Todas as Discussões Marcadas 'Cultura' - JUDAISMO HUMANISTA2024-03-28T10:56:06Zhttps://judaismohumanista.ning.com/group/cantodospoetasesonhadores/forum/topic/listForTag?tag=Cultura&feed=yes&xn_auth=noIsrael - Cultura e Literatura - MFA.tag:judaismohumanista.ning.com,2012-02-28:3531236:Topic:668922012-02-28T06:30:28.075ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Israel é fonte de inspiração para os poetas e escritores do país. Sendo uma nação em desenvolvimento, forjada sobre as bases de antiga tradição, o país vive num intrincado de complexas relações sociais. As mudanças foram rápidas e intensas: o período pioneiro, a guerra da independência, a construção do estado, as guerras e a imigração em massa de vários pontos do globo. <br></br> Cada novo período, cada mudança social, traz novos desafios, criando uma dinâmica de inquietação constante. Esses…</p>
<p>Israel é fonte de inspiração para os poetas e escritores do país. Sendo uma nação em desenvolvimento, forjada sobre as bases de antiga tradição, o país vive num intrincado de complexas relações sociais. As mudanças foram rápidas e intensas: o período pioneiro, a guerra da independência, a construção do estado, as guerras e a imigração em massa de vários pontos do globo. <br/> Cada novo período, cada mudança social, traz novos desafios, criando uma dinâmica de inquietação constante. Esses componentes, isoladamente ou combinados, são farto material para a produção literária. A poesia e a prosa se nutrem de temas, imagens e de uma enorme riqueza de expressão, tanto da Bíblia quanto de outra fontes judaicas (como a Mishná, o Talmud e a Cabala) e das tradições do povo judeu na Diáspora, assim como da linguagem e ritmo quotidianos.</p>
<p>O Renascimento da Língua Hebraica</p>
<p>O hebraico é o idioma de Israel. Embora tenha deixado de ser uma língua falada cerca de 200 E.C., ele continuou, através dos séculos, a ser usado pelos judeus como "língua sagrada", na liturgia, filosofia e literatura. No final do século XIX ele se transformou em veículo cultural moderno, tornando-se um fator vital do movimento de renascimento nacional que culminou no sionismo político. A administração do Mandato Britânico reconheceu o hebraico como idioma nacional, ao lado do inglês e do árabe, e ele se tornou o idioma das instituições judaicas e de seu sistema educacional. A imprensa e a literatura hebraicas floresceram, com novas gerações de escritores e leitores; hoje, o hebraico é uma língua viva, rica e vibrante. Seu vocabulário, que constava de cerca de 8.000 palavras nos tempos bíblicos, se expandiu para mais de 120.000. Seu desenvolvimento lingüístico e formal é orientado pela Academia da Língua Hebraica, fundada em 1953.</p>
<p>Eliezer Ben-Yehuda (1858-1922) foi o iniciador do movimento pelo renascimento da língua hebraica como idioma falado. Tendo imigrado à Terra de Israel em 1881, ele foi o pioneiro no uso do hebraico no lar e na escola, criou milhares de novas palavras, fundou dois periódicos em hebraico, foi co-fundador do Comitê da Língua Hebraica (1890) e compilou vários dos 17 volumes do Dicionário Completo do Hebraico Antigo e Moderno, iniciado em 1910 e concluído por sua segunda esposa e seu filho em 1959.</p>
<p>Prosa<br/> Os primeiros a escreveram prosa hebraica moderna na Terra de Israel foram escritores imigrantes. Embora tendo as raízes no mundo judaico da Europa Oriental e suas tradições, suas obras tratavam sobretudo das conquistas na nova terra, que tinham vindo "construir e ser por ela construídos". Yossef Chaim Brenner (1881-1921) e Shmuel Yossef Agnon (1889-1970), que deram impulso à prosa hebraica no início do século XX, são considerados por muitos os pais da literatura hebraica moderna, embora não tenham atuado sozinhos nem fora do seu contexto histórico.</p>
<p>Brener, dividido entre a esperança e o desespero, lutava com suas próprias dúvidas no tocante às dificuldades do empreendimento sionista na Terra de Israel e o baixo nível espiritual de certos setores do Yishuv (nome dado à comunidade judaica da Palestina - a Terra de Israel - antes do estabelecimento do estado). Ele via defeitos em tudo e temia o futuro desenvolvimento das relações entre as populações árabe e judaica. Em seu intento de captar a realidade, ele preferia as formas rabínicas e medievais do hebraico, criando novas expressões e empregando uma sintaxe audaz para produzir o efeito do discurso vivo. Um dos elementos centrais da obra de Brenner é sua identificação tanto com o esforço físico dos pioneiros numa terra árida e áspera, tão diferente dos países europeus onde tinham nascido, como com a outra luta, não menos difícil, a de forjar uma identidade judaica na Terra de Israel.</p>
<p>Agnon preferiu usar em sua obra formas hebraicas mais modernas. Sua familiaridade com a tradição judaica, somada à influência da literatura européia do século XIX e início do século XX, foi a base para a criação de um mundo de ficção que trata dos principais temas espirituais contemporâneos: a desintegração dos modos de vida tradicionais, a perda da fé e a subseqüente perda de identidade. Sendo judeu ortodoxo e escritor dotado de profunda intuição e acuidade psicológica, Agnon revela afinidade com os lados sombrios e irracionais da psique humana, podendo se identificar com as incertezas íntimas dos judeus, tanto crentes como não-crentes. A realidade, tal como Agnon a descreve, transcorre num ambiente trágico, às vezes grotesco; sua obra é amplamente influenciada pela guerra e pelo Holocausto, e o mundo dos judeus religiosos se revela em todas as suas paixões e tensões. Em 1966, Agnon foi laureado, juntamente com Nelly Sachs, com o Prêmio Nobel de Literatura, o primeiro conferido a um escritor israelense.</p>
<p>Os primeiros escritores nascidos no país começaram a publicar nos anos 40 e 50; são conhecidos como "a geração da Guerra da Independência". Seus trabalhos refletem uma nova mentalidade e experiência cultural, diferentes das de seus predecessores, sobretudo porque o hebraico era sua língua materna e toda sua experiência de vida estava enraizada na Terra de Israel. Escritores como S. Yizhar, Moshe Shamir, Chanoch Bartov, Chaim Guri e Biniamin Tammuz vacilam dramaticamente entre o individualismo e o comprometimento para com a sociedade e o estado, oferecendo um modelo de realismo social, muitas vezes heróico, marcado por uma fusão de influências locais e internacionais.</p>
<p>No início da década de 60, um grupo de jovens e influentes escritores, como A.B. Yehoshua, Amos Oz, Yoram Kaniuk e Yaakov Shabtai, passaram a explorar novas abordagens da prosa hebraica, rompendo com os padrões ideológicos e focalizando o mundo individual. Durante as duas décadas seguintes, manifestaram-se novas tendências, tais como a experimentação de formas narrativas e de vários estilos de prosa, inclusive o realismo psicológico, a alegoria e o simbolismo, assim como especulação e ceticismo a respeito das convenções políticas e sociais.</p>
<p>Desde o início da década de 80, e durante os anos 90, observa-se uma intensa atividade literária, e o número de livros publicados aumentou de forma notável. Vários autores israelenses, como Oz, Yehoshua, Kaniuk, Aharon Appelfeld, David Shahar, David Grossman e Meir Shalev, granjearam fama internacional. A crença de que a literatura capacita os leitores a uma melhor compreensão de si mesmos, individualmente ou como parte do meio ambiente, caracteriza a prosa deste período, escrita por três gerações de escritores.</p>
<p>As constantes e renovadas tentativas de abordagem da tragédia do Holocausto europeu resultaram na elaboração de novos modos de expressão, para tratar de questões fundamentais que só podem ser discutidas dentro da perspectiva do tempo e do espaço, integrando distanciamento e envolvimento (Appefeld, Grossman, Yehoshua Kenaz, Alexander e Yonat Sened, Nava Semel e outros).</p>
<p>Alguns temas até então inéditos têm sido abordados, tais como o ambiente da aldeia árabe (Anton Shammas, escritor árabe-cristão), o mundo dos judeus ultra-ortodoxos que se mantêm deliberadamente segregados da sociedade moderna (Yossl Birstein), o modo de vida nas comunidades chassídicas de Jerusalém (Chaim Beer) e as tentativas de abordagem da existência do indivíduo sem fé numa época em que as ideologias seculares entraram em colapso e o fundamentalismo religioso vai ganhando cada vez mais força (Yitzhak Auerbach-Orpaz). Outro tema importante, abordado sobretudo por escritores de origem sefaradita (como Sami Michael, Albert Suissa, Dan Banaya-Seri) é o lugar ocupado na sociedade israelense por imigrantes que se sentem alienados, provenientes de países árabes. Outros autores exploram temas universais, como a democracia e a justiça, vistas no contexto de uma sociedade que está constantemente enfrentando desafios em quase todas as áreas da vida nacional (Yitzhak Ben Ner, Kaniuk, Grossman, Oz).</p>
<p>International Poets Festival, Jerusalem Poesia<br/> A poesia hebraica vem sendo escrita, virtualmente sem interrupção, desde os tempos bíblicos, incorporando influências externas e tradições internas. A poesia do passado, que inclui temas religiosos e nacionais, exprime também motivos da experiência pessoal, os quais são predominantes na poesia contemporânea. A ruptura com a expressão poética tradicional ocorreu durante o período do iluminismo judaico na Europa (1781-1881), quando os judeus passaram a reivindicar plena cidadania e a secularização da vida judaica; e prosseguiu no final do século XIX, quando o sionismo, movimento pela restauração da vida nacional judaica na Terra de Israel, começou a ganhar importância. Os principais poetas deste período foram Chaim Nachman Bialik (1873-1934) e Saul Tchernichovsky (1875-1943); ambos imigraram à Palestina no início do século XX.</p>
<p>A obra de Bialik, que reflete seu comprometimento à idéia do renascimento nacional e rejeita a viabilidade da vida judaica na Europa Oriental, inclui longos poemas épicos sobre acontecimentos da história judaica, mas também poesia lírica cujos temas são o amor e a natureza. Bialik, alcunhado "o poeta nacional" ou "o poeta do renascimento hebraico", forjou uma nova linguagem poética, libertando-se da excessiva influência bíblica de seus predecessores, mas mantendo a estrutura clássica e a clareza de expressão em seus versos ricos e eruditos. Seus poemas são memorizados por gerações inteiras de alunos israelenses.</p>
<p>A poesia de Tchernichovsky abrange tanto poemas líricos quanto épicos, baladas e alegorias. Ele buscava retificar o mundo judaico, incutindo um espírito de orgulho e dignidade pessoais, assim como uma conscientização mais profunda da natureza e da beleza. Sua linguagem demonstra afinidade com o hebraico rabínico, e é diferente do vocabulário de Bialik que integra a influência bíblica com a linguagem coloquial em formação. Bialik e Tchernichovsky representam a transição do antigo para o moderno na poesia hebraica.</p>
<p>Avraham Shlonsky, Natan Alterman, Lea Goldberg e Uri Zvi Greenberg são os principais representantes da segunda geração de poetas, e a dos anos anteriores ao estabelecimento do estado e imediatamente depois.</p>
<p>Shlonsky utilizava torrentes de imagens e invenções lingüísticas, tanto em suas obras poéticas como em suas prolíficas traduções dos clássicos da poesia, sobretudo russa. Os trabalhos de Alterman, muitos dos quais se destacam por seu caráter político, acompanham todos os estágios do desenvolvimento da comunidade judaica e se caracterizam pela riqueza de linguagem e variedade de formas, tonalidade e ritmo das imagens e metáforas. Goldberg ampliou o espectro do lirismo em poemas que falam da cidade, da natureza e do ser humano em busca de amor, contato e atenção. Greenberg, em sua poesia cheia de desespero e ira, usava imagens violentas e estilo poderoso, abordando sobretudo temas nacionalistas e o impacto do Holocausto. Este grupo de poetas foi o primeiro a introduzir o ritmo do hebraico coloquial quotidiano na poesia. Eles fizeram renascer velhas expressões e cunharam outras novas, dando ao idioma milenário uma nova flexibilidade e riqueza.</p>
<p>A poesia deste período, fortemente influenciada pelo futurismo e simbolismo russos, assim como pelo expressionismo alemão, tendia para uma estrutura e melodia clássicas, com rimas ordenadas. Refletia imagens e paisagens do país onde o poeta nascera e visões mais recentes da nova pátria, em tom heróico; memórias de "lá" e o desejo de aprofundar raízes "aqui", que exprimiam, conforme escreveu Lea Goldberg, "a dor de duas pátrias". Muitos destes poemas deram origens a canções e tornaram-se parte integrante do novo folclore nacional.</p>
<p>A primeira poetisa importante em hebraico foi Rachel Bluwstein (1890-1931), conhecida simplesmente como "Rachel". Sua obra estabeleceu as bases normativas da poesia hebraica feminina, assim como as expectativas do público em relação a ela. Suas frases curtas, de um lirismo emocional, sua falta de pretensão intelectual e seu estilo pessoal predominam, como se constata na maior parte dos trabalhos de suas contemporâneas e de poetisas posteriores, como Dalia Ravikovitch e Maya Bejerano.</p>
<p>Em meados dos anos 50, emergiu um novo grupo de jovens poetas, cuja língua materna já era o hebraico; entre eles destacam-se Yehuda Amichai, Natan Zach, Dan Pagis, T. Carmi e David Avidan. Suas obras tendem a uma certa moderação, retraindo-se de modo geral das experiências coletivas, observando livremente a realidade e usando estilo coloquial. Além disso, estes autores substituiram as influências poéticas de Pushkin e Schiller pelos autores inglêses e norte-americanos modernos. Os trabalhos de Amichai, muitos dos quais traduzidos para outras línguas, caracterizam-se pelo uso da linguagem do dia-a-dia, a ironia e metáforas metafísicas; estas se tornaram os rasgos característicos de boa parte da poesia escrita por seus contemporâneos mais jovens, os quais proclamaram o fim da poesia ideológica, rompendo completamente com a tradição de Alterman e Shlonsky, de estruturas clássicas e métrica ordenada. A obra de Zach extrai novas qualidades musicais, quase litúrgicas, do hebraico falado todos os dias.</p>
<p>O campo da poesia hebraica contemporânea é uma polifonia reunindo várias gerações, poetas na faixa dos vinte anos com outros de idade madura. Entre os representantes deste último grupo encontra-se Meir Wieselthier, cujo estilo prosaico e direto, que utiliza gíria, repudia todo romantismo e eleva a imagem de Tel Aviv a um símbolo da realidade; Yair Horowitz, cujos versos contritos expressam a suave tristeza do homem consciente da própria mortalidade; e Iona Wallach, que se apresenta em termos sarcásticos e coloquiais, usando motivos arquétipos, simbolismo freudiano, às vezes de brutal sensualidade, repetições rítmicas e longas cadeias de associações. Asher Reich, Arieh Sivan, Ronny Somak e Moshe Dor são outros nomes importantes da poesia contemporânea.</p>
<p>A poesia da geração mais jovem é dominada pelo individualismo e a perpleidades, preferindo poemas curtos num estilo familiar, em ritmo livre e sem rimas. A poesia israelense tem um grande público de leitores fiéis, e algumas edições de poemas, de todos os períodos, atingem tiragens semelhantes às de países ocidentais muito mais populosos.</p>
<p>O Instituto para a Tradução da Literatura Hebraica foi criado em 1962 para familiarizar leitores e editores estrangeiros com a produção hebraica contemporânea. Centenas de obras de ficção, poesia, drama e literatura infantil já foram publicadas sob os auspícios do Instituto, em cerca de 40 línguas - desde o alemão e o galês até hindi e chinês. As atividades do Instituto incluem a publicação de antologias, a organização de conferências de tradutores e a participação em feiras internacionais de livros. Os dados computorizados do Instituto e as bibliografias anuais de literatura hebraica traduzida são uma fonte de informação para pesquisadores de todo o mundo. Outra atividade do Instituto é a publicação semestral em inglês da revista Literatura Hebraica Moderna.</p>
<p>Literatura Infantil<br/> A literatura infantil, que inclui obras originais e traduções de clássicos estrangeiros, apresenta uma grande variedade de temas e estilos, refletindo a tendência mundial para uma abordagem mais direta e sofisticada tanto da linguagem quanto do conteúdo intelectual dos textos escritos para as crianças.</p>
<p>Durante a primeira década do estado, a maioria dos livros infantis em hebraico focalizavam os valores predominantes da época, como pioneirismo, luta e realização, enfatizando o comprometimento individual pela construção do país. Eram repletos de slogans e de admiração pelos heróis, e a perspectiva nacional ocupava o lugar central. Os autores usavam o pronome "nós" muito mais do que o "eu".</p>
<p>A partir do final da década de 60, a literatura infantil foi gradualmente substituindo a transmissão dos valores adultos pelo mundo das próprias crianças, abordando temas como a morte, divórcio, famílias mono-parentais, deficiências, adolescência e a luta de cada um para conseguir um lugar na família e na sociedade. Ao mesmo tempo, foram escritos muitos livros de histórias repletos de imaginação, oferecendo aos jovens leitores pura fantasia, distração e devaneio.</p>
<p>A liberdade de pensamento e a procura da verdade tornaram-se elementos básicos da literatura infantil contemporânea. Embora temas de significado social e nacional ainda sejam importantes, eles são expostos agora com maior sinceridade e abertura. Alguns dos livros atuais procuram abolir os estereótipos existentes na sociedade israelense tão diversificada, abordando os problemas ligados à imigração de judeus de várias partes do mundo, enquanto outros descrevem fatos históricos e biografias de figuras proeminentes que contribuíram ao desenvolvimento do país neste século, a partir do renascimento da vida judaica na Terra de Israel.</p>
<p>Com o passar dos anos, formou-se um grande acervo de literatura infantil para os vários grupos etários. Eles se distinguem pelo planejamento visual apurado, por sua sensibilidade psicológica e pelo expressivo e pitoresco uso da linguagem, permitindo ao jovem leitor se identificar dinamicamente com os temas de sua leitura. Muitos dos livros infantis de Israel têm sido traduzidos para vários idiomas e publicados em todo o mundo.</p>
<p><a href="http://www.mfa.gov.il/MFAPR/Facts%20About%20Israel/CULTURA-%20Literatura">http://www.mfa.gov.il/MFAPR/Facts%20About%20Israel/CULTURA-%20Literatura</a></p> A poesia hebraica moderna - Jane Bichmacher de Glasmantag:judaismohumanista.ning.com,2011-02-26:3531236:Topic:275282011-02-26T21:12:55.034ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
A poesia hebraica moderna - Jane Bichmacher de Glasman<br />
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A moderna literatura hebraica não nasceu em Israel, mas teve início com a Haskalá, o Iluminismo judaico, em diversos países da Europa, principalmente Rússia e Polônia. O renascimento formal da poesia foi marcado pelo jornal Ha-Meassêf (O colecionador, 1783-1829, com diversas interrupções, fundado em Königsberg, Alemanha), editado pelo círculo de Ilustrados de Mendelssohn, para o qual inúmeros poetas colaboraram com versos sobre temas…
A poesia hebraica moderna - Jane Bichmacher de Glasman<br />
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A moderna literatura hebraica não nasceu em Israel, mas teve início com a Haskalá, o Iluminismo judaico, em diversos países da Europa, principalmente Rússia e Polônia. O renascimento formal da poesia foi marcado pelo jornal Ha-Meassêf (O colecionador, 1783-1829, com diversas interrupções, fundado em Königsberg, Alemanha), editado pelo círculo de Ilustrados de Mendelssohn, para o qual inúmeros poetas colaboraram com versos sobre temas leigos.<br />
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Os escritores carregavam, por um lado, uma formação judaica tradicional e, por outro, influências do pensamento europeu. Do confronto destes mundos de idéias foram escritas suas obras, mesclando judaísmo religioso e laico, além de concepções judaicas e não judaicas.<br />
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Muitos falam no “milagre do renascimento” do hebraico, mas o verdadeiro milagre não foi o seu renascimento e, sim, sua imortalidade durante um período tão grande. Durante a Diáspora, iniciada após a destruição do Segundo Templo, continuou-se criando literatura em hebraico, mantendo viva a língua escrita. No final do século XIX, ela voltou a ser falada como um idioma cotidiano, transformando-se no novo lar lingüístico judaico.<br />
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No início, a criação literária moderna em hebraico foi principalmente poética, impregnada pela Bíblia e pelo Talmud, trazendo influências do iídiche, da poesia laica da Idade Média e da linguagem cabalística, além de inspiração da história e da literatura mais recente.<br />
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Vendo nas palavras um reflexo do destino do homem, constata-se que ocorreu um milagre com o povo judeu: graças à força que as palavras encerram, foram-lhe devolvidos seu destino e sua terra. Foi com o vigor da fé no significado das palavras que lhe foi possível criar a realidade de sua vida. “Este é um dos casos raros na história humana em que as próprias palavras produziram história” (Ben Zion Tomer, prefácio da Antologia Poesia e Prosa de Israel, organizada por Cecília Meireles, 1968).<br />
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Após a Primeira Guerra Mundial, o principal centro da cultura hebraica, no Império Czarista, sofreu uma fragmentação geográfica e política, sendo o hebraico e sua cultura oficialmente banidos da União Soviética comunista. Já na primeira década do século XX, foram criados, paralelamente ao centro russo da literatura hebraica, outros centros, no Leste europeu, nos Estados Unidos e na Palestina, hoje Israel.<br />
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Devido ao processo histórico-social do judaísmo moderno, que percebeu nas correntes do sionismo as possibilidades de uma subsistência cultural e nacional, o centro da literatura hebraica deslocou-se, desde o início do século XX, para Israel, tornando-se mais evidente depois de 1918, não apenas porque os principais autores hebreus emigraram para lá, devido a suas ideologias pessoais e às circunstâncias políticas reinantes na Europa, mas também porque a comunidade judaica local passou a desempenhar um papel cada vez mais importante na vida dos judeus da Diáspora.<br />
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“Renovar-se ou perecer era o dilema irrecusável. A escolha efetuou-se através de uma minoria consciente e organizada que, encarnando as forças vivas do povo e as idéias, forças de sua história, fez-se agente de seu destino. Compreendendo este renovar-se como um esforço individual e coletivo de auto-reconstrução, dirigiu-se para o polo milenar da vida judaica, o ponto mais carregado de tradições e esperanças nacionais e, portanto, o mais apto a suscitar a utopia e a praxis, a visão e a ação, o idealismo romântico que pode levar a todos os sacrifícios e o realismo pragmático que não subestima a menor dificuldade, indispensáveis ao êxito da tentativa. Criou-se, assim, a síntese de vontades que forjou as novas bases de sobrevivência do povo judeu”. “Foi com esta missão que grande parte de seus escritores emigrou para a Terra Santa e participou literal e literariamente do trabalho de restauração” (J. Guinsburg, Nova e velha pátria, 1966).<br />
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A literatura hebraica contemporânea colheu ecos de seu desenrolar e repercutiu as vozes de seus promotores, com forte vibração social. O pioneirismo foi um dos movimentos que, ao lado das correntes estéticas modernistas, marcou o espírito e as tendências da literatura hebraica na Palestina, principalmente na década de 20. Na temática do halutz, do jovem pioneiro que através do labor pessoal e da disposição para o sacrifício realizava a construção redentora do povo, inspirou-se vasta produção poética. Convém esclarecer que nem todos os de sua época podiam ser classificados como halutzim .<br />
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Sente-se nos poemas da geração dos pioneiros o entusiasmo do homem que descobre uma vida nova, paisagens novas, que procura traduzir em sua obra poética este reencontro com uma terra desértica e seu amor por ela; mas revela-se, também, a nostalgia de sua infância no leste europeu, ecos da linguagem bíblica, bem como influências da poesia européia contemporânea, integradas no que o homem judeu tinha de mais específico nele. Ainda que o mundo particular da maioria dos poetas estivesse dividido entre lembranças da infância e da juventude “lá” e as experiências do presente, desejavam aprofundar raízes “aqui”: “a dor de duas terras natais”, como chamado posteriormente por Léa Goldberg (Reuven Kritz, "Hebrew poetry in our generation", in Modern hebrew literature, New Series, nº 1, 1988).<br />
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A poesia hebraica moderna teve seu início com Hayim Nahman Bialik (Ucrânia, 1873-1934, Palestina) e Shaul Tchernihovsky (Rússia, 1875-1943, Palestina), os principais autores do período conhecido como do “Renascimento”. Bialik trouxe para a poesia hebraica a voz do homem concreto, que faz ouvir os seus versos em circunstâncias definidas de vida sobre um pano de fundo de um passado biográfico, a partir de um espaço interior pessoal, com limites precisos. Antes dele, a poesia hebraica estava imersa numa esfera neoclássica tardia e num sentimentalismo global. Bialik descobriu um eu poético que, ao mesmo tempo, serve de símbolo e está enraizado na realidade consciente e biográfica única. A partir do núcleo da existência pessoal, era possível desenvolver um diálogo com o que se encontra além do eu: com a natureza, com o povo judeu, sua história e sua cultura e, até, um diálogo tenso com Deus. Se Bialik trouxe para a poesia a interioridade do homem, descrita por Kant, Tchernihovsky trouxe a concepção do homem como parte minúscula do cosmo, sujeito às suas leis, influenciado por Goethe, e por Nietzsche, em seu modelo romântico. Bialik era um lírico e Tchernihovsky conferiu à poesia um caráter épico, principalmente em seus idílios. Esses contrastes enriqueceram a poesia hebraica, não criando territórios poéticos separados nem impondo aos poetas jovens, influenciados pelos dois, que escolhessem um ou outro.<br />
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O período entre as duas guerras mundiais, quando o núcleo da Palestina se revitalizou, gradualmente tornando-se o centro desta nova literatura, marcou o fim do policentrismo na literatura hebraica. Ela deixou de ser exclusividade de um círculo de estudiosos e filósofos para transformar-se na literatura de um povo enraizado em sua própria terra.<br />
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Na década de 1920 e início da de 30, foi substituído todo o sistema fonético da língua hebraica. A acentuação das palavras e a pronúncia das consoantes e vogais modificaram-se totalmente; o hebraico passou da pronúncia ashkenazita do leste europeu para um hebraico sefardita, o que representou uma crise de natureza especial que nenhuma outra poesia moderna precisou enfrentar.<br />
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Por volta dos anos 30, a transformação do hebraico em língua viva estava completa. Em Israel havia milhares de leitores, muitas livrarias e bibliotecas públicas, estabelecimentos literários com periódicos, editores, críticos, união, oposição, prêmios e cafés literários. Sem suporte governamental, a Histadrut (Central Trabalhista) auxiliou no estudo da literatura nas escolas, provendo os escritores com trabalho e leitores, com a criação do Jornal Davar (Palavra) e da Editora Am Oved (Povo Trabalhador), por exemplo.<br />
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Em geral, existiam mais poetas do que escritores de ficção e prosa nas revistas, escolas e noites culturais. Um teatro satírico cresceu. A poesia tinha papel importante na vida cotidiana. O público gostava de cantar e os poetas e compositores cooperavam, produzindo músicas sobre a pavimentação das estradas, a construção de casas, a sentinela, os feriados judaicos, os pioneiros na Galiléia e no Néguev, além, obviamente, das temáticas pessoais. O sucesso popular desta poesia pode também ser visto nas antologias que se esgotavam após sua publicação.<br />
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Com Bialik e Tchernihovsky, a poesia hebraica fora assentada no solo do romantismo. A cultura hebraica que foi criada e funcionava dentro de um sistema de renascimento nacional, necessitava do romantismo e apegava-se a ele. Mas ela não ignorou a disposição do espírito da época e foi vulnerável às influências que solaparam o lugar dos valores básicos românticos, como a do decadentismo europeu, que criou na poesia uma luta entre o espírito do renascimento e a irrupção de forças de juventude no espírito de fenecimento, lassidão e cinismo, ou a influência do simbolismo russo e do neo-romantismo alemão, que levou à contestação do apego da poesia ao concreto, ao rompimento da ligação entre o eu e a natureza.<br />
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Logo após a Primeira Guerra Mundial, penetraram na poesia as correntes poéticas pós-simbolistas modernas: o expressionismo, o imaginismo russo, o futurismo e, com certo atraso, o imagismo anglo-americano. Essa irrupção não levou à anulação imediata das disposições de espírito poéticas anteriores, românticas, simbolistas e impressionistas. Assim, criou-se no espaço da poesia hebraica um torvelinho de estilos e combinações que conduziu, de um lado, a uma multiplicidade de matizes e a uma riqueza incomum e, de outro, a divergências, a uma guerra de gerações, a passagens drásticas e surpreendentes no desenvolvimento individual de muitos poetas, que trocaram de poética ou de estilo. Durante as décadas de 20 e 30, foram criadas em hebraico poesias com as quais seria possível montar uma antologia que refletiria o desenvolvimento dos gostos da poesia européia desde o final do século XIX.<br />
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Na década de 20, o modernismo apegou-se a modelos pós-simbolistas, combinando com as experiências do ‘abalo apocalíptico’, sofrido pelos judeus e pela humanidade no período da guerra, e o impulso do empreendimento sionista no futuro território de Israel, com a Declaração Balfour e a entrega do Mandato à Grã-Bretanha, pela Liga das Nações (que poderia concretizar a Declaração, no estabelecimento de um ‘lar nacional’ para os judeus).<br />
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Dentre os fatores que possibilitam uma descrição do desenvolvimento da poesia hebraica moderna, Miron (1997) destaca a vinculação básica da poesia ao sionismo; a abertura da poesia do início do século às variadas fontes de influência e sua ligação com numerosos modelos poéticos; o fato de a poesia, como toda a nova literatura hebraica, ter-se baseado no desenvolvimento da cultura da Europa e de suas literaturas, desde o humanismo e o neoclassicismo; a contribuição dos grandes artistas que, com as várias tendências e modelos em suas obras, influenciaram tanto os membros de sua geração, como os da mais jovem. Mesmo os que se rebelaram referiam-se ao modelo, na sua autodefinição, gerando uma continuidade dialética para a história da poesia.<br />
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A predominância poética tornou-se gradualmente modernista e neo-simbolista. Os poetas jovens, da primeira década do século XX, praticamente eram discípulos fiéis de Bialik e de Tchernihovsky.<br />
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“Seu apego aos modelos da poesia de seus mestres, especialmente aos dos poemas de Bialik, que os poetas, consciente ou inconscientemente, citavam, era tão íntimo que todo desvio deles, mesmo o mínimo, parecia tanto ao público da época quanto a alguns leitores e críticos posteriores um sinal de distanciamento inovador” (Dan Miron, "A poesia hebraica de Bialik aos nossos dias", introdução de Poesia Sempre, ano 5, nº 8, 1997).<br />
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O sistema poético do período anterior conservou-se e estabeleceu o tom da poesia e as suas linhas temáticas: uma fé romântica no eu e na força redentora da imaginação poética, a crença no renascimento do povo de Israel, o ativismo, a natureza e Eros. As características permaneceram vinculadas à fórmula bialikiana, com uma musicalidade baseada em métrica e rima rica ou num ritmo livre, sem métrica, enquanto a poesia desenvolveu-se de modo harmônico, em torno de um modelo rítmico central, numa linguagem hebraica rica, plena de alusões e citações das fontes clássicas, especialmente a Bíblia, não subordinada aos contextos originais das citações, mas fazendo deles um uso livre e renovado. Essa linguagem refletia o caráter nacional judaico da poesia, suas ligações com o passado cultural e a consciência da necessidade de uma revolução na vida nacional, imprescindível ao renascimento sionista.<br />
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Para Comey, desde Bialik encontramos poetas que merecem figurar entre os mais destacados no mundo e integrar uma antologia de poesia universal; pela poesia hebraica contemporânea desfilaram todas as escolas literárias e todas as tendências. A poesia anterior à criação do Estado foi escrita por poetas que conheciam a poesia mundial, cuja influência permite entendê-los melhor. Mas, escrevendo em hebraico, não só traduziam motivos da literatura universal para ele, como ao que há de intraduzível na sua experiência vital: o reencontro da velha língua com uma situação nova. O leitor de qualquer idioma encontra muitas semelhanças e familiaridades literárias com o seu próprio, pois em todo lugar o homem vive essencialmente os mesmos problemas e necessita sublimar-se por meios poéticos. Poesia em grego significa criação; assim, lida com o divino, com o paradigma do primeiro dia da Criação.<br />
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Partimos do pressuposto de que o importante no estilo lírico não são as conexões lógicas. A comunicação entre leitor e poema não exige a compreensão textual em primeiro plano. O leitor, primeiro, emociona-se, para depois entender. Por isto, Staiger afirma que, para a insinuação ser eficaz, o leitor precisa estar indefeso, receptivo. E isso acontece quando a alma do leitor está afinada com a do poeta. Ou como dizia Cecília Meireles, aliás uma apreciadora e tradutora de poesia hebraica: “a poesia, além de outras virtudes, possui a de tornar as criaturas compreensíveis umas às outras, na sua íntima verdade, que é a verdade do espírito. Compreender é de certo modo amar” (Cecília Meireles, Poesia de Israel, 1962).<br />
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Jane Bichmacher de Glasman é escritora, doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica pela USP, sendo também professora adjunta na UERJ. É fundadora do Programa de Estudos Judaicos na mesma universidade. Publicou os livros À luz da Menorá: introdução à cultura judaica e Interseções: relações entre judaísmo e outras culturas e religiões na Antigüidade.