JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Força, apetite, voz alta, superioridade, perseverança, presença de espírito, generosidade que acaba em cólera, eram as algumas das características do senhor Herman Kafka. Ao descrevê-lo através do olhar assustado de um menino, que se definiu lesado e obediente para sempre, o autor se dizia esmagado pelo tamanho físico do pai e pela sua exigência infinita. Franz Kafka, que odiava a burocracia, termina sendo um contador minucioso das faltas de seu grande devedor.

E se Herman Kafka resolvesse declarar em sua defesa, que ele era o resultado de uma longa história iniciada no mundo grego e que gerou a civilização ocidental? Um mundo de homens que deveriam desenvolver o autodomínio, dominar os outros, e preparar-se para o exercício do poder e do governo, desaguou na ilusão ocidental de autocontrole e poder sobre a vida. O senhor Herman também poderia alegar que, vinha daí o principio de que macho não chora. Ao chorar poderia derreter a sua forma externa fazendo surgir alguém que, só uma vez, Kafka filho menciona em sua Carta ao Pai.

“Embora raro, era maravilhoso. Por exemplo, quando nas tardes quentes de verão eu o via depois do almoço dormir um pouco, cansado, na loja, com os cotovelos apoiados no balcão; ou a vez em que, durante uma doença grave da minha mãe, você se apoiou nas estantes de livro trêmulo de tanto chorar... Naqueles momentos eu me estendia no leito e chorava de felicidade, e choro ainda agora que escrevo”.

O pai se torna maravilhoso quando abandona a arrogância que o transforma em lei draconiana dos outros e talião de si mesmo. Só então, cansado, apoia-se no balcão e pede arrego. O resto do tempo é vitima rancorosa. Vingativo. Avaro. Um Tio Patinhas da vida afetiva, aprisionado no interior de seu cofre forte, o pai de Kafka tem na mágoa e no rancor a maneira de mostrar ao mundo o tamanho de sua impotência.

Se Herman soubesse pedir socorro, talvez nunca tivéssemos conhecido o escritor Franz Kafka da maneira que foi, mas, sem dúvida, dois homens felizes teriam gerado outro tipo de relação masculina.

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Respostas a este tópico

Jayme e Paulo, que maravilhoso vocês trazerem essa análise. Muito valiosa para minha própria autoanálise. Me fez decidir reler a Carta a Meu Pai, num momento em que ainda tenho o privilégio de conviver com o meu, tão parecido com Herman, e podermos superar nossas distâncias.

Forte abraço

Sérgio

Para mim Kafka sem esse pai não seria esse Kafka....

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