JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

  Nos últimos meses, andei lendo o tratado More Nevuchim (Guia dos Perplexos), que é sem dúvida um dos tratados mais importantes e contagiantes escritos pelo sábio Judeu, Rabi Moshe ben Maimon (Maimônides) ou simplesmente Rambam, principalmente quando se trata sobre o conceito de o que/quem é Deus. Na verdade fiquei mais surpreendido ainda com a grande contribuição que Maimônides proporciona à nós, Judeus seculares humanistas, e por isso resolvi compartilhar com vocês um pouco dessas ideias, o que parecerá um pouco difícil, mas vale o esforço. Rabi Moshe Ben Maimon - Rambam - Maimônedes Rabi Moshe Ben Maimon – Rambam – Maimônides Maimônides foi um grande conhecedor do pensamento dos filósofos Aristóteles e Platão, sendo o primeiro a por em prática a tentativa de conciliar o pensamento bíblico com a filosofia grega, postura bastante revolucionária e desafiadora em seu tempo, que com certeza vai ser a chave mestra para que comece a escrever o Tratado More Nevuchim (Guia dos Perplexos) em 1186 e terminá-lo em 1190. A importância desse tratado de Maimônides é que ele nos apresenta uma ética de validade universal, não só para judeus, mas para todos, e trata de um dos temas mais complicados que é a questão: Quem é Deus? O Guia dos Perplexos de Maimônedes O Guia dos Perplexos de Maimônides O incrível é a preocupação desse nosso grande sábio que faz um desafio intelectual com objetivos pedagógicos e nos ajuda a fazer parte dos seus pensamentos, procurando com toda a dificuldade filosófica ser o mais compreensível possível sobre essa questão tão complexa sobre quem é Deus. Maimônides parte do principio que Deus é a origem de tudo e está em tudo que existe, Deus está em cada coisa que vemos e também em tudo que não podemos ver ou sentir devido a nossa limitação humana. Deus é a própria existência de Tudo que existe, e ele está no tempo e no espaço. Deus é Unidade, é Único, é igualmente e é Tudo. O mais surpreendente é que, para Maimônides, não há lugar para qualquer oposição ou diferença entre Natureza e Deus. Para ele o conceito de Deus é o mesmo que dizer as ações naturais ou como dizia Espinosa, “Deus Natura”. Esta importante revelação de Maimônides nos ajuda a entender que provavelmente a origem do pensamento das ideias de Espinosa “Deus Natura” devem ter partido dos princípios das ideias de Maimônides, das quais Espinosa foi acusado de manifestar em sua visão Panteísta, um tipo de ateísmo que o levou ao seu isolamento comunitário. Para Maimônides, Deus é tudo, é eterno, mas também é a primeira “máquina” geradora de tudo que existe neste mundo e Universo, e se ele é eterno e se está em tudo, podemos concluir que ele é a primeira causa de tudo, portanto está livre do conceito de tempo e de espaço, ele é um, único que está no sempre e no presente. Nesta sua lógica, ele nos transmite que se Deus é tudo, então não existe a possibilidade humana de ter qualquer conhecimento sobre ele. Eu sei que parece complicada essa ideia, e até agonizante esse pensamento, mas na verdade Maimônides faz um esforço enorme para nos fazer praticar do ato do pensar. Ele acredita que se ele é tudo, ele é único e está presente em tudo então é impossível para nós, seres humanos, compreender sobre o que seja em sua totalidade Deus. Talvez seja essa a nossa grande dificuldade humana de acreditar numa visão maximalista do monoteísmo Judaico, na qual acreditamos em um Deus que é Tudo, é Único, mas que está fora de nossa possibilidade de compreensão. “Há coisas que estão dentro do âmbito e da capacidade de apreensão da mente humana; há outras que o intelecto não pode, de maneira alguma, captar – as portas da percepção estão fechadas” – More Nevuchim I:31 Maimônedes - Estátua em Córdoba na Espanha Maimônides – Estátua em Córdoba na Espanha O que nos conforta é que dentro de nossas impossibilidades humanas podemos ainda ver, sentir, cheirar, tocar e nos deslumbrar das partículas de sua criação, essas partículas estão presentes e estão em cada um de nós, em cada detalhe da natureza, em cada ser vivo, é como se o Tudo e o Único estivessem sempre presentes em nossas vidas. Vale a pena pensar sobre esse nosso desconhecimento total e absoluto sobre Deus, talvez seja a maior prova de que Ele existe. Talvez o segredo e a fórmula de conhecer um pouco a Deus é conhecê-lo através dessas suas partículas que estão bem em frente de nós e que nos proporcionam as emoções da vida, o amor e esse equilíbrio que é a Natureza. Certa vez, quando estava ao lado de uma cachoeira junto com um grupo de amigos alguém exclamou: “Veja Deus!” e todos riram, mas alguém perguntou: “Onde?”, e ele respondeu: “Dentro daquela linda borboleta azul.” Maimônides defende em seus princípios, que qualquer coisa que possamos imaginar sua existência é admissível. Portanto Deus Existe! O mundo é uma criação de Deus e a imaginação também! Como escreveu Maimônides: “Os peixes nadam e os pássaros voam”, a existência é algo concreto – é a natureza das coisas. Baruch de Spinoza Baruch de Spinoza Como Espinosa, Maimônides foi também muito criticado por suas ideias, principalmente as escritas no tratado More Nevuchim (Guia dos Perplexos). Ele foi acusado pelo rabino de Montpellier na França de conturbar a ordem da visão de um Deus Sobrenatural, seu tratado foi interditado e proibido entre os alunos, que ficaram sob pena de expulsão da comunidade judaica. Também os padres dominicanos e franciscanos procuraram formas de confiscar e queimar os seus livros sob a acusação de heregia. Para os judeus seculares humanistas, que têm uma visão Panteísta, o pensamento de Maimônides no tratado More Nevuchim (Guia dos Perplexos) é de extrema importância, pois ele é essencialmente pedagógico, mostrando que o conhecimento é contínuo e nos aponta a necessidade de ampliarmos nosso aprendizado sobre as leis da natureza que é a base para poder refletir na sua complexidade sobre esse grande mistério que é Deus. O sábio Alberto Einstein, quando perguntaram se ele acredita em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Espinosa”. Se fosse possível perguntar à Espinosa se ele acredita em Deus, ele provavelmente responderia “Acredito no Deus de Maimônides”. Comentário por Gabriel Guzovsky Este texto do nosso amigo e professor Jayme Fucs Bar foi publicado no Facebook Sábado, dia 3 de Agosto, e chamou minha atenção porque tive uma reflexão parecida pouco tempo antes, questão de algumas horas mesmo, sobre o assunto de quem/o que é Deus. Pessoas mais místicas diriam que se trata de algum alinhamento cósmico do Shabat, pode ser que por ser Shabat justo estava refletindo também sobre o assunto, mas eu acredito que se trata de uma mistura de acaso e tecnologia – já que escrevi rascunhos do meu pensamento no Facebook e pode ser que as palavras-chave tenham puxado o texto do Jayme como relevante para os meus interesses naquele momento. Independente de como cheguei até o texto do Jayme naquele momento (o que permitiu que você, caro leitor(a) leia ele aqui hoje), compartilho com você meu pensamento sobre o assunto em alguns pontos bem simples: Para o judaísmo, Deus é onipotente e onipresente. Portanto, Deus está em tudo e tudo é Deus. Assim, estudar qualquer coisa é estudar Deus. Estudar é o propósito dos ensinamentos, não apenas o que foi registrado no passado, mas especialmente o presente que nos rodeia e permeia, com as novas ferramentas disponíveis para tal. Pensamento e estudo é o ideal a ser buscado, é a forma de se conectar com Deus. Este é o propósito do judaísmo, não ficar apenas relendo a Bíblia para encontrar mensagens subliminares, mas sim ler toda a natureza ao nosso redor – como faziam nossos antepassados e sábios da Torá. Não é necessário buscar muito longe (ou muito atrás na história) para encontrar a sua conexão com o Eterno.

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