JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

CHAMADO AOS AMIGOS DO BDS – A ESTRATEGIA DO EMBARGO É ANTI-PRODUCENTE Escrito por Davi Windholz

Escrevo esta carta aberta aos amigos do BDS partindo da premisa que o que os motiva agir não são convicções anti-semitas ou anti-sionistas, mas sim a preocupação e a empatia com o sofrimento enorme do povo palestino. A isso me junto a eles, pois toda minha vida me dediquei a isso. Fui participante em 1977 do movimento Zionut Acheret , precessor de Shalom Achshav (Peace Now) e do movimento Yes Gvul , no qual os participantes se recusavam a servir nos territorios conquistados-dominados-colonizados. Durante todos esses anos participei de movimentos prò-palestinos e nos ultimos 10 anos sou diretor de uma ONG que trabalha em nonviolence communication, e temos um centro bilingue hebraico-arabe para crianças judias, muçulmanas, cristãs e druzas. Realizamos seminarios e encontros com jovens e adultos israelenses e palestinos para promover o dialogo a paz. Acredito que os territorios ocupados corromperam a sociedade israeli e além do sofrimento que causa ao povo palestino é uma ameaça as bases morasi e eticas da sociedade israeli, abalando suas estruturas democraticas e a saúde mental de toda uma sociedade.
Sendo pedagogo e psicologo social, quero enfocar o conflito e principalmente a estrategia do boicote e de uma estrategia de dialogo sobre o aspecto psico-social e não politico. Em meu recem terminado doutorado, em inteligencia emocional, defino situações de sobrevivencia e irracionalidade, que poderão explicar o impasse no conflito israeli-palestino.
Não quero analisar as narrativas subjetivas dos dois lados sobre as causas do conflito e a questão de justiça. Isso fiz em um artigo passado. Prefiro olhar para o futuro e buscar soluções. Para isso quero me fixar no processo que levou o acordo de paz de Israel com Egito em 1979 e tentar entender o que passou neste processo e que não passa no processo das negociações entre palestinos e israelis, enclausurando aos dois povos na narrativa do Medo.
O povo judeu , depois de 2000 anos de diaspora, sofrendo de perseguições, , anti-semitismo, tentativas de genocidio e genocidio incorporou ao seu DNA a sindrome da sobrivencia e um forte alarme (marcadores somaticos de acordo com Damasio, um dos maiores psiconeurologistas da atualidade) para ativar o sistema F-F (fight –flight). Até o sec XIX o povo judeu ativava este alarme principalmente com comportamento de flight, escondendo-se, fugindo, imigrando de lugar a lugar. Aceitando a humilhação. O movimento sionista politico (e não o sionismo messianico) ativou em parte do povo a conduta de fight. Não mais fugir. Este foi o inicio da imigração judaica em massa a Terra de Israel. Aqui, como verdadeiros batalhadores, secaram pantanos, criaram comunidades socialistas-comunistas, desenvolveram um exercito de defesa (pela primeira vez em dois mil anos) e reconstruiram a patria destruida. Neste fight , não levaram em conta que estavam pisando em outro povo. Herzl disse "um povo sem terra para uma terra sem povo".
Neste processo de alarme ativado pelo instinto de sobrevivencia , o cerebro cognitivo para de atuar e os dados são analisados de forma emocional e instintiva (para maiores detalhes ver circulo do medo e da raiva em meu doutorado sobre inteligencia emocional). Podemos dizer , que o povo judeu esta com a sindrome da sobrevivencia, patologia, que somente o tempo curara.
A maior caracteristica desta sindrome é o mêdo do "outro", aquele que nos demoniza, que nos quer exterminar. Todos os outros são contra nós. Isto se agrava com a 2ª guerra mundial e o holocausto. Os alarmes são mais ainda fortificados. Para o fight e o flight. Os judeus da diaspora atuam principalmente pelo flight e os judeus de Israel pelo fight. Todo o sistema educacional e social em Israel é convocado para a socialização do fight. A cada declaração, a cada ato, a cada guerra declarada, a cada atitude terrorista se fortalece mais a teoria do "outro".
O ser humano situa-se no circulo do mêdo e da raiva somente se seus instintos e seu cerebro emocional ,transbordado emocionalmente, definem a situação como de emergencia, sobrevivencia, perigo de vida. Seu grito de ajuda é o mesmo que seu grito de guerra, e portando ao outro custa entender este pedido de ajuda. Com a Guerra dos 6 dias o povo judeu em Israel transmite a todo o povo judeu da diaspora que a solução do povo judeu é o constante fight. Com o apoio total das diasporas , Israel tem todo o direito de lutar contra o "outro".
Voltemos a Sadat. Egito era o pior "outro" do Oriente Medio. O Pais mais poderoso, Nasser fazendo declarações de destruição do Estado de Israel e constantemente ameaçando Israel de guerras. A guerra de Yom Kipur foi um trauma que fortaleceu todo a sindrome do mêdo. O "outro" de novo tentando nos destruir, equase conseguindo. Só nós para nós mesmos. Qualquer atitude de agressão será automaticamente refutada com agressão.
!977, Beguin sobe ao poder. O lider da direita, terrorista do Etzel, acredita que só com a força nos imporemos na região. Eu realmente tinha mêdo de que o Pais se iria tornar fascista, policial, eliminando qualquer vestigio do "outro" dentro do Pais. Não por racismo, mas por sindrome do mêdo. Beguin , grande orador, carismatico, sabia como tocar no DNA e na sindrome do mêdo. Sua oratoria era toda voltada a isso.
!979, Sadat, fala diretamente ao povo de Israel e a seus lideres, chamando a paz, estando disposto a vir a Israel e discursar na Knesset. Em resposta disse Beguin "no more wars, no more bloodshed and no more threats". Um povo que estava fobico do inimigo em duas semanas passou a um estado de mania. O judeu, e o judeu israelense em particular, queria o mais rapido possivel sair do circulo do mêdo e da raiva. Este circulo é desgastante, patologico. Este circulo é deprimente e perverso com a vida. Se está lá é só por defesa propria, ou pseudo defesa. Sadat foi a ponte para sair do circulo. Mais de 70% do povo em Israel estava disposto a devolver TODO o Sinai, sem ficar com um centimetro quadrado dele. Destruir cidades judias (que foi declarado que isso nunca mais aconteceira), retirar judeus a força de suas casas, enjaulados para trazer-los de volta do Sinai a Israel. E isso foi realizado pela direita, pelo mais extremista dos politicos em Israel. Pelo ideologo do Sionismo Revisionista (vejam a diferença entre as varias correntes do sionismo).
A OLP, Arafat, Sadat não entenderam essa psicologia patologica do povo judeu. Sadat sim. Eles seguiram conservando e fortalecendo o circulo do mêdo e da resposta fight aos alarmes e marcadores somaticos da sindrome de sobrevivencia judaica.
O fracasso de Oslo, da retirada do sul do Libano e de Gaza só reforçam este processo. Como uma droga, a reação de fight a uma agressão vai aumentando para aliviar a sindrome. A desproporção da reação, a perda da capacidade de julgamento moral e cognitivo da ação se vai perdendo, enfraquecendo. São 40 anos. E o "outro" com suas agressões só fortalece a este comportamento.
O boicote faz parte deste pacote. Junto com os ataques e declarações da Hamas, da Hilzbolla e do Irã. Do ponto de vista da sindrome da sobrevivencia e do mêdo, o boicote é a declaração do mundo em querer eliminar o povo judeu.
Posso estar de acordo total com o BDS, sobre a maioria das atitudes de Israel em relação aos palestinos. Estou totalmente identificado com o sofrimento destes, dos refugiados e do legitimo direito dos palestinos a um Estado independente. Assim como estou totalmente contra a estrategia usada pela BDS para solucionar o sofrimento do povo palestino e chegar finalmente a uma solução final do conflito.
Ontem houve um concerto em Kfar Aza, ao lado da franja de Gaza. Concerto chamando a paz, realizado por moradores dos kibutzim da região. Muitos habitantes das cidades vizinhas se opuseram a esse concerto declarando "nós somos um povo masoquista. Fazemos um concerto pela paz, enquanto nossos vizinhos e o resto do mundo arabe nos querem jogar ao mar". Bibi Nataniahu utiliza os mesmos argumentos de Beguin, para reforçar o circulo do mêdo e manter o povo na crença, totalmente emocional, irracional, instintiva de que a unica solução para nossa sobrevivencia é a luta armada contra todos.
O BDS com sua atitude, só reforça estes nucleos em Israel e nas comunidades judaicas (de que o mundo nós persegue, querem nossa destruição e são todos anti-semitas), destruindo qualquer chance de organizações judaicas pró-paz, pró-palestinos e que já conseguiram sair do circulo do mêdo e da sindrome da sobrevivencia de influenciar, crescer e atuar no contexto israelense e judaico mundial. A cada embargo, a cada manifestação é mais um reforço ao processo de socialização negativa e "flightissista" do povo judeu, e israelense em particular.
O BDS necessita urgente entender está psicologia (patologica) judaica apoiando os movimentos pacifistas em Israel e no mundo judaico, apoiando aos individuos que em seus discursos e narrativas se posicionam a favor dos palestinos e identificam-se com seu sofrimento, apoiando todos os movimentos que lutam pelo antisemitismo. Junto a isso dialogar com o mundo judaico, mostrando a ele que não há mais necessidade de permanecer no circulo do mêdo e da raiva, de ativar os marcadores somaticos e o sistema de fight-flight. O dialogo, o respeito mutuo, a escuta são a resposta e a cura a sindrome da sobrevivencia.
Volto a reitarar, que acredito, que a maioria daqueles que apoiam ao BDS, o fazem por amor aos palestinos e não por odio aos judeus. Por este amor peço – mudem de estrategia. O embargo é anti-producente.

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