JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Chanucá é a história do azeite.
Apesar das batalhas milagrosamente vencidas pelos macabeus, mais fracos e em menor número contra o mais forte e mais numeroso exército greco-sírio, o Talmud, em sua descrição do milagre de Chanucá, concentra-se tão somente no milagre do azeite e praticamente ignora o milagre militar.

“O que é Chanucá?” pergunta o Talmud. “Sobre qual milagre foi estabelecido? Quando os gregos entraram no Santuário, contaminaram todo o azeite. Então, quando a família real hasmoneana os sobrepujou e foi vitoriosa sobre eles, procuraram e encontraram um única ânfora de azeite puro que estava selado com o selo do Sumo Sacerdote ­ suficiente para acender a Menorá por um só dia. Um milagre aconteceu, e eles acenderam a Menorá com este azeite durante oito dias. No ano seguinte, estabeleceram estes dias como festivos e de louvor e agradecimento a D’us.”

Nós, porém, celebramos Chanucá comemorando o milagre do azeite e acendendo a Menorá por oito dias, de preferência usando azeite de oliva porque é facilmente atraído para o pavio, sua luz arde claramente, e o milagre de Chanucá aconteceu com azeite de oliva.

Por que o foco sobre o azeite? Alguém poderia argumentar que descobrir o azeite foi acidental enquanto que o milagre principal foi o de vencer a batalha contra o inimigo. Se aquela vitória não tivesse ocorrido, a descoberta subsequente da ânfora de azeite teria sido impossível. Por que então o milagre do azeite é o aspecto que define Chanucá, sem menção das batalhas vencidas ­ ao contrário, por exemplo, de Pêssach, quando celebramos e recriamos a vitória sobre os egípcios?

O Chassidismo explica que o milagre essencial de Chanucá foi uma vitória especial. Os greco-sírios não queriam aniquilar fisicamente os judeus (como Haman fez no tempo de Purim); eles queriam matar suas almas. Os gregos não se opunham à Torá como um compêndio de sabedoria humana e mitsvot como um conjunto de regras éticas; eles procuravam “fazê-los esquecer Tua Torá e fazê-los violar os decretos da Tua vontade” ­ divorciar a Torá e as mitsvot de sua natureza espiritual e Divina. A batalha foi lutada não por qualquer fim material ou político, mas pela própria alma do Judaísmo. Assim o Talmud define “O que é Chanucá?” por seu milagre espiritual ­ a descoberta do azeite puro e não profanado e o acendimento da luz Divina que emanava do Templo Sagrado.

Mesmo quando os poderosos materialistas greco-sírios profanaram todos os objetos sagrados, mesmo quando todas as fontes de luz pura (do puro azeite de oliva) se foram, pelo menos um recipiente de pureza permaneceu, e reviveu a alma. A poderosa qualidade da luz ­ até uma quantidade mínima ­ prevaleceu sobre as formas mais poderosas de escuridão.

Isso explica o significado das chamas. Mas por que especificamente azeite?

O Midrash oferece a seguinte parábola para explicar o uso do azeite de oliva para a Menorá no Templo: “é comparável a um rei cujas legiões se rebelaram contra ele. No entanto, uma das legiões permaneceu leal e não se rebelou. O rei disse: é desta legião que não tinha se rebelado que escolherei meus legisladores e governantes. Assim D’us disse: Esta oliveira trouxe luz ao mundo no tempo de Nôach, pois vimos ‘a pomba voltou… e tinha um ramo de oliveira no bico.’” (Vayicrá Raba 31:10).

Isso explica o significado das chamas. Mas por que especificamente azeite?

Um comentarista explica (Radal sobre Midrash ibid.) que a corrupção precedendo o grande Dilúvio não afetou somente o homem, mas também o reino animal e o vegetal. Diferentes espécies animais tentaram se cruzar; plantas tentaram se enxertar com outras. Somente o galho da oliveira resistiu a todas as formas de enxerto. É assim considerada “a legião que não se rebelou.” Permaneceu pura. Como continuou fiel a D’us, a oliveira foi escolhida para ser o sinal de renascimento e renovação após o Dilúvio. Foi escolhida para ser a fonte de luz do local mais sagrado neste mundo, e a fonte de luz para as gerações vindouras.

Mas o que há no azeite de oliva que o imuniza contra forças corruptoras? E como acessamos este poder?

As Propriedades do Azeite
A natureza material de toda entidade física evolui de sua raiz espiritual. Uma análise das propriedades do azeite pode ajudar a esclarecer sua poderosa importância espiritual.

O Talmud propõe a seguinte questão: Se uma impureza tocar azeite flutuando sobre o vinho, isso contamina o vinho também? Duas opiniões são oferecidas: Os Rabinos afirmam que o azeite é hidrofóbico por natureza e portanto não é considerado conectado com o vinho, assim somente o azeite é contaminado, não o vinho. Rabi Yochanan ben Nuri discorda. Ele afirma que o azeite está conectado ao vinho, e portanto contamina o vinho também (Mishná Tevul Yom 2:5).

Sua discordância aplica-se ainda a uma outra lei. No Shabat somos proibidos de mover um objeto de uma área privada até uma área pública (ou vice-versa). A proibição exige um processo de duas etapas: levantar (akira) e colocar (hanocho) ­ erguer o objeto do local onde está e colocá-lo em outro lugar. A questão é essa: se o azeite está flutuando por cima do vinho, é considerado repousando sobre o vinho e assim proibido de ser erguido e colocado em outro lugar. Rabi Yochanan ben Nuri afirma que o azeite está conectado ao vinho, e portanto está repousando sobre ele. Os Rabinos discordam e argumentam que o azeite não está conectado, mas completamente separado do vinho. É como se o azeite estivesse flutuando, e assim não é considerado como levantado do vinho (Talmud Shabat 5b). A regra definitiva (Halachá) segue os Rabinos, que o azeite está completamente separado do vinho.

Rabi Dovber de Lubavitch, segundo Rebe de Chabad (filho e sucessor de Rabi Shneur Zalman de Liadi) em sua profunda obra :Imrei Biná” (Shaar há’Kriyat Shma cap. 52-56) se pergunta se a base do argumento está no primeiro lugar. Não é uma questão de observação empírica,” afirma ele, “se os dois se mesclam juntos ou se permanecem completamente separados. Podemos testar e ver se o azeite e o vinho se misturaram de alguma forma ­ tanto em substância quanto em sabor. Portanto, o que define o debate entre os Rabinos e Rabi Yochanan ben Nuri?”

Rabi Dovber explica que a natureza do azeite pode ser entendida somente depois de analisarmos a personalidade espiritual do azeite de oliva.

Três Dimensões da Alma
Um nivel mais elevado ­ o azeite essencial, o inconsciente que permanece destacado e acima de todos os níveis sobre os quais repousa.

A alma consiste de três dimensões: o consciente, o inconsciente e o não-inconsciente. O consciente divide-se nas faculdades reveladas biológicas, emocionais e intelectuais ­ correspondendo ao nefesh, ruach e neshamá (os primeiros três dos cinco nomes/níveis da alma). O inconsciente é chaya ­ a dimensão transcendente, que permanece não revelada, mas pode aflorar através de esforço exercido. Finalmente ­ cada alma contém o in-inconsciente, yechida, que desafia qualquer forma de expressão.

O in-inconsciente sempre permanece essencialmente incognoscível. É o paralelo psicológico do estado semelhante ao quantum da probabilidade fundamental, no âmago do princípio da incerteza de Heisenberg.

O que distingue o nível do in-inconsciente do inconsciente “normal” é que o inconsciente está oculto, mas pode ser revelado. Nas palavras de Carl Jung: “Até você tornar consciente o inconsciente, ele dirigirá sua vida e você o chamará de destino.” Isso pode ser verdadeiro no nível do inconsciente, porém o nível do in-inconsciente é fundamentalmente impossível de revelar. Ambos estão ocultos, porém o último é chamado “ocultação sem substância,” ou “o incinsciente indefinido.”

Um exemplo dos dois é a diferença entre um carvão quente e uma pedra de isqueiro. O fogo no carvão está oculto, mas existe dentro do carvão. Tudo que você precisa fazer é abanar o carvão e a chama vai surgir. Numa pedra de isqueiro o fogo físico não existe. Porém, esfregando-a com força, você consegue liberar sua centelha.

Estas três dimensões ­ o consciente e os dois níveis do inconsciente ­ estão incorporados na diferença entre pão, vinho e azeite: pão, alimento convencional, manifesta as faculdades reveladas. O vinho, oculto nas uvas, reflete o inconsciente ­ que é revelado até por uma leve pressão sobre as uvas. O azeite de oliva representa o in-inconsciente, que está muito mais oculto na azeitona e portanto exige muito mais pressão para liberar, que o vinho na uva. Nas palavras do Zohar: o vinho é o nível dos “segredos” (um segredo que pode ser revelado); o azeite é o nível do “segredo dos segredos” tão secreto que está oculto até dos segredos, e é fundamentalmente secreto e indefinível.

O azeite em si também tem duas dimensões: uma que interage com o estado inconsciente do “vinho”, e causa algum impacto sobre o inconsciente. Um nivel mais elevado ­ o azeite essencial, o inconsciente que permanece destacado e acima de todos os níveis sobre os quais repousa. Estas duas dimensões são expressas no paradoxo óbvio do azeite: por um lado, o azeite satura tudo aquilo com que entra em contato. Por outro lado, sobe e permanece acima de qualquer líquido com que entra em contato.

Rabi Dovber explica que as duas opiniões de Rabi Yochanan ben Nuri e dos Rabinos, se o azeite é conectado ou desconectado ao vinho por baixo dele, refletem as duas dimensões do azeite: Rabi Yochanan fala sobre a dimensão do “azeite” que entra em contato e afeta o “vinho”. Os Rabinos discutem o “azeite” essencial, que sempre permanece desconetado do “vinho”.

A Verdadeira História de Chanucá
Agora podemos entender por que o azeite desempenha um papel tão importante na experiência de Chanucá: o azeite representa a conexão suprema, essencial, da alma com o Divino, que é incorruptível e intocado por qualquer impureza. Ele sobe e flutua acima de toda a existência.

Portanto, tem o poder de transcender a escuridão ­ o desafio materialista dos gregos, sua profanação do Templo Sagrado e do azeite sagrado. Como “naqueles dias” também hoje, “nesta época”: Até quando nossas faculdades conscientes e inconscientes possam estar temporariamente comprometidas, uma ânfora de “puro zeite” sempre permanece, e é como uma “chama-piloto” que nos dá o poder de reacender o inconsciente e o consciente que possa ter se extinguido (ou estar oculto) por algum tempo.

É reconfortante saber que apesar de toda a escuridão ao nosso redor, dos sofrimentos e perdas, da noite escura e das ruas hostis ­ uma chama calma, pequena, permanece acesa, intocada...

E a luz que emerge das trevas é a mais forte de todas. Como escreve o Rambam (início da Parashat Behaalotechá), que “estas chamas jamais serão extintas” (ao contrário da Menorá do Templo que deixou de brilhar após a destruição do Templo). Luz que prevalece após ser desafiada pela escuridão demonstra ser uma luz que jamais pode morrer.

Chanucá é a celebração do azeite ­ o azeite interior que permanece dentro de nossa alma ­ puro e inocente, intocado e não conspurcado por todas as experiências da vida, mesmo as mais difíceis. O azeite puro de sua alma flutua, carrega seu segredo mais secreto ­ a parte de você que transcende todas as formas de expressão. O verdadeiro você.

Em todos os oito dias de Chanucá, estas luzes são secretas, e não temos permissão de fazer uso delas ­somente contemplá-las, a fim de agradecer e louvar Teu Grande Nome por Teus milagres, por Tuas maravilhas e por Tua salvação.

“Não podemos fazer uso delas” ­ porque elas estão além, e permanecem intocadas pelas necessidades humanas, até as nossas. Porém temos permissão de olhar para elas…

Chanucá conta o segredo dos segredos de sua alma. É reconfortante saber que apesar de toda a escuridão ao nosso redor, apesar dos sofrimentos e perdas que passamos, apesar da noite escura e das ruas hostis ­ uma chama calma, pequena, permanece acesa, intocada, não revelada ­ pairando acima, mal tocando, porém firmemente em contato com nossa vida cotidiana.

Esta pode ser a mensagem mais poderosa que jamais chegaremos a ouvir: nossa alma tem um segredo. Um segredo dos segredos. Nada, absolutamente nada, pode tocá-lo, nem diminuir ou ferir o azeite secreto de nossa alma. Em Chanucá o segredo de sua alma é revelado, temos o poder de tocar o intocável, ou ainda melhor; de sermos tocados pelo intocável.

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