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2024-03-28T09:41:11Z
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RAZÃO DO CORAÇÃO E O CORAÇÃO DA RAZÃO(Blaise Pascal e o Pensamento Complexo) Humberto Mariotti
tag:judaismohumanista.ning.com,2014-03-04:3531236:Topic:94933
2014-03-04T13:53:41.087Z
Jayme Fucs Bar
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<p>Formam-se a mente e o sentimento pelas conversações; corrompem-se a mente e o pensamento pelas conversações.<br></br> (Blaise Pascal)</p>
<p>Introdução<br></br> Em continuação ao que escrevi sobre Espinosa1, o propósito deste ensaio é mostrar a influência do pensador francês Blaise Pascal sobre as idéias de Edgar Morin, também francês. Hoje, pode-se afirmar que Morin é o fundador do que proponho denominar de Escola Latina (Europa e América) do pensamento complexo. Trata-se de um vasto painel de…</p>
<p>Formam-se a mente e o sentimento pelas conversações; corrompem-se a mente e o pensamento pelas conversações.<br/> (Blaise Pascal)</p>
<p>Introdução<br/> Em continuação ao que escrevi sobre Espinosa1, o propósito deste ensaio é mostrar a influência do pensador francês Blaise Pascal sobre as idéias de Edgar Morin, também francês. Hoje, pode-se afirmar que Morin é o fundador do que proponho denominar de Escola Latina (Europa e América) do pensamento complexo. Trata-se de um vasto painel de idéias, cujas aplicações práticas a vários campos da atividade humana (à educação, por exemplo) começam a se tornar conhecidas e aceitas.<br/>
Minha proposta consiste em analisar alguns aspectos do pensamento pascaliano: sua estratégia de raciocínio, seu modo de lidar com o diálogo ordem-desordem, a aleatoriedade e a incerteza e, principalmente, com os paradoxos. Ao mesmo tempo, procurarei mostrar como tudo isso foi essencial para a estruturação do pensamento complexo, tal como concebido e formulado por Morin. Trata-se de uma influência profunda e importante, o que justifica o empenho em apresentá-la e discuti-la.</p>
<p>Port-Royal e o jansenismo<br/> Blaise Pascal nasceu em Clermont, hoje Clermont-Ferrand, em 1623, e morreu em Paris em 1662, aos 39 anos. Portanto, ainda mais jovem do que Espinosa, que faleceu aos 45. Foi um gênio precoce, especialmente em matemática e física. Mesmo depois de ter passado a se interessar por questões religiosas, principalmente pelo cristianismo, não deixou totalmente de lado sua inclinação científica.<br/>
Não se pode afirmar que ele tenha sido um filósofo no sentido rigoroso da palavra. Não foi, por exemplo, um pensador metafísico profundo nesse mesmo sentido. Há mesmo quem veja nele um negador da metafísica. Mas também não há dúvida de que sua obra comporta uma postura filosófica, e por isso, até mesmo em homenagem à sua prodigiosa inteligência, vale tratá-lo como um filósofo. Também nessa ordem de idéias, é possível considerá-lo um provocador, um estimulador de reflexões. A seu ver, a filosofia não é capaz de proporcionar conhecimentos que sirvam de base para uma orientação de vida: só a revelação e a fé podem fazer isso. Portanto, resta à investigação filosófica a tarefa de aprofundar a dimensão antropológica. Assim, o empenho pascaliano se voltou para o estudo da condição humana e suas relações com o mundo. Nesse sentido ele é um continuador de Montaigne, que como Sócrates, Descartes, Kant e Heidegger, acreditava que o ser humano é o ponto central da especulação filosófica.<br/>
Mas o racionalismo, nascido no século 17, desenvolvido no século 18 e consolidado no mecanicismo científico do século 19, esvaziou a afirmativa de Montaigne e fez com que o homem deixasse de ser o tema principal da filosofia. O pensamento de Pascal foi uma reação contra o início desse processo. Se por um lado ele não conseguiu reconduzir o ser humano ao posto que ocupava em relação à filosofia, de outra parte deixou reflexões fundamentais sobre os limites da razão, que, segundo afirmava, são também os limites do homem. Mas acontece, infelizmente, que tais limitações quanto mais evidentes se tornam menos são entendidas (ou sequer percebidas) pela maioria das pessoas.<br/>
Dessa forma, num século em que se dava primazia à razão, Pascal caminhou na direção contrária: “Conhecemos a verdade não apenas pela razão, mas também pelo coração. É desta ultima maneira que conhecemos os primeiros princípios, e é em vão que o raciocínio, que não toma parte nisso, tenta combatê-los”.2 Mas ele não nega a razão: apenas faz notar que ela tem limites e que, sobretudo, é de pouca ou nenhuma valia quando se trata de lidar com questões emocionais e religiosas: “O último passo da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam”.3<br/>
A obra pascaliana é vasta. Para o objetivo deste ensaio, porém, sua parte mais interessante está contida nos Pensamentos.4 Para entender esse filósofo, convém falar um pouco sobre o jansenismo. Aliás, foi por influência dos jansenistas que ele se tornou um questionador da razão e da própria filosofia.<br/>
O holandês Cornelius Jansen, ou Jansenius (1585-1638), bispo de Ypres, tentou promover uma reforma do cristianismo. Tratava-se, em essência, de um retorno às idéias de Santo Agostinho — uma visão rigorosa da natureza humana e da questão da graça divina. Em sua opinião, a teologia deveria fundamentar-se na autoridade e não na racionalidade. Havia duas correntes jansenistas. Para a mais estrita, o verdadeiro cristão e o genuíno membro do clero deveriam afastar-se totalmente da vida política e social. O mundo deveria ser evitado. A salvação viria por meio do retiro e do isolamento. A outra tendência adotava a militância religiosa.<br/>
Em 1640 surgiu a obra Augustinus, da autoria de Jansenius e publicada postumamente, livro que provocou uma acirrada polêmica e acabou condenado pelo Vaticano. Naquela época existia em Paris a abadia de Port-Royal, que havia sido fundada em Porrois, perto da capital francesa. “Port-Royal” é uma corruptela do nome dessa localidade. Quando a abadia se instalou também em Paris, a instituição de Porrois passou a chamar-se de Port-Royal des Champs. Uma e outra eram locais de retiro, estudo e reflexão, e os que lá se recolheram passaram a ser chamados de “os solitários”.<br/>
No grupo dos “solitários” destacam-se Antoine Arnauld, falecido em 1694, e Pierre Nicole, morto no ano seguinte. É da autoria dos dois uma obra muito festejada: La logique ou l’art de penser (A lógica ou a arte de pensar), que se tornou também conhecida como Lógica de Port-Royal. A orientação desse livro é no fundo aristotélica e cartesiana. Na opinião de alguns comentadores, apesar de sua fama não se pode dizer que ele tenha trazido contribuições de vulto ao conhecimento da lógica.<br/>
Embora as idéias de Jansenius e as de Port-Royal não coincidissem totalmente, a abadia ficou conhecida como um reduto jansenista, ao qual Pascal acabou por se incorporar. As posições jansenistas incluíam em especial a condenação aos jesuítas, por eles considerados muito lenientes e concessivos, principalmente quando se tratava de fazer proselitismo.<br/>
A condenação do Vaticano ao jansenismo não deixou de incluir as habituais perseguições. Os jansenistas foram declarados heréticos. Procurado pela polícia, Arnauld teve de passar à clandestinidade. Pascal se envolveu nessa controvérsia por meio de suas Cartas provinciais, inicialmente publicadas sem menção da autoria e por isso objeto de investigação de gráfica em gráfica, com o intuito de descobrir e punir seu autor. Às Cartas (foram 18) não faltavam qualidades literárias. Há quem compare o humor de algumas delas ao de Molière e Proust.5 Aliás, hoje existe o consenso de que Pascal foi o primeiro grande prosador da França. Com ele começou a polêmica de idéias como gênero literário.</p>
<p>Os Pensamentos<br/> Há quem ache que a leitura dos Pensamentos não permite definir com clareza que tipo de obra o filósofo realmente escreveu ou queria escrever. No entanto, muitos dos fragmentos que compõem o texto, grande parte deles dedicados a questões relativas à fé e à religião, estão inacabados ou são obscuros, o que revela a intenção de continuidade ou aprofundamento.<br/>
A primeira edição dos Pensamentos, a chamada edição de Port-Royal, surgiu em 1658. O livro deveria ser uma apologia da religião cristã, mas a doença e, finalmente, a morte do autor, o impediram de terminar o projeto. Por outro lado, há quem veja nessa obra outra vertente de idéias. Nesse sentido, os aspectos antropológicos e ontológicos de muitos dos fragmentos assumem grande importância, pois traduzem a visão pascaliana do ser humano lançado a um mundo extremamente difícil de entender, dificuldade que se estende ao próprio homem, principalmente o fato de ser formado por duas naturezas opostas, e também o de seu corpo estar ligado a um espírito. Sobre este último obstáculo, Pascal leu em Santo Agostinho: “A maneira como o espírito está unido ao corpo não pode ser compreendida pelo homem e, no entanto, isso é o próprio homem”.6 Nos dias atuais, esse tema vem sendo investigado pela ciência cognitiva.</p>
<p>O todo e as partes<br/> Nos escritos de Edgar Morin há muitas menções explícitas e implícitas a Pascal, a começar pelo que se refere às relações entre o todo e as partes. Lembremos o conhecido fragmento pascaliano: “Sendo todas as coisas causadas e causantes, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas, e todas se mantendo por um laço natural e insensível que liga as mais afastadas e as mais diferentes, tenho como impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes”.7<br/>
Em termos atuais, pode-se dizer que essa frase contém alguns dos conceitos fundamentais do pensamento complexo ou a ele relacionados. Exemplos: a) a circularidade causa-efeito, isto é, a retroação do efeito sobre a causa, realimentando-a (feedback); b) o princípio de Ernst Mach, questionado mas não invalidado por Einstein e outros, que diz basicamente que a inércia de um corpo é determinada por sua relação por todos os corpos do universo. Pascal sustenta que a natureza ama a unidade, e a procura até mesmo por meio da junção de coisas que na aparência estão muito distantes umas das outras. O princípio de Mach se refere exatamente a isso; c) o princípio hologramático, de Morin e David Bohm, que diz que as partes estão no todo mas o todo também está em cada uma de suas partes. Aliás, segundo Pascal a humanidade deve ser vista como um único ser humano, que se mantém ao longo do tempo e aprende sem cessar.<br/>
Relacionam-se a todas essas noções algumas idéias atualmente muito mencionadas (e não menos necessárias). Lembremos três delas: a) a tolerância, da qual fala com freqüência Jürgen Habermas; b) a hospitalidade, que segundo Jacques Derrida vai além da tolerância; c) a ética do acolhimento, variante da idéia de holding environment (ambiente de apoio), introduzida pelo psicanalista inglês Donald Winnicott. Daí a necessidade do respeito à diversidade biológica, à multiculturalidade e à multiplicidade de comportamentos humanos e animais. Nada disso é incompatível com a existência de princípios organizadores e com a possibilidade de vários tipos de ordem.</p>
<p>A razão e o coração<br/> De acordo com o filósofo, a razão isolada, separada da emoção, da intuição e dos sentimentos não passa de um racionalismo árido. Configura o que Morin chama de razão estéril e auto-referenciada. Essa mesma posição se encontra também em Espinosa, contemporâneo de Pascal e como este influenciado por Descartes, embora isso nem de longe signifique concordância irrestrita.<br/>
O que Pascal chama de razão é basicamente o método silogístico de Aristóteles, que ele vê como limitado e limitador. E assim é porque não leva em conta que além da razão (raison) existem também as emoções, o coração (coeur). É pascaliana a conhecidíssima frase “o coração tem razões que a razão desconhece”, cuja versão completa requer o acréscimo de mais cinco palavras: “Sabe-se disso em mil coisas”.8 O coeur é intuitivo; é a percepção instintiva, direta e imediata dos princípios.<br/>
É também pascaliana (e espinosana) a idéia de que nossas percepções do mundo começam como emoções e depois assumem a forma de sentimentos. Foram essas as conclusões a que também chegou o neurocientista António Damásio, da Universidade de Iowa, EUA. Segundo Damásio, as emoções estão incluídas entre os mecanismos básicos de regulação da vida. Seus estudos clínicos e experimentais fizeram-no concluir que elas são fenômenos que acontecem no corpo. Já o sentimentos ocorrem, para usar a sua expressão, “no teatro da mente”.9<br/>
Desse modo, primeiro as emoções estimulam o corpo; a seguir chegam à consciência, isto é, nós as sentimos; por fim falamos a seu respeito, conversamos sobre esses sentimentos. Mas esses achados de clínica e laboratório, observa Damásio, não nos devem levar à falsa conclusão de que corpo e mente são separados. Como Espinosa, esse pesquisador sustenta que trata-se de modos diferentes de apresentação de uma mesma substância.<br/>
A essas percepções iniciais (as emoções) Pascal chama de “conhecimento dos primeiros princípios”. Já vimos que em sua opinião o conhecimento da verdade nos chega não apenas mediante a razão mas também pelo coeur, isto é, por meio das emoções e dos sentimentos. É pelo coração, não pela mente, que tomamos conhecimento desses “primeiros princípios” ou “verdades principais”. O conhecimento proporcionado pelas emoções e sentimentos é mais firme do que o obtido via razão.<br/>
No entanto, o coeur pascaliano nada tem a ver com as paixões: o filósofo as condenava e propunha o desapego. O coeur não é uma inclinação afetiva: é uma inteligência, um modo de percepção que nos leva ao conhecimento global, imediato, intuitivo. A razão explica, o coração compreende. Mas uma e o outro não se excluem, fertilizam-se mutuamente: o coração constrói a base sobre a qual a razão deve se apoiar. A fé pertence a esse âmbito. Entretanto, Julián Marías10 observa que o coeur pascaliano nada tem a ver com pieguices nem traduz qualquer espécie de sentimentalismo.</p>
<p>A questão do ego<br/> Em relação à neurociência, convém acrescentar algumas palavras sobre a questão do ego, tema para o qual Pascal abriu uma trilha importante, que acabou por desaguar na moderna ciência cognitiva. Eis a sua indagação: “Por que alguém amaria a substância da alma de uma pessoa, abstratamente, e algumas qualidades nela existentes? Isso não é possível e seria injusto. Portanto, nunca se ama ninguém, mas somente qualidades”.11 Esse fragmento dos Pensamentos começa com outra pergunta, não menos provocadora: “Onde está então esse eu, se não está no corpo nem na alma? E como amar o corpo ou a alma, senão por essas qualidades que não são o que fazem o eu, pois que são perecíveis?”12<br/>
Em termos de filosofia ocidental, esse talvez tenha sido o primeiro questionamento claro e direto da existência do ego tal como o imaginamos. Tempos depois, no seu Tratado da natureza humana, publicado em 1739/1740, o filósofo escocês David Hume (que escreveu essa obra aos 26 anos de idade) proporia uma resposta: “De minha parte, quando entro mais intimamente no que chamo de mim mesmo, sempre tropeço em uma ou em outra percepção específica: calor ou frio, luz ou sombra, amor ou ódio, dor ou prazer. Não consigo, em nenhum momento, apanhar a mim mesmo sem uma percepção, e jamais consigo observar nada além de percepções”.13<br/>
Essa passagem é famosa. Com ela, Hume nega nossa idéia de “eu” (ego, self). Para ele, tudo o que conseguimos observar são nossas percepções e sensações, jamais o “eu” que, segundo imaginamos, seria o sujeito delas. Não existe, como pensa nossa cultura ocidental, um ego separado, fixo, persistente, diante do qual desfilariam idéias, sensações e percepções.<br/>
Há milênios as tradições orientais, inclusive o budismo, já haviam chegado a essa conclusão. E agora, milênios depois delas e séculos depois de Pascal e Hume, a ciência cognitiva atual também assim concluiu. Em meio á extensa literatura sobre o assunto, lembremos alguns autores.<br/>
Daniel Dennett14 compara o funcionamento do cérebro humano ao de uma colônia de cupins, cujo funcionamento organizadíssimo faz supor a existência de um comando central, uma “alma”, quando na verdade é o resultado da interação de todos os indivíduos da comunidade. Do mesmo modo, a “alma” ou o ego humano são apenas nomes que designam o funcionamento da rede de neurônios do tecido cerebral.<br/>
Para Patrícia Churchland,“não existe uma pessoazinha no cérebro que ‘vê’ uma tela interna de televisão, ‘ouve’ uma voz interior, ‘lê’ mapas topográficos, raciocina, decide como agir e assim por diante. Há apenas neurônios e suas conexões”.15 Para ela, a inteligência do cérebro não pode ser explicada pela inteligência de um “eu”, mas sim pelo funcionamento do conjunto dos neurônios.<br/>
Dados mais recentes, e na mesma linha, foram apresentados e extensamente discutidos por V.S. Ramachandran, diretor do Centro do Cérebro e Cognição da Universidade da Califórnia em San Diego.16 Em suma, ao que tudo indica o que existe de fato são os processos do pensamento. O que chamamos de ego é o conjunto dos resultados desses processos — como disse Pascal.</p>
<p>Os dois diálogos<br/> Pascal influenciou Morin também no que se refere à dialógica. A propósito, convém relembrar aqui a diferença entre dialógica e dialética, que algumas pessoas têm dificuldade de entender e outras imaginam inexistente. O escritor francês Paul Valéry, por exemplo, caiu nesse equívoco quando escreveu que Pascal havia escolhido ser vago a ser exato.17 Na realidade, ele parece ter confundido pensar com clareza com pensar exclusivamente segundo o raciocínio binário — a lógica do “ou/ou” ou do terceiro excluído. No mesmo engano incorreram outros comentadores da obra pascaliana. Mas a diferença existe, sim, e a idéia de dialógica é apresentada com clareza em várias passagens dos Pensamentos.<br/>
Na dialética, como se sabe, o formato é a tríade tese, antítese e síntese. A síntese é a resolução, o resultado do embate entre a tese e a antítese. Desse modo, pode-se dizer que a contradição se resolve por meio de uma espécie de negociação que leva a um acordo. O choque entre os opostos é solucionado pelo surgimento de uma terceira figura. Já na dialógica não é possível chegar a uma resolução, pois as características dos contrários tornam o confronto inegociável e por isso eles precisam conviver num diálogo sem fim. Um dos critérios, talvez o mais eficaz, para fazer essa diferenciação é a duração do diálogo. Na dialética ele é temporário, tem início meio e fim. Na dialógica, precisa continuar indefinidamente.<br/>
Morin assim define a dialógica: “Unidade complexa entre duas lógicas, entidades ou instâncias complementares, concorrentes e antagonistas, que se nutrem uma da outra, completam-se, mas também se opõem e se combatem. (...) Na dialógica, os antagonismos persistem e são constitutivos das entidades ou fenômenos complexos”.18<br/>
Trata-se, portanto, de opostos ao mesmo tempo antagônicos e complementares, como os princípios masculino e feminino, a razão e a emoção, ou, como escreveu Nietzsche em seu primeiro livro19, o apolíneo e o dionisíaco. Para esse filósofo, a cultura da Grécia clássica comportava dois pólos. O apolíneo seria o controlado, o racional, da ordem, da contenção. O dionisíaco seria o bárbaro, da paixão, do desejo incontido. Essa interação produz conflitos, mas também gera criatividade: o apolíneo precisa do dionisíaco e a recíproca é verdadeira. Ou, nas palavras de Pascal: “Nem a contradição é a marca da falsidade, nem a não-contradição é a marca da verdade”.20<br/>
Em suma, a dialógica é um modo de fazer com que os paradoxos não apenas sejam admissíveis, mas de perceber as idéias novas que muitas vezes deles emergem. É o que diz Gérard Lebrun, para quem o objetivo da dialógica não é solucionar contradições, mas sim tornar pensáveis os paradoxos: “Pascal é ‘dialético’ somente na aparência e numa primeiríssima aproximação. Certamente, sua estratégia é de tal ordem que combina proposições que parecem excluir-se”.21<br/>
Mas lidar com paradoxos (e não há nada mais paradoxal do que o ser humano e suas sociedades) é coisa de que não gostamos, porque nos confronta com a inevitabilidade da dúvida, da incerteza, da dificuldade de controle. Nossa cultura predominantemente cartesiana, iluminista, nos convenceu de que podemos dominar a natureza, inclusive a nossa própria. E nos forneceu incontáveis instrumentos de auto-engano para manter-nos convencidos disso, mesmo quando somos (como acontece diariamente) postos diante de evidências de que esse domínio está muito longe de ser tão completo quanto desejamos. Com efeito, não tem sido outra a função da chamada “idéia de progresso” da modernidade.<br/>
Entre ser sempre fortes ou sempre fracos, optamos ingenuamente pela primeira hipótese: queremos ser sempre fortes, controladores, racionais e “exatos”, mesmo quando tudo à nossa volta nos mostra que somos fortes e fracos — não uma coisa ou outra —, e que há momentos e circunstâncias em que é preciso aceitar o erro, a aleatoriedade e a ambigüidade. Aceitá-los e reconhecer que eles são meios de autoconhecimento, que nos ensinam a tolerância (não confundir com permissividade), a moderação (não confundir com auto-repressão) o senso de ridículo (não confundir com timidez) a firmeza de posições (não confundir com narcisismo) — enfim, a sabedoria de viver, que inclui isso tudo mas a nada disso pode ser reduzida.<br/>
Eis uma das grandes descobertas de Pascal: ele mostra que os opostos simultaneamente antagonistas e complementares são parte inalienável da condição humana. Vê em nossa condição a coexistência de grandeza e miséria e entende que a natureza humana corrupta é inseparável da grandeza humana. São condições opostas e complementares. Essa é a tese pascaliana fundamental: a grandeza do homem é sua faculdade de pensar, sua fragilidade é sua miséria: “O homem não é senão um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante”.22<br/>
A idéia da ambigüidade do ser humano fez de Pascal um precursor do pensamento existencial e influenciou, por exemplo, Albert Camus e sua filosofia do absurdo. Por outro lado, a idéia pascaliana de que o homem é um ser lançado ao mundo sem saber por que razão, certamente deve ter inspirado o conceito de “ser-aí”, de Heidegger. Na condição de caniço, de junco (um roseau pensant), o ser humano torna-se grande exatamente quando reconhece a sua miséria, o que deveria impedi-lo de se mostrar arrogante, prepotente e predatório pela supervalorização dessa mesma grandeza.<br/>
A compreensão da ambigüidade da condição humana exige que aprendamos a lidar com essa e muitas outras contradições não solucionáveis pela dialética. Já vimos que quando o diálogo de duração limitada não soluciona uma contradição, é preciso levá-lo adiante, não desistir dele, perpetuá-lo enfim. Essa é uma forma de lidar com a incerteza, a aleatoriedade, e de aceitar diferenças. Nesse sentido, pode-se dizer que Pascal é também um precursor de uma das bases daquilo que hoje se conhece como a técnica do diálogo, desenvolvida em especial pelo físico americano David Bohm.<br/>
A estratégia pascaliana consiste em ir até onde for possível com o pensamento lógico-seqüencial e, por fim, questionar os pressupostos que orientam esse raciocínio. Questionar não os argumentos, mas o modelo mental em que eles se baseiam.23 Em outras palavras: questionar o passo-a-passo para mostrar que o equívoco está nos pressupostos, nos juízos prévios, os quais, como propunha Montaigne, deveriam ser suspensos ao menos momentaneamente para que algo de novo pudesse surgir e ser aprendido.<br/>
Se com a metáfora do junco pensante Pascal reconhece a coexistência em nós da grandeza e da miséria, por outro lado ele afirma que é mediante a revelação divina que esses contrários podem ser harmonizados, isto é, mantidos em constante diálogo. Para tanto, a seu ver a antropologia deve se transformar em uma teologia. O ser humano não pode ser somente grandeza, como queria Epicteto (um estóico dogmático), ou apenas miséria, como afirmava Montaigne (um cético que, como acabamos de ver, propunha como meio de conhecimento a suspensão dos juízos sobre todas as coisas). Entre os opostos Epicteto e Montaigne, Pascal ficava com o paradoxo: o homem não é grande ou miserável; ele comporta grandeza e miséria: “O homem conhece-se na pessoa de Cristo, o homem-deus, imagem do acordo dos contrários que o constitui”.24<br/>
Assim, ao contrário de Espinosa, Pascal vê na religião — no caso, o cristianismo — um instrumento para a compreensão da complexidade. Em sua opinião, para pô-lo em prática é preciso que acreditemos nas verdades reveladas, na transcendência, no sobrenatural. Nessa linha de raciocínio, o exemplo pascaliano de uma situação que inclui opostos a um só tempo antagonistas e complementares é, como acabamos de ver, a figura de Cristo, o homem-deus. Nele conviveram o humano e o divino, dois opostos que se contradisseram mas também se alimentaram mutuamente.<br/>
No entender de Pascal, a essência de Cristo está “na sutura de discursos que se excluem, no campo que os mantém juntos sem os articular logicamente nem os compor dialeticamente”.25 Desse modo, no ser humano a oposição entre grandeza e miséria não é dialética, pois não há como resolvê-la. Ela é dialógica e ajuda a compreender a ambigüidade inerente à nossa condição. Trata-se, como escreve Denis Huisman, de “verdades que parecem incompatíveis mas que não deixam de invocar-se mutuamente”.26 Para esse autor, a dialógica pascaliana põe no lugar da seqüência racional uma rede, na qual se entrecruzam diferentes linhas de interpretação.<br/>
Da linearidade às redes, portanto: estamos em pleno âmago do pensamento complexo, como o concebeu e formulou Morin, que no entanto abstrai de seu pensamento a religiosidade característica de Pascal. Segue-o e se deixa influenciar por ele, mas só no tocante à dialógica contida em sua antropologia filosófica. A dialógica é tão importante que Morin fez dela um dos instrumentos de conhecimento do pensamento complexo, a que deu o nome de “operador dialógico”. Convém insistir nesse ponto: ao utilizar a dialógica aprendida com Pascal, ele busca antes de mais nada estabelecer a alimentação mútua entre contrários inconciliáveis pela dialética. Na impossibilidade de uma síntese superadora da contradição, a tensão entre os opostos se mantém e dela surgem fenômenos novos — as propriedades emergentes.<br/>
A compreensão da dialógica fez de Pascal um “filósofo do paradoxo”, um pensador que afirma que a verdade é sempre a junção de opostos e que o ser humano é paradoxal, simultaneamente grande e pequeno e, como vimos, forte e fraco.27 A confusão que muitas vezes se faz entre a existência de opostos ao mesmo tempo antagônicos e complementares e o irracionalismo (ou a confusão entre paradoxo e absurdo) é um dos maiores problemas que algumas pessoas enfrentam para a compreensão e aceitação do pensamento complexo. Não é fácil aceitar a idéia de que nem sempre aquilo que ultrapassa a razão é irracional. Por outro lado, é também difícil entender que a pretensão de racionalizar tudo é uma manifestação de irrealismo e irracionalismo.<br/>
Nesse sentido, a iniciativa de denominar Pascal de filósofo do paradoxo faz justiça à sua perspicácia, pois em boa parte de seus Pensamentos ele recusa o raciocínio binário sem cair na racionalização nem na irracionalidade. Em questões religiosas, porém, às vezes cai na lógica binária, aliás típica dos monoteísmos. Nessas ocasiões a lógica do “ou/ou” surge em seus textos, nos quais há passagens como a que afirma que a religião cristã “é a única a ter razão”.28 Afora exceções como essa, a fragmentação típica do binarismo não faz parte dos Pensamentos, obra em que mais de um comentador vê uma unidade, uma ordem implícita na desordem aparente.<br/>
Ao fim destas considerações sobre a dialógica, convém não esquecer que Pascal talvez tenha sido o primeiro a escrever sobre a diferença entre a discussão/debate e o diálogo, no sentido que o já mencionado David Bohm dá a essa palavra. Nos escritos pascalianos, a discussão e o debate correspondem à “arte de convencer” e visam a explicar, a ensinar. Já o diálogo, que o filósofo considerava mais útil e mais sutil, é a “arte de persuadir” e busca a compreensão.29</p>
<p>Pascal e Espinosa<br/> Espinosa, com sua imanência, e Pascal, com sua transcendência, contribuíram decisivamente para o pensamento complexo. Espinosa usa a racionalidade para justificar a imanência. Pascal mostra, a seu modo, a “racionalidade” da transcendência. Como já sabemos, em sua opinião as relações entre a mente (a razão) e as emoções (o coração) são mutuamente alimentadoras, embora em cada caso específico o ponto de partida sejam as emoções, isto é, aquilo que ocorre no corpo, que é o lugar onde primeiramente se dão nossos contatos e interações com o mundo.<br/>
A expressão “sabedoria convencional”, criada pelo economista John Kenneth Galbraith30, designa as crenças estabelecidas de nossa cultura atual. São as “certezas” do pensamento linear-cartesiano. Com base nelas, tem-se como certo que mentes e corações são coisas separadas. Sintomaticamente, porém, no linguajar cotidiano falamos em mentes e corações, não em mentes ou corações, o que mostra que no fundo não estamos muito convictos dessa separação.<br/>
Mas ilude-se quem imaginar que tal percepção seja clara para todos, a ponto de poder ser posta em prática com facilidade. No dia-a-dia, a orientação dessa “sabedoria” hegemônica é manter as mentes o mais longe possível dos corações. A isso chamamos de “atitude racional”. Dela nos valemos para justificar, por exemplo, nosso pragmatismo e insensibilidade diante de condições como a miséria, a exclusão social e outras barbaridades. Ainda assim, cumpre ressalvar que essa observação não justifica as pieguices, os populismos e as atitudes paternalistas e demagógicas, que surgem sempre que se salta diretamente para o pólo oposto e se dá primazia às emoções.<br/>
“Se submetermos tudo à razão, a nossa religião não terá nada de misterioso e sobrenatural”, escreveu Pascal.31 Foi o que fez Espinosa, como que confirmando a continuação do pensamento pascaliano: “Se violentarmos a razão, a nossa religião será absurda e ridícula”.32 E foi o que Espinosa por seu lado constatou, quando condenou a superstição. Para Espinosa, chega-se a Deus por meio da razão. Para Pascal, ela é inadequada para tal finalidade; mas sem o coração a razão é inútil, e o coração sem a razão é insuficiente. Ao contrário de Espinosa, Pascal não acreditava que a razão pudesse abranger os âmbitos da moral e da religião: a seu ver, é na ciência que ela encontra seu domínio apropriado, embora mesmo aí não seja infalível.</p>
<p>Geometria e finesse: as duas inteligências<br/> Houve uma fase da vida do filósofo, após a morte de seu pai, em 1651, em que ele se dedicou muito a atividades sociais, mundanas. Por essa época, surgiu o livro Discours sur les passions de l’amour (Discurso sobre as paixões do amor), que lhe foi atribuído. À luz da globalidade do seu pensamento essa atribuição deve ter sido correta, pois nessa obra figuram algumas idéias bem pascalianas, a começar pela diferença entre o esprit géométrique, “espírito geométrico” e o esprit de finesse, “espírito de finura”.<br/>
Além do mais, o filósofo também escreveu um pequeno tratado, que não chegou a terminar, cujo título é De l’esprit géométrique, no qual afirmou que a geometria é a mais perfeita das ciências — com o que manifestou um lado racionalista-cartesiano exclusivo que mais tarde haveria de superar. Nesse livro, ele se esqueceu (mas Descartes, em sua obra, não) de dizer que se retrocedermos o suficiente em qualquer seqüência rigorosamente lógica, acabaremos por chegar ao início de tudo — a intuição.33<br/>
Em francês, esprit também significa mente, inteligência. Doravante chamarei esprit de finesse de inteligência de finura e esprit géométrique de inteligência geométrica, pois são denominações mais adequadas ao que o filósofo quer expressar nesse contexto. A inteligência geométrica se refere ao rigor e à exatidão do pensamento. A inteligência de finura se relaciona à agilidade, à abrangência, à intuição, ao insight. A de finesse percebe as coisas de um só golpe, e não por meio de uma seqüência de raciocínio como faz a inteligência geométrica. A primeira é analítica e a outra sintética.<br/>
Nos dias atuais, pode-se dizer que, por analogia, a inteligência geométrica está próxima do pensamento linear-cartesiano e a inteligência de finura está ligada ao pensamento sistêmico. A esse respeito, lembremos que Henri Bergson dizia que não existe aquilo que chamamos de desordem. O que há são duas espécies de ordem, a geométrica e a da vida.34 Essa formulação é superponível aos dois tipos de inteligência propostos por Pascal. Na inteligência geométrica ele identifica a exatidão, a mensuração; na de finura, vê a estimativa, a avaliação. Sofia Rovighi35 acredita que é possível identificar a inteligência geométrica com a mente abstrata, teórica, e a de finura com a mente concreta, experiencial.<br/>
Assim, quem está acostumado a tratar quase que exclusivamente com conceitos, abstrações e fragmentos pode perder a experiência global e sintética do concreto. Para lidar com a concretude das coisas e situações é necessário que a mente seja abrangente, sintética, e que a compreensão seja rápida, quase imediata. A bem dizer, o que Pascal queria destacar é que é importante que as duas inteligências se complementem quando necessário.<br/>
Essa é também a proposta do pensamento complexo: ligar a razão do coração ao coração da razão. A própria vida de Pascal é um exemplo de como a inteligência de finura e a geométrica se combinaram para estruturar uma mente privilegiada. No entanto, as pessoas que pensam linearmente têm dificuldade de aceitar que a racionalidade e a não-racionalidade (que não deve ser confundida com irracionalidade) possam coexistir, e com resultados tão brilhantes, numa só pessoa.<br/>
A oposição das duas inteligências também pode ser vista como um antagonismo entre o conhecimento explicativo (a episteme explicativa, das ciências ditas exatas ou “duras”) e o conhecimento compreensivo (a episteme compreensiva, das chamadas ciências humanas). Porém, é preciso não esquecer que a importância de explicar não é maior nem menor do que a de compreender. O que não pode ser explicado pode e deve ser compreendido. É inadmissível pretender reduzir o que deve ser compreendido ao que precisa ser explicado, na tentativa de ficar do “lado racional”.<br/>
Pascal assegura que os conceitos oriundos da inteligência geométrica nem sempre são fáceis de perceber e entender. Já na inteligência de finura os princípios são evidentes, mas muitas vezes escapam à mente geométrica, pois falta-lhe a abrangência necessária para intuir suas múltiplas facetas e sua diversidade. Aqui a intuição e o sentimento predominam sobre a objetividade e a lógica, mas é difícil tornar isso claro para pessoas nas quais predomina a inteligência geométrica. Sobretudo, é difícil fazê-las entender que a obra de Pascal, como a de muitos outros pensadores, comporta, como mostraram Morin e outros, várias leituras e não apenas a religiosa. É a mesma dificuldade, com sinal trocado, que se tem para convencer as pessoas cuja inteligência é predominantemente de finura de que há situações na vida em que a mensuração e a exatidão são não apenas necessárias como indispensáveis.<br/>
Nicola Abbagnano36 observa que o ser humano não pode conhecer a si próprio como um objeto geométrico e, portanto, as comunicações entre as pessoas não podem realizar-se apenas por meio de raciocínios lineares. Não é por outra razão que Pascal, dotado das duas espécies de inteligência em raro equilíbrio, foi definido como um poeta dos números e não como um simples matemático profissional. Com efeito, ele descobriu que a aleatoriedade e o azar podem combinar-se com o rigor do método matemático, o que denominou de “geometria do azar” (aleae geometrica). Portanto, pode-se dizer que a ele devemos, entre muitas outras coisas, a descrição em termos facilmente compreensíveis das estruturas paradoxais da realidade.37<br/>
Pascal dedicou-se à investigação da condição humana porque sentiu necessidade de comunicar-se não apenas com as outras pessoas, mas também com ele próprio. Percebeu que para que essa comunicação seja integral de pouco valem os rigores de inteligência geométrica quando utilizados isoladamente. Caracterizou a instabilidade e a incerteza como inerentes ao homem, que por isso mesmo está entre o ser e o nada. Eis porque aprender a lidar com a incerteza, e não pensar que é possível eliminá-la, é uma tarefa humana fundamental.</p>
<p>Alienação<br/> A visão pascaliana da alienação é semelhante à de Espinosa, em especial à idéia de “mente distraída” do filósofo holandês. Pascal usa o termo divertissement, que no caso significa distrairmo-nos com exterioridades para não ter de pensar, refletir, procurar compreender nossa natureza contraditória. Costumamos recorrer à inteligência geométrica, ou pensamento linear, para explicar virtualmente todas as coisas e situações, mesmo as que não são explicáveis mas sim compreensíveis. Tentamos racionalizar tudo. Quando o modo linear se revela inadequado ou ineficaz, em vez de recorrer ao pensamento abrangente, à inteligência de finura, preferimos fugir do problema, isto é, alienar-nos.<br/>
Ao contrário de Espinosa, já vimos que o modo pascaliano de sair da alienação não é ser racional, mas sim buscar a fé religiosa. Entretanto, seja qual for o caminho que se trilhe para lidar com ela, é preciso ter em mente que a alienação não é um fim, é um meio de fugir a responsabilidades e conseqüências. A busca incessante da diversão, tanto quanto a obsessão pelo trabalho, são instrumentos dessa procura. Como se sabe, a busca infindável é também uma evasão infinita, pois seu eventual término conduziria a um imenso vazio. Daí nossa necessidade de reiniciá-la a cada instante, para ficar o mais longe possível daquilo que mais tememos: pensar em nós mesmos. Fugir é o princípio, o meio e o fim da alienação — um fim que sempre volta ao seu começo.</p>
<p>Pascal e a complexidade<br/> O que hoje chamamos de pensamento complexo tem a ver com o que Pascal denominava de “inteligência penetrante” ou “espírito penetrante”. É um modo de pensar que permite que compreendamos os paradoxos, a complexidade dos fenômenos do mundo e a nossa própria.<br/>
O filósofo assinala que estamos presos à imaginação e aos hábitos, o que faz com que os confundamos com nossa natureza e por isso tenhamos muita dificuldade de modificá-los. Em termos atuais, diríamos que estamos atrelados aos nossos condicionamentos, entre os quais o principal é o raciocínio binário. Esse condicionamento é particularmente resistente quando se trata de crenças, em especial as religiosas. Já vimos que o próprio Pascal não escapou a essa armadilha. Além do exemplo dado há pouco, acrescentemos mais um: “Só há duas espécies de pessoas a quem se possa chamar de razoáveis: ou os que servem a Deus de todo coração, porque o conhecem, ou os que o buscam de todo o coração porque não o conhecem”.38<br/>
Sabemos que o raciocínio binário é fragmentado e fragmentador. No caso de Pascal, porém, a fragmentação é mais exceção do que regra. A aparente desordem dos Pensamentos contém uma ordem implícita. Como ele próprio disse, “escreverei aqui os meus pensamentos sem ordem e não talvez numa confusão sem objetivo. É a verdadeira ordem que caracterizará sempre o meu objeto pela desordem mesma”.39 Não por acaso, esse é um dos princípios básicos do pensamento complexo: ordem, desordem e organização. A desordem está implícita na ordem e vice-versa.</p>
<p>A filosofia na prática: a aposta<br/> Os comentadores não se cansam de destacar que um dos motivos da popularidade de Pascal é sua capacidade de trazer para a prática os raciocínios mais abstratos e complicados. Para tanto, sem dúvida auxiliou-o o seu lado científico e matemático. Uma de suas perguntas mais características era: “A teoria resulta na prática?”40 A idéia pascaliana de aposta (pari) ilustra bem esse aspecto. Ela influenciou de modo importante o pensamento de Morin, para quem nossas ações são sempre o resultado de uma decisão, uma escolha entre duas ou mais alternativas. O processo inclui, portanto, a incerteza e a imprevisibilidade e por isso não deixa de ser uma aposta.41<br/>
Em Pascal, o conceito de aposta está ligado à fé religiosa. Quando se trata da existência de Deus, o filósofo argumenta do seguinte modo: se vivemos como se Deus não existisse, fazemos uma aposta e corremos o risco de não encontrar a salvação após a morte; se vivemos como se Deus existisse, essa aposta nos traz ao menos os benefícios e consolos que a fé nos proporciona ao longo da vida. Portanto, justifica-se apostar na existência divina: “Deus existe ou não existe; mas para que lado penderemos? A razão nada pode determinar a esse respeito. (...) É preciso apostar. É inevitável, estais embarcados nessa”.42<br/>
A idéia de aposta implica uma recusa à argumentação racional exclusiva. Em Pascal, apesar de ela estar ligada à fé religiosa, é claro que se trata de um raciocínio ao qual não falta um acentuado grau de pragmatismo: se não somos capazes de provar a inexistência de Deus, é mais seguro, por via das dúvidas, que conduzamos nossas vidas com base na hipótese de sua existência.<br/>
No fim das contas, trata-se de um raciocínio custo-benefício. Não se pode deixar de apostar, mesmo porque adotar uma atitude fatalista do tipo “o que tiver de acontecer, acontecerá” é também uma aposta, embora negativa. Na prática, costumamos fazê-la com freqüência: entregamos o futuro ao acaso e muitas vezes, ironicamente, dizemos “seja o que Deus quiser”, mesmo quando apostamos em sua inexistência. Em suma, numa situação em que as chances são fifty-fifty, “arriscar o finito para ganhar o infinito é, evidentemente, uma medida da máxima conveniência”.43<br/>
A fé atenua a convivência com o risco. Ela também pode mudar o comportamento de algumas pessoas e, assim, torná-las menos indecisas e portanto menos imprevisíveis, o que diminui o risco de conviver com elas. Por outro lado, a fé aliada à ingenuidade excessiva pode tornar as pessoas facilmente manipuláveis.<br/>
É claro que a fé não precisa ser necessariamente em Deus. No planejamento estratégico de uma empresa, por exemplo, damos preferência a um ou mais entre vários cenários futuros. Ao assim proceder, “pomos fé” em nossa estratégia e/ou investimentos. Nesse sentido, adotamos a posição de Edgar Morin: é preciso que estejamos conscientes de nossas apostas filosóficas e políticas.<br/>
Os comentários à idéia pascaliana de aposta proliferam na literatura filosófica. Muitos deles incluem extensas considerações matemáticas e por isso não têm interesse para os nossos objetivos. Para manter a coerência com a abordagem antropológica e ontológica deste ensaio, lembro uma observação de Gilles Deleuze, que sustenta que em Pascal a idéia de aposta não se refere à existência ou à inexistência de Deus. É uma postura antropológica, que “recai apenas sobre dois modos de existência do homem, a existência do homem que diz que Deus existe, e a existência do homem que diz que Deus não existe”.44<br/>
Morin propõe que ao falar em aposta não devemos pensar invariavelmente em jogos de azar ou realizações que implicam perigo. Na realidade, apostar equivale a trazer a incerteza para junto da esperança. Quando apostamos, introduzimos em nossas vidas e ações o wishful thinking, o desejo e o comprometimento. Não há estratégia nem enfrentamento de desafios sem disposição de aposta, seja qual for a questão envolvida. Apostar é um modo de entrar em contato com a aleatoriedade, a incerteza e a imprevisibilidade. Como estas estão entre as dimensões mais fundamentais da condição humana, pode-se dizer que toda vida que inclui reflexão inclui também um certo grau de aposta.<br/>
No entender de Morin, a aposta nos protege contra o erro45 e, como modo de lidar com a incerteza, constitui a parte mais importante do pensamento de homens como Pascal, Dostoievski, Miguel de Unamuno, Theodor Adorno e Lucien Goldmann, este último autor de um estudo importante sobre Pascal. Nessa ordem de idéias, Morin alerta para o fato de que o conhecimento é limitado por várias evidências de incerteza: a) as visões de mundo são sempre individuais, subjetivas; b) nem a contradição é garantia de falsidade, nem a não-contradição assegura a verdade, como escreveu Pascal); c) a falta de autocrítica da racionalidade (a razão que inclui a emoção) leva à racionalização (a razão “absoluta”); d) nossa mente não é de todo transparente para nós mesmos, pois existe o inconsciente.46<br/>
A aposta se justifica também diante do que Morin chama de “ecologia da ação”, para a qual ele propôs dois princípios, aumentados para três por Lise Laférière47: a) o nível de eficácia ótima de uma ação está em seu começo; b) uma ação não depende só da intenção ou intenções de seu autor; depende também das condições do ambiente em que ela se desenvolve; c) a longo prazo, os efeitos das ações não podem ser previstos.<br/>
As políticas da vida, particulares ou públicas, devem ser elaboradas simultaneamente no aqui-e-agora e no meio-termo. Tal circunstância produz inevitavelmente incertezas e contradições, pois do ponto de vista biológico não existe outra maneira de viver.48 Não há, portanto, como deixar de apostar. Não há como deixar de ter fé, seja a religiosa, como propunha Pascal, sejam as de quaisquer outros tipos: na vida, no futuro, em nosso potencial e nos dos que compartilham conosco a existência e assim por diante. Trata-se, enfim, da esperança de que é possível idealizar e pôr em prática outros tipos de política além dos comprovadamente inadequados. Para tanto, porém, é necessário outro modo raciocínio: o pensamento complexo.<br/>
Quanto maior for a distância a que os políticos atuais estiverem desse novo modo de pensar, mais intensa deve ser nossa aposta de que ele precisa ser implementado, pois no fim das contas tais políticos, seu modo de pensar e suas ações somos nós mesmos ou criações nossas, seja por ação, seja por omissão. A dimensão política da aposta não se resume a como chegar ao poder e mantê-lo. Implica concebê-lo, alcançá-lo e exercê-lo pensando de outra maneira.<br/>
Em relação a esse aspecto, falemos de um fenômeno sobre cuja existência e aparente inevitabilidade não há dúvidas: a barbárie humana em todas as suas manifestações — o que inclui a dos países ditos desenvolvidos. Se a existência e a aparente perenidade da barbárie são indubitáveis, apostar que ela pode ao menos ser atenuada poderia ser visto como uma perda de tempo. Isso se aplicaria, por exemplo, a apostar em iniciativas de paz num mundo pesteado por guerras e violência. Eis o argumento do ceticismo e do cinismo, dois grandes produtores de apostas negativas. Nesse, como em muitos outros casos, a aposta negativa esconde o conformismo, que por sua vez facilita a manutenção do status quo.<br/>
Para que haja alguma mudança que não se limite à retórica (e aí é que está a grande dificuldade), é indispensável que se aposte também numa mudança de modelo mental: na disseminação de um modo de pensar que permita ver as coisas (inclusive o cinismo e o ceticismo) de outra maneira. Essa é, como já sabemos, a proposta do pensamento complexo. Por isso, apesar desses e de muitos outros pesares é preciso apostar, sim, já que apostar negativamente é reconhecer que estamos ausentes de nossas próprias vidas. É fazer o jogo da alienação.</p>
<p>Notas<br/> 1. Humberto Mariotti. “O conhecimento do conhecimento: a filosofia de Baruch de Espinosa e o pensamento complexo”. <a href="http://www.geocities.com/pluriversu">www.geocities.com/pluriversu</a> , 2004.<br/>
2. Blaise Pascal, Pensamentos 110 (282). A edição dos Pensamentos que uso neste ensaio é a de Louis Lafuma, publicada no Brasil pela editora Martins Fontes. Mas existe outra, de Léon Brunschvicg. Os fragmentos desses textos são numerados. Quando os cito neste ensaio, o primeiro número corresponde aos da edição de Lafuma, e o que está entre parênteses aos da de Brunschvicg.<br/>
3. Id. Ibid., 188 (267).<br/>
4. Pascal. Pensamentos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.<br/>
5. Gerard Lebrun. Pascal: voltas, desvios e reviravoltas. São Paulo: Brasiliense, 1983, p. 57.<br/>
6. Santo Agostinho. A cidade de Deus, XXI, 10.<br/>
7. Pascal. Pensamentos, 199 (72).<br/>
8. Id., ibid., 423 (277).<br/>
9. António Damásio. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, pp. 35-36.<br/>
10. Julián Marías. História da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 248.<br/>
11. Pascal. Pensamentos, 688 (323).<br/>
12. Id., ibid.<br/>
13. David Hume. A treatise of human nature, I. VI, iv.<br/>
14. Daniel Dennett. Elbow room: on the varieties of free will worth wanting. Oxford: Clarendon Press, 1983.<br/>
15. Patricia Churchland. Neurophilosophy. Cambridge, Massachusetts: Massuchetts Institute of Technology Press, 1986, pp. 406-407.<br/>
16. V. S. Ramachandran e Sandra Blakeslee. Fantasmas no cérebro: uma investigação dos mistérios da mente humana. Rio de Janeiro: Record, 2002.<br/>
17. Albert Béguin. Pascal. México: Fondo de Cultura Económica, 1989, p. 24.<br/>
18. Edgar Morin. La méthode. 5. L’humanité de l’humanité. L’identité humaine. Paris: Seuil, 2001, p. 281.<br/>
19. Friedrich Nietzsche. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.<br/>
20. Pascal. Pensamentos, 177 (384).<br/>
21. Lebrun. Op. cit., pp. 75, 76.<br/>
22. Id., ibid., 200 (347).<br/>
23. Alban Krailsheimer. Pascal. Lisboa: Dom Quixote, 1983, pp. 60-61.<br/>
24. Entretien avec M. de Sacy sur Epictète et Montaigne. In Monique Labrune e Laurent Jaffro. A construção da filosofia ocidental: gradus philosophicus. São Paulo: Mandarim, 1996, pp. 393-394.<br/>
25. Denis Huisman. Dicionário dos filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 752.<br/>
26. Id., ibid., p. 750.<br/>
27. Marilena Chauí. “Pascal, Vida e Obra”. In “Pascal”. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 19.<br/>
28. Pascal. Pensamentos, 808 (245).<br/>
29. Roger Verneaux. Historia de la filosofia moderna. Barcelona: Herder, 1984, p. 48.<br/>
30. John Kenneth Galbraith. A economia das fraudes inocentes: verdades para o nosso tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 9.<br/>
31. Pascal. Pensamentos, 173 (273).<br/>
32. Id., ibid., 173 (273).<br/>
33. Verneaux. Op. cit., p. 48.<br/>
34. Jill Krementz. “Piaget”. In The writer’s desk. Nova York: Random House, 1996, p.10.<br/>
35. Sofia Rovighi. História da filosofia moderna: da revolução científica a Hegel. São Paulo: Loyola, 1999, p. 154.<br/>
36. Nicola Abbagnano. História da filosofia. Lisboa: Presença, s.d., vol. VI, p. 183.<br/>
37. Béguin. Op. cit., p. 14.<br/>
38. Pascal. Pensamento, 427 (194).<br/>
39. Id., ibid., 532 (373).<br/>
40. Krailsheimer. Op. cit., p. 69.<br/>
41. Edgar Morin. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1995, pp. 115-117.<br/>
42. Pascal. Pensamentos, 418 (233).<br/>
43. Abbagnano. Op. cit., pág. 192.<br/>
44. Lebrun. Op. cit., p. 115.<br/>
45. Edgar Morin. La tête bien faite: repensar la réforme, réformer la pensée. Paris: Seuil, 1999,<br/>
p. 69.<br/>
46. Edgar Morin. Les sept savoirs necessaries à l’éducation du futur. Paris: Seuil, 2000, pp.93-94.<br/>
47. Edgar Morin. O método. 2. A vida da vida. Porto Alegre: Sulina, 2001, pp. 100-103.<br/>
48. Edgar Morin. Para sair do século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 303.</p>
<p>Bibliografia<br/> ABBAGNANO, Nicola. História da filosofia, vol. 14. Lisboa: Presença, s.d.<br/>
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VERNEAUX, Roger. Historia de la filosofia moderna. Barcelona: Herder, 1984.</p>
<p>© Mariotti, H., fevereiro, 2005</p>
<p>HUMBERTO MARIOTTI. Médico psicoterapeuta e ensaísta. Coordenador do Grupo de Estudos Contemporâneos (Complexidade, Pensamento Sistêmico e Cultura) da Associação Palas Athena (São Paulo). Professor da Business School São Paulo (São Paulo). E-mail: homariot@uol.com.br</p>
Uma Proposta de Bat – Bar Mitzva do Judaísmo Secular Humanista no Brasil por Jayme Fucs Bar
tag:judaismohumanista.ning.com,2012-07-16:3531236:Topic:75067
2012-07-16T11:33:47.779Z
Jayme Fucs Bar
https://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Bat Mitzva e Bar Mitzva está hoje em dia estritamente ligado ao tema da continuidade da identidade Judaica. É o momento em que o Avô e Avó se realizam por cumprir o seu legado de 4000 anos de Historia como judeus, pois esse é a forma que se realizam como judeus por ter conseguido passar esse legado para os seus filhos e através de seus filhos a continuidade Judaica de seus netos e netas.</p>
<p><br></br> O ato do Bat – Bar Mitzva é a consagração da identidade Judaica do Rapaz e da Moça , porem é…</p>
<p>Bat Mitzva e Bar Mitzva está hoje em dia estritamente ligado ao tema da continuidade da identidade Judaica. É o momento em que o Avô e Avó se realizam por cumprir o seu legado de 4000 anos de Historia como judeus, pois esse é a forma que se realizam como judeus por ter conseguido passar esse legado para os seus filhos e através de seus filhos a continuidade Judaica de seus netos e netas.</p>
<p><br/> O ato do Bat – Bar Mitzva é a consagração da identidade Judaica do Rapaz e da Moça , porem é o maior tributo judaico para os Avos, que será no futuro proximo a vez da espera dos filhos se tornarem também avos para poderem se consagrar com o Bat – Bar Mitzva de seus futuros netos e netas.</p>
<p><br/> Esse Conceito pedagógico Judaico mostra que o Bat-Bar Mitzva tem uma importância enorme no processo da formação da identidade judaica, pois é a forma de consagrar a continuidade de nossa cultura e tradição dentro de um mundo globalizado que oferece muitas diversidades, identidades e culturas deferentes.</p>
<p><br/> Portanto o Bat Bar Mitzva não deverá ser somente uma " Grande Festa" vinculado uma forma instrumental de decorar as leituras das rezas sem entender a essência da importância do ato do Bat-Bar Mitzva.</p>
<p><br/> A origem da idéia do Bar – Mitzva , está relacionada numa realidade do contexto do povo judeu no período Bíblico , especificamente no episodio da passagem do Livro de Gênesis, onde aparece uma referência aos dois filhos de Yakov, Shimon e Levi , onde relata sobre Levi que tinha 13 anos de idade e se tornara suficientemente adulto para pegar a espada e proteger seu povo e assim , narra o texto da Torá: "Cada um dos homens pegou sua espada...". Levy tinha 13 anos de idade a pessoa mais jovem a quem a Torá se referiu como "adulto", dessa forma ficou entendido que nos tempos bíblicos, aos treze anos era a idade em que um judeu fazia parte integral do mundo dos adultos podendo assumir todas as responsabilidade perante ao seu povo .</p>
<p><br/> Nos tempos Bíblicos não existia o costume de fazer Bat – Bar Mitzva, como conhecemos hoje ,se sabe que um jovem aos 13 anos já era parte integral das diversas responsabilidades da sociedade judaica, onde podia casar,trabalhar,ser um guerreiro e estudar a Torá.</p>
<p><br/> Muitos não sabem que o costume da cerimônia do Bar Mitzva se pode dizer que existe somente uns 500 anos, onde temos como uma primeira referencia escrita sobre esse tema no livro de Yosef Caro o Shulchan Aruch em 1557, onde Rav Yosef Caro faz do seu livro um forma mais fácil e acessível aos judeus não eruditos a praticar o judaismo .</p>
<p><br/> Provavelmente o Rav Yosef Caro criou essa tradição do Ato do Bar Mitzva com uma função pedagógica, totalmente adaptado a seu tempo e realidade, a um judaísmo constantemente ameaçado de sua existência e continuidade.</p>
<p>Yosef Caro Inteligentemente socializou esse ato de subir e ler a Torá nos Beit Hakinesset ( Sinagoga) que era um privilégio de poucos e o tornou como parte integral da vida comunitária . Para isso a cerimonia do Bar Mitzva, requer um processo de estudo e aprendizado profundo, sobre as praticas e os ensinamentos judaico ,que finaliza na subida e na leitura da Torá do Jovem Bar Mitzvando ,observado por toda a comunidade. Na verdade uma brilhante forma de exigir durante todo ano que o Jovem estude e se prepare para uma grande prova de entrada a vida judaica.</p>
<p><br/> Não é a toa que O Rav Yosef Caro exige que durante esse processo educacional que o Bar Mitzvando aprenda não somente o como, mais principalmente o porque? do colocar o Tefilim e o Talit ,ele deseja que o jovem saiba ler e também entender o contexto da leitura da Torá como forma de fortalecer a tradição e a sabedoria judaica e sobretudo garantir sua continuidade .</p>
<p><br/> A Partir da Proposta de Yosef Caro a cerimonia de Bat-Bar Mitzva se tornou parte integral da cultura e da tradição judaica em Israel e em suas comunidades, onde cada corrente judaica desdá ortodoxa , conservadora, reformista, recostrucionista e humanistas tem seu própio e específico rituais.</p>
<p><br/> Dentro da corrente do Judaísmo Secular Humanista Existe logicamente varias formas de fazer um Bat – Bar Mitzva as pratica que se modificam dentro dos aspectos culturais de cada comunidade. <br/> Bat – Bar Mitzva do Judaísmo Secular Humanista já é hoje bastante difundindo e praticado na Argentina, Uruguai, França , EUA e Israel principalmente nos Kibuzim.</p>
<p><br/> <strong>No Brasil ainda não existe essa pratica !</strong></p>
<p><br/> Por Isso aqui apresento um proposta pensada para o judaismo brasileiro, levando em consideração a particularidade desse judaísmo que de um lado a sua grande maioria se define como secular, porem muito identificada com as pratica e costumes tradicionalistas.</p>
<p><strong>Anterior ao ato do Bat-Bar Mitzva</strong></p>
<p><br/> Durante todo o anos da data definida do Bat – Bar Mitzva deverá ser efetivado 13 Mitzvot. <br/> As Mitzvot deverão estar relacionadas a criar uma processo de estudo e aprendizado sobre a cultura e a tradição judaica como forma de fortalecer a identidade judaica do Bat-Bar Mitzvando, na verdade esse processo de aprendizagem durante todo esse ano tem uma importância educacional maior que o própio ato do Bat-Bar Mitzva, pois será a oportunidade unica de fazer o Rapaz ou a Moça possa se aprofundar sobre a nossa cultura e tradições.</p>
<p><br/> Isso quer dizer que o Bat - Bar Mitzva do Judaísmo Secular Humanista tem suas regras, ele não pode ser algo instrumental e folclórico de uma grande festa ! Ele sim deverá ser um processo rico e profundo na vida do Bat –Bar Mitzvando , com muito conteúdo , pratica e vivência judaica, como forma de fazer o rapaz ou a moça entender a grande responsabilidades do ato de ser um Judeu – Judia perante a sua vida, sua família, sua comunidade e a sociedade em geral.</p>
<p><br/> <strong>Exemplos de 13 Mitzvot:</strong></p>
<p><br/> 1.Fazer um estudo profundo com ajuda dos pais e avos sobre as raízes judaica da Família e de sua comunidade.</p>
<p>2.Estudar e entender de forma profunda o porque da origem das praticas e costumes judaico como: Kipa, Tefilim, Talit,Mezuza , hábitos alimentares, Tzedaka etc. Relacionar esses valores dentro da concepção moral e ética do Judaísmo secular Humanista..</p>
<p>3.Ter aulas de hebraico.</p>
<p>4.Saber ler e entender o hebraico da leitura da Torá e estudar seu significado, tradicional e filosófico e aprender a parashat hashavua do dia do Barmitzva e seu significado.</p>
<p>5.Estudar para saber recitar no dia do Bat – Bar Mitzva o canto " Oseh shalom bimromav"</p>
<p>" Oseh shalom bimromav Hu ya'aseh shalom aleinu V'al kol Yisrael , V'imru, v'imru amen. Ya'aseh shalom, ya'aseh shalom Shalom aleinu v'al kol ha olam kulo, V'imru, v'imru amen, Ya'aseh shalom, ya'aseh shalom Shalom aleinu v'al kol ha Adam V'imru, v'imru amen.</p>
<p>"Que ele traga a paz as suas alturas, Que Ele possa trazer a paz sobre nós e sobre todo Israel, e diremos amém. Ele pode trazer a paz, Ele pode trazer a paz, a paz sobre nós e para todo o mundo e diremos amém. Ele pode trazer a paz, Ele pode trazer a paz, a paz sobre nós e paz para todo seres humano e diremos todos amém."</p>
<p>6.Estudar a Historia do povo Judeu e a criação do Estado de Israel e sua atualidade.</p>
<p>7.Escolher uma personalidade judaica que mais se identifica e estudar sobre ela e apresentar um resumo sobre o porque escolheu essa personalidade e falar um pouco sobre ela no ato do Bat Bar Mitzva.</p>
<p>8.Ler um livro sobre um tema judaico e fazer um pequeno resumo desse livro num sábado num almoço com toda a família.</p>
<p>9.Escrever um discurso baseado nos valores judaico para ser lido em publico no ato do Bat- Bar Mitzva.</p>
<p>10.Fazer uma pratica de responsabilidade familiar : Organizar sozinho um Kabalat Shabat para a família, incluindo a comida.</p>
<p>11.Fazer uma pratica de "Amor ao Próximo" : Ser voluntário pelo menos durante todo um dia numa instituição de caridade.</p>
<p>12.Fazer uma Pratica de Kashrut ecológica como: Plantar uma arvore, ou fazer uma horta no jardim de casa ou do bairro, limpeza de detritos nas praias , bosques e florestas, proteção de animais etc...</p>
<p>13.Fazer uma doação mesmo que simbolica a uma ONG ou instituição que o rapaz ou a Moça se identifique</p>
<p>.</p>
<p><strong>O ato do Bat – Bar Mitzva</strong></p>
<p><br/> O ato do Bat – Bar Mitzva devera ser parte da finalização do processo realizado durante todo o ano.</p>
<p>O Ato do Bat - Bar Mitzva deverá estar totalmente concentrado no rapaz ou na Moça pois é uma prova do fortalecimento de sua identidade judaica.</p>
<p><br/> • Local da comemoração : O Bat - Bar-Mitzvá poderá ser comemorado num Beit Hakinesset , no centro comunitário, num grande salão de festa ao ar livre. (em Israel em muitos Kibutzim a comemoração costuma ser feito no refeitório ou ao ar livre no gramado central do Kibutz.)</p>
<p><br/> • A Data do Bat Bar Mitzva: Deve ser definido na data mais proxima do aniversario da Jovem ou do Jovem segundo o calendário judaico.</p>
<p><br/> • Ter definido um Sheliach Sibur, More para acompanahar o ato da cerimonia do Bat-Bar Mitzva.</p>
<p> </p>
<p> <strong>Cerimônia do Bat- Bar Mitzva</strong></p>
<p><br/> 1. Abertura do Barmitzva : Palavras do Sheliach Sibur – More fala sobre a importância de ser Judeu – Judia e do Bat – Bar Mitzva . Se pode se ler um texto.</p>
<p><br/> 2. Apresentação do jovem ou a Jovem perante a comunidade e fala um pouco sobre suas raízes judaica familiar ( em base da pesquisa familiar feita durante o ano esse é o momento de poder homenagear alguém da família já falecido)</p>
<p><br/> 3. O Bat –Bar Mitzvando lê o primeiro segmento da Parashá - a Porção Semanal da Torá.</p>
<p><br/> 4. O Sheliach Sibur – More faz uma interpretação atual da parasha que esteja relacionada com a vida do Bat-Bar Mitzvando.</p>
<p><br/> 5. O Sheliach Sibur , More faz a leitura da Torá . e Convida em Ordem o Bat-Bar Mitzva, Pai ou Mãe, Avô ou Avó ou algum convidado(a) de Honra.</p>
<p><br/> 6. O Bat – Bar Mitzvando Faz o shema Israel junto com todo o Publico.</p>
<p><br/> 7. O Sheliach Sibur , More faz uma analogia do significado dessa tefila Shema Israel para o povo Judeu.</p>
<p><br/> 8. O Bat – Bar Mitzvando faz uma pequena apresentação sobre o personagem da vida judaica escolhido.</p>
<p><br/> 9. O Bat –Bar mitzva faz um discurso basedo nos valores judaico.</p>
<p><br/> 10. O Bat-Bar Mitzvando recitando ou canta " Oseh shalom bimromav" em hebraico e no final o sheliach sibur – More faz a tradução ao publico ao português.</p>
<p><br/> 11. O Sheliach Sibur – More Faz uma Bracha em homenagem ao Bat –Bar Mitzva</p>
<p><br/> 12. Palavras finais de agradecimentos de um representante familiar .</p>
<p><br/> 13. Se convida todos a ser parte da seada ( comida)</p>
<p><br/> 14. Durante a seada ( comida) se apresenta um pequeno video documentando o processo vivido pelo Bat – Bar Mitzva.</p>
<p><br/> 15. Musica para se alegrar e dançar.</p>
<p><br/> 16. Fim da cerimônia</p>
<p><br/> Mazal Tov!</p>
Pirkê Avot – Ética dos Pais - Os Oito Capítulos - A busca pelo equilíbrio Rodrigo Bersot
tag:judaismohumanista.ning.com,2012-02-03:3531236:Topic:66317
2012-02-03T17:04:14.253Z
Jayme Fucs Bar
https://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<h3 align="left" id="sites-page-title-header"> </h3>
<div class="sites-canvas-main" id="sites-canvas-main"><div id="sites-canvas-main-content"><div class="sites-layout-name-two-column-hf sites-layout-vbox"><table cellspacing="0" class="sites-layout-hbox">
<tbody><tr><td class="sites-layout-tile sites-tile-name-content-1"><div dir="ltr"><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><font face="georgia,serif" size="6">U</font>m dos…</span></p>
</div>
</td>
</tr>
</tbody>
</table>
</div>
</div>
</div>
<h3 id="sites-page-title-header" align="left"> </h3>
<div id="sites-canvas-main" class="sites-canvas-main"><div id="sites-canvas-main-content"><div class="sites-layout-name-two-column-hf sites-layout-vbox"><table class="sites-layout-hbox" cellspacing="0">
<tbody><tr><td class="sites-layout-tile sites-tile-name-content-1"><div dir="ltr"><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><font size="6" face="georgia,serif">U</font>m dos textos mais estudados e comentados da literatura talmúdica é, sem dúvida Pirkei Avot, ou Ética dos Pais, como é conhecido em Português. A explicação para tamanha popularidade talvez resida no fato de ser um texto extremamente simples e com conselhos práticos. Outro fator que pode explicar seu sucesso está no fato de ser uma obra incomum, pois apresenta sinteticamente os ensinamentos dos sábios de várias gerações. Seu texto pode ser encontrado num Sidur completo.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Apesar de sua simplicidade, é um tratado que dá margem à diversificadas e profundas interpretações. A obra mais completa sobre Pirkei Avot em Português pode ser encontrada no livro <em>A ética do Sinai</em>, da editora Sêfer. Lá o autor Irving M. Bunim dá diversas interpretações de vários sábios judeus durante a história, além de introduzir seu próprio parecer.</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><font size="4"><em>"'Mesmo sendo este tratado pequeno e de fácil compreensão na superfície, agir de acordo com o seu conteúdo não é fácil para todos, nem suas intenções compreensíveis, sem uma explicação detalhada'."</em></font></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">O livro em estudo (<em>Os oito capítulos</em>, editora Maayanot) trata-se de uma introdução ao Pirkei Avot feita por Moshê Ben Maimon, mais conhecido como Maimônides ou RAMBAM no meio judaico. Com explicações sobre a alma, Maimônides ensina os pré-requisitos para cumprir os ensinamentos éticos do tratado, através da conduta moral. Segundo o próprio autor "mesmo sendo este tratado pequeno e de fácil compreensão na superfície, agir de acordo com o seu conteúdo não é fácil para todos, nem suas intenções compreensíveis, sem uma explicação detalhada. No entanto, leva à grande perfeição e à verdadeira felicidade".</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Esta introdução foi escrita por Maimônides em oito capítulos. Segundo o autor os ensinamentos contidos neles podem despertar o indivíduo a tomar uma nova postura de vida pautada na busca pelo Conhecimento Divino, que seria, ainda segundo o autor, o objetivo principal dos que se guiam pelos ensinamentos da Torá.</span></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Recomendamos a leitura de todos os oito capítulos, pois encerram em si séculos de uma profunda sabedoria.</span></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Neste artigo nos limitaremos a apresentar uma resenha do quarto capítulo, onde há uma interessante discussão sobre a virtude e o vício. Entretanto, a leitura de todos os oito capítulos é de fundamental importância para o pleno entendimento das ideias do filósofo.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><em><strong>Capítulo 4</strong></em></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><em>Sobre o tratamento das doenças da alma</em></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Neste capítulo, Maimônides aborda a questão da alma de uma maneira mais prática. Como um médico, ensinará como é possível melhorar as ações, para que se possa livrar-se dos excessos e das faltas. Para tal, definirá quais são as virtudes da alma, introduzindo o conceito do equilíbrio. Bom é aquilo que se situa entre o exagero e a escassez. Esse equilíbrio vale para todas as ações.</span></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana;"><font size="4"><em>"A virtude pode ser definida como uma característica resultante do estado de equilíbrio da alma."</em></font></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Assim, diz RAMBAM, são ruins todos os extremos: tanto o excesso quanto a deficiência. Dessa forma a virtude pode ser definida como uma característica resultante do estado de equilíbrio da alma. O primeiro exemplo dado por Maimônides refere-se à moderação. Esta é a virtude que se encontra entre os extremos da luxúria e da insensibilidade ao prazer. Esses dois extremos são, nos dizeres do sábio, "vícios morais".</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">RAMBAM dá outros exemplos. Para melhor vizualizá-los utilizamos aqui uma tabela:</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"> </p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div align="center"><div align="center"><table style="border-width: 1px; border-color: #888888; text-align: center; border-collapse: collapse;" border="1" cellspacing="0">
<tbody><tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444"><strong>DEFICIÊNCIA</strong></font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444"><strong>VIRTUDE</strong></font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444"><strong>EXCESSO</strong></font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">insensibilidade</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">moderação</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">luxúria</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">avareza</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">generosidade</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">extravagância</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">degradação</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">amor próprio</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">altivez</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">apatia</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">agrado</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">irritabilidade</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">rebaixamento</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">humildade</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">orgulho</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">preguiça</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">contentamento</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">ganância</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">coração ruim</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">bom coração<strong>*</strong></font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">coração muito bom<strong>**</strong></font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">insensibilidade</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">paciência</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">raiva</font></p>
</td>
</tr>
<tr><td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">timidez</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">modestia</font></p>
</td>
<td style="width: 60px;"><p style="text-align: center;"><font color="#444444">impudência</font></p>
</td>
</tr>
</tbody>
</table>
</div>
</div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><strong>*</strong> "(...) a pessoa de bom coração é aquela que tem toda a intenção de fazer o bem para as pessoas (...) sem ferir ou envergonhar a si própria: este sim é o equilíbrio." (p.24)</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><strong>**</strong> "O de coração muito bom é quem faz as coisas descritas acima, com bom coração, mesmo que o prejudique ou envergonhe ou tenha de fazer muito esforço e tenha grande prejuízo com isto, este é o outro extremo." (p.24)</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><em>A origem dos vícios morais</em></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Maimônides diagnostica a forma como esses vícios morais enraizam-se na alma, e, como consequencia, manifestam-se na prática. Segundo ele, todos esses vícios são fruto de uma repetição de uma ação referente a um hábito, em um longo período de tempo.</span></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana;"><font size="4"><em>"O meio familiar e social em que uma criança cresce faz com que ela se acostume às ações desse meio, que podem estar equilibradas, ou no excesso ou deficiência."</em></font></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"> </div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><table class="sites-layout-hbox" cellspacing="0">
<tbody><tr><td class="sites-layout-tile sites-tile-name-content-2"><div dir="ltr"><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Assim, podemos constatar que Maimônides, em sua filosofia, rejeita a teoria determinista. Ao contrário, afirma que os seres humanos são plenamente livres nas suas escolhas e formação moral. Apesar disso, relativiza a questão ao afirmar que o meio familiar e social em que uma criança cresce faz com que ela se acostume às ações desse meio, que podem estar equilibradas, ou no excesso ou deficiência (veja o quadro acima). O livre-arbítrio estaria, portanto, numa fase em que o indivíduo escolhesse continuar a viver da forma em que está acostumado ou buscasse outro caminho<em>.<span> </span></em></span></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><span><font size="4"><em>"<span style="font-family: Verdana;">Repetição - eis a chave da questão para Maimônides"</span></em></font></span></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Repetição - eis a chave da questão para Maimônides. Somente através dessa é que adquire-se, ao longo da vida, virtudes ou vícios morais, que estarão "firmemente estabelecidos na alma" até que haja um interesse de mudança.</span></p>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><em>O tratamento dos vícios morais</em></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Mais uma vez, Maimônides recorre à analogia com sua profissão - a medicina - para explicar o imaterial.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">O corpo humano necessita de equilíbrio para manter-se saudável. Tudo o que está em excesso no organismo deve ser reduzido, e o que está insuficiente deve ser suprido. Utilizemos um exemplo moderno e de fácil assimilação para entendermos o que RAMBAM quer nos dizer: a vitamina A. Todos nós necessitamos dela. O equilíbrio desta substância no organismo, entre outros efeitos, permite que ela combata os radicais livres, que são os responsáveis pelo envelhecimento. Um organismo, porém, que não possui quantidade suficiente estará sujeito a diversas doenças, como visão deficiente à noite, sensibilidade à luz, redução do olfato e do paladar, ressecamento e infecção na pele e nas mucosas, estresse, etc. Da mesma maneira, o excesso de vitamina A no sangue pode trazer sérias complicações (pele seca, áspera e descamativa, fissuras nos lábios, ceratose folicular, dores ósseas e articulares, dores de cabeça, tonturas e náuseas, queda de cabelos, entre outras moléstias).</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Uma pessoa que não possui a quantidade sificiente da vitamina no corpo, não poderá simplesmente ingerir a mesma porção da substância que uma pessoa normal. Provavelmente terá que tomar um suplemento.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">É neste ponto que a comparação se torna interessante. Para sanar os vícios da alma, deve-se aplicar tratamente semelhante. Se, por exemplo, um indivíduo está habituado com a prodigalidade, a extravagância, o tratamento que deve ser aplicado a ele não é outro senão tomar atitudes avarentas. Não pode simplesmente praticar atos generosos. Deve buscar o oposto ao vício. Do contrário, nunca conseguirá se livrar dessas atitudes extravagantes.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana;"><span><font size="4"><em>"É mais fácil para o indivíduo se virar da extravagência para a generosidade, do que da avareza para a generosidade."</em></font></span></span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">O oposto também é válido. Se está habituado a ter atitudes avarentas, só conseguirá chegar ao equilíbrio - a generosidade - quando repetidamente tomar atitudes extravagantes. Uma ressalva é feita, porém: não se deve fazer o indivíduo repetir ações de avareza tanto quanto de extravagância. Segundo o sábio "esta sutileza é a regra da terapia, e é o seu segredo." E isto é facilmente compreendido: é mais fácil para o indivíduo se virar da extravagência para a generosidade, do que da avareza para a generosidade. Isto também é válido para as outras ações da alma, como a luxúria. Para tratar um indivíduo insensível não se deve estimulá-lo tanto quanto se deve fazer um indivíduo com luxúria praticar a insensibilidade, pois, novamente, é mais fácil um indivíduo passar do estágio da insensibilidade para o estágio da moderação, do que passar do estágio da luxúria para o da moderação.</span></p>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><span><font size="4"><em>"</em></font><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><font size="4"><em>A Torá, segundo a tradição judaica, é perfeita e conforta a alma. Assim, exige dos que a cumprem que tenham uma vida equilibrada, seguindo a moderação e evitando os extremos."</em></font></span></span></span></div>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">RAMBAM segue esclarecendo um tipo de comportamento trilhado pelos piedosos, ao fazerem mais do que a Lei pede, e, portanto, se inclinando para o excesso ou deficiência. Desta forma, inclinam-se à generosidade excessiva, por exemplo. Ao ver este comportamento, os ignorantes pensam que estarão sendo piedosos se também se comportarem de tal forma. O que eles não consioderam é que essa inclinação ao excesso ou deficiência faz parte do tratamento do caráter desses sábios, e que, portanto, não são comportamentos comuns, que devem ser imitados pelas pessoas de alma saudável. É como se alguém visse o médico aplicar um remédio a um doente e pensasse que este remédio poderia aumentar sua saúde, o que é absurdo.</span></p>
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<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-family: Verdana;"><font size="4"><em>"O mais alto nível que um ser humano pode alcaçar viria quando este avaliasse suas ações e pensamentos e os dirigisse de acordo com o equilíbrio da Torá. Ao atingir este estágio, estaria perto do Criador."</em></font></span></span></div>
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<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">A Torá, segundo a tradição judaica, é perfeita e conforta a alma. Assim, exige dos que a cumprem que tenham uma vida equilibrada, seguindo a moderação e evitando os extremos. Segundo o autor todos os mandamentos ajudam a trilhar esse caminho da moderação.</span></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"></p>
<p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">O mais alto nível que um ser humano pode alcaçar viria quando este avaliasse suas ações e pensamentos e os dirigisse de acordo com o equilíbrio da Torá. Ao atingir este estágio, estaria perto do Criador. No final do capítulo Maimônides faz uma citação taxativa: "Todo aquele que avalia o seus caminhos e os observa, merece a salvação do Todo-Poderoso."</span></p>
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Educação e Talmud - uma Releitura da Ética dos Pais Ana Szpiczkowski*
tag:judaismohumanista.ning.com,2011-12-15:3531236:Topic:64151
2011-12-15T21:42:00.434Z
Jayme Fucs Bar
https://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Antes de dar início a esta explanação sobre judaísmo e educação, proposta deste encontro, gostaria de iniciar com a retomada de alguns princípios básicos judaicos, sustentáculos que facilitam a compreensão desta religião e dos princípios que regem a vida de um dos povos mais antigos da história da humanidade e que permanece vivo até os dias de hoje.</p>
<p>A Torá (Bíblia), base do judaísmo histórico, é a religião do povo judeu que, em conjunto com os preceitos da Halakhá (Lei Rabínica),…</p>
<p>Antes de dar início a esta explanação sobre judaísmo e educação, proposta deste encontro, gostaria de iniciar com a retomada de alguns princípios básicos judaicos, sustentáculos que facilitam a compreensão desta religião e dos princípios que regem a vida de um dos povos mais antigos da história da humanidade e que permanece vivo até os dias de hoje.</p>
<p>A Torá (Bíblia), base do judaísmo histórico, é a religião do povo judeu que, em conjunto com os preceitos da Halakhá (Lei Rabínica), contidos no Talmud (Lei Oral), e das Mitsvót, (regras de conduta obrigatória, de essência divina) são entendidas como um todo indissociável, partindo, portanto, do princípio de que ambas foram transmitidas por Deus a Moisés.</p>
<p>Nesta concepção se encontra o dogma fundamental e único do judaísmo, segundo o qual, a revelação divina tem duas vertentes: uma escrita e outra oral que não são nada mais que dois aspectos da mesma Lei, transmitida a Moisés no Monte Sinai. A aceitação desde dogma é de tal importância, a ponto de que o próprio Maimônides [1] , em seus escritos, se refere à importância do homem escolher para sua moradia um lugar onde a Lei Escrita e a Lei Oral sejam estudadas, para preservar a manutenção dos estudos e de sua conseqüente prática.</p>
<p>O judaísmo é constituído pela memória de gerações, em que os mais velhos têm a obrigação de transmitir os conhecimentos para os mais novos. Tal fato, por si só, demonstra a importância que se atribui no judaísmo à questão do ensino e da educação de um modo geral. Encontramos na própria Bíblia, em Deuteronômio [2] uma alusão à importância do recebimento e da transmissão de conhecimentos por herança. Também Maimônides, em seus mandamentos, afirma o dever de ensinar e estudar a Torá e o de honrar os eruditos e idosos que nela são versados.</p>
<p>Na realidade, esta iniciação deve se dar desde a mais tenra idade, pela repetição de alguns versículos bíblicos, cabendo ao pai a responsabilidade por esta tarefa. Em seguida, a criança de três anos é encaminhada ao Heder, instituição característica da educação judaica tradicional no este europeu, destinada a ensinar às crianças a prática religiosa judaica e da língua hebraica.</p>
<p>A partir da idade de seis ou sete anos, este estudo poderá ser confiado a um professor, que receberá remuneração por seu trabalho. Em toda cidade deverá haver um professor de crianças, cuja importância equivale à de um médico, assim como de uma sinagoga e de um tribunal rabínico, sob pena de ser colocada no ostracismo. Finalmente, as crianças não devem interromper os estudos por motivo algum, por mais importante que este possa ser.</p>
<p>Estudar a Torá representa usar a sabedoria e a inteligência com a finalidade de levar uma vida digna e justa. Envolve o cumprimento, a ação, a prática da vontade de Deus, em que a fé e a Lei devem caminhar em perfeita sintonia.</p>
<p>A questão das ações associadas à sabedoria é tratada também por Abrabanel [3] , quando este atribui à palavra “sabedoria” o sentido de pensamento filosófico, e à palavra “ações”, o fato de seguir os caminhos da Torá. Assim, mesmo que a ciência do homem seja grande, mesmo que os resultados de suas investigações sejam muitos, toda essa sabedoria será frágil, se a raiz estendida pela Torá for pequena. Ao contrário, aquele que escolhe como base de reflexão e de investigação a palavra revelada por Deus, se prende a esta revelação e atua em sua vida de acordo com ela. Este homem se parece à árvore que tem poucos ramos e muitas raízes e, como tal, resiste a todas as tempestades. Mesmo que todos os ateus e os incrédulos do mundo o assaltem, não conseguirão alterar suas firmes convicções.</p>
<p>A prática da educação no judaísmo, entretanto, vai além do puro e simples acompanhamento dos princípios religiosos judaicos. Ela visa ao desenvolvimento do ser humano como um todo, em suas facetas intelectual, emocional, comportamental e moral, e propõe uma prática voltada a todas as atitudes do indivíduo, no seu dia a dia, desde as mais simples até aquelas consideradas mais complexas e difíceis de lidar.</p>
<p>Um dos líderes religiosos judaicos mais respeitados do séc. XX, Rabi Schneerson, mais conhecido como Rebe de Lubavitch, afirma que para atingir bons resultados em educação é preciso ir além do ensino relacionado ao desenvolvimento da capacidade cognitiva dos educandos. A verdadeira educação, segundo o citado Rabi, ocorre, principalmente, quando acompanhada pela responsabilidade, ponderação, firmeza, paciência e polidez do educador. Preocupa-se com a formação do homem como um todo, com respeito à sua verdadeira essência e caráter, à sua situação e ao ambiente no qual o mesmo se insere, com um grau de responsabilidade que vai além da simples transmissão de conhecimentos. Envolve respeito pelo ser humano que está ali, ávido por receber novos conhecimentos, e que merece receber mais. Sua base consiste no cumprimento humilde de um dever de educar a nova geração, também adquirida das gerações anteriores. Trata-se da manifestação do cuidado pelo outro, Akher, em hebraico. Por sinal, é possível estabelecer uma relação entre esta palavra Akher – outro - e o termo Akhraiut – responsabilidade. Ambas, na língua hebraica, partem do mesmo radical e representam, como afirma Lévinas, uma das mais importantes premissas educacionais, que é a de manifestação do cuidado e responsabilidade para consigo mesmo e pelo outro, tema-chave do pensamento filosófico, teológico, político e pedagógico/antropológico do séc. XX. A necessidade de convivência, e da aceitação das pessoas pela coletividade e pela sociedade em que se inserem, implica no estabelecimento de regras que sejam aceitas convencionalmente e que normalizem esta coexistência.</p>
<p>Desta necessidade de regras para a convivência em sociedade nasce a moral. Moral difere de ética, embora a ética inclua a moral. Enquanto a moral consiste em um conjunto de hábitos e costumes formados por acúmulo de experiência ou pela preservação das tradições, a ética diz respeito ao exercício individual diante de questões, em função de algum critério pessoal. Nas construções de normas morais estão incutidos conceitos de ética para tornar possível à convivência humana. Estes representam, desde a Antigüidade até os dias de hoje, a preocupação da civilização ocidental e do homem como indivíduo, em vincular o ser humano ao seu modo de ser e agir e ao modo de ser e agir do próximo, com vistas à universalidade e à criação e adoção de regras e normas de convivência em sociedade, independentemente das diferenças setoriais, geográficas e históricas.</p>
<p>A moral não ensina ao indivíduo como ser feliz. Para ser feliz é preciso, antes de tudo, que o ser humano busque dentro de si, e decida se quer ou não cumprir aquilo que a moral exige.</p>
<p>Há momentos em que a moral, por ser universal, se torna repressiva para a auto-realização do ser humano enquanto individualidade. Há mesmo situações de conflitos, em que temos que optar por uma conduta que representa o que queremos e uma conduta que nos é moralmente imposta.</p>
<p>Grande parte das normas morais tem como fonte a Bíblia. Embora a ética não seja necessariamente religiosa, a religião necessita da ética. Todas as religiões se fundamentam em princípios éticos. O mundo da religião é o mundo da crença. Ao delimitarmos nossas crenças delimitamos nossa ação.</p>
<p>No judaísmo, a atribuição da Bíblia a Deus, faz com que a moral e a ética se tornem muito próximas. Trata-se de uma moral que emana de Deus, não do ser humano. A moral é feita por mandamentos, aos quais o judeu deve cumprir de tal maneira, a exercitar e aprender a perder a sua própria vontade para chegar a aprender a vontade divina.</p>
<p>A unidade do povo judeu na Antigüidade se dava não em relação a um território, mas à sua história seqüencial, relatada e escrita em um livro, “O Livro”, a Bíblia.</p>
<p>O grande personagem da Bíblia não ó povo judeu, mas é Deus. A obra de Deus é perfeita, e nela está o paraíso. A queda do paraíso se deu em conseqüência da curiosidade pelo conhecimento do homem e da mulher.</p>
<p>Deus impõe sua moral ao seu povo, trazendo não apenas a visão do paraíso, mas também da perda, da decadência e da punição, como um destino a ser suportado, sofrido e resgatado.</p>
<p>A ética judaica consiste em obedecer ao código moral, ao sistema de mandamentos divinos, definidos por Maimônides como positivos e negativos. Mas ela vai além. O próprio Maimônides em sua obra “O Guia dos Perplexos” [4] refere-se à questão de que o homem foi criado à imagem de Deus [5] , semelhança espiritual e não física, em que Deus insuflou no homem seu próprio espírito. Isto significa que todos os homens foram igualados pelo recebimento do espírito divino e possuem possibilidades iguais de convivência e desenvolvimento na sociedade em que vivem, independentemente de sua cor, estatura, nacionalidade, religião, cultura e demais características. Para que isto ocorra é preciso, pois, que o ser humano pratique o princípio de “amarás a teu próximo como a ti mesmo...” [6] , conforme consta em Levítico.</p>
<p>Na filosofia judaica clássica existem diferentes teorias éticas, das quais chamo a atenção para um tratado ético judaico, parte do Talmud, e que representou um marco para a sociedade aristocrática da época, desde 300 a.C. até 200 d.C. Consiste em um tratado que contém toda uma coleção de ditos e sentenças dos “pais”, os Sábios de Israel, de caráter fundamentalmente ético que representa não um código de valores e normas, mas uma série de condições mínimas necessárias para a sustentação de toda sociedade humana e do homem simples do povo. Muitas de suas máximas exaltam a Torá, a Bíblia, ao mesmo tempo em que propõem um aprimoramento individual do homem enquanto ser atuante na sociedade em que vive, com direitos e obrigações, onde impera a responsabilidade pessoal e coletiva.</p>
<p>Minha escolha por este tratado deu-se, principalmente, pela inesgotável riqueza de ensinamentos e reflexões sobre educação e indiretamente sobre ensino, nele contidas.</p>
<p>Uma de suas máximas que mais chamou minha atenção foi proferida pelo Rabi Elazar ben Schamuá [7] que diz:</p>
<p>“Que a honra do teu discípulo seja tão querida para ti como a tua própria, e a honra do teu companheiro como a reverência pelo teu mestre, e a reverência pelo teu mestre como a reverência pelos Céus”.</p>
<p>Rabi Elazar distingue nesta máxima três classes de honra: a que o homem reivindica para si mesmo, a de seu aluno e a de seu colega. Por outro lado, menciona dois tipos de respeito: o que se deve ao professor e o que se deve a Deus.</p>
<p>Na visão de Abrabanel, Rabi Elazar está se referindo a três níveis de contatos sociais.</p>
<p>O primeiro é o relacionamento entre uma pessoa com alguém diferente dele na questão da autoridade, como a do mestre e seu discípulo. Nesse caso, o mestre é advertido para estender ao seu discípulo o mesmo respeito que ele gostaria de receber.</p>
<p>O outro nível de contato social é o relacionamento entre iguais. Aqui Rabi Elazar nos ensina a honrar nossos iguais com a reverência que é dada a um mestre.</p>
<p>O terceiro nível se refere a aquele que se encontra na companhia de uma pessoa superior a ela, uma personalidade, com quem o relacionamento deve ser de deferência, reverência e respeito.</p>
<p>A apresentação dos três níveis de contato enumerados no texto sugere uma ordem crescente entre os tipos de honra e respeito.</p>
<p>A primeira colocação de Rabi Elazar refere-se à honra que o homem deve reivindicar para si próprio. Ele parte do pressuposto de que o amor-próprio antecipa qualquer relacionamento e que, sem ele, todos os relacionamentos seguintes ficam comprometidos, princípio, por sinal, referendado por autores contemporâneos como Knibbeler (1989), Prabhu (1992), Orlowek (1993), Buber (1973) e outros.</p>
<p>Ao comparar a honra do companheiro à honra do mestre, Rabi Elazar, se refere àposição de educador-educando que pode inverter-se, e o companheiro de hoje poderá um dia converter-se em nosso professor, e vice-versa. Por sinal, é possível completar esta idéia com a referência à outra máxima do mesmo tratado ético, onde é afirmado que:</p>
<p>“Quem aprende de seu companheiro um capítulo, ou um parágrafo, ou um versículo, ou uma palavra, ou mesmo uma única letra, tem a obrigação de tratá-lo com honra...”</p>
<p>O respeito devido ao companheiro de estudos, ao condiscípulo, está comparado aqui com o respeito que temos ao professor. A prática dialética de argumentação, promove a educadores e educandos o encorajamento, o desafio e o direito à discordância, e possibilita a constante reavaliação de sua atuação, tão necessária para o próprio crescimento e para o crescimento do outro.</p>
<p>A mensagem principal desta máxima é, sem dúvida, a idéia do “respeito”, que permeia todos os tipos de relacionamentos, e especificamente aqueles voltados à educação.</p>
<p>Certamente, sua importância é tamanha, que pode ser considerado como elemento norteador do processo educacional democrático, em que o professor respeita seus alunos e outros professores, assim como os alunos respeitam seus colegas e mestres.</p>
<p>O “respeito” como qualidade para os relacionamentos é vastamente apresentada nesta coleção de ditos. Há uma, porém, que atraiu especialmente minha atenção, pois ela faz referência à questão do “olhar” do professor em relação aos seus alunos, e da percepção respeitosa que ele deve ter das diferenças, capacidades e competência dos mesmos para lidar com as situações que lhes aparecem e lhes são apresentadas no dia a dia. Ele passa, assim, a considerar cada um de acordo com seu potencial individual e a respeitar nele suas próprias capacidades e ritmos distintos de aprendizagem. É ela:</p>
<p>“Há quatro tipos entre os que se sentam perante mestres: esponja, funil, filtro e peneira. Esponja é aquele que absorve tudo; funil, o que recebe de um lado e deixa escapar de outro; filtro, o que deixa sair o vinho e retém a borra; peneira, o que deixa sair o farelo e retém a farinha”.</p>
<p>Falando do tipo que se assemelha a uma esponja, os Sábios não se referiam ao indivíduo que absorve de tudo, sem discernimento, mas àquele que, por sua imensa curiosidade, absorve avidamente tudo o que emana da boca do seu mestre. Quando apontam para o segundo tipo, o funil, associam a este objeto à sua capacidade de absorção, superior à sua capacidade de restituição, o que significa que o aluno que se assemelha ao funil restitui com dificuldade os conhecimentos absorvidos. A terceira categoria de alunos é comparada ao filtro, que retém os sedimentos e deixa passar o vinho, do mesmo modo que o bom aluno deve “sedimentar” o que aprendeu e transmitir aos seus futuros alunos um vinho claro, quer dizer, os conhecimentos, de acordo com sua capacidade de compreender. Por último, a comparação com a peneira, que serve para reter o melhor da farinha, corresponde ao aluno que é capaz de conservar o núcleo dos ensinamentos e desfazer-se dos desperdícios.</p>
<p>A questão do respeito mútuo pode ser também constatada nas academias de estudos superiores, que se baseia em uma metodologia própria denominada Pilpul - raciocínio dialético, que se traduz em uma experiência bastante rica dentro do processo educacional. Consiste na participação integrada de mestres e alunos em que as declarações de cada erudito são aceitas e agregadas às afirmações de outros Sábios, e onde a diversidade de juízos é vista como parte complementar do processo educacional, que tende a propiciar o crescimento das partes envolvidas e, conseqüentemente, da própria aprendizagem. Os mestres expõem a doutrina, as Leis, e os alunos que não a compreendem inteiramente, costumam fazer perguntas. A essas perguntas segue-se a contestação dos professores, explicando-a mais claramente. Surgem objeções, os defensores das teses de seus mestres se enfrentam com seus contraditores, e todos os envolvidos têm direito à participação, à opinião, à contestação e à indagação, que conduzem ao discernimento. Ao término do debate, algumas opiniões são definitivamente descartadas e outras adotadas pelo reconhecimento do seu valor, e esclarecem certos aspectos ou conseqüências das doutrinas que até então não estavam claros.</p>
<p>Traduz-se em uma metodologia que pressupõe o envolvimento afetivo com o objeto de discussão, e a participação ativa no processo de aprendizagem. Muitas vezes a melodia é associada ao sistema de estudo do Talmud que, pelo fato de imprimir seu ritmo ao texto e aos seus comentários, promove a participação integral das pessoas e pode conduzir à fixação do conhecimento. Ela busca proporcionar ao aluno uma autoconfiança tal que ele não tenha receio de expor seus pensamentos e lhe permita explorar e criar novas idéias. Na medida em que o aluno vai se desprendendo da timidez, adquire coragem para se colocar diante dos colegas e mestres, vencer etapas e adquirir auto-estima mais elevada. Com esta prática, ele não estará somente escutando aos outros, mas tem a oportunidade de ouvir também a si mesmo e de tentar, cada vez mais, atingir um nível de argumentação apropriada que o faça igualar-se aos seus colegas.</p>
<p>O movimento de dar e receber conhecimentos, certamente, conduz o estudante ao desenvolvimento de sua inteligência, aguça o sentido crítico do pensamento e permite a elucidação de problemas. Promove a participação ativa dos elementos envolvidos no processo educacional, em uma verdadeira lição de democracia, na qual todos têm o direito de questionar, de emitir opiniões, de ensinar e de aprender uns com os outros. O professor, envolvido e interessado em seus alunos e no próprio conteúdo, transmite seus conhecimentos e desenvolve, o interesse, a motivação e o envolvimento com o conteúdo da aprendizagem, pertinentes à realidade destes mesmos alunos.</p>
<p>A partir dos seis ou sete anos a criança começa a ser incentivada ao estudo em parceria, denominados de Havruta, cuja origem é a mesma que amizade ou camaradagem, em hebraico.</p>
<p>Por falar em idade é possível encontrar na “Ética dos Pais” uma máxima cujas idéias nos que remetem aos princípios cognitivistas do desenvolvimento humano apresentadas por Piaget (1974) e que propõe a compreensão do conhecimento do ser humano a partir das etapas de seu desenvolvimento. Vejamos:</p>
<p>“Ele dizia [8] : Aos cinco anos é tempo de começar o estudo da Mikrá – Lei Escrita; aos dez anos, o da Mischná - Lei Oral: aos treze anos, o dos Mandamentos; aos quinze, o do Talmud – Lei Oral; aos dezoito anos é tempo de casar; aos vinte, é tempo de perseguir o trabalho; aos trinta, plenitude da força física; aos quarenta, do entendimento; aos cinqüenta, do conselho; aos sessenta começa a velhice; aos setenta, as cãs; aos oitenta, se houver vigor; aos noventa começa o encurvamento; aos cem é como se estivesse morto, passado e extinto do mundo”.</p>
<p>Esta máxima aponta para a questão de que o conhecimento é adquirido e se acumula por toda a vida, desde a infância até a morte, e deve ser administrado de modo a poder ser utilizado tanto nas suas próprias experiências de vida como na experiência e modelo que devem ser passados para as gerações mais novas.</p>
<p>A presença do estudo durante toda a vida da pessoa permite a aquisição gradativa de conhecimentos, de acordo com o grau de desenvolvimento da mesma, uma vez que é atribuída aos idosos a sabedoria adquirida pelo estudo iniciado ainda na infância e continuado no decorrer da vida. Isto porque as meditações de um nonagenário têm por objeto a mesma Torá que a criança de cinco anos começa a estudar.</p>
<p>Ao destacar a importância do estudo desde cedo, os Sábios estão se referindo aos ensinamentos dados em casa pelos familiares, pais e avós da criança. Cabe ao pai, ainda em casa, iniciar seu filho no estudo da Torá, para depois encaminhá-lo à escola. Consiste em um movimento que atribui um valor muito grande à presença familiar na vida da criança, em uma integração harmoniosa entre lar e escola, assunto freqüentemente estudado e debatido entre os educadores dos dias atuais.</p>
<p>Cabe salientar aqui, a importância atribuída ao livro como instrumento de aprendizagem. Este objeto tão valioso tem estado um tanto esquecido ultimamente, em função do uso exacerbado da tecnologia, em detrimento da leitura. O judaísmo, pelo contrário, confere a ele um valor todo especial, quando propõe que o estudo da Lei Escrita - se dê a partir dos cinco anos. Quando a criança já estiver familiarizada com as fontes escritas do judaísmo, está preparada para iniciar o estudo da Lei Oral, e desenvolver e aprimorar cada vez mais a prática da argumentação e estudo dialético, ao qual já me referi anteriormente, que pretende desenvolver a maturidade e a aquisição de experiência e vivência pelo homem, e que lhe possibilita viver plenamente e com sabedoria, até atingir sua plenitude.</p>
<p>Quanto ao exercício da liderança, também citada neste tratado, são feitas referências às atitudes de humildade e modéstia, o interesse não possessivo pelo outro, a ação pela justiça, a flexibilidade, a tolerância e a liberdade. A problematização é sugerida para ocupar o lugar do autoritarismo e para evitar extremismos e discriminações, assim como a consciência de sua responsabilidade, individual e coletiva, já que, na condição de líder, propõe-se a deixar um legado de conhecimentos para as futuras gerações.</p>
<p>É possível encontrar no tratado de Pirkei Avot. – “A Ética dos Pais”, uma das mais completas sínteses dos princípios essenciais da prática judaica com base na Torá, a qual cito a seguir:</p>
<p>“A Torá é superior ao sacerdócio e à realeza, pois a realeza requer trinta qualidades, o sacerdócio vinte e quatro, mas a Torá requer quarenta e oito coisas. E elas são: estudo, atenção pelo ouvido, repetição em voz alta, inteligência do coração, respeito, temor, humildade, alegria, pureza, convívio com Sábios, aproximação dos companheiros, debate com os discípulos, bom senso, conhecimento da Escritura, conhecimento da tradição... paciência, bom coração, confiança nos Sábios, resignação no sofrimento, conhecer o seu lugar, contentar-se com a sua porção, medir suas palavras, não exigir créditos para si, ser amado, amar o Todo-Presente, amar o seu próximo, amar a retidão, prezar as críticas, afastar-se das honrarias, não inflar o coração por causa do desconhecimento, não se deleitar em dar ordens, ajudar o próximo a carregar o seu jugo: julgá-lo com indulgência, pô-lo no caminho da paz; estudar com método, perguntar conforme o assunto e responder conforme a regra, ouvir e aumentar o conhecimento, aprender para ensinar, aprender para praticar, estimular a sabedoria do mestre, raciocinar sobre o que ouvir e dizer coisas em nome de quem as disse. Sabe-se que todo aquele que diz uma coisa, citando o nome de quem a disse, traz a redenção ao mundo, pois foi dito: “E disse Ester ao rei em nome de Mordekhai” [9] .</p>
<p>A estrutura formal desta máxima separa por grupos as características enumeradas. Primeiramente foram citados os requisitos necessários para que o homem esteja preparado para o seu estudo. Em seguida, são apresentados comportamentos pertinentes ao convívio e aos relacionamentos interpessoais. Logo após, é lembrada a importância da aquisição do conhecimento, acompanhada de um grupo de comportamentos de contensão e respeito, seguidas de instruções de modéstia, indulgência e benevolência. Finalmente são tratadas as questões relacionadas ao estudo e ao ensino, concluindo com a orientação para o uso de citações, sempre com identificação de fonte e autor, numa atitude de respeito e deferência por aqueles que, através das gerações, deixaram seu legado à disposição de seus seguidores. Ester, mencionada nesta máxima teve, já no séc. II a.C., o zelo de citar Mordekhai, seu tio, como mandante para que se dirigisse ao rei Assuero, a fim de solicitar a redenção do povo judeu. Obteve o apoio do rei e a redenção do seu povo.</p>
<p>Para finalizar, cito: “Com que se parece aquele cuja sabedoria excede suas boas ações? Com uma árvore de muitos ramos e raízes poucas, e assim, quando sopra o vento, ele a arranca e derruba, pois foi dito:... “Porque será como o arbusto no deserto, não verá a chegada do bom tempo, viverá em lugares áridos do deserto, em terra estéril e inóspita”. (Jeremias, 17:6) Mas, com que se parece aquele cujas boas ações excedem sua sabedoria? Com uma árvore de poucos ramos e raízes muitas, de modo que, embora todos os ventos do mundo soprem e a fustiguem, não a moverão do lugar, pois foi dito: “Porque será como a árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para o ribeiro, não receia quando vem o calor, a sua folha fica sempre fresca; e no ano de secas não se afadiga nem deixa de dar frutos”.(Jeremias, 17:8)</p>
<p>Raschi [10] , se refere, com esta dupla metáfora, aos homens dignos e aos homens indignos, que são, de acordo com seu grau de enraizamento, mais frágeis ou menos frágeis. Ainda no que se refere à questão das raízes, é possível estabelecer uma analogia com ação e pensamento. As ações nobres devem ser, de certo modo, implantadas na criança como as raízes na terra, pois são elas que proporcionam à sabedoria o alimento e a força de que necessita para desenvolver-se. A ação é, nesta perspectiva, um elemento primordial para a obtenção de hábitos, para a retenção de conhecimentos e para o desenvolvimento do ser humano.</p>
<p>Finalmente, para concluir esta apresentação, gostaria de apresentar o seguinte dito: “... muito aprendi dos meus mestres, e de meus companheiros mais que deles, e de meus alunos mais do que de todos”. Creio que ele traduz, de maneira sucinta, a mensagem judaica de educação que tentei transmitir a todos. Espero que, por sua abrangência, esta mensagem possa servir como elo para a humanidade como um todo, e para o despertar do sentimento que une a todos os povos, independentemente de suas religiões e crenças, e preencher suas vidas de significado e de propósito.</p>
<p>Referências Bibliográficas</p>
<p>________________ A Bíblia Sagrada, Rio de Janeiro, Sociedade Bíblica do Brasil, tradução de João Ferreira de Almeida,1957.</p>
<p>________________ Abrabanel on Pirke Avot – New York, Shepher-Hermon Press Inc., compilado e traduzido por Abraham Chill, 1991.</p>
<p>________________ Maimônides - Comentário da Mishná - Ética dos Pais - Sanhedrin, São Paulo, Maayanot, 1993, tradução de Alice Frank.</p>
<p>_______________ Maimônides - Mishné Torá - Alumot, Jerusalém - Tel Aviv, 1965.</p>
<p>__ Maimônides - Os 613 Mandamentos - São Paulo, Nova Stella, 1990, tradução de Giuseppe Nahaïssi.</p>
<p>________________ Pirkei Avot: Ética dos Pais, São Paulo, B’nai B’rith, 1976, 1a ed., tradução e notas explicativas de Eliezer Levin.</p>
<p>Buber, Martin - Education, in Between Man and Man, cap.III. London, Collins, 1947.</p>
<p>Al Hamaasse Hakhinukhi, 1925, in Bessod Siakh, Jerusalém, 1973.</p>
<p>Caon, Claudia M. - A Educação Religiosa Ortodoxa Judaica - Princípios, Metas e Resultados, Dissertação de Mestrado em Educação, Universidade de São Paulo, 1995.</p>
<p>Kehati, Pinhas, Mishnah -Avot - Comentários a la Mishná: tratado de Pirké Avot, Jerusalém, Heichal Shlomo, 7a ed., 1976.</p>
<p>Knibbeller, Wil -The Explorative - Creative Way: Implementation of a Humanistic Language Teaching Model, Germany, Tübingen: Narr, 1989.</p>
<p>Lehmann, M. - Pirke Avot, Harambam Maimonides Corp., Miami Beach, Flórida, 1985, tradução e adaptação de Viviane Assa, revisão de Rachel Melul de Amselem.</p>
<p>Orlowek, Noach - My Disciple, My Child, New York, Feldheim Publishers, 1993.</p>
<p>Prabhu, N.S. - There Is No Best Method – Why? in Tesol Quarter Ly, vol. 24 n0 2, 1990.</p>
<p>Rogers, C. - Liberdade para Aprender, Belo Horizonte, Interlivros, 4a ed. 1978, tradução de Edgar Godoi da Mata Machado e Márcio Paulo de Andrade.</p>
<p>Schneerson, Yossef Y. - The Principles of Education and Guidance, New York, Kehot Publication Society, 1990.</p>
<p>Szpiczkowski, Ana – Educação e Talmud, Uma Releitura da Ética dos Pais, São Paulo, Humanitas/FFLCH/USP: Fapesp, 2002.</p>
<p>--------------------------------------------------------------------------------</p>
<p>* Profa. Dra. de Língua, Literatura e Cultura Judaicas, DLO, USP, SP.</p>
<p>[1] Também conhecido como “Rambam”. Nasceu em Córdoba, Espanha, 1135 -1204. Autor de várias obras dentre as quais destaca-se “Os 613 Preceitos”, “Sefer Ha - Maor” e “Schmoná Perakim”.</p>
<p>[2] .“E as intimarás a teus filhos”.(6:7); “Moisés nos deu também a lei por herança da congregação de Jacó” (33:4)</p>
<p>[3] Abrabanel, dom Isaac, (1437-1508); Importante comentador da Bíblia, fugiu da Espanha em 1492, com a expulsão dos judeus de Espanha.</p>
<p>[4] Redigido entre 1187 e 1190, ele estabelece um diálogo entre o mosaísmo e a filosofia, com a finalidade de tornar possível o acesso da razão aos aspectos da Torá que não estão ao alcance da capacidade humana.</p>
<p>[5] Gênesis, 9:6.</p>
<p>[6] Levítico, 19:18.</p>
<p>[7] Quarta geração de Tanaítas - professores e repetidores; período de 140 a 165 d.C.</p>
<p>[8] Yehudá ben Temá - quinta geração de Tanaítas - professores e repetidores; período de 165 a 200 d.C.</p>
<p>[9] Livro de Ester, 2:22.</p>
<p>[10] Erudito francês de ascendência davídica, autor de comentários, que se tornaram padrão, sobre importantes textos judaicos (1040-1105).</p>
IMPACTOS DA ÉTICA JUDAICA NO SÉCULO XXI Por : Bernardo Kliksberg *
tag:judaismohumanista.ning.com,2011-12-01:3531236:Topic:62518
2011-12-01T07:20:31.915Z
Jayme Fucs Bar
https://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>As revoluções na informática, robótica, micro-eletrônica, biotecnologia, genética, comunicações e outros campos têm criado possibilidades econômicas inéditas.</p>
<p>Ao mesmo tempo, 30 mil crianças morrem diariamente devido à miséria, 800 milhões de pessoas estão desnutridas, 3 bilhões são pobres.</p>
<p>A polarização social tem alcançado índices absurdos. As três pessoas mais ricas do mundo têm um patrimônio maior que o produto bruto dos 49 países mais pobres. A América Latina, região de…</p>
<p>As revoluções na informática, robótica, micro-eletrônica, biotecnologia, genética, comunicações e outros campos têm criado possibilidades econômicas inéditas.</p>
<p>Ao mesmo tempo, 30 mil crianças morrem diariamente devido à miséria, 800 milhões de pessoas estão desnutridas, 3 bilhões são pobres.</p>
<p>A polarização social tem alcançado índices absurdos. As três pessoas mais ricas do mundo têm um patrimônio maior que o produto bruto dos 49 países mais pobres. A América Latina, região de excepcional potencial econômico, rica em matérias-primas estratégicas, fontes de energia baratas e terras muito férteis, é vista hoje como a terra da pobreza e desigualdade. Sessenta por cento das crianças são pobres, 36% dos menores de 2 anos estão desnutridos, 1/3 da população não tem água potável.</p>
<p>Junto a estes paradoxos extremamente impactantes, a sensação que o grande filósofo canadense Charles Taylor denomina de “o desencanto do mundo” se espalha entre as novas gerações. A atual sociedade consumista, voltada aos bens materiais, à concorrência feroz para alcançar melhores posições, à luta pelo dinheiro e poder, gera uma sensação de solidão, que Victor Frankl chamou de um dramático “vácuo dos sentidos”.</p>
<p>As respostas a estes graves problemas não parecem claras. Cresce o ceticismo sobre até onde pode chegar uma globalização repleta de oportunidades tecnológicas, mas totalmente carente de um código ético que a oriente.</p>
<p>Neste contexto, as propostas da ética judaica estão tendo valor crescente como referência e orientação. Muitas delas estão sendo retomadas com vigor por organismos internacionais, ONGs e movimentos que visam um mundo melhor. Vejamos resumidamente o atual impacto de algumas destas propostas:</p>
<p>n Um princípio básico da mensagem moral transmitido por D’us ao povo judeu é o de que somos responsáveis uns pelos outros. Para a ética judaica é proibida a indiferença ao sofrimento de outros. Diz-se no Levítico: “Não desconsideres o sangue de teu próximo” (19:16). Nossa época carateriza-se por altas doses de egoísmo, daqueles que têm face aos que não têm, e de insensibilidade. O secretário geral da ONU, Kofi Anan, ao exigir recentemente que o mundo supere a indiferença diante da morte de 22 milhões de pessoas nos últimos anos por Aids, determinou que é imprescindível voltarmos a ser responsáveis uns pelos outros.</p>
<p>• Para a ética judaica, a pobreza não é um problema apenas dos pobres, mas de todos. Leibowitz observa que os profetas dizem “Não haverá pobres entre vós”. Não estão dizendo o que irá acontecer, mas o que deveria acontecer. Sua voz não é de oráculo, senão de exigência moral. Para que não haja pobres, a sociedade deve tomar algumas medidas. Diante daqueles que, na América Latina, atribuem a pobreza dos pobres a eles mesmos, o judaísmo se revolta porque considera tal atitude uma injustiça. Esta mensagem foi recentemente incorporada à Carta dos Direitos Humanos da ONU. Entre estes, foram incluídos os direitos básicos do homem a não ser pobre, à alimentação, à saúde, à educação, ao trabalho, à moradia entre outros. A partir de agora estes são direitos essenciais do ser humano, embora proclamados há milênios pela ética judaica.</p>
<p>• As grandes desigualdades são severamente censuradas pelo judaísmo. Os profetas questionaram-nas implacavelmente e julgaram moralmente os poderosos que as fomentavam. O judaísmo criou uma institucionalidade completa para prevenir as polarizações sociais. A Torá estabelece que a cada 7 anos a terra deve descansar para que os pobres possam aceder a seus frutos. A cada 50 anos a terra deve retornar a seus proprietários originais. Procura-se assim impedir sua monopolização. É o jubileu. Assim mesmo, a cada 7 anos as dívidas devem ser perdoadas. O grande movimento mundial vigente pelo perdão total ou parcial da dívida dos países mais pobres do mundo, encabeçado pelo Papa João Paulo II, apoiou-se nesta mensagem e intitula-se “Movimento do Jubileu”.</p>
<p>• Em recente pesquisa realizada pelo Banco Mundial, 60 mil pobres de todos os continentes disseram que o que mais lhes dói é o desprezo, o fato de serem tratados como pessoas inferiores por serem pobres. A Torá estabelece o mais absoluto respeito pelo pobre. É idêntico aos outros. D’us se preocupa especialmente por ele e exige este respeito. O Rabino Leo Baeck observa que no idioma hebraico não existe a palavra mendigo, por si só pejorativa. Esta determinação de se escutar e respeitar o pobre está sendo um eixo para a ação dos organismos internacionais. <br/>• Como ajudar o desfavorecido? Este tema, discussão permanente nos organismos internacionais, foi analisado por Maimônides no século XII aplicado à ética judaica. O genial sábio identificou oito níveis sobre “a ajuda”. O nível inferior é quando ajuda-se alguém de má vontade. A segunda categoria é quando aquele que ajuda e aquele que recebe desconhecem um ao outro; neste momento, o anonimato que protege a dignidade do pobre é completo. No entanto, o nível mais alto de todos, a melhor ajuda que alguém possa dar, é aquela que fará com que o necessitado não volte mais a precisar dela. Hoje, na ONU e nos principais organismos em prol do desenvolvimento, procura-se que os projetos tenham orientação no sentido de que haja sempre esta auto-sustentação enfatizada por Maimônides.</p>
<p>• Na ética judaica, ajudar os outros é um dever imprescindível. Como tal, não merece nenhum prêmio nem reconhecimento. O Rebe de Lubavitch observa que a ajuda deve ser desinteressada, não se deve esperar nada em troca e, exemplificando isto, destaca que no dia mais sagrado do judaísmo, o Dia do Perdão, nas orações sefaraditas pede-se perdão à D’us não só pelos prejuízos causados ao próximo, mas também pelos atos que não foram feitos desinteressadamente. O Rabino Abraham Y. Heschel diz que ajudar é simplesmente “o modo de viver correto”. O prêmio está em viver-se desta forma. A força destes conceitos no judaísmo, seu contínuo ensinamento no âmbito familiar e na escola judaica assentaram as bases para grandes resultados em matéria de trabalho voluntário. Os países estão tentando dar forças ao voluntariado e vêem com crescente interesse os bons resultados. Israel e as comunidades judaicas têm índices recordes de trabalhadores voluntários. Em Israel, 25% da população pratica trabalho voluntário, produzem principalmente bens e serviços sociais que representam 8% do PNB. Exércitos de voluntários, de diferentes comunidades judaicas do mundo, trabalham diariamente levando adiante suas instituições e programas em proporção superior às médias de seus respectivos países. A conclusão é clara: a possibilidade de desenvolver o voluntariado está ligada à interiorização dos valores éticos pelas pessoas.</p>
<p>• Hoje vemos duas instituições fundamentais do judaísmo que são bases da sociedade: a família e a educação. O judaísmo lhes assegura o mais alto valor. A Torá dá especial destaque. A ética judaica zela vigorosamente pelas relações entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos e até sogros, genros e noras. O Rabi Yoshua Ben Gamla criou no ano 69 a primeira escola pública de que se tem referência. Hoje, muitos países estão analisando como fortalecer a família, duramente deteriorada, e gerar educação. O judaísmo tem contribuições muito expressivas para oferecer nestes campos.</p>
<p>• Nas sociedades latino-americanas, entre outras, adota-se com frequência políticas que sabidamente irão significar grande sofrimento para a população, com o argumento de que “o fim justifica os meios” e que são necessários para que haja maior crescimento econômico. A ética judaica não aceita tal raciocínio. Na Torá pode-se ler textualmente que “o fim não santifica os meios”. Refletindo sobre esta diferença, Albert Einstein perguntava “Quem havia sido o melhor condutor dos homens, Maquiavel (autor original do princípio de que o fim justifica os meios) ou Moisés? Quem teria dúvidas sobre a resposta?”</p>
<p>• Como encarar a pobreza e a desigualdade na América Latina e no mundo? O judaísmo indica caminhos que ecoam de forma crescente. Para este, o problema deve ser encarado por uma ação conjunta de todos os agentes sociais. Cada um deles deve assumir suas responsabilidades. Necessita-se de políticas públicas muito ativas. O judaísmo criou a primeira legislação fiscal sistemática para uso coletivo, o dízimo. Por outro lado, a comunidade e a sociedade civil devem organizar-se e agir. E, finalmente, tudo isso não exime cada pessoa de individualmente fazer o correto em cada situação de miséria ou injustiça com que se depare.</p>
<p>• Uma idéia central do judaísmo é a de Tikum Olam – ajudar a consertar o mundo. O Rebe de Lubavitch faz menção a uma simples interpretação de um conhecido episódio bíblico. Depois de sair do Egito e atravessar o deserto, quando os judeus se aproximam de Canaã, Moisés envia 12 exploradores. Ao regressarem, 9 deles desestimulam as pessoas, dizendo-lhes que não continuem. Com freqüência são considerados traidores. O Rebe observa que Moisés escolheu os melhores de cada tribo, eram pessoas excelentes; porque iriam ser desleais? O que ocorreu é que encontraram-se com sociedades perdidas na luxúria, corrupção e idolatria. O povo judeu, no deserto, era em contrapartida um povo espiritual entregado ao estudo da Bíblia. Temiam que seguindo para Canaã pudessem ser contaminados. Mas, se equivocaram disse o Rebe, pois o desejo de D’us era diferente. O que D’us queria não era que se recolhessem para conservar sua pureza e sim que levassem a espiritualidade aos mundanos, que difundissem os valores éticos nas sociedades infestadas de vícios. Em uma época como a nossa, em que tantas ideologias tombaram, a proposta do judaísmo de avançar até que o mundo se redima eticamente – e de que não é permitido ficar à deriva, mas sim agir para transformá-lo e lhe dar valores éticos – prevê grande duração e diz muito a todos os homens e mulheres empenhados em uma humanidade melhor.</p>
<p>A ética judaica está viva e fresca, podendo ajudar a enfrentar o “desencanto do mundo”, o “vácuo dos sentidos” e a inadiável conscientização dos paradoxos da grande pobreza em meio à riqueza potencial que particularizam a América Latina e o mundo. A mensagem deste conjunto ético foi dita pelo sábio do Século I, Hillel: “Se eu não for por mim, quem o será?” significa dizer que todos devemos defender nossa saúde, nossa vida, nossa família; somos insubstituíveis nisto. Mas, acrescentou: “E se eu for somente para mim?”, significando que a vida sem solidariedade, responsabilidade pelo destino de outrem, amor ao próximo, transcedência, não faz sentido. Finalizou: “Se não agora, quando?” O que espera a ética judaica de cada um de nós é que entremos em ação, agora!</p>
<p>Bernardo Kliksberg é presidente da Comissão de Desenvolvimento Humano do Congresso Judaico Latino-americano; assessor da ONU, OIT, UNESCO, UNICEF entre outros organismos internacionais.</p>
Hannah Arendt
tag:judaismohumanista.ning.com,2011-03-14:3531236:Topic:28947
2011-03-14T01:30:49.125Z
Marcela Barzilai
https://judaismohumanista.ning.com/profile/MarcelaBarzilai
<p>Meu pai sempre me falou sobre Hannah Arendt e sua inteligência, por isso estou postando aqui uma frase dela q eu gosto e q faz parte de seu livro "A Condição Humana".</p>
<p>Marcela Barzilai</p>
<p><em> </em></p>
<p><em>“O mundo – artifício humano – separa a existência do homem de todo ambiente meramente animal; mas a vida, em si, permanece fora desse mundo artificial, e através da vida o homem permanece ligado a todos os outros organismos vivos. Recentemente, a ciência vem-se esforçando por…</em></p>
<p>Meu pai sempre me falou sobre Hannah Arendt e sua inteligência, por isso estou postando aqui uma frase dela q eu gosto e q faz parte de seu livro "A Condição Humana".</p>
<p>Marcela Barzilai</p>
<p><em> </em></p>
<p><em>“O mundo – artifício humano – separa a existência do homem de todo ambiente meramente animal; mas a vida, em si, permanece fora desse mundo artificial, e através da vida o homem permanece ligado a todos os outros organismos vivos. Recentemente, a ciência vem-se esforçando por tornar “artificial” a própria vida, por cortar o último laço que faz do próprio homem um filho da natureza."</em></p>
<p style="text-align: justify;"> </p>
O Pronunciamento do Cacique Seattle
tag:judaismohumanista.ning.com,2011-02-28:3531236:Topic:27436
2011-02-28T01:13:56.503Z
Marcela Barzilai
https://judaismohumanista.ning.com/profile/MarcelaBarzilai
<p>Quando eu era pequena meu pai me contou sobre esse pronunciamento e falou q ele mudou sua forma de pensar, por isso desde q nasci meu pai me criou para q eu tivesse essa consciência. Essa carta mostra o amor q nós seres humanos devemos ter com a natureza, independente de qual povo pertencemos.</p>
<p> Marcela Barzilai</p>
<p><strong> </strong></p>
<p><strong>O pronunciamento do cacique Seattle</strong></p>
<p>(discurso pronunciado após a fala do encarregado de negócios…</p>
<p>Quando eu era pequena meu pai me contou sobre esse pronunciamento e falou q ele mudou sua forma de pensar, por isso desde q nasci meu pai me criou para q eu tivesse essa consciência. Essa carta mostra o amor q nós seres humanos devemos ter com a natureza, independente de qual povo pertencemos.</p>
<p> Marcela Barzilai</p>
<p><strong> </strong></p>
<p><strong>O pronunciamento do cacique Seattle</strong></p>
<p>(discurso pronunciado após a fala do encarregado de negócios indígenas do governo norte-americano haver dado a entender que desejava <font color="#000080">adquirir</font> as terras de sua tribo Duwamish).</p>
<p><i>O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.</i></p>
<p><i>Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.</i></p>
<p><i>Minhas palavras são como as estrelas que nunca empalidecem.</i></p>
<p><i>Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo, cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho.</i></p>
<p><i>O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia - são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem - todos pertencem à mesma família.</i></p>
<p><i>Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.</i></p>
<p><i>Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumorejar d'água é a voz do pai de meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.</i></p>
<p><i>Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora, deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.</i></p>
<p><i>Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.</i></p>
<p><i>Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das assa de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou recendendo a pinheiro.</i></p>
<p><i>O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum - os animais, as árvores, o homem.</i></p>
<p><i>O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores campestres.</i></p>
<p><i>Assim pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.</i></p>
<p><i>Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que (nós - os índios) matamos apenas para o sustento de nossa vida.</i></p>
<p><i>O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.</i></p>
<p><i>Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.</i></p>
<p><i>De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.</i></p>
<p><i>Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias - eles não são muitos. Mais algumas horas, mesmos uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará, para chorar sobre os túmulos de um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.</i></p>
<p><i>Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode ser isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver, de uma coisa sabemos que o homem branco venha, talvez, um dia descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que o podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir nossa terra; mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual sua piedade para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é querida por ele, e causar dano à terra é cumular de desprezo o seu criador. Os brancos também vão acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuas poluindo a tua cama e hás de morrer uma noite, sufocado em teus próprios desejos.</i></p>
<p><i>Porém, ao perecerem, vocês brilharão com fulgor, abrasados, pela força de Deus que os trouxe a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois não podemos imaginar como será, quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das florestas carregadas de odor de muita gente e a vista das velhas colinas empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado. Onde estará a águia? Irá acabar. Restará dar adeus à andorinha e à caça; será o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.</i></p>
<p><i>Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos, e por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez, possamos viver o nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas floresta e praias, porque nós a amamos como ama um recém-nascido o bater do coração de sua mãe.</i></p>
<p><i>Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Preteje-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse: E com toda a tua força o teu poder e todo o teu coração - conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.</i></p>
JOVENS DERRUBAM O PRESIDENTE DO EGITO
tag:judaismohumanista.ning.com,2011-02-15:3531236:Topic:25085
2011-02-15T23:23:57.680Z
Marcela Barzilai
https://judaismohumanista.ning.com/profile/MarcelaBarzilai
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<p><strong>JOVENS DERRUBAM O PRESIDENTE DO EGITO</strong></p>
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<div class="post-body entry-content">Foram jovens de personalidades fortes q iniciaram o movimento q derrubou o ditador Hosni Mubarak q comandava o país. Eles começaram enviando mensagens no Facebook e Twitter para agitar o movimento. O Egito foi governado durante mais de 30 anos por Mubarak e sua queda foi uma grande surpresa para…</div>
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<p><strong>JOVENS DERRUBAM O PRESIDENTE DO EGITO</strong></p>
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<div class="post-body entry-content">Foram jovens de personalidades fortes q iniciaram o movimento q derrubou o ditador Hosni Mubarak q comandava o país. Eles começaram enviando mensagens no Facebook e Twitter para agitar o movimento. O Egito foi governado durante mais de 30 anos por Mubarak e sua queda foi uma grande surpresa para todos e grande alívio e felicidade para os jovens q ñ aguentavam mais aquela ditadura. O principal ponto dos protestos foi a praça Tahrir, q fica no Cairo, capital do Egito. <br/>Riham tem 15 anos e diz segurando uma bandeira do Egito: - Queremos liberdade, poder votar em eleições justas, sair sem ser incomodados pela polícia, crescer num pais que nos respeite.<br/>Meninas muçulmanas com seu véu como Riham abriram sua boca e protestaram. Toda essa "revolução" foi trasformada em uma grande festa pelos jovens, pois eles expressavam o que queriam e sentiam através da música, mensagens e desenhos feitos em um mural. Muitos jovens acamparam na praça e garantiram que só voltariam para casa quando o ditador caísse. O desejo deles foi realizado.<br/>Maghdi Shihan de 16 anos diz: - Parece que estou respirando pela primeira vez na vida. Ganhamos o país de volta.<br/><br/><br/><div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-HQNUiXeFJoQ/TVr1cekhORI/AAAAAAAAAC8/8ccmEL54ZA8/s1600/riham.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img height="202" width="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-HQNUiXeFJoQ/TVr1cekhORI/AAAAAAAAAC8/8ccmEL54ZA8/s320/riham.jpg" border="0"/></a></div>
<div class="separator" style="text-align: center; clear: both;">Riham Hisham, 15, estudante egípcia</div>
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<div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"> Marcela Barzilai</div>
<div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"> <a href="mailto:culturalintercambio@gmail.com">culturalintercambio@gmail.com</a></div>
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<div class="separator" style="text-align: center; clear: both;">Matéria foi baseada no texto de Marcelo Ninio, jornalista da Folha de São Paulo.</div>
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O Movimento "Grito Manso" idealizado por Paulo Freire
tag:judaismohumanista.ning.com,2011-02-12:3531236:Topic:24671
2011-02-12T22:44:20.437Z
Jayme Fucs Bar
https://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
O Movimento O Grito Manso" é um ato de Ação Individual idealizada por Paulo Freire, para criar uma massa critica de concientização humana para que seja possível realizar um grande movimento de transformação social e ecológico.<br />
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"O Grito Manso" é um movimento individual – coletivo, onde cada ser humano devera assumir uma postura consciente de realizar ações individuais no seu dia a dia. Ações individuais em seu meio familiar e comunitario, consumindo menos, apoiando a micro-economia local,…
O Movimento O Grito Manso" é um ato de Ação Individual idealizada por Paulo Freire, para criar uma massa critica de concientização humana para que seja possível realizar um grande movimento de transformação social e ecológico.<br />
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"O Grito Manso" é um movimento individual – coletivo, onde cada ser humano devera assumir uma postura consciente de realizar ações individuais no seu dia a dia. Ações individuais em seu meio familiar e comunitario, consumindo menos, apoiando a micro-economia local, ativando-se como membro de uma comunidade, atuando em uma rede social ou ecologica, boicotando produtos cujo fabricantes não cumprem com obrigações sociais , não consumindo produtos que prejudiquem o meio ambiente, ser voluntário em atividades de ação social, participar de atos contra as guerras e genocídios humanos, ser ativo na luta pelos direitos dos exclui-los, tomar parte nas manifestações por justiça e por uma economia solidária.<br />
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Vamos sair da apatia e do conformismo!<br />
Seja um agente de mudança!<br />
Seja parte de uma massa critica !<br />
Vamos fazer aclamar um grande "Grito Manso" por uma sociedade solidária e ecologica!<br />
Vamos praticar o ato do " Grito Manso",que idealizou o educador Paulo Freire, ato de conscientizar seres humanos, para um conciencia critica ,assumindo responsabilidades individuais, como forma de transformar a sociedade, para nos libertarmos e com isso ajudar a criar o que idealizou Paulo Freire "Um mundo menos malvado , menos feio , menos autoritário, mais democrático, mais humano".<br />
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* Ideia desse texto tem como base a conferencia realizada por Paulo Freire, com educadores em 1996 na Patagonia - Argentina,essa conferencia foi gravada e trasformada mais tarde num Livro "falado" O Grito Manso.<br />
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Jayme Fucs Bar