JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

O Grito Manso - O manifesto da ação individual para uma sociedade solidaria - texto de Davi Windholz

Grito Manso
(em homenagem a Paulo Freire)


O manifesto da ação individual para uma sociedade solidaria

Davi Windholz

Uma comunidade e-coexistencial

Muito já se disse sobre a influência do desenvolvimento tecnológico-científico nas áreas de computação e comunicação de massa – televisão, internet, celulares. Também muito já se disse sobre os processos de socialização com o declínio do sistema escolar, do lugar, ou melhor, da falta de lugar, da família pluralista na vida dos jovens e da influencia nefasta dos meios de comunicação, propaganda e marketing sobre a formação moral e comportamental da juventude de hoje. O capitalismo brutal junto com a globalização leva a perda total da identidade do jovem, a nível local, ou seja, ao referencial de sua cultura especifica e de seu meio, passando este a adotar normas, comportamentos e valores "universais", criando um vazio enorme em seu mundo, desumanizando-o e tornando-o em vez de um ser humano, um ser consumidor.

Em 2004, um pequeno de psicólogos e terapeutas, decidiram fechar suas clinicas, uma vez que acreditam que a enfermidade e a neuroses estão na sociedade ocidental e não no individuo. 30% do mundo adulto está medicado com algum antidepressivo, mais de 20% das crianças com Retalin, somente 25% das crianças sentem-se confortáveis na escola, 38% dos casais se divorciam (o numero é maior ainda em casais até 7 anos de casados), as doenças como câncer, ataques cardíacos, diabetes e outras estão ligadas diretamente ao nosso modo de vida a uma industria da enfermidade (remédios-médicos-hospitais) que gira bilhões de dólares por ano, a obesidade excessiva é apoiada por uma industria alimentar através de propaganda dirigida diretamente as crianças desde os primeiros anos de vida, também girando bilhões de dólares por ano. Poderia seguir exemplificando mais e mais dados sobre a deteriorização dos sistemas sociais, educativos, culturais, política do bem estar social em troca de uma política agressiva, brutal visando o consumo e tendo a propaganda como o principal fator socializante, inclusive invadindo espaços, até agora proibidos, como escolas, universidades e centros educativos (a cartilha do a-b-c nos bairros pobres de NY foram substituídas por cartilhas da Coca-Cola, Nike patrocina todos os campos esportivos das escolas em bairros pobres, aonde seu símbolo consta no centro do campo e em todo lugar viável – isso só como exemplo. E eles dirão que estão apoiando a educação e o sistema educacional falido!!!
Isto porque ainda não falei na industria do álcool, do jogo, das drogas e dos demais vícios, que são o elo entre o mundo de valores normativos (o sistema econômico central) com o mundo político (governos democráticos) e com o mundo de valores anti-normativos (máfia e o mundo do crime). Todo o sistema globalizado, industrial de consumo se une proporcionando, ao consumidor, "pão e circo". Bill Gates, no Fórum Econômico Internacional de 2008, anunciou estar contra do capitalismo bruto, pois gera bilhões de pessoas pobres, sem poder aquisitivo. Sua critica, não é ao estado humano destes, mas sim ao fato de que por culpa do capitalismo bruto, estamos perdendo um potencial de dois – três bilhões de consumidores. Temos que melhorar o capitalismo, para melhorarmos o consumo.

Unindo o fator ecológico aos fatores de desumanização e globalização, completamos o quadro do mundo capitalista brutal em que vivemos hoje em dia. Logicamente, preocupado com o globo terrestre, fonte de matéria prima para a produção de bens matérias de consumo, o mundo capitalista busca soluções, que manterão o nível do consumo como tal, e melhor aumentarão o consumo. Mas a solução para um mundo mais ecológico, não é consumir diferentemente, mas sim consumir menos, o que vai totalmente em contra aos interesses das elites econômico-políticas do mundo ocidental.

No mundo globalizado torna-se quase impossível identificar as fontes do poder, estando estas, com certeza, acima e fora do sistema político, que ao final, acaba tornando-se o palco das "marionetes" das elites dominantes, fontes do poder. Mesmo num País como Israel, com tamanho mínimo de 20000 km 2, 7 milhões de habitantes, mover uma campanha para deputado federal ou primeiro ministro se necessita um poder econômico, que somente os novos "senhores feudais" poderão dispor, impondo assim uma relação clara entre poder político e poder econômico. Assim que para conseguir uma mudança, a arena da luta deve deixar de ser o sistema político central e passar a ser a tentativa de criar um sistema alternativo, paralelo, no qual aqueles que não aceitando o sistema atual, abandonam-no. Este sistema é a "sociedade alternativa".

Não quero lutar contra o sistema atual, pois não tenho forças e poderes para tal. Não quero destruí-lo, pois não quero utilizar a força, o medo e a morte como meios de mudança, mas não quero calar-me, pois meu ser não me permiti, assim que me resta buscar uma solução alternativa, criativa, que talvez com o tempo possa ter mais força e impacto de que as outras "não soluções".

A sociedade e-coexistencial

Necessitamos criar um sistema no qual o ser humano, a humanidade e o meio respeitem-se mutuamente, sem impor um ao outro, ou definir que um é superior ou mais importante que o outro. Numa relação simbiótica entre o individuo, o coletivo e o meio se dará a re-humanização do ser humano e da civilização ocidental.

A sociedade e-coexistencial baseia-se em primeira estância na Existência do individuo como único e especial. O individuo possui geneticamente uma formação única, diferente de qualquer outro ser humano, através de seu DNA. Seu perfil de inteligências, único também, lhe permite ter vivencias únicas e especificas a ele. Defino como vivencias, as experiências pela qual passa o ser humano, quando incorporadas ao seu ser através do sistema cerebral único, sendo absorvidas em matrizes de forma emocional e racional diferentes de qualquer outro ser humano, que criaria matrizes diferentes. Assim que, a visão de um padrão ideal de ser humano deixa de ser valida.

Eu existo. Eu sou o que sou. Mas somente no dialogo, na reflexão com o outro me torno consciente de meu ser. Passo a saber o que sou. Tenho uma identidade única. Neste dialogo tomo consciência do meu ser, de meus limites, de meu campo de vida.

Desta forma, a comunidade passa a ser um meio aos indivíduos. Ela se transformará na estrutura dialógica destes. O dialogo entre os indivíduos se realiza no encontro entre os indivíduos da comunidade, do minian no judaísmo (são necessárias dez pessoas para rezar, ou melhor, dialogar com D~us), no circulo, na cultura índia (os índios necessitam o circulo para dialogarem sobre seus medos e fantasias).
Esta comunidade não tem significado próprio. Sua razão de ser é possibilitar o dialogo e o crescimento de seus membros. Ser o espelho do auto-conhecimento, da conscientização do ser humano, da existência. A coexistência.

Mas, a comunidade, a coexistência, não terá sentido se o ser humano, através da civilização comunitaria, não souber e-coexistir com seu meio exterior. Isto é, com a criação completa do universo, dialogando com ele e através dele definindo-se como civilização humana. Esta será a e-coexistencia, baseada numa relação de amor ao proximo e ao meio, acreditando que fazemos parte de uma unidade superior a tudo e a todos, a qual cada uma de suas partes tem a mesma importância que o todo.

A crença atual, ou melhor, o medo existencial, a necessidade a sobrevivência nos leva a atuar através do sistema de lutar-fugir, praticamente obrigando-nos a destruir os outros e o meio, acreditando assim em nossa sobrevivência como individuo. Mas, de forma paradoxal, o individuo destruindo a comunidade, a outro ser ou outra especie, estará destruindo a si próprio, a possibilidade de não só existir como humano, mas de Ser Humano. Não só de sobreviver a vida, mas de viver a vida.

A comunidade e-coexistencial será o modelo que permitirá o dialogo do individuo consigo mesmo, com o outro e com o meio, tornando-se consciente de sua existência, numa relação de amor. Ela é que permitirá ao ser humano, ao individuo, sair do ciclo do medo e da raiva, sistema de sobrevivência, e dialogar com o mundo, num processo de crescimento de si como individuo, ser humano, de sua comunidade, a civilização humana, e do meio, o globo terrestre e o cosmos.

Assim sendo, teremos que neste caminho, buscar uma nova forma de ser comunidade, despedindo-nos e agradecendo o que nos ofereceu a civilização até hoje, mas conscientes que este caminho chegou ao fim, e que temos que lutar contra o nosso medo do desconhecido e do novo, na busca de uma humanização do mundo moderno.

Assim que a base de uma comunidade e-coexistencial seria uma e única. O respeito a e-coexistência de todo o cosmos, isto é o direito de cada individuo de ser único, diferente, capaz de desenvolver toda sua potencialidade. O saber de que este ser não é consciente de si sem o dialogo com outros seres, humanos e não humanos. O reconhecimento de que cada individuo tem uma função neste mundo, assim como qualquer espécie ou matéria, e sua destruição significa a destruição desta corrente, na qual cada elo tem sua função, seja este elo humano, animal, vegetal, vegetal – seja ele cósmico.

A pratica e-coexistencial

A proposta pratica de um novo modelo comunitário-social, tem que ser resposta a sociedade enferma e as angustias do individuo, dentro desta, reumanizando-o como individuo, abandonando o ser consumidor a um ser humano. Por outro lado esta proposta não pode ser uma volta ao "homem das cavernas".

A civilização desenvolveu-se de forma espiral. Apesar de nossas angustias e do sentimento que algo muito mal paira no ar, o mundo está muito melhor que nos tempos do homem das cavernas, do que a idade media ou do que no início do século XX.

Assim que as respostas práticas não podem ser um retorno ao passado, mas sim uma busca criativa de novas idéias, parte baseadas no passado e parte inéditas e desconhecidas até hoje.

A pratica e-coexistencialista tem que ser tal, que tanto a nível do individuo, da comunidade ou da comunidade das comunidades, possa ser realizada. Não podemos depender de uma pratica que se realizará somente quando "assumirmos o poder". O poder virá depois que milhares de seres humanos a nível individual ou comunitário praticarem o e-coexistencialismo.

A pratica se reduz a dois princípios básicos, que permitirão que todos os demais se realizem – a economia minimalista e a descentralização do poder político e econômico.

A base do sistema capitalista é a crença que progresso significa consumo, que significa maior produção de bens materiais, que significa progresso, que significa felicidade. Consuma e seja feliz. Mas, esta formula faliu totalmente. O consumo não trouxe o progresso e nem a felicidade. Nem a elite ela trouxe a felicidade esperada. Mais de 30% dos adultos americanos tomam antidepressivos, junto a eles, mais de 60% estão viciados em alguma forma de alienação (flight). Se considerarmos a televisão e a internet como processos de fuga e alienação diríamos que mais de 80% da população americana está de alguma forma alienada de seu contexto. Ou seja, mesmo para a sociedade mais consumista do mundo esta pratica não trouxe a felicidade. Não precisaríamos nem comentar de que na maior parte do mundo, Ásia-África-America do Sul, esta pratica nem existe. O sistema de mercado e de consumo amplia-se não só a bens materiais, mas também ao consumo de trabalho, tempo, espaço, lazer, etc. Desde pequenos somos educados a consumir nossas vidas.

Inverter este principio a nível individual, será o primeiro passo ao processo de mudança. Consumo minimalista. Critico. Consumir somente o que necessitamos. Através de um processo educativo critico, dialógico, tentar entender a nível pessoal o que significa este consumo mínimo. Ninguém irá impor a ninguém o que consumir. Isto é um processo individual, interno, redefinir minha identidade e através dela o meu consumo. Ao assumir este principio como individuo, transformo todo o sistema de nossa sociedade. Consumir menos significa necessitar menos de dinheiro, trabalhar menos, aumentar o tempo livre, tendo mais tempo para si, para os filhos, casal, comunidade, etc. Significa transformar o trabalho em um meio e não um fim. Ele deixa de ser o fator principal em nossa identidade. Temos que buscar novas formulas para definir nossa identidade. Consumir o mínimo e critico significa analisar o nosso consumo pesando o preço deste consumo aos outros e ao meio, significa consumir e-coexistencialmente.

Para consumirmos minimalisticamente, temos que como comunidade criar um sistema de apoio. Este sistema será baseado em micro-economia e economia de segunda mão. Ou seja, o apoio a economia local, comunitária ou inter-comunitária, regional. Eliminar as redes. Boicotá-las. Micro-economia, que parte dela poderá ser regida por princípios de troca. Economia de segunda mão, através de centros de compra e venda de produtos de segunda mão.

O sistema capitalista nos convenceu que é mais barato jogar fora e comprar novo, justamente pelo principio de incentivo ao consumo. Segunda mão significa opor-se a este principio. Neste caso criaremos uma nova-velha profissão, o artesão tecnológico. Centros de segunda mão que reformarão tecidos, móveis, eletrodomésticos, material de construção, carros, etc. Muitas perguntas pairam no ar e eu não tenho as respostas. Consigo ver claramente a micro-economia nos setores de alimentação, medicina preventiva, roupas, móveis, bens de consumo primários, inclusive em eletrodomésticos simples, educação e cultura. Como seria a micro-economia em produtos de alta tecnologia ou em setores de âmbito regional ou nacional, não tenho ainda respostas. Mas, se começarmos o processo aonde se pode dar, as respostas virão com o tempo. Nos tornaremos mais experientes e sábios em relação a uma nova economia. A economia do SER humano. Nesta economia não tem lugar para o sistema de marketing e propaganda manipulativa, cujo objetivo é vender mais. Este sistema será substituído por um sistema de "propaganda" conscientizadora, que colocará em pauta as necessidades individuais, dando a esse a capacidade de analise e tomada de decisão em relação ao nível de seu consumo individual.

Levando em conta que nosso sistema é coexistencial, e sem impor uma ideologia socialista-igualitária, também aqui haverá uma mudança na relação empregador-empregado. Uma relação mais humana, mais justa, mais cooperativa. O lucro deixará de ser o objetivo máximo da economia, mesmo da micro-economia. Um sistema econômico assim, descentralizará a economia, diminuindo o poder de uma elite econômica, descorrompendo o sistema.

Da mesma forma, a descentralização do poder político é necessária. O poder corrompe, a centralização do poder cria ordens de preferência equivocas, unilaterais, baseadas somente no interesse das camadas dominantes, e não importa com qual ideologia essas camadas assumiram o poder. Uma vez no poder, elas passam a atuar sob dinâmica independente, excluindo a todos os que não fazem parte dela. Assim que o primeiro passo seria devolver o poder de decisão aos indivíduos e as comunidades. Cada comunidade terá o poder de decidir aquilo que mais lhe convém, em base a um processo interno de decisão no qual somente os membros desta comunidade têm o direito de decidir. O individuo é responsável por sua vida, pela forma em que a comunidade e as instituições comunitárias atuarão em relação a qualquer aspecto de seu viver. Ele volta da alienação total em que vive hoje em dia, mesmo dentro de um sistema democrático, e passa a atuar e a influenciar em sua vida.

Uma sociedade e-coexistencial será um conglomerado de comunidades reunidas através de uma rede de comunicação. Cada comunidade criará seu sistema de tomada de decisões, baseada em princípios de igualdade de direitos. A rede de comunidades constituirá um Forum, Parlamento, que através dos seus representantes discutirão problemas referentes a todos os setores de vida. A esse parlamento não se dará o direito de decisão, mas somente o direito de orientação. Cada comunidade em base a propostas decidirá o que melhor lhe cabe. Desta forma se evitará a centralização de poder político e a possibilidade de domínio de uma comunidade a outra.

Defino comunidade como qualquer forma de reunião de indivíduos em torno de um objetivo comum. Esta comunidade pode ser física-geográfica, localizada em um limite físico-geográfico, pode ser funcional, centralizada através de um centro comunitário ou virtual localizada num forum internet, desde que ela tenha um contato físico posterior.

O objetivo desta comunidade é de apoio mutuo e crescimento mútuo dos indivíduos a ela pertencentes. Os indivíduos podem unir-se em torno de uma comunidade por motivos étnicos, religiosos, políticos-ideológicos, econômicos, identidade ideológica, sexual, trabalho, lazer, etc. Qualquer comunidade terá o direito de pertencer ao Parlamento, desde que esta aceite o princípio de pluralismo, aceitando e respeitando as formas distintas de ser das outras comunidades. Posso aceitar uma comunidade monolítica, desde que esta aceite o modo de ser de outra comunidade, sem querer modificá-lo.

A economia minimalista e a descentralização do poder econômico e político darão a infra-estrutura para que os setores de lazer, cultura, educação, saúde publica, bem estar social, ecológico, etc possam ser uma tradução pratica a filosofia e-coexistencialista. Passamos de um sistema centrado na economia e no trabalho a um sistema centrado no desenvolvimento do potencial humano e no seu bem estar. Sua identidade será definida principalmente por sua atuação nesses campos e não no campo profissional. Se bem que o individuo possa achar-se em sua profissão. A função da comunidade e da rede de comunidades é fortalecer ao individuo através da criação de um meio que reforce e permita com que este individuo possa desenvolver-se da maneira mais livre possível.

A redefinição do nosso campo de vida, sendo o trabalho algo secundário, e menos importante em nossa identidade consciente de ser humano, exigirá de nos uma redefinição de nossas metas, de nosso sentido existencial. Entender o porquê de nossa existência, a busca de preencher esse vazio, entre nascimento e morte, que hoje ocupamos através do trabalho e do consumo. Esta será a principal tarefa das novas comunidades, buscando novas respostas ao nosso ser humano.

Para muitos, este artigo pode parecer mais um artigo sobre utopias, mas eu vejo indivíduos, grupos e comunidades unindo-se em base a esses mesmos princípios, procurando uma solução. São centenas e milhares, talvez dezenas de milhares. É o começo. Imagino que em algum momento estes grupos se unirão em torno de um Parlamento e darão inicio ao processo que aqui descrevo.

Para atingir esta massa critica , devemos iniciar o processo de nós , indivíduos. Cada um que lendo este artigo acredite em seus princípios pode a partir de "aqui e agora" dar inicio a sua pequena revolução que junto com o inicio de outras pequenas revoluções realizaremos a grande mudança. A este processo chamo de "Ação Individual", no qual cada um de nós trata de realizar o máximo da pratica solidária, a si, a sua família e a sua comunidade. Esta ação individual é uma mudança de atitude, de ação, a nível intra-pessoal, inter-pessoal, utilização do tempo, utilização dos bens materiais, revisão do conceito de trabalho, lazer, consumo, felicidade, sucesso, etc.

Segue um guia da ação individual. Isto não é um postulado, um axioma, mas sim diretrizes para que cada um possa ter um primeiro referencial, que a partir dai crie sua própria ação individual, de sua família ou de sua comunidade. Eu vejo este guia como um guia aberto, no qual cada individuo pode ir acrescentando outras ações, não pensadas aqui, que nos possam ajudar na busca do caminho tão esperado – UM MUNDO MAIS HUMANO, JUSTO, FELIZ!!!


A AÇÃO INDIVIDUAL



Muitas pessoas concordam com os princípios que levantamos anteriormente, mas sempre levantam a questão "Então como fazemos na pratica?", "Por onde começamos?", "O que significa ser solidário comigo mesmo, com os outros e com o meio?".

Este será um guia de o que fazer e não fazer. Uma espécie de mitzvot solidárias, mas sem o principio da imposição. A realização destas mitzvot vem de um lugar muito humano, com amor a vida.

1. Eu comigo mesmo

O primeiro princípio da ação individual é estar bem consigo mesmo. Acreditar em si, respeitar e amar-se a si próprio. È entender que como individuo, sou único, com perfil especial e que temos o direito de sermos e agirmos como queremos. Não somos escravos do mundo moderno, das maquinas, dos bens materiais, do tempo e do espaço. Ao contrario, somos donos de tudo isso, e esses instrumentos foram criados para que tenhamos uma vida mais humana, mais feliz, mais plena, mais livre. A nossa realização depende muito mais desta visão subjetiva de sermos, do que da visão objetiva materialista de termos.

Entender que somos nos que definimos nosso tempo de trabalho, de lazer, nosso nível material de conforto, nossa alimentação, saúde, relação, etc e não um sistema externo que nos impõe o modo e o ritmo de vida, através de manipulações emocionais.

Em processos de inteligência emocional defini 13 fatores primordiais

2. Eu com os outros

Se queremos criar uma sociedade solidária, esta solidariedade tem que ter expressão em nossa relação com nossos parceiros de vida, com a comunidade em que vivemos, com aqueles que trabalhamos, etc. Sociedade solidária, com economia solidária, não vingará em uma sociedade na qual não a respeito mutuo entre homem e mulher, pais e filhos, raças, diferenças sexuais (hétero e homossexuais), laicos e religiosos, etc. O respeito mutuo e o principio da não violência são a base desta relação. O dialogo é seu instrumento.

3. Eu com o mundo

A definição de que fazemos parte do universo e de que não somos os senhores superiores dele, mas sim um elo a mais. O fato que nós seres humanos temos a capacidade de manipular o meio e modificá-lo para nossos propósitos exige de nós uma responsabilidade e o respeito ao meio, refletido através de nossa ação planejada.


Isto exige de nós uma ação ecológica no dia-dia, num processo consciente e critico de nossas ações e de suas conseqüências no meio.

Evitar ao máximo, o consumo de produtos poluentes no dia a dia como material de limpeza e higiene, fraldas descartáveis, sacos plásticos nas compras de comidas, produtos embalados sem necessidade, transporte particular, etc.

A separação de lixos para reciclagem e o trabalho na comunidade para que isso se realize.

A criação de jardins comunitários, no qual crianças e adultos, trabalhem em comum, criando um sistema ecológico para a produção de produtos para consumo comunitário (ou talvez para consumo daqueles que no momento não tenham a capacidade de compra).

A criação de equipes ecológicas para desenvolver o meio físico da comunidade e não depender das autoridades municipais, humanizando o meio ambiente comunitário.

O incentivo ao consumo minimalista e o reaproveitamento de bens materiais através dos centros de troca e de 2ª mão.

A exemplo da "bicicletada", a criação de projetos de incentivo a não poluição do meio ambiente.

Em resumo, tornarmo-nos ativos e criativos em relação a ação ecológica e ao desenvolvimento de projetos comunitários.

4. Consumo minimalista

Definir qual o nível material que necessito e almejo, levando em conta as conseqüências de cada um dos fatores na ação ecológica. Uma vez definido, traduzir esses conceitos em números práticos, criando um espiral critico de que uma vez definido os números concretos, rever se posso viver com menos bens matérias e assim redefinir os números. Este processo se realiza em todos os setores materiais de nossas vidas: roupas, bens pessoais, eletrodomésticos, carros, moradia, etc.

Consumir o mínimo possível, consumir para mantermos um nível de vida de conforto mínimo. Antes comprava uma blusa, porque gostava dela e tinha o poder econômico para tal. Hoje, antes de comprar me pergunto se necessito. Ao viajar no verão israelense, imediatamente ligava o ar condicionado. Hoje me pergunto se realmente necessito, ou posso abrir as janelas e suportar o calor. Percebi que na maioria das vezes podia suportar o calor e que ligava o ac por puro costume. Compramos 2,3,4 TV para casa. Realmente não podemos viver com uma? Necessitamos a cada ano trocá-la? Nosso carro está a ponto de troca, ou o estamos trocando por pressão social de status? Posso seguir os exemplos nas áreas alimentícias (o quanto comemos por fome ou por gula), medicina (consumindo de forma exagerada médicos, remédios e hospitais, sem ter uma visão critica desta cura e das alternativas – como uma melhor alimentação, atividades físicas, equilíbrio emocional, menos stress, etc).

Cada um de nós definira o seu padrão de consumo. Não existe um padrão único. O importante é a consciência, é perguntar-se da necessidade do consumo e não somente consumir por impulso. Cada um definirá quando e como reduzirá o seu consumo.

5. Mercado de troca e mercado de 2ª mão

Este é um processo em comunidade. No momento que começarmos a criar focos de indivíduos que adotem esses princípios poderemos começar a criar centros de trocas e de compra de segunda mão. Não faltam hoje em dia exemplos destes centros, nos quais as pessoas trazem seus bens (roupa, moveis, eletrodomésticos, etc) que não necessitam mais, e em vez de jogá-los (como incentiva a sociedade atual), trocá-los ou vendê-los por preços simbólicos.

Estes centros têm uma importância ecológica e social, solidária, de primeira categoria. Com esses centros podemos diminuir a produção de bens materiais novos, evitar o lixo moderno, proporcionar a possibilidade econômica daqueles que no momento não tem a capacidade de consumo mínimo. Estes centros recriariam a profissão do artesão nas varias áreas, que teria como especialização a renovação desses bens. Por ultimo, estes centros teriam um enfoque comunitário local, como um processo socializador e propagador da idéia da ação individual e da sociedade solidária.

6. Economia co-associativa ou co-operativa

O incentivo à criatividade trabalhista, gerará pequenos negócios, micro-empresas, em todos os setores da economia. Incentivar essa micro-economia é incentivar uma economia local, comunitária. Para que ela vingue devemos apoiá-la, consumindo seus produtos, deixando assim de consumir, ao máximo, produtos de redes locais, nacionais ou internacionais. O pequeno restaurante, a loja de roupas de fabricação própria, as lojas de comida de produção própria, etc. Este comércio se fará em pequenas lojas ou nos centros de troca e de 2ª mão.

Junto a isso, o principio da não exploração de mão de obra. "O dono não deixará de trabalhar e o trabalhador não deixará de ser dono de seu produto". Quanto mais adotarmos este principio, mais próximo estaremos de uma economia solidária. Já estou criando um sistema no qual meus funcionários se transformem em cooperadores. Não estou seguro em como fazer isso e como definir o que é justo pagar. Mas, só o fato de estar pensando nisso, e não só no lucro de minha operação econômica, já me torna solidário com meus funcionários.

7. Educação e propagação da sociedade solidária

Este é o fator principal de todo o processo. Através da educação propagaremos a idéia. Influenciando ao primeiro circulo a nossa volta, isto é a família, pelos círculos posteriores, comunidade, equipe de trabalho, amigos, etc.
Poderia ampliar o tema e desmembrá-lo em cada um de seus itens, mas nosso objetivo é criar um manifesto conciso e pratico, que não se perca em abstrações e que não seja uma "ordem" de ação, mas uma direção de ação individual, na qual cada um, justamente por ser uma ação individual, crie o seu próprio código de ação.

Por fim, pedimos a cada um que se identifique com o que foi dito neste manifesto, que manifeste esta aprovação através de uma fita branca em seu carro, em sua pasta de trabalho ou de qualquer outra forma que ache que possa através dela propagar a idéia. Seja um agente de mudança e propague a idéia e o manifesto em todos os meios possíveis.

Gostaria de terminar com a musica de Geraldo Vandré "Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer".

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