnone wp-image-12775 td-animation-stack-type0-2" alt="24shma" src="http://aurora-israel.co.il/wp-content/uploads/2017/01/24shma-242x300.jpg"/> <img width="175" height="221" class="alignnone wp-image-12776 td-animation-stack-type0-2" alt="24hei" src="http://aurora-israel.co.il/wp-content/uploads/2017/01/24hei-238x300.jpg"/> <img width="185" height="222" class="alignnone wp-image-12777 td-animation-stack-type0-2" alt="24moses" src="http://aurora-israel.co.il/wp-content/uploads/2017/01/24moses-250x300.jpg"/></p>
<p>Estos hallazgos arqueológicos fueron descubiertos por el arqueólogo polaco Wojciech Mazurek y Yoram Haimi, un arqueólogo de la Autoridad de Antigüedades de Israel y su asociado holandés, el arqueólogo Ivar Schute. Las excavaciones arqueológicas, en curso desde 2007, están avaladas por el Comité Directivo del proyecto internacional para establecer un nuevo museo y sitio conmemorativo en el antiguo campo de exterminio nazi alemán en Sobibór, en coordinación con el Instituto Internacional para la Investigación del Holocausto de Yad Vashem.<br/> Los objetos personales encontrados en los cimientos del edificio probablemente cayeron a través de las tablas del suelo y permanecieron enterrados en el suelo hasta que fueron descubiertos el pasado otoño.<br/> Entre los artículos personales encontrados en el área estaban un collar de la estrella de David, un reloj de mujer y una joya de metal cubierta en vidrio con un grabado de la imagen de Moisés que sostenía los diez mandamientos; En el reverso de la joya está la inscripción de la oración judía esencial ”Shema Israel”. También se encontró un colgante único, probablemente perteneciente a una niña de Frankfurt que nació el 3 de julio de 1929, que lleva las palabras “Mazal Tov” escrito en hebreo en un lado y en el otro lado la letra hebrea “ה”, Hei, el nombre abreviado de Dios) así como tres estrellas de David.<br/><strong>La historia del colgante y cómo llegó a Sobibór<br/></strong><br/> Los destacados expertos de Yad Vashem, el Centro Mundial para el Recuerdo del Holocausto, junto con el arqueólogo Yoram Haimi de la Autoridad de Antigüedades de Israel, revelaron que el colgante descubierto en Sobibór se parece mucho al de Anne Frank, asesinada en el Holocausto y conocida por el diario que escribió mientras se escondía en Amsterdam. Mediante el uso de la base de datos de deportación paneuropea de Yad Vashem “Transports to Extinction”, pudieron comprobar que el colgante podría haber pertenecido a una niña con el nombre de Karoline Cohn. El Dr. Joel Zissenwein, director del Deportations Database Project, descubrió que Cohn, nacida el 3 de julio de 1929, fue deportada de Frankfurt a Minsk el 11 de noviembre de 1941. Aunque no se sabe si Cohn sobrevivió a las duras condiciones en el gueto de Minsk , su colgante llegó a Sobibór entre noviembre de 1941 y septiembre de 1943, cuando el gueto fue liquidado y los 2.000 internos judíos internados fueron deportados al campo de exterminio. Allí, a lo largo del camino a las cámaras de gas de Sobibór, el colgante perteneciente a Karoline Cohn, de 14 años de edad, fue tomado, cayó y permaneció enterrado en el suelo durante más de 70 años.<br/> Investigaciones adicionales revelan que aparte de las similitudes entre los colgantes, y ya que tanto Anne Frank y Karoline Cohn nacieron en Frankfurt, sugiere una posible conexión familiar entre Frank y Cohn. Los investigadores están tratando de localizar a familiares de las dos familias para explorar esta pista.</p>
</div> Subastan un poema de Ana Frank por 148 mi dólares - AURORA NOTICIAStag:judaismohumanista.ning.com,2016-11-24:3531236:Topic:1112552016-11-24T04:01:00.338ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Un poema de Ana Frank escrito meses antes de que la joven judía y su familia se ocultarán en Ámsterdam para escapar de los nazis fue vendido por 140 mil euros (148 mil dólares) en una subasta celebrada en Haarlem (noroeste de Holanda).</p>
<p>La casa de subastas Bubb Kuyper, especializada en la venta de libros, manuscritos, mapas e ilustraciones, estableció un precio de salida de 30 mil euros (31.800 dólares), muy inferior al que finalmente pagó un comprador desconocido, según precisó la…</p>
<p>Un poema de Ana Frank escrito meses antes de que la joven judía y su familia se ocultarán en Ámsterdam para escapar de los nazis fue vendido por 140 mil euros (148 mil dólares) en una subasta celebrada en Haarlem (noroeste de Holanda).</p>
<p>La casa de subastas Bubb Kuyper, especializada en la venta de libros, manuscritos, mapas e ilustraciones, estableció un precio de salida de 30 mil euros (31.800 dólares), muy inferior al que finalmente pagó un comprador desconocido, según precisó la radiotelevisión pública NOS.</p>
<p>Redactado en neerlandés el 28 de marzo de 1942 en un cuaderno personal, los versos están dedicados a la hermana mayor de su mejor amiga Jacqueline, Christiane van Maarsen, apodada “Cri Cri”.</p>
<p>De hecho, el texto se había conservado en la colección de poemas de van Maarsen, fallecida en 2006.</p>
<p>El escrito contiene ocho versos y los cuatro primeros fueron copiados de un texto publicado en la revista “Het Ros Beiaard” (El carillón rojo), en el número del 10 de abril de 1938.</p>
<p>La propia Frank escribió las cuatro últimas líneas cuando tenía doce años, según el diario Algemeen Dagblad.</p>
<p>El codirector de Bubb Kuyper, Thys Blankevoort, declaró al periódico De Volkskrant que las obras literarias de Ana Frank son escasas y añadió que, desde la muerte de la joven en 1945, solo se han vendido “cuatro o cinco” manuscritos.</p>
<p>Entre junio de 1942 y agosto de 1944, Ana Frank permaneció escondida junto a su familia en los bajos de una vivienda en Ámsterdam, hasta que fue denunciada y trasladada al campo de concentración de Bergen-Belsen, donde moriría de tifus a principios de 1945.</p>
<p>Durante su encierro en la capital de Holanda escribió el célebre “Diario de Ana Frank”, en el que narraba su historia como adolescente y los dos años en que permaneció oculta. EFE</p> Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (27 de janeiro 2016:)tag:judaismohumanista.ning.com,2016-01-25:3531236:Topic:1078102016-01-25T17:47:01.081ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
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<div class="post-body entry-content"><div>O <b><a href="http://estudosjudaicos.blogspot.com/2009/01/dia-internacional-em-memria-das-vtimas_24.html">Dia Internacional de Lembrança das Vítimas do Holocausto (27 de janeiro)</a></b>, como ficou conhecido o <a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005145"><b>extermínio</b></a> de milhões de <b><a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005149&referer=focus">judeus</a> </b>e outros grupos…</div>
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<div class="post-body entry-content"><div>O <b><a href="http://estudosjudaicos.blogspot.com/2009/01/dia-internacional-em-memria-das-vtimas_24.html">Dia Internacional de Lembrança das Vítimas do Holocausto (27 de janeiro)</a></b>, como ficou conhecido o <a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005145"><b>extermínio</b></a> de milhões de <b><a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005149&referer=focus">judeus</a> </b>e outros grupos considerados indesejados pelo <a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005141&referer=focus"><b>regime nazista</b></a> durante a <a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005137"><b>Segunda Guerra Mundial</b></a>, é celebrado oficialmente em 27 de janeiro.</div>
<div>A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005, para lembrar o dia da libertação dos prisioneiros do <b><a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005144&referer=focus">campo de</a> <a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005144&referer=focus">concentração</a> </b>nazista de <a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005189"><b>Auschwitz</b></a>-Birkenau, no sul da Polônia, ocorrida em 27 de janeiro de 1945.</div>
<div>O texto da resolução rejeita qualquer questionamento de que o Holocausto foi um evento histórico, enfatiza o dever dos Estados-membros de educar futuras gerações sobre os horrores do <a href="http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10007043&referer=focus"><b>genocídio</b></a> e condena todas as manifestações de intolerância ou violência baseadas em origem étnica ou crença.</div>
<div>A resolução pede também ao Secretário-Geral que crie um programa de comunicação sobre o tema <a href="http://www.un.org/holocaustremembrance/"><b>"O Holocausto e as Nações Unidas"</b></a> e que incentive a sociedade civil a promover a memória do Holocausto e iniciativas educativas. <a href="http://www.un.org/holocaustremembrance/"><b>A iniciativa da ONU tem importância no sentido histórico e igualmente pedagógico</b></a>. <b>Veja o link elaborado pela ONU, clique <a href="http://www.un.org/holocaustremembrance/">aqui.</a></b><br/><br/> <b>Veja mais:</b></div>
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<li><a href="http://estudosjudaicos.blogspot.com.br/2015/01/2015-dia-internacional-em-memoria-das.html">2015: Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (27 de janeiro)</a></li>
<li><a href="http://estudosjudaicos.blogspot.com.br/search/label/Dia%20Internacional%20em%20Mem%C3%B3ria%20das%20V%C3%ADtimas%20do%20Holocausto%20%2827%20de%20janeiro%29">Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (27 de janeiro)</a></li>
<li><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/539257-dia-da-memoria-em-auschwitz-eles-nos-disseram-voces-vao-durar-tres-meses" target="_blank">Dia da Memória: ''Em Auschwitz, eles nos disseram: vocês vão durar três meses''</a></li>
<li><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/539271-primo-levi-e-a-carta-inedita-o-holocausto-explicado-a-uma-menina" target="_blank">Primo Levi e a carta inédita: o holocausto explicado a uma menina</a></li>
<li><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/539254-o-contagio-do-mal-artigo-de-primo-levi" target="_blank">O contágio do mal. Artigo de Primo Levi</a></li>
<li><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/539258-murmelstein-e-lanzmann-memorias-do-holocausto" target="_blank">Murmelstein e Lanzmann, memórias do Holocausto</a></li>
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</div> Miles de jóvenes marchan en Auschwitz en recuerdo a las víctimas del Holocausto - AURORAtag:judaismohumanista.ning.com,2015-04-17:3531236:Topic:1018542015-04-17T15:38:05.388ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Alrededor de diez mil jóvenes de unos 45 países participaron en la XXVII "Marcha de los vivos" en el antiguo campo de exterminio de Auschwitz-Birkenau, en territorio polaco, para recordar a los millones de víctimas del Holocausto en el 70 aniversario del final de la Segunda Guerra Mundial.</p>
<p>Acompañados de supervivientes de los crímenes del régimen nacionalsocialista y de sus testimonios, los jóvenes, judíos y no judíos, recordaron un año más el horror vivido en los campos de…</p>
<p>Alrededor de diez mil jóvenes de unos 45 países participaron en la XXVII "Marcha de los vivos" en el antiguo campo de exterminio de Auschwitz-Birkenau, en territorio polaco, para recordar a los millones de víctimas del Holocausto en el 70 aniversario del final de la Segunda Guerra Mundial.</p>
<p>Acompañados de supervivientes de los crímenes del régimen nacionalsocialista y de sus testimonios, los jóvenes, judíos y no judíos, recordaron un año más el horror vivido en los campos de concentración, explicaron los organizadores del acto.</p>
<p>"Si pudiera elegir, preferiría no recordar" y olvidar "la humillación diaria, la rutina de la muerte, el hambre, el frío y la paralizante constatación de que estamos desvalidos y solos", manifestó en un emotivo discurso Sigmund Rolat, uno de los sobrevivientes.</p>
<p>Rolat dejó claro que no tiene elección y defendió la necesidad de seguir recordando por "solidaridad", para seguir rompiendo muros; por "decencia", para rescatar la memoria de quienes murieron; y por "miedo", para que Auschwitz no se repita.</p>
<p>"La Shoah sigue siendo única en el sentido de que no tenía precedente. Pero todos los genocidios son una tragedia en sí mismos y recordarlos es el primer paso para evitar que vuelven a ocurrir; recordar es, al fin y al cabo, lo último que podemos hacer", manifestó.</p>
<p>En un mensaje a los participantes en el evento leído durante la jornada, el papa Francisco mostró su cercanía a estas iniciativas que "van no sólo contra la muerte sino también contra las mil y una fobias discriminatorias que esclavizan y matan" y elogió la lucha "a favor</p>
<p>de la vida, de la igualdad y la dignidad".</p>
<p>Desde 1988, más de 220 mil jóvenes, judíos y no judíos, han asistido a estas "marchas de los vivos", una "experiencia vital" que este año coincide con el 70 aniversario del final de la II Guerra Mundial y que está "ensombrecida por el creciente antisemitismo en Europa", destacaron los organizadores.</p>
<p>El presidente del directorio de la marcha, Shmuel Rosenman, apuntó que "cada año son menos los sobrevivientes que pueden contar su historia", por lo que el objetivo es "pasar el testigo a los participantes, que se convertirán en los testimonios para la próxima generación".</p>
<p>"Este año la marcha cobra una importancia adicional en un contexto de una creciente corriente de antisemitismo en Europa ante la pregunta de si 70 años después del fin de la II Guerra Mundial hemos aprendido realmente la lección de este periodo tan trágico de la historia", agregó.</p>
<p>El rabino jefe de Tel Aviv, Yisrael Meir Lau, superviviente del Holocausto y que cada año lidera la "Marcha de los vivos", subrayó por su parte el "efecto transformador" de este evento para los judíos de todo el mundo que participan en un "viaje educativo, emocional e inspirador".</p>
<p>En él, añadió, tienen la oportunidad de aprender "las lecciones universales del Holocausto, que incluyen la importancia de combatir el odio, la intolerancia, el racismo y el fascismo".</p>
<p>Entre los participantes en anteriores marchas figuran el ex primer ministro y ex presidente Shimon Peres, el escritor Elie Wiesel, ambos Premios Nobel de la Paz, la presentadora Oprah Winfrey, varios jefes de Estado y de Gobierno, líderes religiosos de diversas confesiones, parlamentarios y jóvenes de todo el mundo. EFE</p> O Machzor itinerante de Jenny Teich por Sergio D. Simontag:judaismohumanista.ning.com,2015-01-22:3531236:Topic:1005302015-01-22T07:13:41.866ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Quando minha tia Hilde Simon faleceu, aos 93 anos de idade, <br></br> em maio de 2010, encerrou-se um capítulo importante na história de minha família: o dos sobreviventes do Holocausto. Tia Hilde nunca nos contara muitos detalhes de sua vida durante a Guerra, e tudo o que soubemos sobre ela vinha aos poucos, em pequenas doses.</p>
<p>Quando, semanas depois de sua morte, minha prima Ilona cumpria a triste tarefa de desmontar o apartamento de sua mãe, ela encontrou, num armário da biblioteca,…</p>
<p>Quando minha tia Hilde Simon faleceu, aos 93 anos de idade, <br/> em maio de 2010, encerrou-se um capítulo importante na história de minha família: o dos sobreviventes do Holocausto. Tia Hilde nunca nos contara muitos detalhes de sua vida durante a Guerra, e tudo o que soubemos sobre ela vinha aos poucos, em pequenas doses.</p>
<p>Quando, semanas depois de sua morte, minha prima Ilona cumpria a triste tarefa de desmontar o apartamento de sua mãe, ela encontrou, num armário da biblioteca, alguns livros de reza bastante antigos. Folheando-os no silêncio do apartamento vazio, Ilona deparou-se com o nome “Jenny Teich, Blankenfeldstrasse 14, Berlin” escrito a mão ou carimbado em quatro machzorim. Ilona jamais ouvira falar nessa senhora. Quem seria Jenny Teich, a proprietária original desses livros? Por que tia Hilde nunca a havia mencionado para a própria filha? Ilona buscou o nome no livro de endereços de Berlim que sua mãe mantinha, com o nome de seus amigos alemães. Não havia menção a Jenny Teich. Ilona decidiu ir atrás dessa senhora para saber sua identidade.<br/> Hilde e Arno Simon casaram-se em janeiro de 1939 em Berlim, oito meses antes do início da Guerra. Ela viera de Beuthen, uma pequena cidade na Silésia, para a capital, a fim de buscar emprego naqueles anos difíceis. Berlim era uma cidade efervescente, cheia de cultura, teatros, cafés, cabarés e uma vida noturna que a tornara famosa em todo o mundo. Ali, acreditavam muitos judeus de cidades menores, era mais fácil passar despercebido e ser menos discriminado. Em Berlim, Hilde trabalhou como assistente de vendas em uma loja de meias de senhoras, emprego modesto, mas que garantira sua sobrevivência até então. Ela e meu tio Arno se conheceram num dos muitos salões de dança pelos quais Berlim era famosa, e o casamento foi uma forma de dar mais segurança aos dois jovens judeus vivendo numa cidade tão perigosa para ambos. Meu pai, Siegbert Simon, irmão de Arno, conseguira sair de Berlim em 1936, tendo vindo para o Brasil, onde se estabelecera como representante comercial. Sua decisão de sair de Berlim fora muito criticada por meus avós, que ainda não viam motivos para se deixar a Alemanha, apesar das dificuldades pelas quais os judeus já passavam em 1936. Foi somente após a Noite dos Cristais, em novembro de 1938, que meus avós escreveram para o Brasil, implorando que meu pai lhes conseguisse um visto de saída porque a situação tornara-se intolerável para os judeus.</p>
<p>Apesar das dificuldades impostas pelo Itamaraty, na época, meu pai conseguiu um visto de imigração para meus avós, já após o início da guerra, e eles finalmente chegaram a Santos em fevereiro de 1940. Arno e Hilde, entretanto, não podiam se beneficiar desse visto e terminaram por ficar em Berlim durante toda a guerra.</p>
<p>Inicialmente, ambos foram poupados de serem mandados para os campos de concentração, mas foram, como inúmeros judeus, submetidos a um regime de trabalhos forçados em fábricas do esforço de guerra. Ele era operário numa indústria têxtil que fabricava uniformes de guerra e ela trabalhava numa fábrica de baterias. Assim sobreviveram até o fim de 1942, bastante precariamente. Em janeiro de 1943 o capataz de Hilde, na fábrica de baterias, avisou-lhe que, no dia seguinte, a Gestapo viria buscar os últimos judeus para a deportação e seria melhor que ela não aparecesse mais para trabalhar. Assim, Hilde e Arno mergulharam na anonimidade da cidade grande em guerra, tentando sobreviver como possível.</p>
<p>O casal foi ajudado por uma família cristã que trabalhara com meu avô. Este casal possuía uma pequena casa de campo em Hönow, um bairro distante do centro de Berlim. Mesmo sabendo dos riscos que isso envolvia, decidiram ceder as chaves do casebre para que meus tios lá se refugiassem. Eles conseguiram documentos falsos, como se fossem empregados do Hospital Charité, um dos maiores de Berlim. Diariamente, saíam da casa com os papéis falsos, perambulavam pelas ruas da cidade em guerra e eventualmente faziam trabalho caseiro para alguma família. À noite, voltavam para a casinha em Hönow. Este ritual era um disfarce para que os vizinhos não percebessem que estavam desempregados. E assim, até o fim da guerra, quando Berlim estava totalmente destruída pelo bombardeio aliado, Hilde e Arno Simon lutaram por sua sobrevivência em condições difíceis de descrever ou mesmo imaginar.</p>
<p>Em maio de 1945 o casal percebeu que os bombardeios haviam cessado: a cidade havia sido invadida pelos russos e pelas forças aliadas. Logo que se sentiram seguros, saíram de seu esconderijo e se dirigiram, com muita dificuldade, entre as ruínas da cidade e suas pontes destruídas, para a sinagoga da Oranienburger Strasse, um dos raros edifícios que milagrosamente sobrara, pelo menos parcialmente, de pé, no centro de Berlim. Uma bomba atingira a parte central da grande sinagoga, mas o edifício e sua imponente torre ainda estavam lá e era para lá que convergiam os poucos sobreviventes judeus que haviam restado na cidade. Lá, meus tios foram recebidos por tropas americanas responsáveis pelas pessoas deslocadas de guerra e foram imediatamente acolhidos em uma casa onde havia comida, aquecimento, roupa de cama e todo o conforto que lhes fora negado durante tantos anos. A casa pertencera até a véspera a um graduado oficial alemão.</p>
<p>Arno acabou por amealhar um patrimônio importante no pós-guerra em Berlim, atuando no negócio de carnes e frios. Ele foi o proprietário da Fleischerei Arno Simon, o primeiro açougue casher de Berlim no pós-guerra. Este havia sido seu ramo de negócios junto com meu avô, até o início da guerra. Minha prima Ilona nasceu logo após, em 1947, ainda em Berlim. Em 1954 Hilde, Arno e Ilona acabaram por emigrar para o Brasil para se juntar ao resto da família. Aqui meu tio fundou o Frigorífico Simon, na época uma empresa de bom porte e que lhes garantiu uma vida de bastante conforto.</p>
<p>Mas como vieram parar nas mãos de meus tios os livros de reza de Jenny Teich? Quem era ela?</p>
<p>A resiliência do povo Judeu</p>
<p>Intrigada, Ilona entrou em contato com o International Tracing Services (ITS) em Bad Arolsen, um centro de documentação do governo alemão que tem os registros das pessoas mortas na guerra. De lá recebeu a seguinte informação: “Jenny Henriette Teich, nascida em 26/12/1871, foi transportada em 24/08/1942 de Berlim para Terezin e, em 26/09/1942, de Terezin para Treblinka, onde foi imediatamente assassinada”. Seguiam dados sobre o número do comboio do transporte para os campos de concentração. Ilona soube, então, que em 1945 os livros de oração dos judeus mortos na guerra foram distribuídos entre os judeus sobreviventes, e sua mãe, Hilde, recebera os livros dessa Sra. Jenny Teich.</p>
<p>Ilona decidiu que os machzorim, como todo livro de reza judaico, deveriam ter um fim digno. Assim, levou-os em 2012, em uma de suas viagens à Alemanha, para o Zentrum Judaicum, que por coincidência funciona na mesma sinagoga da Oranienburger Strasse onde seus pais haviam sido acolhidos no fim da guerra. Lá, entregou-os para que fossem enterrados na Guenizá, segundo a tradição judaica. Com isso, pensava ela, encerrava-se a história de Jenny Teich, mais um dos 6 milhões de mártires judeus cuja identidade se perdera na torrente da trágica história do Holocausto.</p>
<p>Mas a história não acabou por aí. Em fevereiro de 2014, Ilona recebe um e-mail do International Tracing Service indagando se poderiam passar seu e-mail para uma pessoa que se dizia parente de Jenny Teich. Ilona concordou e, dois dias depois, num alemão infantil e cheio de erros, mas absolutamente compreensível, chegava a seguinte mensagem:</p>
<p>“Prezada Sra. Simon: meu nome é Suzy Ehrmann e moro em Melbourne, Austrália. Nasci em Berlim, de onde saí ainda criança, em 1938, fugindo com meus pais. Mas guardo ternas lembranças de minha avó, a Sra. Jenny Teich, a quem chamávamos carinhosamente de Mama. Era na casa dela que costumava passar os feriados religiosos judaicos e dela guardo as melhores recordações de minha infância. Ela, com seu rosto sorridente, enrugado, com seus cabelos brancos, nos acolhia com muito chocolate e muita ternura. Quando saímos de Berlim, em 1938, minha avó disse que estava muito idosa para sair e que confiava que tudo iria terminar bem para os judeus. Minha avó foi tão importante em minha vida que dei o seu nome à minha filha, Jenny Ehrmann, nascida aqui na Austrália. Minha Jenny acabou por tornar-se uma judia religiosa e hoje vive em Jerusalém. Fui informada pelo ITS que os livros de reza de minha avó Jenny Teich encontram-se em sua posse, e gostaria, se possível, de comprá-los. Minha filha Jenny, criada escutando durante toda sua vida falar de sua bisavó, gostaria de rezar em Jerusalém com os livros que estão em sua posse, em memória da alma de sua bisavó, Jenny Teich. Agradeceria o seu contato o mais rápido possivel. Atenciosamente, Suzy Ehrmann, Melbourne, Austrália”.</p>
<p>Atônita, no primeiro momento, Ilona apressou-se em responder: “Prezada Sra. Ehrmann. Li com emoção sua mensagem sobre sua avó, Jenny HenrietteTeich, cujos livros de reza foram utilizados por muitos anos, aqui no Brasil, por minha mãe, Hilde Simon, que os recebeu na sinagoga em Berlim no pós-guerra. Eu os cederia de muito bom grado à sua família, mas infelizmente os livros foram enterrados em Berlim, há cerca de 2 anos e, portanto, não existem mais. Espero que, mesmo assim, a memória de Jenny Teich continue viva entre vocês. Atenciosamente, Ilona Simon, São Paulo, Brasil”.</p>
<p>Dias depois, minha prima Ilona comentou comigo, ainda emocionada, esta história bizarra, que quase tivera um final feliz. Fiquei inconformado com este final quase perfeito da história, a ponto de não conseguir dormir à noite. De manhã cedo liguei para minha prima: “Ilona, você pensou em consultar o Zentrum Judaicum em Berlim para se certificar se os machzorim foram realmente enterrados? Talvez não tenham sido...”, disse eu, com uma ponta de esperança, “quem sabe ainda estejam por lá. Estou indo para Berlim dentro de 15 dias e, se estiverem lá, posso trazê-los de volta para o Brasil e poderemos retorná-los a seus donos originais”.</p>
<p>Ilona, conhecedora da tradicional eficiência alemã e descrente da possibilidade de sucesso, mesmo assim escreveu para o Diretor do Zentrum Judaicum perguntando pelos livros. Ele não se lembrava da doação e lhe pediu alguns dias para tentar saber qual tinha sido o fim dos mesmos. E dentro de uma semana chega a mensagem: “Os livros de Jenny Teich ainda estão aqui e não foram enterrados!”</p>
<p>Assim, numa manhã gélida de março de 2014, dirigi-me a pé de meu hotel para a Oranienburger Strasse, onde recebi, pálido de emoção, os livros perfeitamente embalados e conservados de Jenny Teich. Estavam na mesma sinagoga que meu pai frequentara na sua adolescência, que escapara do fogo na Kristallnacht, que sobrevivera aos bombardeios aliados que quase a destruíram e que servira de abrigo para meus tios no pós-guerra. Poucos dias depois, estavam de volta ao Brasil, nas mãos de Ilona.</p>
<p>Por mais uma coincidência, o neto de Ilona realizaria seu Bar-mitzvá em Jerusalém em julho, e toda a família viajou para Israel. Finalmente, no dia 28 de junho de 2014, Ilona encontrou-se com Jenny Ehrmann, a bisneta de Jenny Teich, em Jerusalém, e entregou-lhe os livros que haviam dado a volta ao mundo. Emocionada, Jenny leu o Shechecheianu do próprio livro de sua bisavó, morta em Treblinka em 1942.</p>
<p>Assim, setenta e dois anos após sua trágica morte, Jenny Teich foi relembrada de maneira especial, através de seus livros de reza, nas mãos de sua bisneta, em Jerusalém. A história do machzor de Jenny Teich levou décadas para se completar, atravessou continentes várias vezes, ligou corajosas mulheres judias de várias gerações, e mostrou, mais uma vez, a força da tradição e a resiliência do povo judeu na adversidade de nossa História.</p>
<p>Sergio D. Simon é médico e presidente do Museu Judaico de São Paulo</p> As meninas do "quarto 28" por Reuven Faingoldtag:judaismohumanista.ning.com,2015-01-14:3531236:Topic:1002512015-01-14T17:46:56.608ZJayme Fucs Barhttp://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>O que vem à mente quando se ouve falar da 2ª Guerra Mundial? Um nome com certeza: Anne Frank. Mas existem outras tantas vítimas do Holocausto com nomes e histórias que ainda precisamos desvendar. Nada sabemos, por exemplo, dos sobreviventes de Theresienstadt. O episódio protagonizado pelas meninas do “Quarto 28” é, certamente, um excelente exemplo de “resistência cultural”.</p>
<p>Perto de Praga, uma elite intelectual é usada como forma de propaganda nazista para mostrar ao mundo que os…</p>
<p>O que vem à mente quando se ouve falar da 2ª Guerra Mundial? Um nome com certeza: Anne Frank. Mas existem outras tantas vítimas do Holocausto com nomes e histórias que ainda precisamos desvendar. Nada sabemos, por exemplo, dos sobreviventes de Theresienstadt. O episódio protagonizado pelas meninas do “Quarto 28” é, certamente, um excelente exemplo de “resistência cultural”.</p>
<p>Perto de Praga, uma elite intelectual é usada como forma de propaganda nazista para mostrar ao mundo que os judeus têm uma bela cidade administrada com autonomia cultural, política e social. Ricos judeus são “convidados” a ir para essa cidade judaica, abrindo mão de seus bens em favor do governo alemão. Mas na realidade, aquilo não passava de uma encenação, sendo uma cidade de lojas sem mercadorias, uma escola sem alunos e até um banco sem clientes. No entanto, apesar das agruras, medo e sofrimento, lá também floresceram talentos artísticos.</p>
<p>Entre 1942-1944 sessenta moças judias habitaram o “Quarto 28” do gueto de Theresienstadt. Todas tinham personalidades diferentes e contrastantes, mas entenderam que precisariam conviver e se aceitar para sobreviver às adversidades. Esta é uma história sobre a perda da infância, mas também a reconquista da juventude por meio da amizade mantida viva por um punhado de jovens, através do amor e empenho das cuidadoras e professoras, da esperança num futuro melhor e do temor de um desfecho trágico . Atualmente, são poucas as sobreviventes do Quarto 28.</p>
<p>Theresienstadt – Fortaleza nazista</p>
<p>A invasão alemã da Tchecoslováquia, em 1939, fechou o cerco aos judeus que ainda viviam no país. Iniciou-se uma perseguição com a deportação para guetos e campos. Theresienstadt era uma fortaleza construída, em 1780, pelo Imperador Josef II. Localizada a 60 km de Praga, lá foi estabelecido um gueto e um “campo de concentração para casos especiais”, pois abrigaria artistas famosos, conhecidos cientistas, músicos virtuosos e outros judeus de talento.</p>
<p>O campo de Theresienstadt tem a forma geométrica de uma estrela de várias pontas. Sua topografia de altos bastiões, fortes muralhas, alinhamento de ruas e casas e uma praça central com Igreja, fizeram do local um espaço fácil de ser transformado em gueto isolado e campo modelo. Judeus proeminentes de renome internacional foram “convidados” pelo 3º Reich para habitar em uma cidade aprazível sob a proteção do Führer. Ali teriam alojamento, alimentação e cuidados médicos, desde que assinassem um termo cedendo todos seus bens ao Reich, que, dessa forma, guardava para si a quantia de 400 milhões de marcos.</p>
<p>Gradualmente, iam chegando judeus a Theresienstadt, todos carregados de malas, preparados para uma jornada sem fim. Famílias inteiras exibem logo seus contratos com o governo, pensando serem garantia de proteção e bem-estar indefinidos. Mas, em pouco tempo, os SS se apoderavam de suas bagagens, pilhando todo objeto de valor. Homens respeitáveis, mulheres finamente vestidas e crianças delicadas são despojados de seus pertences e obrigados a dormir no chão. Após noites de brutal aprendizado, judeus saem das casas esgotados e sujos, com as pupilas dilatadas de espanto. Imediatamente, os membros das famílias são separados para começar a trabalhar para a indústria alemã.</p>
<p>Uma vez instaurado o Reichprotektorat (Protetorado Boêmia-Morávia), medidas antissemitas se tornam cada vez mais opressivas, especialmente quando Adolf Eichmann decide purificar racialmente o Protetorado. Após exaustivas reuniões entre Goebbels, Heydrich e Eichmann, Theresienstadt foi escolhido como local de trânsito para os judeus do Protetorado.</p>
<p>Em 1935, Theresienstadt já tinha 7.000 habitantes, metade deles soldados. Após retirar a população local, o lugar serviria como gueto. Certa vez, em 1941, Reinhard Heydrich afirmou: “Em Theresienstadt poderemos acomodar entre 50.000 e 60.000 judeus. De lá, serão enviados para o Leste. Após sua evacuação completa, o local será colonizado por alemães de acordo com um planejamento impecável, transformando-se num núcleo de vida alemã”.</p>
<p>Desde 1941 chegam comboios repletos de pessoas. Os números são assustadores: dos 139.654 prisioneiros, 33.430 morrerão ali, enquanto outros 86.934 serão deportados para o Leste (principalmente Auschwitz-Birkenau), e destes, 83.500 serão assassinados. Numa casa que abrigava 20 soldados, serão colocadas entre 100 e 400 pessoas. Os prisioneiros proeminentes poderão morar em casas com suas famílias; mas a grande maioria será colocada em quartos mistos para homens e mulheres. A disparidade não foi apenas social e cultural, mas também religiosa. Fora dos judeus, há quase 2.000 prisioneiros cristãos, 1.130 católicos e 830 protestantes.</p>
<p>Com o passar do tempo, a superlotação de Theresienstadt gerou penúria e doenças graves. O total de calorias na alimentação era insuficiente. Trabalhadores e crianças recebiam rações complementares, enquanto idosos tinham porções menores, tendo que rondar as latas de lixo espalhadas pelo campo.<br/> O quarto 28</p>
<p>O campo de Theresienstadt era amplo. Entre 1942-1944, moças com 12-14 anos moraram no assim-chamado Quarto 28, no “Abrigo para Meninas L410”. Elas faziam parte das 75.666 pessoas que habitavam o gueto. Foram estigmatizadas por serem “meninas judias”, sendo todas perseguidas, roubadas e deportadas para Theresienstadt. Lá, seus caminhos se cruzariam.</p>
<p>O “Quarto 28” era um espaço de 30 m² que abrigava, em média, 30 meninas. Todas dormiam em beliches ou treliches estreitos, comiam alimentos racionados e, à noite, ouviam histórias lidas em voz alta por uma das cuidadoras. E quando as luzes eram apagadas, conversavam entre si, compartilhando suas experiências, pensamentos, preocupações e medos.</p>
<p>Às vezes, algumas moças eram subitamente retiradas de seu convívio, e obrigadas a seguir em um dos temidos transportes em direção ao Leste. Então, novas meninas chegavam ao “Quarto 28”, ajeitavam-se como podiam naquela situação, dando origem a novas amizades. E, um dia, esse convívio seria também abalado pelos “transportes”. Assim, o grupo se formava novamente, fortalecido pelo desenrolar dos acontecimentos.</p>
<p>Tomamos conhecimento da história das meninas do “Quarto 28” através da obra de Hannelore Brenner, “Die Mädchen von Zimmer 28: Freundschaft, Hoffnung und Überleben in Theresienstadt”. Algumas dessas meninas eram: Hana Epstein (Holubicka), Eva Fischlová (Fiska), Ruth Gutmann, Irena Grünfeld, Marta Kende, Anna Lindt (Lenka), Hana Lissau, Ola Löwy (Olile), Zdenka Löwy, Ruth Meisl, Helena Mendl, Maria Mühlstein, Bohumila Polacék (Milka), Ruth Popper (Poppinka), Ruth Schächter (Zajícek), Pavla Seiner, Alice Sitting (Didi), Erika Stránská, Jirinka Steiner e Emma Taub (Muska).</p>
<p>Diários pessoais, álbuns de fotos, cadernos com desenhos e cartas avulsas nos aproximam do mundo dessas meninas. Há um sentimento de tristeza de saber que suas esperanças e sonhos nunca foram realizados. Na imaginação da Ana Flaschová (Flaska), que sobreviveu à 2ª Guerra, suas companheiras de quarto continuam sendo as crianças de outrora, adoráveis, criativas e talentosas; algumas calmas e pensativas e outras mais ativas e temperamentais. Flaska se pergunta como teria sido o futuro de suas amigas: Lenka, que escrevia poemas maravilhosos; Fiska, que inventava esquetes espirituosos e que tanto gostava de fazer teatro; Maria, com sua linda voz; Helena e Erika, duas desenhistas e pintoras talentosas. Qual teria sido a sorte de Muska, Olile, Zdenka, Pavla, Hana, Poppinka e Zajicek, esta última a mais nova das meninas, tão carente e necessitada de proteção?</p>
<p>Para Flaska, “o caderno de recordações é mais do que uma lembrança, é uma missão. A missão de manter viva a lembrança das meninas assassinadas é a sua responsabilidade pessoal”. Ao folhear o álbum, consegue visualizar as meninas e ouvir suas vozes. É como se clamassem para não serem esquecidas.</p>
<p>As meninas do “Quarto 28” formavam uma comunidade baseada na lealdade e na amizade. Uma célula quase embrionária que fundou uma organização chamada, em hebraico, “Ma’agal” (Círculo); uma comunidade que compôs um hino e criou uma flâmula com um círculo e, dentro dele, duas mãos entrelaçadas: um símbolo da perfeição, talvez o ideal que todas almejavam. “Ma’agal” era uma célula humana unida pela mesma esperança e anseio: a derrota da Alemanha e o fim da guerra. Em Theresienstadt, aquelas meninas do “Quarto 28”, que faziam parte de “Ma’agal”, fizeram um juramento de fidelidade eterna. Nas palavras de Flaska: “Sob o velho campanário, na cidade antiga de Praga, esperamos nos encontrar num dos primeiros domingos após a guerra”. Essa era a promessa feita quando acontecia uma despedida. Uma promessa reforçada com uma frase que, dita por elas, deve ter soado como um encantamento e uma senha secreta:</p>
<p>“Você acredita em mim,<br/> eu acredito em você.<br/>
Você sabe o que eu sei.<br/>
Venha o que vier,<br/>
Você não me trairá,<br/>
Assim como não trairei você”.<br/>
Este era o pacto de lealdade selado pelas meninas do “Quarto 28”, enquanto ondas devastadoras de “transportes” para o Leste continuavam atingindo milhares de judeus.</p>
<p>A rotina das crianças</p>
<p>Em Theresienstadt, o cotidiano era pesado. Às 7:00h da manhã todos acordavam com os gritos de “Levantem-se, crianças!”, seguindo logo para a fila do banheiro, frio e feio. Em cada andar havia duas privadas para 120 meninas. Pela manhã era obrigatório arejar a roupa de cama e os cobertores. As meninas colocavam as roupas sobre as janelas, mesas ou estrados das camas. Imediatamente, eram divididas as tarefas do dia: preparar o almoço, fazer a faxina ou ajudar as pessoas idosas. Os nazistas proibiam as crianças de estudar, mas permitiam que tivessem aulas de desenho e pintura. À tarde, longe dos olhares dos nazistas, elas tinham aulas de matemática, história e geografia.</p>
<p>No final da tarde, os alojamentos mergulhavam em um silêncio sepulcral, enquanto belas vozes ecoavam do porão. Eram as canções das aulas do coral de Raphael Schächte, que atraíam as meninas do “Quarto 28”.</p>
<p>À noite, enquanto as crianças estavam deitadas em seus beliches, uma única palavra iluminava as intermináveis conversas: liberdade. Aquilo começava com um sussurro e gradualmente se transformava num verdadeiro desejo de um fim para aquela guerra.</p>
<p>Arte no gueto</p>
<p>O trabalho da educadora Friedl Dicker-Brandeis no “Quarto 28” é fundamental para entendermos a “resistência cultural” em condições desumanizadoras. Constantemente, Friedl estimulava as crianças do gueto a encontrar a beleza no presente, a não esquecer o passado e a não deixar de imaginar um futuro promissor.</p>
<p>Na década de 1920, a arte-educadora estudou na Bauhaus com artistas célebres como Paul Klee, Vassily Kandinsky e outros nomes relevantes da arte europeia. A escola Bauhaus tinha como fundamento filosófico a teoria da “empatia estética” (Einfuhlung), que resgata uma visão estética sustentada na união entre o interno e o externo, da forma criada não como mera representação objetiva da aparência, mas como exteriorização da relação do ser humano com o mundo externo.</p>
<p>Baseada na teoria da empatia estética - segundo Liz Elsby - “Friedl encorajava seus alunos a abordar um sujeito ou um objeto não como se fossem uma câmara fotográfica que apenas registra a imagem externa, mas a buscar a sua essência, a percebê-lo por dentro e por fora, a ir além da aparência e procurar identificar-se empaticamente com esse sujeito ou objeto, buscando acessar e se identificar com suas experiências internas”.</p>
<p>Na prática, a metodologia de Friedl Dicker-Brandeis consistia em exercícios para favorecer o fluir criativo, e estava composta de diversos exercícios rítmicos, de trabalhos de respiração e relaxamento, de movimento corporal, de exploração dos elementos da linguagem visual para possibilitar tanto o desenvolvimento da espontaneidade criativa como também das diferentes habilidades artísticas. Ela incluía o ensino dos elementos da arte nas experiências emocionais e sensoriais de seus alunos no aqui-e-agora, o que dava às crianças a experiência de estarem vivas, no sentido mais profundo e humano do termo.<br/> Em dezembro de 1942, Friedl Brandeis e seu marido Pavel foram enviados a Theresienstadt. Ela tinha direito de levar uma mala com alguns quilos. Enquanto a maioria dos deportados levava roupas, valores, lembranças pessoais como álbuns de fotos e objetos, em geral, Friedl optou por levar o mínimo de roupas e encheu a mala de materiais de arte para dar aulas de desenho.</p>
<p>Contrariamente a outros artistas do gueto, que procuravam documentar o sofrimento em que viviam, Friedl Brandeis estimulava a imaginação e a percepção da beleza e harmonia do mundo. Ela ajudou as crianças de Theresienstadt a expressarem seus medos e esperanças de sobreviver. Em suas próprias palavras: “Quando um espírito encontra sua própria força e se afirma sem medo do ridículo, irrompe uma nova primavera de criatividade – é exatamente isso que estamos buscando em nossas aulas de desenho... Vamos incentivar a criança a expressar o que ela tem a dizer”.</p>
<p>Em outubro de 1944, aos 46 anos, Friedl Dicker-Brandeis foi deportada para Auschwitz no transporte No. 167. Três dias depois era assassinada nas câmaras de gás. Na sua despedida, entregou a Willy Groag duas malas com 3 mil desenhos que ficariam em Theresienstadt até o final da guerra. A maioria das 660 crianças desenhistas não sobreviveu.</p>
<p>Brundibár no campo</p>
<p>Brundibár (O resmungão) é uma ópera para crianças, de 40 minutos. Composta em 1938 por Hans Krása, com letra de Adolf Hoffmeister, estreou em Praga interpretada por crianças de um orfanato judaico. Em julho de 1943, a partitura de Brundibár foi contrabandeada para Theresienstadt, onde Krása a orquestrou com os instrumentistas disponíveis naquele momento.</p>
<p>Os nazistas logo perceberam o potencial propagandístico dessa iniciativa artística, organizando uma nova encenação da ópera para o filme “Theresienstadt - Eine Dokumentarfilm aus den Jüdische Siedlungsgebiet”, dirigido pelo cineasta Kurt Gerron. Esta mesma produção teatral de Brundibár foi repetida quando a Cruz Vermelha inspecionou Terezin, em 23 de setembro de 1944. Esta seria a última das 55 apresentações no gueto.</p>
<p>A trama de Brundibár é simples: Aninka e Pepícek são duas crianças cuja mãe está doente. Para a sarar, o médico lhes receitou leite e os filhos vão procurar leite ao mercado da cidade, porém não têm dinheiro para comprá-lo. Três comerciantes ofertam seus produtos: um sorveteiro, um padeiro e um leiteiro. As crianças tratam de obter o leite com cada um deles. Primeiramente, elas incluem o leiteiro numa canção, mas ele lhes informa que somente com dinheiro poderão comprar o leite. De repente, eles vêm Brundibár, um tocador de realejo resmungão, tocando numa rua lotada de pessoas, e decidem incluí-lo na música, mas, também, sem grande sucesso. Esta atitude não agrada em nada nem a Brundibár nem ao público, que começam a expulsar as crianças. Três animais (um pássaro, um gato e um cachorro) chegam até o lugar para ajudar Aninka e Pepícek, e assim todos iniciam uma empreitada para recrutar outras crianças e colaborar com o plano deles.</p>
<p>Dos numerosos depoimentos sobre a ópera, há um que me tocou sobremaneira. Nele, a menina Handa Pollak afirmava: “Brundibár era o nosso pequeno segredo contra Hitler. Nós lutávamos contra Brundibár, o tocador de realejo, mas Brundibár não era Brundibár - era Hitler. E os comerciantes que negavam leite, pão ou sorvete às crianças não eram só lojistas, eram os SS – as pessoas más. E, no final, vencíamos. Isto significava tudo para nós”.</p>
<p>A ópera infantil Brundibár era, para os judeus, uma luz na escuridão, um ato de resistência, um símbolo da esperança e da fé na vitória sobre os alemães.</p>
<p>A visita da Cruz Vermelha</p>
<p>Assistir ao filme “O Führer oferece uma cidade aos judeus” nos coloca diante da singularidade do que foi Theresienstadt, então Tchecoslováquia. É possível que essa mesma surpresa tenham sentido os membros da Cruz Vermelha Internacional na rápida visita de inspeção às condições dos prisioneiros, realizada em 23 de junho de 1944. Na ocasião, encontraram uma urbe de judeus; um lugar onde corriam notas de dinheiro impressas com a efígie de Moisés e as Tábuas da Lei.</p>
<p>Naquele dia, os membros da Cruz Vermelha ouviram um Réquiem de Verdi cantado pelo coral de Theresienstadt. Os grupos de teatro representavam duas peças de Shakespeare, e nos programas de ópera apresentava-se a ópera Carmem, Tosca e Flauta Mágica; além de Brundibár, ópera composta por um autor do gueto.</p>
<p>Pelos documentários sobre Theresienstadt, vemos que as orquestras, conjuntos de jazz e de música clássica impressionaram muito aos visitantes. Os esportes eram também praticados, sobretudo o voleibol e futebol. Havia instalações sanitárias, 400 médicos (professores célebres), as pessoas, sempre bem vestidas, consultavam obras numa rica e agradável biblioteca. Tudo reflete harmonia e tranquilidade. <br/> Theresienstadt é tida como uma sociedade comunista, dirigida por um sociólogo judeu, de alto valor, de nome Paul Eppstein (1901-1944). Ele preside o Ältestenrat ou Judenrat, um Conselho de Anciãos da comunidade. Além dele, 150 policiais checos fazem a guarda do gueto e 12 oficiais nazistas comandam o lager instalado na fortaleza.</p>
<p>A equipe pedagógica do campo era qualificada e o jardim de infância (criado para essa visita da Cruz Vermelha), adequado e moderno. A escola estava bem equipada e um cartaz indicava que as crianças estavam de férias. O relatório da Cruz Vermelha ainda observou que uma cozinha especializada preparava os alimentos dos pequenos.</p>
<p>Ao se iniciar a visita, os membros da inspeção ouvem o Dr. Paul Eppstein dizer: “Vocês irão visitar uma cidade normal de província”. Discurso à parte, Eppstein será acusado de colaborar com as organizações clandestinas da resistência ao Reich, sendo preso pela Gestapo e assassinado em 27 de setembro de 1944, na própria fortaleza.</p>
<p>O “melhor” documentário do campo de Theresienstadt é a obra de um prisioneiro alemão, o ator e cineasta Kurt Gerron (1897-1944), deportado com sua mulher para Auschwitz-Birkenau. Hitler muito se serviu desse filme para retrucar aos aliados o quanto eram felizes os judeus sob a tutela do Reich.</p>
<p>Desde que Eichmann anunciara a visita da Cruz Vermelha a Theresienstadt, a transformação do campo foi acelerada, fazendo surgir jardins decorados com plantas, balanços de crianças, um coreto para música, calçadas lavadas, e casas recentemente pintadas. Cada um dos figurantes do filme ganha roupas novas, sendo instruído sobre como devia comportar-se, ciente dos riscos de uma eventual desobediência.</p>
<p>Em 23/06/1944 os ilustres convidados tiraram fotos, recebendo um álbum de belas aquarelas de “uma cidade normal de província”. O Dr. Maurice Rossel, médico suíço da Cruz Vermelha, registrou em seu relatório sobre a visita: “Gostaríamos de dizer que ficamos muito surpresos ao encontrar no gueto uma cidade que vive uma vida praticamente normal”. Pouco tempo depois, com ar de ingenuidade, o médico confessa haver sido enganado; pois jamais duvidou de nada, não recebeu bilhete nenhum de prisioneiro sobre qualquer anormalidade no lugar e, muito menos, suspeitou de tudo ser previamente montado para visitantes ocasionais. <br/> O “Quarto 28” e o Brasil</p>
<p>O elo entre o “Quarto 28” e o Brasil se concretizou através da família de Erika Stránská, uma das meninas de Theresienstadt. No verão de 2012, a escritora Hannelore Brenner recebeu um e-mail do Brasil, da jovem Adriana Zolko, cuja avó era Mônika Stránská Zolko, meia-irmã da Erika Stránská. O e-mail dizia o seguinte: “Olá, escrevo-lhe porque minha avó era a irmã menor de uma das meninas que viveu no Quarto 28, Erika Stránská. Minha avó se escondeu durante a guerra, ao término da qual veio para o Brasil. E aqui estamos até hoje. Sou Adriana e vivo em São Paulo”.</p>
<p>Foi assim, via e-mail, que tudo começou. Monika tinha belas lembranças de Erika, sua irmã mais velha. Falava dela com orgulho: “Erika brincava muito comigo, pois passava muito tempo conosco. A mãe de Mônika, naquela época, tinha 23 anos, adorava crianças e cuidou de Erika como se fosse sua filha”. Em 1939, a mãe da Erika, Therese Stránská, juntamente com sua cunhada, decidiu fugir para a Inglaterra, deixando Erika aos cuidados dos avós paternos e de seu ex-marido e pai de Erika, George Stránská. George estava separado de Therese e se casou novamente com Valerie Stettina. Em novembro de 1937 nasceu sua filha Mônika. Quando Therese deixou sua filha Erika em Praga, tinha certeza que estava em boas mãos, cercada do carinho da família de seu pai. E, realmente foi assim, até começarem os transportes em 1941.</p>
<p>Erika Stránská foi levada a Theresienstadt em setembro de 1941. A dor e a tristeza pelo destino da irmã mais velha acompanham Monika Zolko por toda a vida. Erika morou no “Quarto 28” até 1944. Em 16 de maio, subiu em um vagão e partiu rumo a Auschwitz quando faltavam seis dias para completar seu 14° aniversário. Nesse dia Erika havia morrido.<br/> Palavras finais</p>
<p>No decorrer da 2a Guerra, milhares de judeus perderam a pátria, a dignidade e as vidas. Suas histórias são muito semelhantes àquelas que já conhecemos e, ao mesmo tempo são tão diferentes e únicas quanto seus nomes e atividades que desenvolviam.</p>
<p>Foram 60 meninas que conviveram durante dois anos, mas delas apenas 15 sobreviveram. Suas histórias, mescladas com fatos históricos e anotações de diários; seus desenhos, peças de teatro, aulas de pintura secretas e poesias escritas em álbuns de recordações, nos convidam a uma caminhada no campo de Theresienstadt.</p>
<p>Theresienstadt, uma cidade de faz-de-conta, idealizada pelos nazistas para desviar a atenção da imprensa e da Cruz Vermelha Internacional do que realmente acontecia. Uma história feita de tristeza, de amizade, compaixão e, sobretudo, de esperança...</p>
<p>Bibliografia <br/> Brenner, Hannelore., “As meninas do Quarto 28: Amizade, esperança e sobrevivência em Theresienstadt. Texto Editores, um grupo da Editora Leya. São Paulo 2014, 414 págs.</p>
<p>Elsby, Liz, Coping through art - Friedl Dicker-Brandeis and the children of Theresienstadt. The International School for Holocaust Studies, 2013.</p>
<p>Kramer, Edith. On Friedl. In Wix, Linney. Through a narrow window: Friedl Dicker-Brandeis and her Terezin students. University of New Mexico Press, 2010, pp. 1-3.</p>
<p>Makarova, E. Friedl Dicker-Brandeis. Los Angeles: Tallfellow/Every Picture Press, 2001.</p>
<p>Wix, Linney, Aesthetic Empathy in Teaching Art to Children: The Work of Friedl Dicker-Brandeis in Terezin. Art Therapy: Journal of the American Art Therapy Association 26(4) pp. 152-158.</p>
<p>Wix, Linney. Through a narrow window: Friedl Dicker-Brandeis and her Terezin students. University of New Mexico Press. México 2010.</p>
<p>Prof. Reuven Faingold é historiador e educador, PHD em História e História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. É também sócio fundador da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil e, desde 1984, membro do Congresso Mundial de Ciências Judaicas de Jerusalém.</p>