Fórum Comunidades Judaica no Mundo - JUDAISMO HUMANISTA2024-03-29T14:27:15Zhttps://judaismohumanista.ning.com/groups/group/forum?groupUrl=comunidades-judaica-no-mundo&feed=yes&xn_auth=noA Incrivel História da Sinagoga de Covilhã Portugal ( Shaarei Kabalah) Jayme Fucstag:judaismohumanista.ning.com,2020-12-19:3531236:Topic:1658232020-12-19T11:04:55.091ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Cada vez que pesquiso ou estudo sobre Portugal Judaico, o que mais me impressiona é que sempre encontro uma nova surpresa! Uma nova descoberta! São muitos mistérios e segredos ainda não revelados! <br></br> Me pergunto!<br></br> Porque pouco sabemos sobre a história dos Judeus de Portugal?<br></br>
Porque a história dos judeus de Portugal ficou esquecida nos livros de história Judaica?<br></br>
Vou contar para vocês a incrível História de uma comunidade secular na Beira do Interior no pé da serra da Estrela…</p>
<p>Cada vez que pesquiso ou estudo sobre Portugal Judaico, o que mais me impressiona é que sempre encontro uma nova surpresa! Uma nova descoberta! São muitos mistérios e segredos ainda não revelados! <br/> Me pergunto!<br/>
Porque pouco sabemos sobre a história dos Judeus de Portugal?<br/>
Porque a história dos judeus de Portugal ficou esquecida nos livros de história Judaica?<br/>
Vou contar para vocês a incrível História de uma comunidade secular na Beira do Interior no pé da serra da Estrela de nome Covilhã que pelo nome dá para entender que a sua origem está vinculada a produção de lã em tempos remotos de sua história.<br/>
A comunidade judaica da cidade da Covilhã, sabemos de sua existência desde o século XII e ela vai existir até a proibição do judaísmo em Portugal, no século XVI, era considerada a maior e a mais importante da região da Beira interior.<br/>
Foi considerada uma das maiores e mais fortes comunidades do País, não somente no desenvolvimento da economia e da ciência mas também, numa quantidade de nomes ilustres, que marcaram a História de Portugal.<br/>
Exemplos de portugueses judeus covilhanenses ligados à epopéia dos Descobrimentos e expansão marítima portuguesa:<br/>
Mestre José Vizinho, cosmógrafo de D. João II; Rui Faleiro, artífice da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães; Francisco Faleiro, grande cosmógrafo colocado ao serviço de Espanha, autor do “Tratado del esphera y del arte del marear”; eventualmente, Pêro da Covilhã, explorador e preparador do caminho marítimo para a Índia; e o famoso João Ramalho, primeiro bandeirante no Brasil, de origem judaica covilhanense.<br/>
A sua antiga judiaria ficava localizada dentro das muralhas de proteção da cidade que atualmente está localizada nas atual Rua das Flores, Rua do Ginásio Clube, Rua da Alegria, Beco da Alegria e Travessa da Alegria, as suas casas eram como muito comum nas judiarias de Portugal de dois andares em cima moravam em baixo era os negócios , onde a principal ocupação dos Judeus era o trabalho artesanal e o comércio entre tantos o de lã. <br/>
Dentro da opinião de muitos pesquisadores se acredita que a antiga sinagoga de Covilhã estava situado na atual Rua das Flores.<br/>
A partir do Sec. XVI a história dos judeus de Covilhã se torna como em todo Portugal uma saga para a sobrevivência de sua cultura e religião onde milhares de cristãos novos foram acusados por praticas judiaizantes e condenados pelos carrascos da Inquisisão!<br/>
Mas sobreviveram na história na qual conhecemos hoje como o Cripto Judaismo.<br/>
No Seculo XX aparece o cristão novo Capitão Artur Carlos de Barros Basto, condecorado com méritos por bravura em defesa de Portugal em 1919, chega ao Porto e entende necessidade de criar o movimento de resgate dos cristãos novos que sobreviveram na Historia por 4 seculos.<br/>
Capitão Barros Basto tem como o seu grande projeto em vida o de ajudar aos cristãos novos em Portugal a poder retornar ao Judaismo, sua iniciativa desperta a esperança nos corações de uma quantidade enorme de pessoas, que se diziam descendentes dos judeus forçados a conversão no século XVI e afirmavam manter ainda, no segredo dos seus lares, algumas práticas e rituais judaicos. Estas pessoas, os cripto judeus, começaram a participar dos serviços religiosos que Barros Basto realizava a princípio no Porto e depois em várias aldeias e vilas de Trás-os-Montes e das Beiras e chegando a cidade de Covilhã.<br/>
Em convilhã acontece um fato único esquecido na História judaica de Portugal através da iniciativa do Capitão Barros Bastos no dia 4 de maio de 1929 se reuniram varias famílias de cristãos novos da cidade de Covilhã, na casa da Senhora Amélia Fernandes, cripto-judia, que era uma fiel observante dos ritos judaicos que lhe ensinaram seus pais, nesse momento histórico se decidem a fundação de uma sinagoga em Covilhã .<br/>
Em 30 de outubro de 1929 inauguraram num pequeno local a sinagoga da comunidade Judaica de Covilhã chamada Shaarei Kabalah (“As Portas dos Aceitos”) ou como eles traduziram ( As Portas da Tradição) onde começaram a participar dos cultos e das reuniões centenas de Cripto-Judeus de Convilhã e da região da Beira, esse acontecimento foi um renascimento da esperança da possibilidade do retorno de centenas cristãos novos ao judaismo, mas essas esperanças foram apagadas com a implantação da ditadura em Portugal em 1932.<br/>
O medo do anti-semitismo e da intolerância religiosa se propagou entre os criptos judeus de Convilhã , assim como em todo o território portugues. Capitão Barros Basto o seu líder começou a ser conotado como oposição, e não tardou de aparecer o anti-semitismo, onde Barros Basto será perseguido pelo exército, onde foi colocado em locais cada vez mais longe do Porto, e de suas atividades em Covilhã , numa tentativa de assim, o afasta lo da Sinagoga e dos projetos que tinha em mente a ser criado. <br/>
No final, será expulso do exército e a Sinagoga do Porto que foi criado pela iniciativa do Capitão Barros Bastos, jamais foi aberta para os cristãos novos .<br/>
O medo se espalhou entre os cristãos novos de todo Portugal e como no período da inquisisão, mas uma vez os criptos judeus se trancaram em suas casas no seu silêncio secular para ainda poder guardar o segredo e esperar para mais uma oportunidade de estar seguros para retornar ao judaismo.<br/>
A Sinagoga de Covilhã ( Shaarei Kabalah ) teve que fechar suas portas e já sem funcionamento seu prédio foi demolido, e ele se situava nas cercanias da atual igreja de Santiago.<br/>
Assim está escrito no Jornal judaico “Ha Lapid" numero 23 em 30.10.1920<br/>
" No Dia 30 de outubro chegou o Capitão Barros Basto que a tarde fez uma conferência sobre judaísmo na sede da comunidade judaica de Covilhã .<br/>
A Noite desse dia foi feita a inauguração da pequena Sinagoga a que o mensageiro do resgate ( Barros Basto) deu o nome de Shaarei Kabalah. A Entrada da Sinagoga foram lançados flores por criptos judeus presentes."<br/>
Até agora podemos observar uma presença muito forte de nomes das famílias de cristãos novos ainda muito presente nas atuais famílias Covilhanenses ex. : Mendes, Cardoso, Costa, Pereira, Henriques, Cruz, Dias, Baltazar, Vizinho, Gomes, Ramalho, Nunes, Flores, Franco, Vaz, Pinho, Teles, Faleiro, Elias, Mesquita, Oliveira, Ranito, Benjamim etc.<br/>
Fontes:<br/>
* Comunidades marranas nas Beiras - Maria Antonieta Garcia<br/>
* Os judeus da Beira interior: a comuna de Trancoso e a entrada da Inquisição - Maria José Ferro Tavares<br/>
* Religião e vida social no espaço urbano: comunidades judaicas na Beira Interior em finais da Idade Média - Isaura Luísa Cabral Miguel<br/>
* Rede da judiaria - <a href="http://www.redejudiariasportugal.com/.../189-judeus-da">http://www.redejudiariasportugal.com/.../189-judeus-da</a>...<br/>
Beira interior é o epicentro da rota do judaísmo - Paulo Rolão*<br/>
" Ha Lapid – Numero 23 - outubro 1929 *Jornal</p> Os judeus de Livorno na Tunísia por Nimrod Etsion Korentag:judaismohumanista.ning.com,2019-03-18:3531236:Topic:1246562019-03-18T08:00:15.463ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>A comunidade judaica livornesa em Túnis, também conhecida como Grana, manteve laços estreitos com seu país de origem e teve uma larga influência na esfera política da Itália, durante os séculos 19 e 20, apesar de residir do outro lado do Mediterrâneo. Diferentemente de outras comunidades de origem judaica sefardita na bacia do Mediterrâneo, integradas nas comunidades judaicas locais, Grana manteve fielmente sua independência, defendendo sua “italianitá”.<br></br> Edição 102 - Dezembro de…</p>
<p>A comunidade judaica livornesa em Túnis, também conhecida como Grana, manteve laços estreitos com seu país de origem e teve uma larga influência na esfera política da Itália, durante os séculos 19 e 20, apesar de residir do outro lado do Mediterrâneo. Diferentemente de outras comunidades de origem judaica sefardita na bacia do Mediterrâneo, integradas nas comunidades judaicas locais, Grana manteve fielmente sua independência, defendendo sua “italianitá”.<br/> Edição 102 - Dezembro de 2018</p>
<p>Desde o século 16, a população judaica em Túnis dividia-se entre a originária do local, Touansa, e os judeus livorneses que criaram uma comunidade minoritária chamada Grana (Livorno traduz-se como El-Gorna, em árabe). Essa comunidade judaica, que incluía judeus originários de Livorno1 e de outros locais da Itália, desenvolveu-se separadamente do grupo majoritário local, a antiga comunidade arabizada de judeus tunisianos.<br/> Uma das explicações para essa divisão única, sem paralelo no restante do judaísmo do Norte da África, foi a constante relação da comunidade Grana com seu local de origem, a Itália. Exemplos dessas conexões podem ser observados na cultura, educação e vida religiosa. No contexto político, podemos ressaltar os encontros clandestinos de Giuseppe Garibaldi (1807-1882) com seus seguidores judeus “livorneses”, em 1834; a participação dos “livorneses” em revoltas contra o protetorado francês durante a corrida colonial (1871-1914), e seu envolvimento na atividade secreta do movimento antifascista, às vésperas da 2a Guerra Mundial.<br/>
Grana durante a Unificação Italiana<br/>
A imigração da Itália para a Tunísia, nos séculos 17 e 18, teve motivação principalmente econômica, mas, já em 1815, um novo motivo foi adicionado: o político, principalmente relacionado à supressão do movimento que levou à unificação da Itália. Tiveram papel central nesse movimento, conhecido como Risorgimento, muitos judeus italianos, especialmente de Livorno. Em razão de suas atividades revolucionárias e perseguições sofridas, alguns deles optaram por se exilar. Nos primeiros anos do movimento de libertação, a Carbonária, sociedade secreta liberal inspirada na Revolução Francesa, liderou rebeliões no Sul e Norte da Itália. A proximidade das revoltas na Toscana, no início da década de 1830, trouxe sua primeira onda de refugiados políticos a Túnis, na era pré-colonial. Entre os proeminentes revolucionários judeus chegados nessa onda, estava o republicano Gaitano Fedriani (1811-1881) que, secretamente, aporta em La Goulette, em 1834, junto com seu amigo Joseph Fani, procurado pelas autoridades da Ligúria (Itália). Fani foi, na verdade, o pseudônimo usado por Garibaldi, um dos principais líderes do Risorgimento, durante sua primeira estada em Túnis. Antes de se refugiar nessa cidade, os dois camaradas se haviam filiado ao novo movimento clandestino fundado por Giuseppe Mazzini, ‘Giovine Italia’ (Itália Jovem), com a promessa de se dedicar à libertação de sua pátria da ocupação austríaca. Em 1834, ambos se haviam implicado em uma revolta encabeçada por Mazzini, no Piemonte, região no norte da Itália. Descoberta a conspiração, Garibaldi é sentenciado à morte in absentia e se refugia, com Gaetano Fedriani, em Túnis.<br/>
A política governamental local simpatizante foi uma das razões para Túnis ser escolhida como um porto seguro para os combatentes pela liberdade italianos – juntamente com a identificação da comunidade judaica “livornesa” com a causa e sua localização estratégica. Uma das figuras centrais, que muito contribuiu para organização da causa italiana, foi Giuseppe Raffo, conselheiro próximo ao Bey de Túnis, o governante da Tunísia. Raffo, filho de um escravo italiano capturado por piratas da Berbéria, acabou sendo promovido pela corte do Bey. Simpatizante do nacionalismo italiano, patrocinava os seguidores de Mazzini, permitindo que Fedriani e outros patriotas “livorneses” prosseguissem em suas atividades subversivas.<br/>
Uma expressão da carte blanche dada a esses círculos de revolucionários italianos é comprovada por uma furiosa carta anônima dirigida ao cônsul austríaco às vésperas da 1ª Guerra de Independência italiana (1848), sobre as atividades clandestinas de outro patriota, David Franco. Na carta, dizia-se que Franco dirigia um clube político onde “um bando de toscanos que, em qualquer outro lugar, teriam sido mortos sumariamente, reuniam-se para amaldiçoar o Grão-Duque e as autoridades que trouxeram ordem e paz para a Itália”.<br/>
Atividade livornesa e o estabelecimento do Reino da Itália<br/>
O período principal do processo de libertação italiana (1850-1861), ao final do qual estabeleceu-se o Reino da Itália, está associado aos empreendimentos de Camillo Benso, Conde de Cavour e Primeiro- Ministro do Piemonte-Sardenha, especialmente à sua aliança secreta com o imperador francês. Esta aliança levou à retirada dos austríacos da maior parte da Itália do Norte e Central, durante a 2ª Guerra da Independência (1859), abrindo caminho para a União Italiana. Em Livorno, a comunidade judaica celebrou entusiasticamente as vitórias nacionais. Quando a Toscana se juntou à emergente União, em 1859, o jornal da comunidade, L’Educatore Israelita, declarou: “Judeus de todas as classes sociais se uniram a outros cidadãos para apoiar a bandeira tricolor e proclamar a independência da Itália”.<br/>
A retórica do auto sacrifício pela Pátria (a Itália) foi amplamente adotada, em Túnis, pelos membros da Grana, os ditos “livorneses”, que compartilhavam sentimentos patrióticos semelhantes aos de seus irmãos italianos. Sob a liderança do ramo tunisino da ‘Giovine Italia’, a capital tornou-se um centro de distribuição da propaganda de Mazzini, funcionando como um ponto de trânsito para a correspondência clandestina (o que atraiu a atenção de várias organizações de espionagem europeias). E, devido à atividade de Benedeto Calò, carbonário2 “livornês” e seu contato direto com Mazzini em Londres, também como um centro de armas escondidas.<br/>
As atividades dos judeus “livorneses” na Tunísia se intensificaram e partiram para o estágio seguinte da campanha pela independência italiana – ou seja, a conquista do Reino da Sicília. Na realidade, devido à dedicação dos exilados e à singular localização geográfica, Mazzini pensou em planejar a chegada à Sicília vindo diretamente da Tunísia. Em suas palavras, “Estamos pensando em armamento a ser transferido para a Tunísia e, se necessário, atacar a Sicília”.<br/>
Um dos destaques do envolvimento “livornês” ocorreu durante a “Expedição dos Mil” (a conquista do sul da Itália por Garibaldi), com o carregamento de armas recolhidas por Grana, diretamente para a Sicília, durante o desembarque das forças de Garibaldi. A derrota e o desmantelamento do Reino das Duas Sicílias levaram ao estabelecimento do Reino da Itália (1861), o que animou Grana a estimular a naturalização da maioria das famílias de elite da comunidade. Ostensivamente, após ter passado seus melhores anos no exílio, os “livorneses” optariam por voltar à Itália. Mas, a maioria decidiu ficar na Tunísia, permanecendo, no entanto, fiel a seu torrão natal.<br/>
Os “Livorneses” e a Competição Colonial, 1871-1914<br/>
Embora o Risorgimento supostamente resolvesse a questão do nacionalismo italiano, a unificação era apenas o começo de um debate interno sobre o novo estado-nação. Com a transferência da capital para Roma (1871), as expectativas eram altas, o que dificultou que se contentassem com as fronteiras existentes. A crença no direito da Itália ao seu próprio império e o desejo de fazer reviver o conceito romano de Mare Nostrum3, surgiu em muitos círculos. Mas sua adesão tardia à corrida colonial, forçou a Itália a adaptar suas ambições a seu poder real4. Portanto, a relativa proximidade da Tunísia - sendo parte do glorioso passado da Itália - e a existência de uma grande comunidade italiana, que incluía a rica elite de Grana –, aumentou a atratividade daquele país como um trunfo para a sua autodeterminação como potência europeia. Assim, apesar das “naturais” ambições italianas e, aparentemente, por causa delas, a França entrou em ação e, no início de 1881, sem aviso prévio, invadiu o país, estabelecendo um protetorado. Os italianos ficaram chocados com a ‘Bomba Tunisiana’ e as relações com os vizinhos franceses foram agravadas.<br/>
No entanto, a base da competição por influência entre os dois poderes durante a Regência de Túnis teve suas raízes implantadas durante o período pré-colonial5, tendo Grana desempenhado um papel vital nessa disputa. Já em 1770, o cônsul francês em Túnis escrevera: “O principal fator que impede o desenvolvimento do comércio francês é a competição com os comerciantes judeus [que, em sua maioria, eram “livorneses”]. É um obstáculo que nunca seremos capazes de superar”. Em contraste, vários italianos argumentaram que, desde a conquista francesa da Argélia, em 1830, a Tunísia havia sido submetida à influência política francesa. Um tipo similar de visão também foi compartilhado por Garibaldi, que atribuiu a recusa em permitir sua entrada em Túnis, em 1849, precisamente a essa influência.<br/>
Nos anos que se seguiram, o afundamento em dívidas do governo do Bey foi o fator que aumentou a influência da Itália e da França nos assuntos internos de seu país, por meio dos seus súditos judeus, seus principais credores. Mas enquanto os devedores parisienses usaram a alavancagem do governo de Napoleão III para ameaçar o Bey, alguns dos “livorneses” se aproveitaram dessa posição para estabelecer seus status na Corte. A consolidação e a expansão de suas empresas toscanas aumentaram a presença e influência italiana na Regência, mas também a suspeita e o desejo franceses de impedir a Itália de concretizar novas ambições imperialistas. Uma suspeita infundada, na verdade, pois o governo liberal italiano, liderado por Cairoli, aderia, aos poucos, a uma política anti-imperialista de “mãos limpas”. Cairoli, que lutou pela libertação da Áustria durante 20 anos, declarou, em 1879, que todos os países da Europa ou da África tinham direito à autodeterminação. Dois anos depois, quando o exército francês invadiu a Tunísia, ele foi ridicularizado como ingênuo e perdeu seu cargo.<br/>
O Protetorado Francês - e seu uso como ferramenta para enfraquecer Grana<br/>
Parecia que o estabelecimento do protetorado satisfaria a França em termos de frustrar as futuras ambições da Itália na Tunísia. Na prática, o regime serviu como uma ferramenta eficaz para controlar a influência italiana.<br/>
Para lidar com o “Perigo Italiano”, formulou-se uma política e o primeiro grupo a ser afetado pela mesma foi Grana. Apesar de abranger toda a colônia, seu principal objetivo foi direcionado às camadas superiores. Assim, enquanto a administração abria as portas à emigração de milhares de trabalhadores manuais da Sicília, essa nova política agia, através de uma série de decretos, para enfraquecer a burguesia italiana incluindo seus industriais, mercadores, advogados e engenheiros, a maioria dos quais eram judeus “livorneses”.<br/>
Durante os primeiros anos da ocupação, o confronto não se deteriorou em violência. Uma das razões para isso foi que, na comunidade judaica, Grana, que se opunha à administração francesa, era uma voz solitária. A comunidade judaica tunisiana local (Touansa) estava convencida de que se beneficiaria das mudanças feitas pela França. Mas a recusa da França em conceder a cidadania francesa aos judeus tunisianos e a deterioração de grande parte dos aspectos de sua vida, levou-os a perceber o domínio francês sob uma luz mais crítica. Em 1887, foi estabelecida uma frente que unificou a liderança de ambas as comunidades judaicas em um protesto conjunto.<br/>
Em 20 de março, protestando contra uma tentativa de mudança das regras funerárias judaicas, milhares de manifestantes invadiram o cemitério judeu em Túnis, entrando em confronto com uma força militar e gritando slogans antifranceses e pró-italianos. Em sua busca pelos iniciadores dos tumultos, o ministro francês das Relações Exteriores apontou um dedo acusador para Grana. Definindo os distúrbios como uma conspiração hostil à França, advertiu: “Em tempos de crise, aqueles que se levantam contra nós encontram apoio entre muitos no setor judaico”. Embora a validade da interpretação francesa seja controversa, a visão das autoridades de que membros de Grana estavam por trás da revolta teve implicações dramáticas para todos os judeus da Tunísia. Como resultado, o processo de modernização da comunidade foi adiado por décadas.<br/>
Solução da Crise, 1896<br/>
Como mencionado, as relações entre a Itália e a França entraram em colapso após a invasão da Tunísia. Por 15 anos, a Itália foi a única potência europeia que se recusou a reconhecer o protetorado francês, mas, devido à colossal derrota sofrida por seu exército, na Etiópia, e à ascensão ao poder de Antonio Starabba, iniciou-se um período de melhores relações com a França. Um tratado assinado em Paris pôs fim à guerra tarifária e, em troca do reconhecimento italiano do protetorado, seus súditos tunisianos passaram a desfrutar de um status único. No entanto, os privilégios concedidos pela França aos súditos italianos não foram gratuitos e o preço pago pelo governo liberal italiano por ajudar os mercadores “livorneses” seria cobrado, ao máximo, pelo regime fascista.<br/>
Itália Fascista: Um Desafio para o Patriotismo Italiano<br/>
É comum identificar-se o fascismo com o racismo e o antissemitismo devido à sua proximidade política e ideológica ao nazismo, mas, antes do estabelecimento do eixo Roma-Berlim, em 1938, não existia discriminação legal na Itália. De fato, com sua ascensão ao poder, no início dos anos 1920, o movimento fascista saiu contra qualquer ideologia racista e abriu suas portas para muitos judeus. Entre os proeminentes estavam Enrico Rocca, o fundador do movimento, em Roma, e Angelo Olivetti, um de seus principais pensadores. Portanto, não deveria surpreender que a resistência inicial ao fascismo nos círculos judaicos, na Itália e na Tunísia, não se tenha originado de uma política antissemita, mas sim, de um fundo ideológico – especialmente da esquerda.<br/>
Em Túnis, durante a década de 1920, vários judeus italianos atuavam nos partidos comunistas, bem como em outras estruturas ideológicas como a maçonaria, células anarquistas ou republicanas. No entanto, nesse período, a maior parte da comunidade vinculou seu destino ao novo regime porque esperavam, como a maioria dos italianos, que servisse à nação italiana. Portanto, muitos se juntaram a suas organizações e, para comprová-lo, portavam o símbolo do partido. Eles também apoiaram reivindicações territoriais como aquela expressa por Mussolini, em 1923: “Os 120.000 na Tunísia, (...) que trabalham hoje para a Regência francesa, mas que, amanhã, provavelmente trabalharão sob a Regência italiana”.<br/>
Em 1935, quando o Duce invadiu a Etiópia, os judeus “livorneses” estavam entre os que contribuíram para o esforço de guerra com suas alianças de casamento, e alguns até se ofereceram para servir no exército fascista. Os judeus foram elogiados, entre outros, por Piero Perrini, ministro do governo de Mussolini: “É um prazer enfatizar que esses voluntários judeus são filhos de judeus de Livorno, que deixaram a Itália antes de sua fundação. Este é realmente um bom exemplo de sua devoção”. Uma semana antes, o jornal Boker trazia a história do tenente Atias, de Grana: “(...) comandante de um batalhão inteiro. Ele ocupa a posição mais importante depois do comandante da Legião”.<br/>
Portanto, os “livorneses” ficaram muito desapontados quando ficou claro que, pela liberdade de ação dada pela França a Mussolini na Etiópia, este último havia pago com o sacrifício dos direitos dos “livorneses”, como parte do acordo Mussolini-Laval, de 1935. Isso levantou dúvidas no coração dos judeus italianos em relação ao regime e, ao mesmo tempo, motivou os antifascistas.<br/>
Os ativistas do movimento underground “livornês” começaram a atuar em uma variedade de arenas: assistência a refugiados, apoio a círculos antifascistas em Paris e, até, participação nos tumultos em Túnis. As organizações fascistas chamavam essas atividades de “traição da terra natal” e os agentes da polícia política secreta (OVRA) começaram a agir contra eles.<br/>
Uma Comunidade Dividida - final da década de 1930<br/>
A tensão entre os lados aumentava dia após dia, atingindo um dos seus picos em setembro de 1937, quando os marinheiros de um navio fascista ancorado em Túnis descobriram que, no porão da sede do Partido Comunista, estavam sendo preparados panfletos para distribuição a bordo. Mais tarde, naquela noite: ... “50 marinheiros invadiram seus escritórios, atiraram selvagemente em três membros e mataram o secretário Micelli”, como foi publicado no Palestine Post. Referindo-se ao incidente, Nadia Gallico, uma das líderes “livornesas” do movimento comunista clandestino, disse que o assassinato dividira a comunidade. De fato, as diferenças de posição podem ser vistas a partir da versão do evento publicada na imprensa consular italiana, que contava com alguns burgueses de Livorno entre seus editores: “Os marinheiros foram atacados por pessoas com ideias revolucionárias, que disseminavam panfletos de propaganda, levando o secretário a se matar”.<br/>
No entanto, um evento com implicações mais significativas ocorreu pouco depois, na Itália. As leis raciais que, em julho de 1938, foram recebidas com aplausos no Parlamento Romano, aturdiram os judeus da Itália (entre outras restrições, proibindo-lhes de casar com cristãos, servir no governo e possuir terras). Embora Grana tivesse sofrido apenas em parte com as regras, “a noção de que a Itália tinha aceito a teoria da raça nazista causou pânico entre eles”, como relata o jornal Boker. Mas mesmo essa política antissemita não produziu uma reação uniforme entre os judeus “livorneses” e os que se diziam “patriotas” continuaram a demonstrar extrema lealdade ao regime. Alguns procuraram ajuda das autoridades do protetorado, mas outros preferiram intensificar sua resistência.<br/>
A intensificação das demandas irredentistas6 fascistas também alimentou a luta. Semelhante à Alemanha nazista, essas reivindicações territoriais italianas foram acompanhadas pela radicalização da política racial. Assim, na mesma semana em que as leis raciais foram adotadas, massas de estudantes fascistas marcharam para a embaixada francesa, bradando: “Nós queremos a Tunísia”. Para reforçar as reivindicações, a marinha italiana realizou manobras no litoral de Bizerta. Naquela época, uma nova linha temática começou a caracterizar a propaganda fascista; em seu foco, uma tentativa de incitar a maioria muçulmana contra a minoria judaica, usando a retórica de seus oponentes comunistas, como relatado no jornal Davar: “Os judeus roubam dos árabes os frutos de seu trabalho e vivem às suas custas”. Também encorajou “as massas de Túnis a fazer um acerto final com os judeus, agentes britânicos e ‘sanguessugas’ ”.<br/>
Em resposta, o jornal antifascista publicou um manifesto contra as tendências expansionistas da Itália, declarando: “O fascismo anseia pela Tunísia apenas para impor sua dominação terrorista”. Ao mesmo tempo, para aumentar o clamor contra as leis raciais, Maurizio Valenzi, outro proeminente ativista “livornês”, foi a uma missão em Paris, onde ajudou a publicar o jornal dos exilados, La Voce degli Italiani. Esse jornal expressou uma das vozes mais claras contra o fascismo e o antissemitismo: “Ao defender os judeus, que foram confiscados, humilhados, espancados até à morte, defenderemos a herança da civilização italiana contra a barbárie fascista”.<br/>
Contra esse pano de fundo de enérgica atividade, pode-se entender a afirmação de Paul Sebag, um dos importantes historiadores do judaísmo tunisiano, de que a atividade “livornesa” na capital, “às vésperas da 2ª Guerra Mundial, transformou Túnis em um dos bastiões de antifascismo fora da Itália”.<br/>
Os Motivos do Envolvimento Político de Grana<br/>
Dado o extenso envolvimento dessa pequena comunidade de exilados no destino político de seu país de origem, surge a questão sobre seus motivos e a razão para ser uma arena tão vibrante para a atividade política. A resposta parece envolver vários fatores. A proximidade geográfica entre Itália e Tunísia (apenas 145 km no Estreito da Sicília), os tratados bilaterais que garantiam privilégios aos imigrantes toscanos/italianos, o patrocínio dado pelos Beys de Túnis à atividade revolucionária e, especialmente, o poder econômico, cultural e social da comunidade judaica italiana na Tunísia.<br/>
No entanto, acima de tudo, esse fenômeno do ativismo político diaspórico pode estar relacionado à incomum divisão entre as duas comunidades judaicas, Grana e Touansa, sem as quais os “livorneses” teriam sido destinados à assimilação entre seus irmãos tunisianos. Parece que sua insistência intransigente em uma existência judaica separada os ajudou a esquecer que eles não mais viviam em sua terra natal. A compreensão de sua língua, nomes, comércio, culinária e seus teatros permitia que ficassem, como afirmou o correspondente de Doar Hayom: “...mentalmente mais próximos dos judeus da Itália do que dos judeus da Tunísia”. Em outras palavras, a tendência cultural, a tendência secular e o separatismo étnico tiveram um impacto significativo na agenda política italiana dos “livorneses”.<br/>
1 Livorno é uma cidade na região da Toscana, Itália. Porém, no texto, o termo “livorneses” refere-se aos judeus de Grana - de origem italiana, mas que viviam na Tunísia.<br/>
2 A Carbonária foi uma sociedade secreta e revolucionária que atuou na Itália e em outros países.<br/>
3 Mare Nostrum (“nosso mar”, em latim) era o nome dado pelos antigos romanos ao mar Mediterrâneo. Após a unificação da Itália, em 1861, o termo foi revivido por nacionalistas italianos, que acreditavam que o país era o sucessor do Império Romano, devendo controlar os territórios que pertenceram a Roma em todo o Mediterrâneo. O termo foi utilizado novamente por Benito Mussolini na propaganda fascista, <br/>
de maneira similar ao Lebensraum de Adolf Hitler.<br/>
4 O atraso resultou principalmente da unificação tardia do Estado (1871), mas se deveu, também, à influência do nacionalismo moderado das posições defendidas por Mazzini e Garibaldi.<br/>
5 Era governada por Beys vassalos do sultão de Istambul até 1881, quando o país foi conquistado pela França.<br/>
6 O termo irredentismo indica a aspiração de um povo a completar a própria unidade territorial nacional, anexando terras sujeitas ao domínio estrangeiro com base em teorias de uma identidade étnica ou de uma precedente posse histórica, verdadeira ou suposta.<br/>
BIBLIOGRAFIA<br/>
Clancy-Smith, Julia, Mediterraneans: North Africa and Europe in an age of migration, c. 1800-1900, University of California Pres, 2012, Berkeley<br/>
Ganiage, Jean. Les origines du protectorat franc¸aisen Tunisie (1861-1881), Paris: Presses Universitaires de France, 1959.<br/>
Sa’adon, Haim. [Hebrew] Jews and Muslims in Tunisia: Between French Colonialism and Tunisian Nationality, 2003, Tel Aviv.<br/>
Sebag, Paul. Histoire des Juifs de Tunisie: des origines à nosjours, Edition L’Harmattan, 1991.<br/>
O artigo é baseado em um trabalho apresentado em um seminário enfocando o judaísmo norte-africano e um estudo publicado no Journal of Education, Society and Behavioural science.<br/>
Nimrod Etsion Koren é aluno de pós graduação no Departamento de História, Filosofia e Estudos Judaicos na Universidade Aberta de Israel.</p> Vida judaica na Escócia - MORASHAtag:judaismohumanista.ning.com,2017-08-16:3531236:Topic:1158102017-08-16T23:26:49.146ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Há referências históricas da presença judaica na Escócia no final do século 17, mas a primeira comunidade foi criada em Edimburgo, em 1816, e a segunda, em Glasgow, sete anos mais tarde. A população judaica foi crescendo no século 19 com a chegada de judeus vindos da Europa do Leste. Em meados do século 20, viviam no país cerca de 20 mil de nossos irmãos, mas hoje são cerca de seis mil.<br></br> Edição 96 - Junho de 2017</p>
<p>País de deslumbrantes paisagens, a Escócia cobre o terço norte da…</p>
<p>Há referências históricas da presença judaica na Escócia no final do século 17, mas a primeira comunidade foi criada em Edimburgo, em 1816, e a segunda, em Glasgow, sete anos mais tarde. A população judaica foi crescendo no século 19 com a chegada de judeus vindos da Europa do Leste. Em meados do século 20, viviam no país cerca de 20 mil de nossos irmãos, mas hoje são cerca de seis mil.<br/> Edição 96 - Junho de 2017</p>
<p>País de deslumbrantes paisagens, a Escócia cobre o terço norte da ilha da Grã-Bretanha e, desde o início do século 18, quando se uniu com a Inglaterra, é um dos países do Reino Unido1. A Escócia faz fronteira ao sul com a Inglaterra e o Oceano Atlântico, ao leste com o Mar do Norte e a sudeste com o Canal do Norte e o Mar da Irlanda.<br/> Em termos numéricos, a presença judaica jamais foi significativa, sempre representando menos de 1% da população, mas seus membros contribuíram amplamente para o desenvolvimento econômico da nação. Em uma sociedade em que não havia barreiras legais, eles deram significativa contribuição em todos os campos, produzindo cientistas e doutores, juízes e membros do Parlamento, ministros do Governo, artistas, escritores e músicos famosos e campeões nos esportes e destiladores de whisky.<br/>
Os judeus se tornaram a maior minoria não cristã a viver na Escócia, “um clã judaico” entre os muitos clãs que compõem a sociedade tradicional escocesa. Em março de 2008 foi desenhado um tartan – um padrão de trama xadrez – especial para o “clã judaico”, encomendado pelo rabino do Chabad de Glasgow, e certificado pela Autoridade de Tartans da Escócia. Na Escócia, os membros dos diferentes clãs são reconhecidos pela padronagem de xadrez geralmente utilizada na confecção dos kilts. Cada clã tem seu próprio conjunto de cores e uma trama diferente. As cores do xadrez do “clã judaico” são azul, branco, prateado, vermelho e dourado. De acordo com o rabino: “Os azuis e brancos representam as cores das bandeiras da Escócia e de Israel; a linha central dourada representa o ouro do Tabernáculo, a Arca da Aliança; o prateado, a decoração que enfeita os Rolos da Lei e o vermelho representa o tradicional vinho do Kidush”.<br/>
O Reino da Escócia<br/>
A Escócia é uma nação cuja história é tão fascinante quanto violenta. Os primeiros registros remontam à ocupação do Sul e do Centro da ilha da Grã-Bretanha pelo Império Romano. O território que equivale atualmente à Inglaterra e ao País de Gales passou a ser a província romana da Britânia, no século 1, mas os romanos não conseguiram dominar o norte da ilha, habitado pelos pictos, e no século 5 deixaram a região.<br/>
Segundo a tradição, o Reino da Escócia foi fundado em 843 com a união das tribos dos pictos e dos escotos, e, nos séculos seguintes, os escoceses lutaram ferozmente contra quem quer que fosse – vikings, anglo-saxões e ingleses – para manter sua independência.<br/>
O que se sabe sobre a presença judaica na Escócia no período que vai da Antiguidade e até o final da Idade Media são suposições históricas, pois são escassas as evidências concretas. É provável que os judeus se aventurassem na Britânia na época em que Roma dominava a região, pois eles costumavam se deslocar para comercializar em praticamente toda a extensão do Império. <br/>
E, durante a Idade Média, sabe-se que mantinham interesses comerciais na região sem, porém, lá se estabelecer. Na época, o comércio entre a Escócia e a Europa Continental era intenso, e mercadores de Aberdeen e Dundee mantinham fortes vínculos com os portos bálticos na Polônia e Lituânia. É, portanto, provável que comerciantes judeus tenham ido à Escócia para fazer negócios.<br/>
Os judeus são mencionados, em 1180, numa regulamentação oficial do bispo de Glasgow que proibia os cristãos de “contabilizar os benefícios auferidos com dinheiro tomado emprestado aos judeus”. Há dúvidas se esta determinação oficial se refere a judeus que viviam na Inglaterra e emprestavam dinheiro aos escoceses, ou se foi promulgada após a chegada em Glasgow de judeus em fuga face aos distúrbios antissemitas que estavam ocorrendo na Inglaterra. No século 13, os judeus ingleses enfrentavam perseguições por parte da Coroa que culminaram com o Édito de Expulsão de 1290, outorgado pelo rei Eduardo I. É provável que alguns se tenham refugiado na Escócia, na época um reino independente e inimigo dos ingleses.<br/>
Praticamente quatro séculos vão-se passar sem que haja evidências da presença judaica na Escócia.<br/>
A Escócia nos século 17 e 18<br/>
A história da Escócia deu uma guinada no século 17. Em 1603, o rei da Escócia, James VI, torna-se também rei da Inglaterra, com o nome de James I, e passa a governar as duas Coroas embora as nações permaneçam independentes.<br/>
Ainda no século 17 acontecimentos econômicos e políticos mudam o curso da história mundial e pavimentam o surgimento do mundo moderno. Na Europa, Estados Nacionais entram numa acirrada competição econômica, política e colonial. As nações ibéricas perdem sua hegemonia e a França surge como nação dominante, mas, no final do século, a Holanda e a Inglaterra passam a rivalizar seu poder. Ademais, na Inglaterra estavam ocorrendo profundas mudanças agrícolas e comerciais que abriram o caminho para a Revolução Industrial da qual o país foi pioneiro.<br/>
No início do século 18, a Escócia era um dos países mais atrasados e pobres da Europa Ocidental. Suas classes dirigentes estavam cientes de que não haveria o desenvolvimento econômico sem a participação da Escócia no comércio internacional. Além de não ter domínios coloniais, o país tampouco possuía uma Marinha capaz de dar assistência a seus navios mercantes. Essas considerações os levaram a aceitar, apesar de a medida ser altamente impopular, uma união política com a Inglaterra. A união trazia vantagens para os dois lados. Dava aos ingleses o tão almejado controle político da Escócia e abria aos escoceses o comércio em todas as regiões sob influência inglesa.<br/>
A União foi oficializada em 1707. Os reinos da Inglaterra e Escócia deixaram de ser independentes, sendo criado um novo Estado: o “Reino da Grã-Bretanha”. A Escócia manteve a religião presbiteriana, não adotando a anglicana, e um sistema jurídico independente.<br/>
Para os judeus, isso significava que quem fosse se estabelecer na Escócia estaria sujeito às leis que regiam a vida judaica na Inglaterra. Em 1656, os judeus haviam recebido a permissão de voltar a viver na Inglaterra, porém seu status civil e jurídico se manteve informal e ambíguo até 1664, quando novas leis foram criadas para limitar o acesso à vida pública a qualquer cidadão, judeu ou cristão, que não fosse protestante.<br/>
Durante todo o século 18 a Escócia floresce, tornando-se uma das potências econômicas e intelectuais da Europa. A industrialização, principalmente do setor têxtil, o comércio de tabaco, açúcar e algodão, a mineração e a construção naval levaram o país a um rápido crescimento econômico e à urbanização. Glasgow tornou-se um dos polos industriais mais importantes do mundo. Em 1740 viviam na cidade cerca de 20 mil habitantes; 60 anos depois, eram mais de 84 mil.<br/>
Os primeiros judeus<br/>
Apenas no final do século 17 um pequeno número de judeus se estabeleceu em Edimburgo. Em 1691, as minutas do Conselho Municipal da cidade registraram o pedido do judeu David Brown para lá se estabelecer e comerciar.<br/>
Havia também um pequeno número de estudantes e professores que gravitavam em torno da Universidade de Edimburgo, atraídos por sua reputação nas áreas científicas e médicas. E, diferentemente do que acontecia nas universidades na Inglaterra e em outros países da Europa, na Escócia os estudantes não eram obrigados a fazer um juramento religioso (cristão). Durante todo o século 18,19 e 20 a Escócia abrigou estudantes judeus de medicina.<br/>
Mas, é no século 19 que realmente aumenta o número de judeus que se estabelecem na Escócia. As primeiras levas vieram da Alemanha e da Holanda e, a partir de 1860, da Rússia, Lituânia e Polônia, crescendo ainda mais na década de 1890, à medida que as perseguições na Europa Oriental tornavam a vida judaica cada vez mais sofrida e precária. O fluxo migratório continuou ao longo do século 20, principalmente após 1914.<br/>
As empresas escocesas de navegação atuavam cada vez mais no lucrativo transporte de imigrantes judeus e não judeus da Europa, através da Escócia, rumo à América. Para os milhares de judeus que chegavam aos portos de Leith, perto de Edimburgo, e Dundee, na costa leste, a Escócia era apenas uma escala. As condições de viagem não eram fáceis e muitos chegavam fracos e doentes. Muitos tiveram que ficar no país, pois não tinham condições de seguir viagem, ou de atender os requisitos de saúde exigidos na entrada aos Estados Unidos pelas autoridades norte-americanas. Havia os que, sem recursos suficientes para pagar uma viagem até o Novo Mundo, compravam uma passagem até a Escócia para, em seguida, trabalhar e economizar o suficiente para continuar a viagem. Outros desembarcaram enganados por capitães que os faziam acreditar que já tinham chegado a seu destino final na América. Qualquer que fosse o motivo, milhares ficaram na Escócia. Edimburgo e Glasgow eram as cidades escolhidas pela maioria dos judeus. Até meados do século 19, essas duas comunidades eram numericamente semelhantes, mas o desenvolvimento comercial e econômico de Glasgow começou a atrair um número cada vez maior de judeus.<br/>
Edimburgo<br/>
Após a permissão dada ao judeu David Brown, em 1691, para viver e comerciar livremente, outros judeus tiveram permissão de fazer transações comerciais na cidade. Entre outros, Moses Mosias, em 1698, e Isaac Queen, em 1717.<br/>
Em 1795, Herman Lyon adquiriu um lugar para sepultamento, em Edimburgo. Oriundo da Alemanha, ele se mudara para a Escócia e prosperara. Ainda que o local da sepultura original, em Calton Hill, já não se possa encontrar, pois apenas restam alguns escombros e pedras, está marcado no mapa de 1852 da Agência Nacional de Mapas da Grã-Bretanha, como “Sepultura do Judeu”.<br/>
Duas décadas vão se passar antes de ser criada, em 1816, a primeira comunidade judaica organizada da Escócia: a Edinburgh Hebrew Congregation, composta por 20 famílias. Em 1817 foi estabelecida a primeira sinagoga na Escócia, em um quarto alugado em Richmond Street. E, três anos mais tarde, a comunidade comprou o terreno para o cemitério.<br/>
A maioria dos judeus que viviam na época em Edimburgo eram abastados comerciantes de origem alemã ou holandesa, mas o perfil da comunidade iria mudar com a chegada, nas décadas finais do século 19, de judeus vindos da Europa Oriental.<br/>
Em 1825, a Edinburgh Hebrew Congregation mudou-se para novas instalações, em Richmond Court, onde permaneceu durante 43 anos, até a inauguração da sinagoga em Park Place, próxima à Universidade de Edimburgo.<br/>
Os judeus, principalmente imigrantes, cuja condição social não era privilegiada e não tinham condições financeiras de viver nas ruas em torno da Universidade de Edimburgo, estabeleceram-se no porto de Leith e Dalry, na parte oeste da cidade. Como ocorre em toda parte, a sinagoga era o eixo central de cada comunidade.<br/>
O número de sinagogas e as mudanças na sua capacidade efetivamente marcam o crescimento e o declínio da população judaica em Edimburgo.<br/>
A sinagoga conhecida como Blecheneh Shul foi inaugurada em Dalry por artífices e operários, muitos vindos de Manchester. <br/>
Em 1898, a Edinburgh Hebrew Congregation abriu mais uma sinagoga na Rua Graham e, em 1913, foi ampliada. Em 1914 viviam na cidade 1.500 judeus. Essa sinagoga permaneceu sendo a principal até a inauguração da atualmente localizada na Rua Salisbury e aberta em 1932. Esta é a primeira e única sinagoga especialmente construída para esse propósito em Edimburgo. Acomoda 1.500 pessoas e representou a união das duas principais congregações judaicas locais. A nova construção era a prova da prosperidade e ascensão social dos membros da comunidade, cuja maioria à época já vivia nos subúrbios ao sul de Edimburgo. <br/>
Glasgow<br/>
Embora durante o século 18 vivessem em Glasgow alguns judeus – comerciantes e alunos da Universidade de medicina, não há nenhum registro de judeus que se tenham estabelecido permanentemente na cidade até 1812.<br/>
A imigração judaica para Glasgow faz parte de uma tendência mais ampla em que eles eram um dos inúmeros grupos que fizeram da cidade seu novo lar no século 19. Apesar de hoje ser a maior cidade da Escócia, e ter a maior comunidade judaica do país, a Glasgow do século 18 era uma cidade provinciana, com uma população de cerca de 20 mil habitantes, chegando a 80 mil no início do século 19. A população cresceu à medida que florescia o comércio com a América do Norte. A localização da cidade, com acesso à costa oeste da Escócia, é fator de atração para os comerciantes e empresários.<br/>
O primeiro judeu admitido como residente da cidade foi Isaac Cohen, um chapeleiro vindo de Londres. De acordo com uma lenda local, foi Cohen quem introduziu o chapéu de seda na Escócia. Nos anos seguintes, outros judeus foram-se estabelecendo em Glasgow, a maioria de origem alemã, holandesa ou londrina. Em 1850 havia apenas 200 judeus em Glasgow, mas à medida que a cidade crescia, o mesmo acontecia com o número de judeus. Em 1879, eram cerca de mil; em 1891, por volta de 2 mil; e, em 1914, já perfaziam 12 mil.<br/>
A florescente indústria da Glasgow vitoriana gerava oportunidades para os judeus recém-chegados, que ajudaram no rápido desenvolvimento industrial e comercial, em especial na fabricação de roupas, móveis e cigarros. Parte significativa dos membros da comunidade de Glasgow, assim como ocorria em outros locais, trabalhavam como mascates vendendo vários produtos para as comunidades da área de mineração.<br/>
Em 1823 foi aberta a primeira sinagoga, em um pequeno apartamento de dois quartos, na High Street. À medida que a comunidade crescia, ia realizando seus serviços religiosos em diferentes locais. Em 1832 foi comprado o terreno para o primeiro cemitério.<br/>
Em 1859 foi aberta uma sinagoga para abrigar 200 fiéis, na George Street. Vinte anos mais tarde, em 1879, foi inaugurada uma suntuosa sinagoga em Garnethill. Era a primeira na Escócia construída especialmente com esse fim – um empreendimento de grandes proporções para uma comunidade de apenas mil membros. O interior da Sinagoga Garnethill era típico do estilo de “sinagogas catedrais”, construídos no período vitoriano. Predominantemente romanesco, seu estilo é um exemplo do ecletismo do período. A sinagoga tem uma entrada espaçosa e sensacionais janelas em vitral, com painéis florais em cores vívidas. A área central de orações é praticamente uma basílica; o púlpito imponente colocado no centro da plataforma em arco. O armário sagrado para os Sifrei Torá, o Aron HaCodesh, é em madeira folheada a ouro, com uma cúpula e torres.<br/>
A maioria dos judeus vivia no Distrito de Gorbals, ao longo do Rio Clyde. Era a parte mais pobre da cidade, uma área habitada principalmente por imigrantes italianos e irlandeses. Foi em Gorbals que surgiu uma comunidade mais tradicional, cujo idioma principal era o iídiche. Em 1901, no coração dos Gorbals, foi aberta a Glascow Central Synagogue, a maior em toda a Escócia.<br/>
Os judeus se integraram à vida local e participavam das atividades da política. Michael Simons, um membro proeminente da comunidade de Garnethill e diretor de uma das principais empresas de importação de frutas, foi eleito para o Conselho de Glasgow, em 1880. Acredita-se que sua posição de destaque tenha influenciado na aceitação da comunidade judaica na sociedade maior.<br/>
Ao longo do século 20, Glasgow foi uma das principais comunidades judaicas da Grã-Bretanha, sendo superada apenas por Londres, Manchester e Leeds.<br/>
Dundee, Greenock, Ayr e Aberdeen<br/>
Apesar de sempre a vida judaica escocesa ter-se concentrado em Edimburgo e Glasgow, comunidades menores surgiram em Dundee, Greenock, Ayr e Aberdeen. O cemitério judaico em Dundee indica ter havido uma congregação na cidade desde o século 19. Aliás, várias indústrias têxteis instaladas em Hamburgo, na Alemanha, abriram seus escritórios em Dundee, no início do século 19. Em Aberdeen, a então recém-criada comunidade judaica foi o centro da atenção nacional poucas semanas após sua fundação, em 1893, quando defendeu com sucesso uma ação contra a aplicação da shechitá2 movida pelo departamento local da Sociedade de Prevenção a Crueldade contra Animais.<br/>
Instituições de ajuda comunitária<br/>
A comunidade judaica escocesa sempre foi unida, com seus membros apoiando-se uns os outros. Além de fundarem sinagogas e escolas, criaram uma ampla rede de bem-estar social. As instituições de assistência social comunitária assumiram a responsabilidade pela parcela mais carente da comunidade, principalmente os imigrantes recém-chegados. Embora com a Lei para Estrangeiros de 19053 a Grã-Bretanha tenha limitado o número de imigrantes pobres autorizados no país, um número cada vez maior de judeus continuavam a chegar à Escócia nos anos que antecederam a 1ª Guerra Mundial.<br/>
O número crescente de recém-chegados levou ao estabelecimento de todo tipo de atividades assistenciais, muitas das quais coordenadas pelos próprios imigrantes. As instituições davam ajuda financeira, além de assistência médica e social.<br/>
A primeira instituição assistencial judaica foi fundada em Edimburgo, em 1838. Em Glasgow, em 1858, criou-se a Sociedade Hebraica Filantrópica, que possuía sua própria equipe médica e, em 1899, o Fundo Hospitalar Judaico. A partir do final do século 19, tanto em Edimburgo quando em Glasgow, foram abertos abrigos gratuitos judaicos e acomodações temporárias para os recém-chegados e para os viajantes em trânsito, e criadas sociedades de autoajuda ao custo de um penny semanal.<br/>
Um dos problemas enfrentados pela comunidade judaica escocesa foi o advento das missões cristãs escocesas para os judeus. A Igreja da Escócia4 desencadeara uma campanha acirrada para conseguir a conversão dos judeus, e investia somas consideráveis nesse “projeto”. Até a década de 1880 as missões focavam seu trabalho na evangelização dos judeus fora da Escócia, mas a partir desse período, passaram a atuar também dentro do próprio país. A conversão dos judeus tornou-se um dos mais importantes objetivos dos missionários, que ofereciam aos judeus, principalmente aos recém-chegados, ajuda financeira e assistência médica em instalações bem-equipadas, com médicos que falavam iídiche. Embora não obtivessem êxito em suas tentativas de conversão, estavam determinados a perseguir a evangelização dos judeus, provocando protestos e a ira da comunidade judaica.<br/>
Séculos 20 e 21<br/>
A comunidade judaica escocesa sempre foi ativa politicamente, tanto internamente quanto em relação aos acontecimentos mundiais, acima de tudo em relação ao destino de nosso povo.<br/>
Na década de 1890, o sionismo era a ideologia política dominante entre os judeus. Os grupos sionistas organizavam atividades sociais e esportivas. Foram criadas, também, sociedades de autoajuda, cujos encontros em Glasgow atraíam grandes públicos – até mil pessoas por evento, além de grupos sionistas para mulheres e jovens. As salas de leitura organizadas pelos movimentos sionistas forneciam um espaço para a comunidade se encontrar, aprender sobre Eretz Israel e os primeiros pioneiros, além de oferecer aulas de hebraico. Os pogroms perpetrados na Rússia, principalmente o ocorrido em Kishinev em 1905, deram um forte impulso aos esforços sionistas.<br/>
A Declaração Balfour, de novembro de 1917, indicando o apoio do governo britânico à criação de um Lar Nacional judaico na então Palestina, foi recebida com muito entusiasmo, fortalecendo ainda mais as atividades sionistas e aumentando a arrecadação de recursos para assentamentos judaicos em Eretz Israel. <br/>
Após a ascensão nazista na Alemanha, em 1933, os esforços comunitários foram direcionados a ajudar refugiados judeus. E estima-se que em 1939, com a chegada dos refugiados da Europa, havia cerca de 15 mil judeus vivendo em Glasgow e pouco mais de 2 mil em Edimburgo.<br/>
A Escócia tornou-se lar para algumas das crianças do chamado Kindertransport, organizado para retirar crianças judias da Alemanha, Áustria e Checoslováquia. A evacuação temporária acabou por se transformar, tragicamente, em permanente. Ao término da 2ª Guerra chegaram ao país os sobreviventes da Shoá, um horror cuja realidade chocaria a comunidade, dando-lhe novos incentivos para seu apoio à causa de Israel.<br/>
A fundação do Estado de Israel e a vitória na Guerra dos Seis Dias, em 1967, influenciaram de forma positiva a comunidade e a arrecadação de fundos para instituições israelenses tornou-se uma prioridade.<br/>
Situação atual<br/>
Na metade do século 20, viviam no país por volta de 20 mil judeus, a maioria de origem asquenazita. Mas a comunidade foi encolhendo e, no início do século 21, eram apenas 6.500. A maioria, por volta de 4.200, vivem em Glasgow, 950 em Edimburgo, a capital, e uma minoria em Dundee e em outras cidades do país.<br/>
A Escócia está assistindo o crescimento do antissemitismo, tendo dobrado em 2015 o número de incidentes contra judeus, de acordo com a Community Security Trust. Isso é muito perturbador num país que, como escreveu David Daiches, renomado historiador judeu escocês, em sua autobiografia, Two Worlds: An Edinburgh Jewish Childhood, é o único, em toda a Europa, que não tem uma história de perseguição oficial aos judeus. Não há atos de expulsão, como os ocorridos na Inglaterra e outras nações europeias, nem legislações discriminatórias.<br/>
A atuação do Parlamento nacional escocês está no centro das preocupações das lideranças comunitárias, pois o Partido Nacional Escocês (SNO), o principal do país, com 63 das 120 cadeiras do Parlamento, apoia os palestinos e conseguiu aprovar um grande número de moções anti-Israel. Entre maio de 2011 até o final do ano passado, das 355 resoluções sobre assuntos internacionais, 65 envolviam Israel, e, por exemplo, apenas 13 se referiam à Síria. Em 2015, a primeira-ministra Nicola Sturgeon reuniu-se com a liderança comunitária, tentando tranquilizar seus membros e garantindo que não serão tolerados no país incidentes antissemitas.<br/>
O Conselho Escocês de Comunidades Judaicas (Scottish Council of Jewish Communities-Scojec), após ter realizado inquéritos, em 2012 e 2014, concluiu que a forma como alguns pesquisadores e acadêmicos expressam seus pontos de vista sobre o Oriente Médio em sala de aula, em palestras e na mídia contribui para que estudantes judeus se sintam discriminados. Ademais, o movimento BDS e a Campanha Escocesa de Solidariedade à Palestina têm conseguido infiltrar-se em muitos setores da sociedade civil e nos campi universitários. Muitos estudantes judeus dizem esconder a sua religião em virtude das constantes demonstrações e atividades contra o Estado Judeu. Há relatos de estudantes intimados a prestar exames no Shabat ou então serem reprovados. Outros revelam que não têm mais estudado nas bibliotecas por medo de serem atacados, seja verbal seja fisicamente.<br/>
Em 2015 dez professores escoceses integraram uma lista de 300 professores universitários que anunciaram um boicote às instituições israelenses. O pastor Arthur O’Malley, grande defensor de Israel, chegou a afirmar que “BDS e outros grupos palestinos aproveitam todas as vantagens e invadem ativamente as universidades, conselhos municipais e espaços públicos, e têm obtido grande apoio no seio dos movimentos sindicalistas”. E continua: “Quando nossas principais cidades escolhem hastear a bandeira palestina em demonstração de solidariedade...isso demonstra o impacto que está sendo conseguido por esses grupos”, explica o pastor cristão, referindo-se a um incidente ocorrido em agosto de 2016 quando um setor inteiro de fãs no estádio do Celtic, em Glasgow, levantou bandeiras palestinas para protestar contra a “ocupação israelense”.<br/>
BIBLIOGRAFIA <br/>
Shields, Jacqueline, Scotland Virtual Jewish History Tour, <a href="http://www.jewishvirtuallibrary.org">www.jewishvirtuallibrary.org</a> <br/>
Collins, Kenneth, Jews in Glasgow. <br/>
<a href="http://www.theglasgowstory.com">www.theglasgowstory.com</a> Jerusalem Post Diaspora<br/>
Imber, Elizabeth E., Saving Jews:The History of Jewish-Christian Relations in Scotland, 1880-1948, A Master‘s Thesis <br/>
Department of Near Eastern and Judaic Studies Brandeis University, 2010<br/>
Jaffe-Hoffman, Maayan, Seeing Scotland Through Its Jewish Community, artigo publicado no Jerusalem Post em18 de fevereiro de 2017</p> O Beijo na Dona Urbana Jayme Fucs Bar.tag:judaismohumanista.ning.com,2017-08-16:3531236:Topic:1154302017-08-16T23:14:43.774ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Estou em Belmonte fazendo alguns projetos turisticos ligado a hotelaria e herança judaica em Portugal.<br></br> Durante esses dias me encontrei com o casal Urbano que tem uns 84 anos e depois de uma boa conversa de negócios , antes de ir embora como costume brasileiro dei um beijo na dona Urbana.<br></br> No dia sequinte me encontrei por acaso com dona Urbana na rua e ela me disse: " Sr. Jayme Meu marido não gosta que homem nenhum me dê beijo, pois ele é muito ciumento, mas ele me disse que não…</p>
<p>Estou em Belmonte fazendo alguns projetos turisticos ligado a hotelaria e herança judaica em Portugal.<br/> Durante esses dias me encontrei com o casal Urbano que tem uns 84 anos e depois de uma boa conversa de negócios , antes de ir embora como costume brasileiro dei um beijo na dona Urbana.<br/>
No dia sequinte me encontrei por acaso com dona Urbana na rua e ela me disse: " Sr. Jayme Meu marido não gosta que homem nenhum me dê beijo, pois ele é muito ciumento, mas ele me disse que não sente ciumes do Sr pois sabe que o Sr. é um homem decente."<br/>
ri muito!! <br/>
Mas pensei que o sr Urbano tem razão! <br/>
Falamos o portugues mas vivemos em cultura e valores diferentes principalmente no interior de Portugal.<br/>
Me lembrei de um episódio em minha primeira viagem a Israel em 1977 estava no grupo do Tapuz Hashomer no Kibbutz Sarit e na primeira semana de Kibbutz teve uma discoteca e dancei com uma jovem israelense que no final da noite ela me disse " Laila Tov" (boa noite) e como de costume no Brasil dei a mão e fui dá um beijo no rosto dela, que se afastou de mim e me deu um tapa na cara falando algo que não entendi. Acho que provavelmente me chingou!<br/>
A minha madricha ( monitora) mas tarde me explicou que isso não se faz em Israel e o tapa na cara me fez entender que as culturas são diferente e beijo no rosto é entrar na intimidade das pessoas sem ser realmente convidado.<br/>
Dona Urbana apesar da idade me tentou dizer algo que fui entender no escritorio da advogada Anabela já assinando os documentos e no final o aperto de mãos, mas não sei porque talvez pelo resultado do acordo, me empolguei e falei para o sr Urbano com todo respeito de receber uma autorização!<br/>
" Sr Urbano me permite dá um abraço no Sr. e uma beijo na sua esposa? <br/>
Ela é como se fosse minha mãe!! " <br/>
Ele olhou para a advogada procurando uma aprovação que não veio e disse :<br/>
" O Sr Jayme aqui em minha terra não é de costume esse comportamento mas pelo Sr . ser extrangeiro pode sim dá um beijo na minha esposa ! mas basta um beijo e não dois!"<br/>
logicamente eu e a advogada rimos muito!!<br/>
Viver as culturas é sabe respeitar as diferenças que nem sempre o que é certo para você é certo para o outro.</p> Os judeus de Curaçau - Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2017-04-30:3531236:Topic:1131672017-04-30T21:14:37.029ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<h3>Os judeus de Curaçau</h3>
<p>Na ilha de Curaçau, Mar do Caribe, judeus sefaraditas fundaram, em 1651, a congregação Mikvé Israel-Emanuel, que funciona até hoje e é a mais antiga das Américas.</p>
<p class="num-edicao">Edição 95 - Março de 2017</p>
<hr></hr><p>Curaçau, anteriormente parte das hoje extintas Antilhas Holandesas, é um país autônomo, um dos quatro que constituem o Reino dos Países Baixos<sup>1</sup>. A ilha foi descoberta por uma expedição espanhola em 1499 e ficou sob domínio desse…</p>
<h3>Os judeus de Curaçau</h3>
<p>Na ilha de Curaçau, Mar do Caribe, judeus sefaraditas fundaram, em 1651, a congregação Mikvé Israel-Emanuel, que funciona até hoje e é a mais antiga das Américas.</p>
<p class="num-edicao">Edição 95 - Março de 2017</p>
<hr/><p>Curaçau, anteriormente parte das hoje extintas Antilhas Holandesas, é um país autônomo, um dos quatro que constituem o Reino dos Países Baixos<sup>1</sup>. A ilha foi descoberta por uma expedição espanhola em 1499 e ficou sob domínio desse país durante todo o século 16, até ser conquistada pelos holandeses, em 1634. Estes últimos decidiram tomar Curaçau após os espanhóis terem conquistado a ilha de Sint Maarten (Saint Martin), em 1633, até então dominada pelos holandeses, mais especificamente pela Companhia das Índias Ocidentais<sup>2</sup> (em holandês: West-Indische Compagnie, ou WIC). Com a perda da ilha, a WIC perdeu uma importante base comercial nas Antilhas, o que foi desastroso para suas atividades.</p>
<p>Em abril de 1634, a WIC designou ao almirante e cartógrafo Johannes Van Walbeeck a tarefa de tomar as ilhas de Curaçau e Bonaire, também nas Antilhas, então sob domínio espanhol. As ilhas haviam sido escolhidas em virtude de sua estratégica localização <em>vis-à-vis</em> o continente americano, principalmente o porto natural de St. Anna Bay, em Curaçau. Por causa de sua privilegiada localização geográfica essa ilha teve no comércio e no transporte marítimo suas mais importantes atividades econômicas.</p>
<p>Em maio daquele ano de 1634, Van Walbeeck deixou a Holanda com quatro navios, levando 180 marinheiros e 250 soldados, liderados por Pierre Le Grand, mercenário francês que havia servido aos holandeses no Brasil. Os espanhóis haviam praticamente abandonado Curaçau; não demostravam real interesse na ilha pois nela havia pouco ouro e era impossível o estabelecimento de grandes fazendas devido à escassez de água. Foi, portanto, relativamente fácil para a frota holandesa a conquista da ilha. Em 21 de agosto, os espanhóis se renderam e Van Walbeeck tornou-se o primeiro governador/administrador das Antilhas Holandesas. Durante seus três anos nessa função construiu uma fortificação no porto natural de St. Anna Bay e lançou as bases da cidade de Willemstad, ao lado do forte.</p>
<p>O primeiro judeu a desembarcar na ilha foi Samuel Cohen, que atuava como tradutor de bordo da frota holandesa. Membro da congregação judaica de Amsterdã, Cohen lá permaneceu por cerca de oito anos. Há indicações de que, durante sua estada, ele tenha convencido alguns judeus de Amsterdã a se estabelecer em Curaçau. Mas eles só começaram a chegar em números consideráveis a partir de 1651.</p>
<p>Entre os grandes acionistas da Companhia das Índias Ocidentais havia inúmeros judeus e sua forte proeminência na cúpula diretora resultará, como veremos a seguir, em uma série de benefícios e termos favoráveis concedidos aos judeus dispostos a se estabelecer em Curaçau.</p>
<p>Naquele ano de 1651, dirigentes da Companhia escreveram a Peter Stuyvesant, governador da Nova Amsterdã<sup>3</sup> (futura Nova York). Na carta, revelaram que estavam pensando em abandonar Curaçau, pois a ilha não lhes dava o retorno financeiro esperado. Porém, antes de encerrar as atividades na ilha haviam decidido tentar algo novo. Haviam assinado um contrato com David Nassi, também conhecido como Joseph Nunes da Fonseca ou Cristóvão de Távora Nassi, que se comprometeu a levar para Curaçau um grande número de judeus. O grupo seria liderado pelo judeu Jan de Illan, ou João d’Ylan (também conhecido como Jeojada ou Jeudah de Illan).</p>
<p>Na carta, explicavam: “Ele (Nassi) pretende levar um número considerável de pessoas para colonizar e cultivar a terra, mas suspeitamos que ele e seus sócios tenham outro objetivo em mente: fomentar o comércio a partir de Curaçau para as Índias Ocidentais e o continente americano. De qualquer forma, desejamos fazer esta tentativa e ao senhor caberá encarregar o diretor Rodenborch de manter Nassi dentro dos limites e em conformidade com as condições estipuladas no contrato”.</p>
<p>A Carta de Privilégios concedida a Nassi estabelecia que ele deveria receber duas léguas de terras ao longo da costa de Curaçau para cada 50 famílias; e quatro para cada 100 famílias. Os benefícios incluíam, ainda, isenção de impostos por dez anos e o privilégio de escolher as terras onde desejavam estabelecer-se. A Carta ainda rezava que os judeus teriam liberdade e tolerância religiosa, embora fossem proibidos de obrigar cristãos a trabalhar aos domingos, “bem como praticantes de nenhum outro credo deveriam trabalhar nesse dia”. Essa é a mais antiga Carta de Privilégios que especificamente concedia liberdade e tolerância religiosa aos judeus no Novo Mundo.</p>
<p>Como estipulado, Jan de Illan levou cerca de 50 judeus – de 10 a 12 famílias – da comunidade portuguesa de Amsterdã para Curaçau. O governador da ilha, Matthias Beck, foi incumbido pela WIC de colocar à sua disposição terras, escravos, cavalos, rebanhos, ferramentas e suplementos agrícolas para que os recém-chegados pudessem plantar e desenvolver os recursos naturais da região. Apesar das condições favoráveis sob as quais chegaram à ilha, ainda assim os judeus tiveram que enfrentar inúmeras restrições.</p>
<p>Os judeus passaram inicialmente a trabalhar na agricultura e a viver na Plantação “De Hoop” (“A Esperança”). As terras que lhes foram consignadas estavam localizadas ao norte da cidade de Willemstad. Ainda hoje, o distrito é conhecido como <em>Jodenwyk</em> (Bairro Judeu).</p>
<p>Em 1651, logo após sua chegada, fundaram a congregação Mikvé Israel (Esperança de Israel). O nome da congregação aparece numa carta escrita em 1654 por um viajante judeu e dirigida a “Mahamad, do <em>Kahal Kadosh</em> Mikvé Israel”, de Curaçau.</p>
<p>Em abril do ano seguinte, os diretores da Companhia das Índias Ocidentais escreveram novamente para Stuyvesant alertando que Nassi “se preparava para levar para Curaçau um grande número de pessoas”. Mas, devido às hostilidades entre a Holanda e Inglaterra, nenhum judeu foi para Curaçau.</p>
<p>Um número substancial deles acabou se fixando na ilha dois anos mais tarde, em 1654, quando os portugueses reconquistaram dos holandeses os territórios no Brasil (mais especificamente na região do atual Recife) e os judeus que lá viviam, temerosos de serem sujeitos a perseguições religiosas e à ação da Inquisição, deixaram apressadamente a região. Alguns se estabeleceram nas Índias Ocidentais, outros na América do Norte, mas muitos foram para Curaçau levando consigo considerável riqueza.</p>
<p>Um novo contingente de judeus chegou à ilha em 1659, quando a WIC concedeu a Issac Acosta (Issac da Costa), de Amsterdã, mais uma Carta de Privilégios, autorizando-o a levar judeus para Curaçau. O grupo de 70 por ele organizados chegou à ilha, levando consigo um presente para a Congregação Mikvé Israel, enviado pela comunidade de Amsterdã: um <em>Sefer Torá</em> que ainda hoje é usado na Sinagoga Mikvé Israel-Emanuel.</p>
<p>Em 1659, Stuyvesant, então governador da Nova Amsterdã, queixou-se aos diretores da Companhia que os judeus de Curaçau tinham sido “autorizados a possuir escravos e tinham outros privilégios que não eram usufruídos pelos demais colonos de Nova Amsterdã”. Ele pedia para os habitantes de sua colônia “se não mais, pelo menos os mesmos privilégios que tinham os judeus usurários e ambiciosos”, como os definia.</p>
<p>Não tardou para que os judeus descobrissem que a agricultura não era uma atividade economicamente viável. Seus esforços pareciam inúteis perante o clima, a aridez do solo e os contínuos períodos de seca. A maior parte deles passaram então a atuar no comércio e principalmente no lucrativo contrabando com as ilhas vizinhas. Porém, pelos termos das Cartas de Privilégios concedidas pela WIC, não era permitido aos judeus atuar no comércio, principalmente porque isto ia contra os interesses da Companhia. No entanto, fracassaram as inúmeras tentativas feitas pela mesma para impedir essa situação.</p>
<p>Ademais, em plena transgressão das instruções enviadas pela WIC, as autoridades locais eram coniventes com o comércio, principalmente o que se desenvolvera em 1656, entre os judeus de Curaçau e Isaac de Fonseca, de Barbados, e que acabaria minando o monopólio comercial da Companhia das Índias Ocidentais na região. Entre outros, as autoridades de Curaçau decidiram não interferir quando Fonseca ameaçou redirecionar seu comércio à Jamaica, abandonando Curaçau. Em 1657, já era intenso o comércio entre Nova Amsterdã e Curaçau, controlado principalmente pelos judeus e que contribuiu grandemente para o desenvolvimento comercial das duas colônias.</p>
<p>No início do século 18, a Baía de Willemstad era um dos portos mais movimentados do Caribe. Os judeus de Curaçau estabeleceram redes comerciais entre o Norte da Europa e a América do Sul, importando bens industrializados da Holanda e distribuindo produtos da colônia para os países vizinhos. Suas conexões familiares e suas relações com comerciantes e financistas judeus, principalmente sefaraditas, em grandes centros do mundo, como Amsterdã, Hamburgo, Londres, Bordeaux, Lisboa, Madri e Nova York, entre outros, permitiam-lhes controlar a maior parte do comércio do Caribe. Deve-se ressaltar que era ínfimo o número de judeus envolvidos no comércio de escravos, que era essencialmente dominado pelos holandeses.</p>
<p><strong>Uma vida judaica</strong></p>
<p>Os primeiros colonos judeus viveram primeiro fora da cidade, no Bairro Judaico. Mas, à medida que grande parte da comunidade passou a se dedicar a atividades comerciais, seus integrantes se mudaram para a cidade murada de Willemstad.</p>
<p>Como vimos acima, em 1651, logo após os primeiros judeus se estabelecerem em Curaçau, foi fundada a Congregação Mikvé Israel (Esperança de Israel), sob a orientação da comunidade portuguesa de Amsterdã. Esse nome está intimamente ligado ao que haviam atribuído à sua primeira plantação, “De Hoop” (A Esperança). Naquele mesmo ano, uma sinagoga foi improvisada numa pequena casa, provavelmente localizada nos campos onde trabalhavam. </p>
<p>Com o aumento do número de judeus, em 1656, alugaram uma pequena construção de madeira para a realização de serviços religiosos. O primeiro edifício da sinagoga foi comprado em 1674, e com o crescimento da comunidade, uma nova sinagoga foi construída em 1692 e consagrada na véspera de <em>Pessach</em> do mesmo ano. O serviço religioso foi oficiado pelo <em>chazan</em> David Raphael Lopez de Fonseca.</p>
<p>A sinagoga era comumente conhecida pelo nome de “<em>Snoa</em>”, uma corruptela para “<em>esnoga</em>”, uma antiga palavra em ladino-português para sinagoga. Em 1739, o edifício foi ampliado e a construção atual data daquela época. Sua arquitetura e interior foram preservados praticamente inalterados desde sua construção, há 287 anos. Com seus três altos tetos abobadados, a Arca Sagrado e o púlpito, as galerias, os bancos e candelabros, o interior da sinagoga tem grande semelhança com a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, só que tem apenas ⅔ de seu tamanho.</p>
<p>Entra-se na sinagoga através de um pátio silencioso, e logo se avista o vitral colorido das janelas. Caminhando-se por um piso coberto de areia, chega-se até a Arca Sagrada entalhada em mogno. Ainda que alguns acreditem que a areia no piso simbolize os 40 anos que o Povo Judeu andou pelo Deserto do Sinai após ser expulso do Egito, a maioria concorda que os pisos de areia sirvam para recordar aos membros da Congregação como seus antepassados judeus na Península Ibérica cobriam o chão de suas casas de oração improvisadas para que fossem abafados os passos dos judeus que estivessem praticando sua fé em segredo para não despertar a suspeita de potenciais delatores.</p>
<p>Ainda em 1656 a comunidade de Curaçau teve a autorização de construir um <em>Bet-HaChaim</em> (cemitério) e a terra originalmente concedida às primeiras 12 famílias de imigrantes judeus foi alocada para esse fim. As sepulturas mais antigas datam de 1668 e fazem deste um dos primeiros cemitérios no Novo Mundo, com mais de 2.500 túmulos. Sua antiguidade e herança histórica fazem do cemitério um extraordinário monumento internacional. Infelizmente, muitos deles foram destruídos pela erosão provocada pela chuva ácida e fumaça sulfúrica das refinarias próximas.</p>
<p>O primeiro <em>Chacham</em> oficialmente indicado para a comunidade foi Josiahu Pardo, que chegou vindo de Amsterdã em 1674 e ali permaneceu até 1683, quando partiu para a Jamaica. Um sinal dos fortes vínculos entre as congregações de Amsterdã e Curaçau é o fato de que Pardo era o filho de David Pardo que, juntamente com Saul Levi Morteira, Menasseh ben-Israel, e Isaac Aboab, integravam a Corte Rabínica de Amsterdã.</p>
<p>Em 1715 foi fundada pela comunidade Curaçau uma organização de assistência social para atender os necessitados e os doentes. A comunidade tornara-se tão próspera que, cinco anos depois, enviaram auxílio à Congregação Shearith Israel, de Nova York e, entre outros, em 1756, atenderam outra solicitação, dessa vez dos judeus de Newport. Passaram também a enviar dinheiro para ajudar no estabelecimento de outras comunidades sefaraditas na América do Sul e do Norte. A comunidade floresceu a ponto de tornar-se conhecida como “a comunidade-mãe americana”.</p>
<p>No século 18 crescera o número de judeus que viviam na ilha; em meados do século a população judaica de Curaçau somava duas mil pessoas e, no final, constituíam mais da metade da população branca da ilha.</p>
<p>Em 1740 havia em Curaçau duas congregações judaicas. As levas mais recentes instalaram-se em uma área atualmente conhecida como <em>Otrabanda,</em> como o nome diz, do outro lado do porto. Para não cruzar as águas no Shabat e poder participar dos serviços religiosos, aqueles que residiam nesse distrito mais distante formaram uma nova comunidade, a Congregação Neveh Shalom, e, em 1745, consagraram sua própria sinagoga.</p>
<p>Por algum tempo essa nova congregação foi considerada apenas uma ramificação da comunidade mais antiga, funcionando sob sua direção. Mas, uma série de disputas internas levou, em 1749, à separação das duas. A fissura criada foi resolvida apenas pela intervenção do príncipe William Charles de Orange-Nassau que, em abril de 1750, ordenou o fim do embate entre as duas comunidades. A determinação real ordenava que “as comunidades terminassem as disputas, submetendo-se à direção dos <em>Parnassim</em> e à diretoria da sinagoga original (Mikvé Israel), e se sujeitassem ao regulamento da comunidade portuguesa de Amsterdã”. Este acordo foi mantido até 1870, quando a Neveh Shalom tornou-se independente. </p>
<p><strong>Séculos 18 e 19</strong></p>
<p>Como vimos acima, os judeus da ilha viveram um período de grande prosperidade, iniciado nas primeiras décadas do século 18, ocupando posições de destaque tanto na vida econômica quanto política e social da ilha. Nessa região subdesenvolvida, eles conseguiram sobressair com seus conhecimentos de comércio internacional, expedição e seguro marítimo, e transporte.</p>
<p>No final do século eram donos da maioria das propriedades do distrito de Willemstad. Os mercadores judeus possuíam suas próprias frotas e, entre 1670 e 1900, chegaram a ter mais de 1.200 navios, muitos dos quais tinham capacidade de navegar até Nova York, e outros chegavam até a Holanda. E havia cerca de 200 capitães judeus no comando dessas embarcações. O fluxo comercial era tanto que havia dias em que mais de 50 navios partiam para a Holanda, carregados de produtos, a maioria deles de propriedade de mercadores judeus.</p>
<p>Durante a primeira metade do século 19 surgiram inúmeras empresas de judeus que integravam serviços internacionais de comércio, indústria e serviços financeiros. Atualmente, empresas judaicas comerciais continuam à frente da economia da ilha, embora o número de empreendimentos pertencentes a membros da comunidade tenha diminuído ao longo dos anos.</p>
<p>Judeus de Curaçau lutaram ao lado de Simon Bolívar, que atuou nas primeiras décadas do século 19 de forma decisiva no processo de independência da América Espanhola. Duas personalidades judias de Curaçau destacaram-se no exército de Bolívar, um combatendo e o outro como fornecedor de suprimentos, além dos judeus de Curaçau que lhe deram refúgio com sua família nos momentos de necessidade.</p>
<p>O final da escravidão, em 1862, levou à deterioração da economia local, em geral. As dificuldades econômicas levaram muitos judeus a partir. Entre os destinos escolhidos estavam St. Thomas, República Dominicana, Cuba, Jamaica, América Central, Venezuela, Colômbia e os EUA. Os que ficaram, no entanto, conseguiram manter suas posições socioeconômicas na ilha. Em parte, por causa de seu nível educacional – muitos haviam estudado em universidades alemãs – puderam conseguir, cerca de 20 anos após a “emancipação judaica” (1825), alçar a posições governamentais.</p>
<p>No século 20, os judeus ainda faziam parte das figuras de destaque da ilha, respondendo por 44 das 52 empresas das principais áreas da economia de Curaçau.</p>
<p><strong>A chegada dos asquenazitas</strong></p>
<p>Durante quase três séculos, os judeus sefaraditas foram os únicos judeus em Curaçau. A situação mudou a partir das décadas de 1920 e 1930 quando começaram a chegar <em>ashquenazim</em> oriundos da Europa Oriental, a maioria vindos da antiga Bessarábia, na área fronteiriça entre a Romênia e a Rússia, e poucos da Polônia.</p>
<p>Nas últimas décadas do século 19 um grande número de judeus deixou a Rússia czarista e outros países da Europa Oriental. Entre 1880 e 1933 cerca de quatro milhões de judeus do Leste europeu fugiram para o Ocidente, principalmente para os Estados Unidos. Os judeus asquenazitas que chegaram a Curaçau faziam parte dessa onda migratória.</p>
<p>Para muitos deles o sonho de imigrar para os Estados Unidos esbarrou na política de restrição à imigração adotada pelos EUA, com imposição de cotas, em 1921, 1925 e 1927. Milhares de judeus do Leste europeu tiveram que buscar refúgio em diferentes países na América Latina.</p>
<p>Poucos dos que acabaram em Curaçau tinham ouvido falar da ilha; estavam a caminho de outros destinos no continente latino-americano e os navios em que viajavam paravam em Curaçau para abastecer. Muitos dos que decidiram ficar tomaram a decisão após saber que havia problemas políticos no país de seu destino final e que, na ilha, havia muitas oportunidades econômicas. Passado algum tempo, os que lá tinham decidido ficar mandavam buscar a família na Europa.</p>
<p>Um recém-chegado era ajudado pelo grupo, sendo contratado como empregado ou recebendo ajuda na forma de crédito. Ser um “<em>Landsman</em>” (palavra em iídiche para compatriota, oriundo do mesmo lugar), era de grande importância e impunha confiança.</p>
<p>Os asquenazistas chegaram com poucos recursos, alguns eram artesãos, mas a maioria tinha alguma experiência em comércio varejista. Muitos dos que começaram a vida como vendedores ambulantes prosperaram de forma impressionante.</p>
<p>Inicialmente sobreviveram comprando mercadorias dos sefaraditas e vendendo-as através das áreas rurais da ilha. Levavam as mercadorias nas costas ou pagavam a algum garoto para carregar parte dos pacotes, viajando a pé dias e dias. Chamavam-se de <em>knockers</em> (em holandês, <em>kloppers</em>), em alusão à palavra em iídiche para quem bate à porta. Aos poucos, deixaram de ser ambulantes para começar a vender em pequenas lojas, em ruas secundárias, e, posteriormente, em grandes estabelecimentos nas ruas principais. Com o passar do tempo passaram a importar diretamente e, beneficiados pelos impostos baixos e a pouca concorrência, prosperaram, mesmo durante a depressão de 1930.</p>
<p>Os asquenazitas formaram um grupo fechado. Em 1932 organizaram um centro judaico chamado Club Union e, em 1959, já tinham sua própria sinagoga – a Shaarei Tsedek. No final do século 20 por volta de 400 judeus <em>ashquenazim</em> viviam na ilha.</p>
<p><strong>2ª Guerra Mundial e pós-guerra</strong></p>
<p>No dia 10 de maio de 1940, informados sobre a invasão alemã na Holanda, as autoridades em Curaçau agiram de forma rápida. Todos os navios alemães foram confiscados e suas tripulações, cerca de 500 homens, aprisionados e enviados para campos em Bonaire, até o final da guerra. Outros considerados inimigos do Estado, de acordo com a sua nacionalidade, também foram deportados para Bonaire, inclusive, por mais absurdo que possa parecer, vários judeus alemães e austríacos.</p>
<p>Depois da 2a Guerra foi erguido um monumento em homenagem aos antilhanos que deram a vida, na luta contra os nazistas. Numa placa estão gravados 162 nomes, entre os quais, o de George Maduro, judeu, oficial da reserva do exército holandês, que lutou heroicamente.</p>
<p>Após a capitulação da Holanda perante as forças alemãs, Maduro uniu-se à Resistência para ajudar pilotos aliados a escapar pela Espanha. Foi finalmente preso pelos alemães e morreu em fevereiro de 1945, em Dachau. Um parque com miniaturas dos principais marcos da Holanda, denominado Madurodam, foi construído em Haia em sua memória.</p>
<p><strong>Boom econômico</strong></p>
<p>A nova refinaria de petróleo construída pela Shell em Curaçau, em 1915, foi responsável pelo boom econômico local. Em 1954, a ilha se tornou sede do governo da recém autônoma Antilhas Holandesas. Foi nessa época que a atividade financeira <em>off-shore</em> passou a ser a força motriz da economia local. No entanto, a crise do petróleo dos anos 1970 acabou com a prosperidade, e a redução dos investimentos internacionais, na década seguinte, levou ao declínio econômico. A Shell fechou a refinaria em 1985.</p>
<p>Nas primeiras décadas do século 20, os judeus sefaraditas mantiveram sua posição de liderança no setor bancário e comercial. Muitos eram ativos também na vida política, intelectual e social da ilha. Mas, ao longo dos anos, a população judaica de Curaçau encolheu de forma considerável em função da emigração e como resultado do número crescente de casamentos mistos. Como resultado desse declínio, tornou-se cada vez mais difícil para ambas as sinagogas ter um <em>minian</em> em todos os serviços religiosos. Chegou-se a um acordo e a Sinagoga Mikvé Israel concordou em substituir seu rito sefaradita por um que mesclasse elementos asquenazitas e liberais. A fusão se concretizou, <em>de</em> <em>facto</em>, em 1963 e, <em>de</em> <em>jure</em>, em 1965. </p>
<p>O êxodo dos judeus se intensificou na década de 1970. Alarmados após terem sido alvo dos distúrbios de 30 de maio de 1969, chamados de <em>Trinta di Mei</em>, em papamento, muitos judeus deixaram a ilha. A recessão econômica do início dos anos 1980, resultante da desvalorização do bolívar venezuelano, aumentou o êxodo levando-os a fechar ou vender seus negócios, emigrando principalmente para os EUA.</p>
<p>Atualmente vivem na ilha 450 judeus. Continuam a desempenhar um papel vital na vida econômica, comercial, cultural e social da ilha. De seu total, 75% são membros da Mikvé Israel e os demais, da Shaarei Tsedek. Serviços regulares de Shabat e das festas do calendário judaico são realizados nas duas sinagogas e ambas possuem programas educacionais para crianças e adultos.</p>
<p>1 Desde 2010, o Reino é composto por quatro nações: Países Baixos (Holanda), na Europa; Aruba, Curaçau e Saint Martin, no Caribe. <br/> 2 A WIC, também chamada de Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, era uma organização privada de comércio externo, subsidiada pelo governo, que se tornou instrumento da colonização holandesa nas Américas, tendo sido inclusive responsável pela ocupação de áreas no Nordeste brasileiro, no século 17.<br/> 3 Nova Amsterdã havia sido fundada em 1625 pela WIC, na ilha de Manhattan. Permaneceu sob controle neerlandês até 1664, quando foi capturada pelos britânicos que renomeariam o assentamento como New York.</p>
<p>Bibliografia <br/> Arbell, Mordehay, <em>The Jewish Nation of the Caribbean: The Spanish-Portuguese Jewish Settlements in the Caribbean and the Guianas</em><br/> Scheib, Ariel, <em>Curacao Virtual Jewish, <br/> <a href="http://www.jewishvirtuallibrary.org/curacao">http://www.jewishvirtuallibrary.org/curacao</a></em></p> Os judeus de Curaçau - Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2017-03-23:3531236:Topic:1129022017-03-23T19:21:42.236ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<h3>Os judeus de Curaçau</h3>
<p>Na ilha de Curaçau, Mar do Caribe, judeus sefaraditas fundaram, em 1651, a congregação Mikvé Israel-Emanuel, que funciona até hoje e é a mais antiga das Américas.</p>
<p class="num-edicao"></p>
<hr></hr><p>Curaçau, anteriormente parte das hoje extintas Antilhas Holandesas, é um país autônomo, um dos quatro que constituem o Reino dos Países Baixos<sup>1</sup>. A ilha foi descoberta por uma expedição espanhola em 1499 e ficou sob domínio desse país durante todo o…</p>
<h3>Os judeus de Curaçau</h3>
<p>Na ilha de Curaçau, Mar do Caribe, judeus sefaraditas fundaram, em 1651, a congregação Mikvé Israel-Emanuel, que funciona até hoje e é a mais antiga das Américas.</p>
<p class="num-edicao"></p>
<hr/><p>Curaçau, anteriormente parte das hoje extintas Antilhas Holandesas, é um país autônomo, um dos quatro que constituem o Reino dos Países Baixos<sup>1</sup>. A ilha foi descoberta por uma expedição espanhola em 1499 e ficou sob domínio desse país durante todo o século 16, até ser conquistada pelos holandeses, em 1634. Estes últimos decidiram tomar Curaçau após os espanhóis terem conquistado a ilha de Sint Maarten (Saint Martin), em 1633, até então dominada pelos holandeses, mais especificamente pela Companhia das Índias Ocidentais<sup>2</sup> (em holandês: West-Indische Compagnie, ou WIC). Com a perda da ilha, a WIC perdeu uma importante base comercial nas Antilhas, o que foi desastroso para suas atividades.</p>
<p>Em abril de 1634, a WIC designou ao almirante e cartógrafo Johannes Van Walbeeck a tarefa de tomar as ilhas de Curaçau e Bonaire, também nas Antilhas, então sob domínio espanhol. As ilhas haviam sido escolhidas em virtude de sua estratégica localização <em>vis-à-vis</em> o continente americano, principalmente o porto natural de St. Anna Bay, em Curaçau. Por causa de sua privilegiada localização geográfica essa ilha teve no comércio e no transporte marítimo suas mais importantes atividades econômicas.</p>
<p>Em maio daquele ano de 1634, Van Walbeeck deixou a Holanda com quatro navios, levando 180 marinheiros e 250 soldados, liderados por Pierre Le Grand, mercenário francês que havia servido aos holandeses no Brasil. Os espanhóis haviam praticamente abandonado Curaçau; não demostravam real interesse na ilha pois nela havia pouco ouro e era impossível o estabelecimento de grandes fazendas devido à escassez de água. Foi, portanto, relativamente fácil para a frota holandesa a conquista da ilha. Em 21 de agosto, os espanhóis se renderam e Van Walbeeck tornou-se o primeiro governador/administrador das Antilhas Holandesas. Durante seus três anos nessa função construiu uma fortificação no porto natural de St. Anna Bay e lançou as bases da cidade de Willemstad, ao lado do forte.</p>
<p>O primeiro judeu a desembarcar na ilha foi Samuel Cohen, que atuava como tradutor de bordo da frota holandesa. Membro da congregação judaica de Amsterdã, Cohen lá permaneceu por cerca de oito anos. Há indicações de que, durante sua estada, ele tenha convencido alguns judeus de Amsterdã a se estabelecer em Curaçau. Mas eles só começaram a chegar em números consideráveis a partir de 1651.</p>
<p>Entre os grandes acionistas da Companhia das Índias Ocidentais havia inúmeros judeus e sua forte proeminência na cúpula diretora resultará, como veremos a seguir, em uma série de benefícios e termos favoráveis concedidos aos judeus dispostos a se estabelecer em Curaçau.</p>
<p>Naquele ano de 1651, dirigentes da Companhia escreveram a Peter Stuyvesant, governador da Nova Amsterdã<sup>3</sup> (futura Nova York). Na carta, revelaram que estavam pensando em abandonar Curaçau, pois a ilha não lhes dava o retorno financeiro esperado. Porém, antes de encerrar as atividades na ilha haviam decidido tentar algo novo. Haviam assinado um contrato com David Nassi, também conhecido como Joseph Nunes da Fonseca ou Cristóvão de Távora Nassi, que se comprometeu a levar para Curaçau um grande número de judeus. O grupo seria liderado pelo judeu Jan de Illan, ou João d’Ylan (também conhecido como Jeojada ou Jeudah de Illan).</p>
<p>Na carta, explicavam: “Ele (Nassi) pretende levar um número considerável de pessoas para colonizar e cultivar a terra, mas suspeitamos que ele e seus sócios tenham outro objetivo em mente: fomentar o comércio a partir de Curaçau para as Índias Ocidentais e o continente americano. De qualquer forma, desejamos fazer esta tentativa e ao senhor caberá encarregar o diretor Rodenborch de manter Nassi dentro dos limites e em conformidade com as condições estipuladas no contrato”.</p>
<p>A Carta de Privilégios concedida a Nassi estabelecia que ele deveria receber duas léguas de terras ao longo da costa de Curaçau para cada 50 famílias; e quatro para cada 100 famílias. Os benefícios incluíam, ainda, isenção de impostos por dez anos e o privilégio de escolher as terras onde desejavam estabelecer-se. A Carta ainda rezava que os judeus teriam liberdade e tolerância religiosa, embora fossem proibidos de obrigar cristãos a trabalhar aos domingos, “bem como praticantes de nenhum outro credo deveriam trabalhar nesse dia”. Essa é a mais antiga Carta de Privilégios que especificamente concedia liberdade e tolerância religiosa aos judeus no Novo Mundo.</p>
<p>Como estipulado, Jan de Illan levou cerca de 50 judeus – de 10 a 12 famílias – da comunidade portuguesa de Amsterdã para Curaçau. O governador da ilha, Matthias Beck, foi incumbido pela WIC de colocar à sua disposição terras, escravos, cavalos, rebanhos, ferramentas e suplementos agrícolas para que os recém-chegados pudessem plantar e desenvolver os recursos naturais da região. Apesar das condições favoráveis sob as quais chegaram à ilha, ainda assim os judeus tiveram que enfrentar inúmeras restrições.</p>
<p>Os judeus passaram inicialmente a trabalhar na agricultura e a viver na Plantação “De Hoop” (“A Esperança”). As terras que lhes foram consignadas estavam localizadas ao norte da cidade de Willemstad. Ainda hoje, o distrito é conhecido como <em>Jodenwyk</em> (Bairro Judeu).</p>
<p>Em 1651, logo após sua chegada, fundaram a congregação Mikvé Israel (Esperança de Israel). O nome da congregação aparece numa carta escrita em 1654 por um viajante judeu e dirigida a “Mahamad, do <em>Kahal Kadosh</em> Mikvé Israel”, de Curaçau.</p>
<p>Em abril do ano seguinte, os diretores da Companhia das Índias Ocidentais escreveram novamente para Stuyvesant alertando que Nassi “se preparava para levar para Curaçau um grande número de pessoas”. Mas, devido às hostilidades entre a Holanda e Inglaterra, nenhum judeu foi para Curaçau.</p>
<p>Um número substancial deles acabou se fixando na ilha dois anos mais tarde, em 1654, quando os portugueses reconquistaram dos holandeses os territórios no Brasil (mais especificamente na região do atual Recife) e os judeus que lá viviam, temerosos de serem sujeitos a perseguições religiosas e à ação da Inquisição, deixaram apressadamente a região. Alguns se estabeleceram nas Índias Ocidentais, outros na América do Norte, mas muitos foram para Curaçau levando consigo considerável riqueza.</p>
<p>Um novo contingente de judeus chegou à ilha em 1659, quando a WIC concedeu a Issac Acosta (Issac da Costa), de Amsterdã, mais uma Carta de Privilégios, autorizando-o a levar judeus para Curaçau. O grupo de 70 por ele organizados chegou à ilha, levando consigo um presente para a Congregação Mikvé Israel, enviado pela comunidade de Amsterdã: um <em>Sefer Torá</em> que ainda hoje é usado na Sinagoga Mikvé Israel-Emanuel.</p>
<p>Em 1659, Stuyvesant, então governador da Nova Amsterdã, queixou-se aos diretores da Companhia que os judeus de Curaçau tinham sido “autorizados a possuir escravos e tinham outros privilégios que não eram usufruídos pelos demais colonos de Nova Amsterdã”. Ele pedia para os habitantes de sua colônia “se não mais, pelo menos os mesmos privilégios que tinham os judeus usurários e ambiciosos”, como os definia.</p>
<p>Não tardou para que os judeus descobrissem que a agricultura não era uma atividade economicamente viável. Seus esforços pareciam inúteis perante o clima, a aridez do solo e os contínuos períodos de seca. A maior parte deles passaram então a atuar no comércio e principalmente no lucrativo contrabando com as ilhas vizinhas. Porém, pelos termos das Cartas de Privilégios concedidas pela WIC, não era permitido aos judeus atuar no comércio, principalmente porque isto ia contra os interesses da Companhia. No entanto, fracassaram as inúmeras tentativas feitas pela mesma para impedir essa situação.</p>
<p>Ademais, em plena transgressão das instruções enviadas pela WIC, as autoridades locais eram coniventes com o comércio, principalmente o que se desenvolvera em 1656, entre os judeus de Curaçau e Isaac de Fonseca, de Barbados, e que acabaria minando o monopólio comercial da Companhia das Índias Ocidentais na região. Entre outros, as autoridades de Curaçau decidiram não interferir quando Fonseca ameaçou redirecionar seu comércio à Jamaica, abandonando Curaçau. Em 1657, já era intenso o comércio entre Nova Amsterdã e Curaçau, controlado principalmente pelos judeus e que contribuiu grandemente para o desenvolvimento comercial das duas colônias.</p>
<p>No início do século 18, a Baía de Willemstad era um dos portos mais movimentados do Caribe. Os judeus de Curaçau estabeleceram redes comerciais entre o Norte da Europa e a América do Sul, importando bens industrializados da Holanda e distribuindo produtos da colônia para os países vizinhos. Suas conexões familiares e suas relações com comerciantes e financistas judeus, principalmente sefaraditas, em grandes centros do mundo, como Amsterdã, Hamburgo, Londres, Bordeaux, Lisboa, Madri e Nova York, entre outros, permitiam-lhes controlar a maior parte do comércio do Caribe. Deve-se ressaltar que era ínfimo o número de judeus envolvidos no comércio de escravos, que era essencialmente dominado pelos holandeses.</p>
<p><strong>Uma vida judaica</strong></p>
<p>Os primeiros colonos judeus viveram primeiro fora da cidade, no Bairro Judaico. Mas, à medida que grande parte da comunidade passou a se dedicar a atividades comerciais, seus integrantes se mudaram para a cidade murada de Willemstad.</p>
<p>Como vimos acima, em 1651, logo após os primeiros judeus se estabelecerem em Curaçau, foi fundada a Congregação Mikvé Israel (Esperança de Israel), sob a orientação da comunidade portuguesa de Amsterdã. Esse nome está intimamente ligado ao que haviam atribuído à sua primeira plantação, “De Hoop” (A Esperança). Naquele mesmo ano, uma sinagoga foi improvisada numa pequena casa, provavelmente localizada nos campos onde trabalhavam. </p>
<p>Com o aumento do número de judeus, em 1656, alugaram uma pequena construção de madeira para a realização de serviços religiosos. O primeiro edifício da sinagoga foi comprado em 1674, e com o crescimento da comunidade, uma nova sinagoga foi construída em 1692 e consagrada na véspera de <em>Pessach</em> do mesmo ano. O serviço religioso foi oficiado pelo <em>chazan</em> David Raphael Lopez de Fonseca.</p>
<p>A sinagoga era comumente conhecida pelo nome de “<em>Snoa</em>”, uma corruptela para “<em>esnoga</em>”, uma antiga palavra em ladino-português para sinagoga. Em 1739, o edifício foi ampliado e a construção atual data daquela época. Sua arquitetura e interior foram preservados praticamente inalterados desde sua construção, há 287 anos. Com seus três altos tetos abobadados, a Arca Sagrado e o púlpito, as galerias, os bancos e candelabros, o interior da sinagoga tem grande semelhança com a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, só que tem apenas ⅔ de seu tamanho.</p>
<p>Entra-se na sinagoga através de um pátio silencioso, e logo se avista o vitral colorido das janelas. Caminhando-se por um piso coberto de areia, chega-se até a Arca Sagrada entalhada em mogno. Ainda que alguns acreditem que a areia no piso simbolize os 40 anos que o Povo Judeu andou pelo Deserto do Sinai após ser expulso do Egito, a maioria concorda que os pisos de areia sirvam para recordar aos membros da Congregação como seus antepassados judeus na Península Ibérica cobriam o chão de suas casas de oração improvisadas para que fossem abafados os passos dos judeus que estivessem praticando sua fé em segredo para não despertar a suspeita de potenciais delatores.</p>
<p>Ainda em 1656 a comunidade de Curaçau teve a autorização de construir um <em>Bet-HaChaim</em> (cemitério) e a terra originalmente concedida às primeiras 12 famílias de imigrantes judeus foi alocada para esse fim. As sepulturas mais antigas datam de 1668 e fazem deste um dos primeiros cemitérios no Novo Mundo, com mais de 2.500 túmulos. Sua antiguidade e herança histórica fazem do cemitério um extraordinário monumento internacional. Infelizmente, muitos deles foram destruídos pela erosão provocada pela chuva ácida e fumaça sulfúrica das refinarias próximas.</p>
<p>O primeiro <em>Chacham</em> oficialmente indicado para a comunidade foi Josiahu Pardo, que chegou vindo de Amsterdã em 1674 e ali permaneceu até 1683, quando partiu para a Jamaica. Um sinal dos fortes vínculos entre as congregações de Amsterdã e Curaçau é o fato de que Pardo era o filho de David Pardo que, juntamente com Saul Levi Morteira, Menasseh ben-Israel, e Isaac Aboab, integravam a Corte Rabínica de Amsterdã.</p>
<p>Em 1715 foi fundada pela comunidade Curaçau uma organização de assistência social para atender os necessitados e os doentes. A comunidade tornara-se tão próspera que, cinco anos depois, enviaram auxílio à Congregação Shearith Israel, de Nova York e, entre outros, em 1756, atenderam outra solicitação, dessa vez dos judeus de Newport. Passaram também a enviar dinheiro para ajudar no estabelecimento de outras comunidades sefaraditas na América do Sul e do Norte. A comunidade floresceu a ponto de tornar-se conhecida como “a comunidade-mãe americana”.</p>
<p>No século 18 crescera o número de judeus que viviam na ilha; em meados do século a população judaica de Curaçau somava duas mil pessoas e, no final, constituíam mais da metade da população branca da ilha.</p>
<p>Em 1740 havia em Curaçau duas congregações judaicas. As levas mais recentes instalaram-se em uma área atualmente conhecida como <em>Otrabanda,</em> como o nome diz, do outro lado do porto. Para não cruzar as águas no Shabat e poder participar dos serviços religiosos, aqueles que residiam nesse distrito mais distante formaram uma nova comunidade, a Congregação Neveh Shalom, e, em 1745, consagraram sua própria sinagoga.</p>
<p>Por algum tempo essa nova congregação foi considerada apenas uma ramificação da comunidade mais antiga, funcionando sob sua direção. Mas, uma série de disputas internas levou, em 1749, à separação das duas. A fissura criada foi resolvida apenas pela intervenção do príncipe William Charles de Orange-Nassau que, em abril de 1750, ordenou o fim do embate entre as duas comunidades. A determinação real ordenava que “as comunidades terminassem as disputas, submetendo-se à direção dos <em>Parnassim</em> e à diretoria da sinagoga original (Mikvé Israel), e se sujeitassem ao regulamento da comunidade portuguesa de Amsterdã”. Este acordo foi mantido até 1870, quando a Neveh Shalom tornou-se independente. </p>
<p><strong>Séculos 18 e 19</strong></p>
<p>Como vimos acima, os judeus da ilha viveram um período de grande prosperidade, iniciado nas primeiras décadas do século 18, ocupando posições de destaque tanto na vida econômica quanto política e social da ilha. Nessa região subdesenvolvida, eles conseguiram sobressair com seus conhecimentos de comércio internacional, expedição e seguro marítimo, e transporte.</p>
<p>No final do século eram donos da maioria das propriedades do distrito de Willemstad. Os mercadores judeus possuíam suas próprias frotas e, entre 1670 e 1900, chegaram a ter mais de 1.200 navios, muitos dos quais tinham capacidade de navegar até Nova York, e outros chegavam até a Holanda. E havia cerca de 200 capitães judeus no comando dessas embarcações. O fluxo comercial era tanto que havia dias em que mais de 50 navios partiam para a Holanda, carregados de produtos, a maioria deles de propriedade de mercadores judeus.</p>
<p>Durante a primeira metade do século 19 surgiram inúmeras empresas de judeus que integravam serviços internacionais de comércio, indústria e serviços financeiros. Atualmente, empresas judaicas comerciais continuam à frente da economia da ilha, embora o número de empreendimentos pertencentes a membros da comunidade tenha diminuído ao longo dos anos.</p>
<p>Judeus de Curaçau lutaram ao lado de Simon Bolívar, que atuou nas primeiras décadas do século 19 de forma decisiva no processo de independência da América Espanhola. Duas personalidades judias de Curaçau destacaram-se no exército de Bolívar, um combatendo e o outro como fornecedor de suprimentos, além dos judeus de Curaçau que lhe deram refúgio com sua família nos momentos de necessidade.</p>
<p>O final da escravidão, em 1862, levou à deterioração da economia local, em geral. As dificuldades econômicas levaram muitos judeus a partir. Entre os destinos escolhidos estavam St. Thomas, República Dominicana, Cuba, Jamaica, América Central, Venezuela, Colômbia e os EUA. Os que ficaram, no entanto, conseguiram manter suas posições socioeconômicas na ilha. Em parte, por causa de seu nível educacional – muitos haviam estudado em universidades alemãs – puderam conseguir, cerca de 20 anos após a “emancipação judaica” (1825), alçar a posições governamentais.</p>
<p>No século 20, os judeus ainda faziam parte das figuras de destaque da ilha, respondendo por 44 das 52 empresas das principais áreas da economia de Curaçau.</p>
<p><strong>A chegada dos asquenazitas</strong></p>
<p>Durante quase três séculos, os judeus sefaraditas foram os únicos judeus em Curaçau. A situação mudou a partir das décadas de 1920 e 1930 quando começaram a chegar <em>ashquenazim</em> oriundos da Europa Oriental, a maioria vindos da antiga Bessarábia, na área fronteiriça entre a Romênia e a Rússia, e poucos da Polônia.</p>
<p>Nas últimas décadas do século 19 um grande número de judeus deixou a Rússia czarista e outros países da Europa Oriental. Entre 1880 e 1933 cerca de quatro milhões de judeus do Leste europeu fugiram para o Ocidente, principalmente para os Estados Unidos. Os judeus asquenazitas que chegaram a Curaçau faziam parte dessa onda migratória.</p>
<p>Para muitos deles o sonho de imigrar para os Estados Unidos esbarrou na política de restrição à imigração adotada pelos EUA, com imposição de cotas, em 1921, 1925 e 1927. Milhares de judeus do Leste europeu tiveram que buscar refúgio em diferentes países na América Latina.</p>
<p>Poucos dos que acabaram em Curaçau tinham ouvido falar da ilha; estavam a caminho de outros destinos no continente latino-americano e os navios em que viajavam paravam em Curaçau para abastecer. Muitos dos que decidiram ficar tomaram a decisão após saber que havia problemas políticos no país de seu destino final e que, na ilha, havia muitas oportunidades econômicas. Passado algum tempo, os que lá tinham decidido ficar mandavam buscar a família na Europa.</p>
<p>Um recém-chegado era ajudado pelo grupo, sendo contratado como empregado ou recebendo ajuda na forma de crédito. Ser um “<em>Landsman</em>” (palavra em iídiche para compatriota, oriundo do mesmo lugar), era de grande importância e impunha confiança.</p>
<p>Os asquenazistas chegaram com poucos recursos, alguns eram artesãos, mas a maioria tinha alguma experiência em comércio varejista. Muitos dos que começaram a vida como vendedores ambulantes prosperaram de forma impressionante.</p>
<p>Inicialmente sobreviveram comprando mercadorias dos sefaraditas e vendendo-as através das áreas rurais da ilha. Levavam as mercadorias nas costas ou pagavam a algum garoto para carregar parte dos pacotes, viajando a pé dias e dias. Chamavam-se de <em>knockers</em> (em holandês, <em>kloppers</em>), em alusão à palavra em iídiche para quem bate à porta. Aos poucos, deixaram de ser ambulantes para começar a vender em pequenas lojas, em ruas secundárias, e, posteriormente, em grandes estabelecimentos nas ruas principais. Com o passar do tempo passaram a importar diretamente e, beneficiados pelos impostos baixos e a pouca concorrência, prosperaram, mesmo durante a depressão de 1930.</p>
<p>Os asquenazitas formaram um grupo fechado. Em 1932 organizaram um centro judaico chamado Club Union e, em 1959, já tinham sua própria sinagoga – a Shaarei Tsedek. No final do século 20 por volta de 400 judeus <em>ashquenazim</em> viviam na ilha.</p>
<p><strong>2ª Guerra Mundial e pós-guerra</strong></p>
<p>No dia 10 de maio de 1940, informados sobre a invasão alemã na Holanda, as autoridades em Curaçau agiram de forma rápida. Todos os navios alemães foram confiscados e suas tripulações, cerca de 500 homens, aprisionados e enviados para campos em Bonaire, até o final da guerra. Outros considerados inimigos do Estado, de acordo com a sua nacionalidade, também foram deportados para Bonaire, inclusive, por mais absurdo que possa parecer, vários judeus alemães e austríacos.</p>
<p>Depois da 2a Guerra foi erguido um monumento em homenagem aos antilhanos que deram a vida, na luta contra os nazistas. Numa placa estão gravados 162 nomes, entre os quais, o de George Maduro, judeu, oficial da reserva do exército holandês, que lutou heroicamente.</p>
<p>Após a capitulação da Holanda perante as forças alemãs, Maduro uniu-se à Resistência para ajudar pilotos aliados a escapar pela Espanha. Foi finalmente preso pelos alemães e morreu em fevereiro de 1945, em Dachau. Um parque com miniaturas dos principais marcos da Holanda, denominado Madurodam, foi construído em Haia em sua memória.</p>
<p><strong>Boom econômico</strong></p>
<p>A nova refinaria de petróleo construída pela Shell em Curaçau, em 1915, foi responsável pelo boom econômico local. Em 1954, a ilha se tornou sede do governo da recém autônoma Antilhas Holandesas. Foi nessa época que a atividade financeira <em>off-shore</em> passou a ser a força motriz da economia local. No entanto, a crise do petróleo dos anos 1970 acabou com a prosperidade, e a redução dos investimentos internacionais, na década seguinte, levou ao declínio econômico. A Shell fechou a refinaria em 1985.</p>
<p>Nas primeiras décadas do século 20, os judeus sefaraditas mantiveram sua posição de liderança no setor bancário e comercial. Muitos eram ativos também na vida política, intelectual e social da ilha. Mas, ao longo dos anos, a população judaica de Curaçau encolheu de forma considerável em função da emigração e como resultado do número crescente de casamentos mistos. Como resultado desse declínio, tornou-se cada vez mais difícil para ambas as sinagogas ter um <em>minian</em> em todos os serviços religiosos. Chegou-se a um acordo e a Sinagoga Mikvé Israel concordou em substituir seu rito sefaradita por um que mesclasse elementos asquenazitas e liberais. A fusão se concretizou, <em>de</em> <em>facto</em>, em 1963 e, <em>de</em> <em>jure</em>, em 1965. </p>
<p>O êxodo dos judeus se intensificou na década de 1970. Alarmados após terem sido alvo dos distúrbios de 30 de maio de 1969, chamados de <em>Trinta di Mei</em>, em papamento, muitos judeus deixaram a ilha. A recessão econômica do início dos anos 1980, resultante da desvalorização do bolívar venezuelano, aumentou o êxodo levando-os a fechar ou vender seus negócios, emigrando principalmente para os EUA.</p>
<p>Atualmente vivem na ilha 450 judeus. Continuam a desempenhar um papel vital na vida econômica, comercial, cultural e social da ilha. De seu total, 75% são membros da Mikvé Israel e os demais, da Shaarei Tsedek. Serviços regulares de Shabat e das festas do calendário judaico são realizados nas duas sinagogas e ambas possuem programas educacionais para crianças e adultos.</p>
<p>1 Desde 2010, o Reino é composto por quatro nações: Países Baixos (Holanda), na Europa; Aruba, Curaçau e Saint Martin, no Caribe. <br/> 2 A WIC, também chamada de Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, era uma organização privada de comércio externo, subsidiada pelo governo, que se tornou instrumento da colonização holandesa nas Américas, tendo sido inclusive responsável pela ocupação de áreas no Nordeste brasileiro, no século 17.<br/> 3 Nova Amsterdã havia sido fundada em 1625 pela WIC, na ilha de Manhattan. Permaneceu sob controle neerlandês até 1664, quando foi capturada pelos britânicos que renomeariam o assentamento como New York.</p>
<p>Bibliografia <br/> Arbell, Mordehay, <em>The Jewish Nation of the Caribbean: The Spanish-Portuguese Jewish Settlements in the Caribbean and the Guianas</em><br/> Scheib, Ariel, <em>Curacao Virtual Jewish, <br/> <a href="http://www.jewishvirtuallibrary.org/curacao">http://www.jewishvirtuallibrary.org/curacao</a></em></p> Turquia: há um futuro para os judeus? - Revista Morashatag:judaismohumanista.ning.com,2017-01-11:3531236:Topic:1121202017-01-11T21:11:48.271ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>A comunidade judaica da Turquia é uma das poucas ainda presentes em um país de maioria muçulmana. Desde a criação da República, na década de 1920, até hoje, o país tem passado por inúmeras mudanças que afetaram a vida dos judeus. A hostilidade e discriminação já existentes nas primeiras décadas da nação turca atingiram novos patamares com a subida ao poder do Partido Islâmico que governa atualmente a Turquia.<br></br> Edição 94 - Dezembro de 2016</p>
<p>Apesar de a comunidade judaica mostrar…</p>
<p>A comunidade judaica da Turquia é uma das poucas ainda presentes em um país de maioria muçulmana. Desde a criação da República, na década de 1920, até hoje, o país tem passado por inúmeras mudanças que afetaram a vida dos judeus. A hostilidade e discriminação já existentes nas primeiras décadas da nação turca atingiram novos patamares com a subida ao poder do Partido Islâmico que governa atualmente a Turquia.<br/> Edição 94 - Dezembro de 2016</p>
<p>Apesar de a comunidade judaica mostrar certo dinamismo, os cientistas políticos têm dúvidas quanto à sua continuidade na Turquia a longo prazo. Desde a fundação da República turca, o número de judeus que vivem no país tem minguado, e o êxodo continua. Não há dados exatos sobre quantos lá vivem, atualmente, pois, desde 1965, o censo excluiu a pergunta sobre a religião do cidadão e, dependendo da fonte, os números diferem, mas estima-se que, em 2005, havia quase 20 mil judeus no país e, atualmente, o número tenha caído para 17 mil.<br/> É bem verdade que os judeus que vivem na Turquia enfrentaram menos problemas do que outras comunidades em países islâmicos, mas apesar da liberdade religiosa, da concessão dos direitos civis e da participação na vida econômica, não se pode falar em aceitação dos judeus enquanto tal na sociedade turca; pelo contrário. Desde seu estabelecimento no país, eles são alvo de discriminação, assimilação forçada e pogroms.<br/>
A partir do final da década de 1940, o sentimento anti-israelense e o antissemitismo permeiam a sociedade turca, e os judeus têm sido alvo da crescente retórica hostil dos setores islâmicos e ultranacionalistas. E o quadro que se vê atualmente sob o atual presidente, Recep Tayyip Erdogan, islamista convicto, não difere do que já existia, apesar do reatamento das relações diplomáticas com Israel, em junho de 2016.<br/>
A criação da República Turca <br/>
Sempre houve judeus vivendo, interruptamente, na região onde fica a República da Turquia desde o século 4º a.E.C., principalmente na Península da Anatólia. No entanto, a grande imigração judaica ocorreu no final do século 15 e 16 com a chegada de judeus e conversos ibéricos à região, na época parte do Império Otomano. Em fins do século 19, a população judaica que vivia na atual Turquia era numerosa e próspera. Em um relatório, a Alliance Israélite Universelle afirma que “são poucos os países, mesmo os mais esclarecidos e civilizados, onde os judeus desfrutem a igualdade que têm na Turquia”.<br/>
A Turquia como país com a configuração atual surgiu após o término da 1a Guerra Mundial. O debilitado Império Otomano aliara-se à Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália), que acabou sendo derrotada pela França e Grã-Bretanha. No final da Guerra, o Império foi desmembrado, ficando o território turco dividido entre os vencedores.<br/>
Em de maio de 1919, a ocupação de Istambul por tropas britânicas, francesas e italianas, e de Esmirna pelos gregos foi o estopim para o início da Guerra de Independência Turca. Durante o conflito, oficiais liderados pelo general Mustafa Kemal, mais conhecido como Atatürk (Pai dos Turcos), enfrentaram e venceram as tropas gregas, britânicas e francesas.<br/>
Em julho de 1923, as partes envolvidas assinaram o Tratado de Lausanne que reconhecia o governo dos nacionalistas turcos e definia as fronteiras da nova nação. O novo Estado turco, com Ancara como capital, irá ocupar a península da Anatólia. <br/>
Em outubro de 1923, Mustafa Kemal proclama a República da Turquia, tornando-se seu presidente. Convoca também a Grande Assembleia Nacional (GAN) que agiria como Poder Legislativo. A Turquia passa a ser governada por um sistema político unipartidário e, nas três décadas seguintes, o poder está nas mãos do “Partido Republicano do Povo” (CHP), fundado e encabeçado por Atatürk.<br/>
O objetivo de Atatürk era criar uma nação homogênea e secular sobre as ruínas do multiétnico Império Otomano. A Constituição de 1924, em teoria, não fazia distinção entre os muçulmanos e não muçulmanos, no entanto, Kemal almejava a “turquização” de toda a população. E consequentemente todas as minorias veem-se forçadas a se integrar, adotando a cultura e idioma turcos. As principais minorias que viviam na época em território turco eram: um número reduzido de armênios, pois mais de um milhão e meio haviam sido dizimados pelo governo otomano; os gregos cristãos, a maioria vivendo em Istambul, pois os que viviam em outras regiões tinham sido transferidos para a Grécia, e, em contrapartida, os muçulmanos que viviam na Grécia tinham ido para a Turquia; e os judeus que, de acordo com o primeiro censo, realizado em 1927, eram 80 mil pessoas, e estavam basicamente concentrados em Istambul, Izmir e Edirne.<br/>
As reformas rumo à secularização <br/>
Ao assumir a presidência, Kemal deu início à ocidentalização da Turquia. Nos anos que se seguiram e até sua morte, em 1938, implantou um programa de reformas que transformaram a sociedade turca. Pretendia secularizar uma sociedade que, durante séculos tinha-se pautado pelas leis da shari’a1. Queria fazer da Turquia um Estado moderno, democrático e laico. As reformas instituídas traduzem a ideologia “kemalista” que servirá de base para a estruturação da nação.<br/>
Não há dúvida de que a principal reforma empreendida por Atatürk foi a separação entre o Estado e o Islã, que deixou de ser a religião do Estado. O turco tornou-se a língua oficial das preces nas mesquitas. Foram abolidas as cortes islâmicas e criado um código jurídico baseado nos códices europeus. Adotou-se o calendário gregoriano, o domingo e não a sexta-feira se tornando o dia do descanso. Tornou-se obrigatório adotar um sobrenome de família, proibiu-se a poligamia e as mulheres passaram a ter os mesmos direitos legais que os homens, inclusive o de voto. O novo regime estimulou o uso de roupas ocidentais, e, em 1934, foi decretada a Lei do Vestuário, que proibiu o uso de véus e turbantes em instituições públicas.<br/>
De suma importância foram também as reformas na área de educação. A escola primária tornou-se gratuita e obrigatória, e ficou sob a responsabilidade direta do Estado, acabando, assim, com o domínio islâmico. Foi também adotado o alfabeto turco, de grafia latina.<br/>
As expectativas das várias minorias de total integração, porém, não se realizaram. Tanto os kemalistas, como o povo em geral eram xenofóbicos, e consideravam “suspeitas” as minorias e todos os não-muçulmanos. A pressão por uma “turquização” – como “prova” de lealdade à Turquia, era intensa.<br/>
Não faltaram críticas no âmbito internacional ao programa de turquização, pois violava disposições do Tratado de Lausanne, que garantia os direitos dos não-muçulmanos. Para colocar um ponto final na discussão da validade do programa do governo turco, em 1925 essas minorias abriram mão da proteção de suas singularidades, imbuídas nesse Tratado.<br/>
O xenofobismo teve sérias consequências para os não-muçulmanos, pois resultou em uma série de leis, principalmente na área econômica, que faziam uma distinção entre os verdadeiros “turcos”, ou seja, muçulmanos de etnia turca, e os não-muçulmanos. De acordo com essas leis apenas “turcos étnicos” podiam exercer inúmeras funções econômicas e uma série de profissões. A lista é imensa, mas para se ter uma ideia, apenas os “turcos étnicos” podiam trabalhar em instituições públicas, bancos, correio, hotéis, e assim por diante. E, apenas os “turcos” podiam ser médicos, dentistas, parteiras, vendedores ambulantes, fabricantes de roupas...<br/>
A vida judaica <br/>
Foi substancial o impacto na vida judaica, em decorrência dessas reformas. Os judeus logo perceberam que a igualdade de juri de direitos não lhes garantia a igualdade de facto dos mesmos na esfera social e pública. A maioria muçulmana continuava a considerá-los “não turcos”, dhimmis2, cidadãos de 2ª classe, pessoas que não “mereciam” os mesmos privilégios que os turcos étnicos. Eles eram constantemente “lembrados” de sua classificação de “convidados”, cabendo-lhes, portanto, demonstrar sua gratidão mediante sua turquização.<br/>
Numa demonstração de “patriotismo”, os judeus abdicaram de seus direitos como minoria, e muitos renunciaram à sua nacionalidade estrangeira. Historiadores acreditam que se os judeus não foram abertamente forçados, eles foram “induzidos” a tomar essa atitude.<br/>
Como vimos, como outras minorias os judeus foram proibidos de exercer inúmeras profissões, muitas das quais haviam exercido sob domínio otomano. Em 1934, 24% dos judeus trabalhavam no comércio, 20% na indústria e 45% em atividades que não necessitavam qualificação e apenas 4% na administração pública e no setor de serviços.<br/>
A secularização da República acelerou a secularização dos judeus, iniciada meio século antes. Estes últimos foram obrigados a adotar sobrenomes turcos, e a utilizar o idioma turco sempre que estivessem em público e, pasmem, até nas sinagogas! Em 1928, a campanha cujo slogan era “Cidadão, fale turco!” espalhou-se pelo país. Centenas de judeus foram assediados em público, multados ou presos por utilizar o ladino ou francês – com total apoio do governo.<br/>
Em aderência às reformas kemalistas, a comunidade judaica teve que fechar organizações religiosas e beneficentes. As escolas judaicas deixaram de ensinar hebraico e religião, enquanto que, como dissemos, tornava-se obrigatório o ensino do idioma turco, da história e geografia do país – por um professor “turco”. A proibição de ensinar a religião nas escolas foi um sério golpe, colocando em questão a manutenção de um sistema educacional separado. Em 1929 havia em Istambul 10 escolas judaicas, com cerca de 2.500 alunos, mas, após a 2a Guerra, eram raras as que ainda funcionavam. Eram escassas as perspectivas de uma vida judaica plena para a maior parte da população judaica, pois toda uma geração não teria fácil acesso à instrução religiosa, enquanto era grande a pressão pela turquização.<br/>
Contudo, apesar de todas essas mudanças, a integração dos judeus na sociedade maior continuava limitada. Eles permaneceram separados, mantendo low profile, de certa forma interiorizando o rótulo de “convidados” que lhe havia sido imposto. Mesmo assim, por causa de seu sucesso econômico, a burguesia judaica enfrentava quase que diariamente um ressentimento que beirava o antissemitismo.<br/>
A imprensa emergia como um importante fator no fomento aos sentimentos antijudaicos. Nas primeiras décadas proliferavam as publicações antissemitas com caricaturas de judeus retratados como gananciosos, parasitas, traidores desleais e mal-agradecidos, que deviam ser expulsos do país. <br/>
Os pogroms na Trácia <br/>
Em 1934, durante os últimos dias de junho e primeiros de julho foram registrados ataques violentos contra os judeus nas cidades de Edirne, Çanakkale e Kirklarel, localizadas na Trácia turca, onde viviam por volta de 20 mil judeus. A violência teve início com um boicote aos mercadores. Em 24 de junho, o bairro judaico de Çanakkale foi atacado e muçulmanos atacaram lojas e residências de judeus. No dia 3 de julho, foram atacados os de Kirklarel e, em seguida, os de Edirne. As notícias de judeus espancados, atacados e mulheres judias estupradas disseminaram o pânico entre os judeus da Trácia. Mais de 15 mil abandonaram suas casas e fugiram para Istambul.<br/>
De acordo com os documentos atualmente disponíveis, os ataques ocorreram por uma série de motivos. Havia por parte dos muçulmanos um forte ressentimento em relação aos judeus da região que não falavam o turco e uma inveja de seus comerciantes que dominavam a economia. Havia ainda o interesse do governo e das forças armadas de militarizar o Estreito do Bósforo e restabelecer no local a presença turca implantando-se bases militares. Tanto políticos quanto militares não queriam não-muçulmanos nessa área. A estratégia utilizada para forçá-los a abandonar o local consistia em incentivar ataques e campanhas de intimidação. Não calcularam que, uma vez desencadeado, seria difícil conter o antissemitismo da população e tampouco imaginaram a explosão de ódio de grande escala que, de fato, ocorreu.<br/>
Tragédia dos refugiados judeus durante o Holocausto <br/>
A Turquia se manteve neutra durante a 2ª Guerra. Apesar de os judeus turcos não correrem os perigos enfrentados por seus irmãos em outros países, foi um período de grandes dificuldades para a comunidade.<br/>
Na década de 1930 o país instituiu uma política de imigração seletiva, admitindo apenas refugiados judeus altamente qualificados. Por volta de 300 médicos, cientistas e artistas judeus foram convidados para lá se estabelecer. Entre eles estavam as mais brilhantes mentes da Europa, que se tornaram instrumentais no empenho turco de melhorar seu sistema educacional e infraestrutura econômica. Em 1934, havia 82 judeus alemães dando aulas na Universidade de Istambul.<br/>
Em contrapartida, foi severa a política adotada em relação aos outros milhares de judeus que procuravam asilo. Em 1938 foi proibida a entrada a todos aqueles sem passaporte ou documentos de cidadania. Em seguida foi promulgado um decreto para impedir a entrada na Turquia de “Judeus cujos direitos foram limitados em seus países”. Em 1941, a outorga de visto de residente ou turista a judeus perseguidos foi proibida por lei, sendo apenas permitida a concessão de vistos de trânsito àqueles que tinham visto de entrada a outros países. Assim, 13.240 judeus usaram a Turquia como caminho para a então Palestina, enquanto outros 3.234 conseguiram se estabelecer na Turquia.<br/>
As leis turcas permitiam a volta à Turquia aos judeus com cidadania turca que viviam em países ocupados pela Alemanha, desde que tivessem documentos válidos. Em muitos casos, a situação dos que não possuíam papeis em ordem dependia da boa vontade dos cônsules turcos. Eles podiam reconhecê-los como cidadãos do país, salvando-os da deportação, ou não. Alguns deles, como Necdet Kent, Namık, Kemal Yolga, Selahattin Ülkümen e Behiç Erkin, fizeram de tudo para salvar a vida do maior número possível de judeus, e seus nomes constam entre os Justos das Nações, em Jerusalém. <br/>
A lei de refugiados foi cumprida ao pé da letra, mesmo em situações extremas, como foi o caso dos refugiados a bordo de três navios que atracaram nos portos da Turquia. O SS Parita, com 850 refugiados, atracou no dia 8 de agosto de 1939, na costa de Izmir. As autoridades não permitiram o desembarque e, após uma semana sem água ou alimento, o capitão foi forçado a seguir viagem. Algumas revistas turcas ridicularizaram os refugiados judeus que procuravam refúgio pelo mundo afora. Após a partida do navio, o jornal semi-oficial Ulus escreveu: “Finalmente se foram os judeus que perambulavam por aqui”.<br/>
O segundo navio foi o Salvador que chegou em 6 de dezembro de 1940. A bordo havia 327 judeus. Mais uma vez as autoridades não permitiram o desembarque. No dia 12 os turcos forçaram o navio a seguir para alto-mar apesar da forte tempestade. O navio afundou e 204 pessoas se afogaram, entre elas 70 crianças.<br/>
O incidente mais famoso foi o do Struma. O navio, com 769 judeus a bordo, tentou aportar em Istambul, em 15 de dezembro de 1941. As autoridades recusaram-se a autorizar o desembarque sem a garantia da Grã-Bretanha de que os passageiros poderiam prosseguir viagem. O impasse durou 70 dias, durante os quais os refugiados sobreviveram graças à mobilização da comunidade judaica local. Em 23 de fevereiro, os turcos rebocaram o Struma até alto-mar. No dia seguinte, a casa de máquinas explodiu e o navio afundou. Somente uma pessoa sobreviveu. Após o incidente, o então Primeiro Ministro Refik Saydam declarou: “A Turquia não pode se tornar a casa daqueles que não são aceitos por ninguém”.<br/>
Variam os dados sobre o número de judeus salvos pela Turquia durante a Shoá. De acordo com Stanford Shaw foram 100 mil; o renomado historiador Rifat Bali estima em 15 mil e Tuvia Friling, um especialista israelense nos Balcãs e Oriente Médio, em 20 mil.<br/>
Os turcos não-muçulmanos na 2ª guerra <br/>
A Turquia, apesar de neutra e de cooperar com um ou outro país beligerante, mantinha fortes relações com a Alemanha – econômicas e militares. Em Istambul, existia desde 1933 um núcleo do partido nazista que era tolerado pelo governo turco, e muitos turcos simpatizavam com o nazismo.<br/>
O terreno era fértil para o crescimento do antissemitismo. Na mídia apareciam cada vez mais artigos que apontavam as minorias, principalmente os judeus, como “responsáveis” pelos problemas da Turquia. As caricaturas estereotipadas de judeus eram comuns.<br/>
Nesse clima, o governo adotou uma política discriminatória em relação aos não-muçulmanos. Após a eclosão da guerra, foram mobilizadas 20 classes de reservistas, entre 18 e 45 anos. Judeus e outros não-muçulmanos foram separados dos demais e enviados aos Batalhões de Trabalho. Eles não receberam armas nem uniformes e eram insultados por soldados “turcos” que os chamavam de “soldados infiéis”. Os “soldados” dos batalhões foram despachados para vários locais da Anatólia, obrigados a trabalhar em condições sub-humanas na construção de bases aéreas, túneis e rodovias. Muitos morreram. Os batalhões só foram dispensados em julho de 1942.<br/>
Apenas quatro meses após a dissolução dos batalhões, os não-muçulmanos seriam novamente alvo de mais um decreto discriminatório. Em 11 de novembro de 1942, é promulgada a Lei sobre Imposto de Renda. Em princípio, a nova lei foi promulgada como uma oportunidade para o governo sanear suas finanças.<br/>
A lei dividia os contribuintes em quatro grupos: os muçulmanos, os não-muçulmanos, os estrangeiros, e os dönmes3 . Os impostos para os não-muçulmanos eram quatro vezes superiores aos dos muçulmanos. Estima-se que, na média per capita, os muçulmanos eram taxados em 5% de suas rendas anuais, os gregos em 156%, os judeus em 179% e os armênios em 232%. Para piorar a situação, os não-muçulmanos tinham que pagar a totalidade dos impostos em 15 dias, em dinheiro, caso contrário seriam enviados a campos de trabalhos forçados na Anatólia Oriental. Estima-se que 1.400 acabaram sendo deportados para Askale. Em 1943, o governo libertou os que enviara a essa localidade e, em março do ano seguinte, o Imposto de Renda foi suspenso e as dívidas, perdoadas.<br/>
A lei de taxação foi um grande golpe para a burguesia não-muçulmana. Os tributos arruinaram a vida e as finanças de muitas famílias. Historiadores acreditam que a lei tenha sido criada para enfraquecer a posição econômica das minorias e criar uma burguesia verdadeiramente turca. A legislação discriminatória empobreceu a comunidade judaica deixando-a desorientada e desconfiada. Os acontecimentos prepararam o caminho para a ampla emigração ocorrida após a 2ª Guerra – especialmente após a independência de Israel, entre 1948 e 1949.<br/>
Em 1945 havia 76 mil judeus na Turquia, em 1955, 45.995, número que continuou a diminuir na década seguinte, chegando a 38.267 em 1965.<br/>
Cresce o Movimento Islâmico <br/>
No pós-guerra a Turquia entrou num período de transição política de um regime unipartidário para o multipartidarismo. Em 1946, formou-se o Partido Democrático, que assumiu o poder em 1950.<br/>
Mais uma vez, havia motivos para as minorias não muçulmanas acreditarem que a igualdade prometida na Constituição de 1924 poderia tornar-se realidade, garantindo-lhes o mesmo tratamento dos muçulmanos. Mas as esperanças foram frustradas e a situação, principalmente da população judaica, tornou-se mais difícil. A volta ao islamismo tornara-se uma forte tendência política que iria determinar as futuras décadas.<br/>
Até o CHP, partido de ideologia kemalista, defensor da secularização que até então governara o país, teve que adotar uma atitude mais moderada sobre as questões religiosas. Com a subida ao poder do Partido Democrático, foram abolidas muitas das proibições em relação ao Islã que vigoravam desde as primeiras décadas da República. Gradativamente o Islã reconquistava seu lugar na sociedade turca. Essa tendência não secularista e pró-islâmica acabou abrindo espaço ao islamismo político.<br/>
O Movimento Islâmico e os judeus turcos <br/>
O crescimento constante do movimento islâmico turco que acompanhou a transição do país à democracia multipartidária trouxe consigo uma crescente onda antissemita. Na última década isso vinha aparecendo constantemente na imprensa ultranacionalista e islâmica, tornando-se gradualmente um princípio que caracterizava ambas as ideologias.<br/>
Durante as primeiras décadas da República o antissemitismo era desencadeado pela “resistência” dos judeus à turquização e à sua posição socioeconômica. A partir de 1948, um novo elemento é adicionado e vai predominando: a existência e fortalecimento do Estado de Israel. Os turcos, sentindo-se humilhados pelas sucessivas derrotas dos exércitos árabes, passaram a alimentar um ódio contra Israel e a comunidade judaica identificada como sinônimo de Israel.<br/>
A retórica negativa sobre Israel e o sionismo e a crença de uma suposta conspiração judaica mundial para enfraquecer e dominar a Turquia e o Islã permeiam toda a sociedade turca - não apenas a direita, mas também os esquerdistas e círculos kemalistas. Esse tipo de crença explica, entre outros, porque nenhuma instituição judaica internacional tem autorização para abrir escritórios ou atuar no país. Essa nova vertente do antissemitismo tem-se intensificado paralelamente ao crescimento do radicalismo islâmico.<br/>
Com o aumento da virulência antissemita, cresciam os ataques físicos aos judeus. Em 6 de setembro de 1986, a Sinagoga Neve Shalom foi vítima de um ataque suicida executado por palestinos ligados à organização terrorista de Abu Nidal. Sete judeus ficaram feridos, e 22 dos que tinham ido para as orações do Shabat foram mortos.<br/>
Na década de 1990 há um crescimento do antiamericanismo e antiisraelismo. Novas teorias de conspiração passam a circular, apontando para os americanos judeus ou israelenses como os principais arquitetos da primeira Guerra do Golfo (agosto de 1990 a fevereiro de 1991) que, segundo essa teoria, teria sido realizada para beneficiar o Estado Judeu.<br/>
As várias teorias de supostas conspirações judias contra muçulmanos conseguiram maior credibilidade com a publicação do livro de Soner Yalçın’s Efendi, em 2004, e Efendi II, em 2006. Mais de 150 mil cópias foram vendidas. Os livros contém divagações obsessivas e sem nexo sobre a suposta influência judaica no país. As obras, caluniosas e fantasiosas, disseminaram entre a população o discurso antissemita radical, até então limitado aos círculos ultranacionalistas islâmicos. Nesse clima político qualquer pessoa que se atreva a fazer comentários favoráveis a Israel é considerada traidor ou alguém que vendeu a alma ao “Estado sionista”. Portanto, é compreensível que os judeus turcos prefiram não dar declarações, e manter silêncio.<br/>
O ano de 2003 foi marcado por atos de violência que não deixam dúvida em relação à hostilidade vigente no país contra os judeus, apesar do discurso oficial de tolerância e igualdade. Além do assassinato do dentista Yasef Yahya – cujo perpetrador confessou tê-lo matado só por ser judeu – foram realizados atentados a bomba em duas das principais sinagogas de Istambul. No dia 15 de novembro, um Shabat, carros-bomba explodiram em frente à Sinagoga Neve Shalom, no distrito de Galata, e da Beth Israel, no bairro de Osmanbey. As explosões mataram pelo menos 20 pessoas e deixaram cerca de 300 feridos. Os dois atos foram cometidos pelos grupos Islamistas turcos, simpatizantes da Al-Qaeda.<br/>
Mavi Marmara <br/>
Um dos momentos mais difíceis na história dos judeus turcos foi o incidente com a chamada Flotilha de Libertação de Gaza, organizada pelo Movimento Gaza Livre e a Fundação de Direitos Humanos, Liberdade e Ajuda Humanitária da Turquia. O objetivo era romper o bloqueio à Faixa de Gaza, imposto por Israel para impedir o contrabando de armas para o Hamas através de suposta ajuda humanitária. As autoridades israelenses exortaram o governo turco a não autorizar a partida da flotilha, alertando que não permitiriam, em hipótese alguma, sua entrada em águas sob seu controle. O regime de Ancara desconsiderou o aviso, apoiando totalmente a iniciativa.<br/>
No dia 31 de maio de 2010, quando a flotilha tentava romper o bloqueio, as Forças de Defesa de Israel (FDI), conforme alertado, interceptaram o Mavi Marmara, o maior navio do grupo. O saldo da operação foi a morte de oito cidadãos turcos e um americano-turco.<br/>
Pela primeira vez, turcos foram mortos num confronto com as FDI, e, como era de se esperar, a mídia turca questionou a posição da comunidade judaica local, “perguntando de que lado estavam”. O Rabinato Chefe emitiu um comunicado afirmando que a comunidade estava profundamente angustiada. Dizia o comunicado: “Às primeiras informações de que havia mortos e feridos, aumentou nosso pesar”. A imprensa turca exigiu que o único jornal judaico do país, o Salon, publicasse uma declaração oficial da comunidade. Mas, nenhuma outra declaração foi feita, além da difundida através do Rabinato Chefe. <br/>
Ainda que a Turquia seja marcada por acentuadas diferenças ideológicas, o antagonismo a Israel e ao sionismo, percebidos como a “origem de todos os males”, é uma das poucas questões em que islamistas, nacionalistas, liberais, esquerdistas e kemalistas estão de acordo.<br/>
Diante da onda de antissemitismo disseminada pela mídia turca depois do incidente com o Mavi Marmara, a imprensa internacional publicou uma série de artigos sobre o medo dos judeus de serem vítima de ataques físicos contra indivíduos e instituições comunitárias.<br/>
Essa reação internacional obrigou o governo a declarar que os extremistas islâmicos que protestavam contra Israel deveriam fazer uma diferença entre o governo e o povo de Israel, e entre os judeus turcos e o Estado de Israel.<br/>
Para a comunidade judaica turca, no entanto, ficou claro, mais uma vez, que para a opinião pública e a mídia turca, um bom judeu é um judeu antissionista, que tem uma atitude crítica em relação ao sionismo e a Israel. Enquanto que um mau judeu é o judeu sionista. Ou seja, é impossível para os judeus da Turquia serem aceitos, a menos que adotem a retórica de “bons judeus”. Contudo, a adoção dessa retórica é um problema, pois o sionismo e a ligação com Israel são os principais temas ensinados à juventude judaica turca como forma de ajudá-los a preservar sua identidade judaica.<br/>
Segundo uma pesquisa feita pela Liga Anti-Difamação em julho de 2013, 69% dos turcos têm sentimentos antissemitas que aumentaram ainda mais desde 2014. São comuns os cartazes em locais públicos e restaurantes com os dizeres: “Não é permitida a entrada de cães e judeus” e ataques com ovos contra aqueles que se dirigem à sinagoga. Apesar da condenação de tais atitudes por parte do governo e da afirmação de que os judeus do país “são nossos cidadãos”, pouco se fez para impedir a repetição desses atos.<br/>
Ainda que sem chamar muita atenção, a comunidade mantém uma estrutura que permite a manutenção da cultura judaica. Em 2001 foi inaugurado o Museu de Judeus Turcos. Em 2003 foi instituído o Dia Europeu da Cultura Judaica, em Istambul. Desde 2005 vem sendo realizado um festival de cultura judaica intitulado Limmud, palavra hebraica para o termo aprendizado. Em 2006, aconteceu pela primeira vez o Karakare Film Days, visando celebrar o Holocausto através do cinema.<br/>
No mesmo ano, foi inaugurado o Centro de Pesquisa da Cultura Sefaradi Turco-Otomana cuja missão é preservar a herança cultural sefaradita e a língua ladina, com a apresentação de grupos musicais. Realizam, também, várias atividades em diferentes instituições para incentivar a juventude a manter a cultura e as tradições judaicas. Em Ulus, moderno distrito de Istambul, funciona uma escola judaica particular de nível médio que oferece 12 anos de ensino em inglês, além das matérias hebraicas.<br/>
Turquia e Israel <br/>
Apesar da retórica antissionista, até maio de 2010 as relações diplomáticas entre Israel e a Turquia eram relativamente tranquilas. O intercâmbio comercial entre os dois países somava milhões de dólares, incluindo a cooperação em diversas áreas, além do fluxo de turismo, principalmente partindo de Israel.<br/>
Após o incidente com o Mavi Marmara, as relações entraram em colapso, até junho de 2016, quando foi anunciada a normalização das relações diplomáticas, visando uma eventual cooperação para explorar reservas de gás natural no Mar Mediterrâneo. Israel afirma que o acordo com Ancara não anulará o bloqueio naval à Faixa de Gaza, mas criará oportunidades adicionais de assistência humanitária à região. A Turquia, por sua vez, se compromete a não permitir “ações terroristas contra Israel a partir de seu território”.<br/>
Os sentimentos anti-Israel, no entanto, são fortes. Em 2013, Erdogan ficou em segundo lugar numa pesquisa do Centro Simon Wiesenthal de classificação de personalidades antissemitas. Em 12 de janeiro de 2015 o Presidente teve um cordial encontro em Ancara com Mahmoud Abbas, negacionista do Holocausto e glorificador do terrorismo. Antes disso, em 27 de dezembro de 2014, o dirigente do Hamas, Khaled Mashaal, discursou perante o congresso do Partido da Justiça e do Desenvolvimento no poder, enquanto a multidão gritava slogans do tipo “Morte a Israel”!<br/>
Um despacho oficial do MEMRI (Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio), em novembro de 2014, dizia: “O antissemitismo atinge novos patamares na Turquia: ameaças contra judeus turcos, manifestações de admiração a Hitler, exortações para que os judeus sejam enviados a campos de concentração, os judeus deveriam pagar um tributo especial etc. ”.<br/>
Ainda de acordo com o despacho, ao mesmo tempo em que Erdogan negava, em seu discurso de 22 de setembro de 2014, no Conselho de Relações Exteriores, que ele ou seu governo fossem antissemitas, membros de seu partido estavam tuitando elogios a Hitler.<br/>
Conforme destaca o MEMRI é óbvio que no atual governo o antissemitismo na Turquia está atingindo novos patamares. A situação é tão delicada que muitas vezes as sinagogas ficam fechadas para evitar eventuais tragédias. A Sinagoga Neve Shalom não abre mais para o Shabat, a segurança foi reforçada e, atualmente, funciona como museu.<br/>
Segundo a liderança judaica, as ameaças maiores vêm da própria população turca, constantemente bombardeada com um discurso de ódio. Mensagens ameaçadoras são enviadas a membros da comunidade, além de alertas frequentes de terrorismo emitidos por Israel. Ademais, membros da comunidade foram instruídos a não dar entrevistas para a mídia, pois qualquer palavra pode ser mal interpretada e ter sérias repercussões.<br/>
O único autorizado a falar em nome da comunidade é seu presidente, Ishak Ibrahimzadeh. Para entender ainda mais o contexto basta dizer que pais recomendam a seus filhos que não usem Estrelas de David, kipá, e outros símbolos judaicos de forma ostensiva, que não falem de seu amor por Israel em público e que ignorem comentários maliciosos sobre o Estado Judeu ou sobre a própria comunidade.<br/>
A recente tentativa de golpe (julho de 2016) liderada por alguns militares contra o governo islamista de Erdogan e a rápida e violenta resposta das autoridades em reprimi-la, apoiada pela população que saiu às ruas para se manifestar contra a queda do presidente, sinalizam que, por enquanto, nada vai mudar na Turquia, a não ser para uma radicalização islâmica maior, com um regime cada vez mais centralizado no presidente Erdogan, que hoje conta com o total apoio dos setores islâmicos e nacionalistas.<br/>
Para a situação dos judeus na Turquia mudar o país teria que passar por uma profunda mudança cultural, afastando-se do nacionalismo islâmico que permeia todos os segmentos sociais e assumir um caminho mais liberal. Não há nada que indique que esta será a opção turca, nos próximos anos. Mesmo com a reaproximação com o Estado de Israel e o reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, em junho de 2016. Eitan Naeh, primeiro embaixador de Israel na Turquia desde 2010, chegou no dia 1º de dezembro a Ancara, selando a normalização das relações bilaterais após anos de crise.<br/>
Bibliografia <br/>
Prof. Bali, Rifat,The Slow Disappearance of Turkey’s Jewish Community, publicado em 6 de janeiro de 2011 no site :The Jerusalem Center for Public Affairs <a href="http://jcpa.org/">http://jcpa.org/</a> <br/>
Prof.Bali, Rifat “Model Citizens of the State: The Jews of Turkey during the Multi-Party Period, 2013 -kindle edition<br/>
Brink-Danan, Marcy Jewish Life in Twenty-First-Century Turkey: The Other Side of Tolerance, 2011- kindle edition</p> Mohamed VI ordena restituir los nombres hebreos de la judería de Marrakech - AURORA NOTICIAStag:judaismohumanista.ning.com,2017-01-01:3531236:Topic:1121022017-01-01T19:12:09.511ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
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<p>El rey Mohamed VI de Marruecos ordenó, a petición de la comunidad judía de Marrakech, que se restituyan en la judería de la ciudad los nombres de calles y plazas que tienen que ver con el patrimonio hebreo de esta ciudad.</p>
<p>El monarca, que se encuentra desde hace varios días en Marrakech, donde ha presentado varios proyectos de restauración del patrimonio histórico de la ciudad, accedió a devolver el nombre del “Mellah”, como se conocen en Marruecos las juderías, al barrio que desde hace veinte años cambió su nombre por Hay Esalam.</p>
<p>Pero además del nombre del barrio mismo, todas sus calles, plazas y adarves que llevaran nombres de personalidades judías o relacionados con el patrimonio judío también recuperarán esos antiguos nombres “para preservar la memoria histórica de esos lugares”, según el ministerio del Interior.</p>
<img width="300" height="225" class="size-medium wp-image-11609 td-animation-stack-type0-2" alt="Sinagoga de Marrakech Foto: Vysotsky Wikimedia CC BY-SA 3.0" src="http://aurora-israel.co.il/wp-content/uploads/2016/12/Mellah-Foto-Vysotsky-Wikimedia-CC-BY-SA-3.0-300x225.jpg"/>Sinagoga de Marrakech Foto: Vysotsky Wikimedia CC BY-SA 3.0<br />
<p>El monarca pretende así “salvaguardar el patrimonio de las civilizaciones del reino, así como el patrimonio cultural del conjunto de componentes de la sociedad marroquí”.</p>
<p>El rey de Marruecos ha sido históricamente el protector de la minoría judía, que hace setenta años rondaba las 300 mil personas y hoy ha quedado reducida a menos de dos mil.</p>
<p>Pese a que la población judía en Marrakech, Fez o Rabat ya es casi testimonial, su patrimonio (en forma de sinagogas, escuelas o cementerios) es muy abundante en casi todas las ciudades importantes del país y aun en muchos pueblos pequeños, y atrae cada año a decenas de miles de visitantes judíos llegados de todo el mundo. EFE</p>
</div> Os judeus na Colômbia durante a 2ª Guerra Mundial por Reuven Faingoldtag:judaismohumanista.ning.com,2016-07-30:3531236:Topic:1103132016-07-30T21:36:16.240ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p>Acompanhando uma linha antissemita adotada pela maioria dos países latino-americanos, a Colômbia consolidou uma política migratória restritiva para os judeus. Aqueles que ali estavam antes de eclodir a 2ª Guerra e aqueles que conseguiram escapar milagrosamente das garras do Nazismo, criaram instituições que ainda hoje existem no país.</p>
<p>A presença judaica na Colômbia nos remete aos dias da independência da nação, entre 1810-1819, tempos difíceis de crise institucional na Espanha. Por…</p>
<p>Acompanhando uma linha antissemita adotada pela maioria dos países latino-americanos, a Colômbia consolidou uma política migratória restritiva para os judeus. Aqueles que ali estavam antes de eclodir a 2ª Guerra e aqueles que conseguiram escapar milagrosamente das garras do Nazismo, criaram instituições que ainda hoje existem no país.</p>
<p>A presença judaica na Colômbia nos remete aos dias da independência da nação, entre 1810-1819, tempos difíceis de crise institucional na Espanha. Por volta de 1819 o governo já reconhecia o direito dos judeus a se estabelecer no país. A maioria dos imigrantes eram de origem sefaradita e viviam nas ilhas do Caribe, principalmente em Curaçao. O ladino era a língua dos exilados judeus da Espanha, adotada em toda a costa do Atlântico.</p>
<p>Em 1832, a cidade de Barranquilla possuía um cemitério judaico e testemunhava a forte pujança comercial da cidade. Lá vivia, em 1854, a família Cortissoz Jessurum Pinto, contribuindo para o crescimento dessa vila colonial, enquanto o judeu sefaradita David Pereira se elegia governador. Durante o século 19 até a 1ª Guerra, a comunidade foi crescendo gradualmente, recebendo imigrantes da Europa oriental. Entre 1928-1930 ingressaram aproximadamente 1.000 judeus na Colômbia.</p>
<p>A imigração asquenazita desconhecia o espanhol, portava traços físicos diferentes da população autóctone e chegou numa situação de penúria. Mas isto seria por pouco tempo, pois sua vocação para o comércio varejista e atacadista os tornaria pessoas destacadas na sociedade e, de certa forma, contribuiria para criar certa inveja entre os locais. A legislação migratória da Colômbia era fortemente restritiva. Talvez por isso, o número de imigrantes vindos do exterior era inferior ao de outros países latino-americanos, como Argentina, Uruguai e Venezuela. No período entre as duas guerras mundiais, o mito da “invasão dos estrangeiros” ecoou forte na Colômbia, aumentando quando se tratava de judeus.</p>
<p>A Colômbia da década de 1930 presenciava o surgimento do fascismo e do nazismo, duas ideologias que minavam o sistema político democrático. Tanto nas fileiras do Partido Conservador como no Partido Liberal, nasciam novas vertentes políticas extremistas que afrontavam as velhas forças políticas colombianas. O surgimento do UNIR, de Jorge Eliezer Gaitán, e a facção política dos denominados Leopardos simpatizavam abertamente com as ideologias totalitaristas. Portanto, o clima social encontrado pelos judeus então chegados à Colômbia não foi dos mais favoráveis.</p>
<p>O surgimento do Nacional-socialismo na Alemanha em 1933, a aplicação de leis racistas em Nüremberg, a anexação da Áustria, a entrega dos Sudetos a Hitler (na então Tchecoslováquia) e a rápida conquista da Polônia em 1939 intensificaram a saída dos judeus da Europa conquistada. A maioria dos judeus procurava países como Argentina, Brasil ou Estados Unidos para recomeçar a vida longe das perseguições. A Colômbia estava também na mira desses refugiados. A chegada dos primeiros judeus da Polônia e Rússia gerou o uso pejorativo do termo “polaco” para denominá-los. Na mesma época, na República Argentina, o termo russo era sinônimo de judeu.</p>
<p>A 2ª GUERRA MUNDIAL</p>
<p>Durante os anos 1933-1939, a Colômbia já tinha uma comunidade judaica ativa com sua própria imprensa. A Nuestra Tribuna foi um jornal fundado em 1935, em Bogotá. Seu primeiro diretor, Jorge Michonik, e seu sucessor, Jaime Fainboim, contavam com a ajuda do famoso cientista e pedagogo, Dr. Miguel Adler. As matérias, redigidas em iídiche e castelhano, estavam direcionadas quase exclusivamente à comunidade asquenazita, leitora voraz de periódicos.</p>
<p>Os judeus não queriam concentrar-se em “guetos”, bairros predominantemente judaicos. Os imigrantes buscavam uma melhor inserção na nova realidade social colombiana, esquecendo os sofrimentos recentemente vivenciados. Nuestra Tribuna converter-se-ia num veículo de denúncias das atitudes antijudaicas, quer oficiais quer populares. A revista seguia uma linha laica, não emitia opiniões religiosas e dependia política e economicamente da Federação Israelita criada sobre os alicerces do Sionismo.</p>
<p>POLÍTICA MIGRATÓRIA</p>
<p>Em dezembro de 1935, o chanceler colombiano Gonzalez Piedrahita emitiu novas declarações sobre a política migratória restritiva do país, sustentada pelo decreto No. 1194, no qual se listavam nacionalidades que teriam sua entrada permitida mediante o pagamento de taxas alfandegárias. Esta medida visava dissuadir os imigrantes judeus de buscar refúgio no território nacional. A avalanche migratória geraria uma rivalidade desnecessária com a população local. A Câmara de Comércio do país também aderiu à campanha antijudaica contra aqueles tidos como indesejáveis, e que na sua visão eram os “poloneses, russos, tchecos, chineses, sírios e libaneses”.</p>
<p>A comunidade judaica tentava denunciar a hipocrisia do Partido Liberal, acusando-o de possuir moral dupla em relação aos judeus e frente aos regimes totalitários. Segundo artigo publicado em Nuestra Tribuna (29/01/1936): “Aqueles políticos colombianos que pregam uma linha liberal são os que mais falam como Hitler”. Na época, o jornal El Tiempo, um órgão do Partido Liberal e propriedade de Enrique Santos, (irmão do presidente do país), travava uma dura campanha contra os judeus refugiados.</p>
<p>Na véspera da 2ª Guerra, era notória a influência do Ministro de Relações Exteriores, Luis López de Mesa. Fascinado pela “questão racial”, ele difundia teorias racistas que passaram a ser consideradas não apenas curiosas, mas também eruditas. Em suas obras, o ministro critica o trabalhador latino-americano tido como preguiçoso e inconstante, e rasga elogios ao imigrante alemão.</p>
<p>Suas ideias, inseridas em diversos trabalhos, foram consideradas pelos intelectuais como verdades absolutas. A mistura entre o elemento autóctone e o judaico preocupava bastante a López Mesa, a ponto de “temer pelo cruzamento racial indo-semita, pois nele há indícios de qualidades inferiores tais como mimetismo moral, astúcia, bajulação, servilismo aparente e crueldade íntima”.Ao falar dos refugiados judeus da 2a Guerra, López Mesa é bem contundente: “Eles não passam de comerciantes de duvidosa moralidade e sem fortuna..., com os traços típicos que caracterizam certas raças,... vivem para burlar a lei”. Mesmo já encerrada a Guerra na Europa, o Ministro continua referindo-se aos judeus “que gostam do poder e de riquezas, com truculência e muita esperteza”.</p>
<p>Porém, nem todos os liberais colombianos pensavam como Mesa. No Ministério da Educação a opinião era favorável à imigração judaica, “permitindo-se que mestres judeus ingressem nas Universidades e colégios para ministrar aulas, especialmente nas disciplinas em que não havia mestres idôneos”. O Ministro da Educação da Colômbia, Germán Arciniegas, tentou trazer para o país o escritor Stefan Zweig. O Ministério de Relações Exteriores colombiano o impediu. Após o advento do nazismo ao poder na Alemanha e na Áustria, Zweig emigrou para Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde se suicidou em 1942.</p>
<p>Outro político colombiano favorável à vinda de judeus ao país foi Armando Solano, que, num artigo no jornal El Tiempo, manifestava seu apoio a eles, incentivando a contratação de seus mestres e professores. Solano não só os achava “pessoas excepcionalmente dotadas intelectual e artisticamente”, mas também os considerava “uma raça incompreendida e caluniada através da história”.</p>
<p>ANTISSEMITISMO E ANTIJUDAISMO</p>
<p>A hispanidade católica e o antissemitismo sempre atuaram concatenados no âmbito político colombiano. A presença judaica dentro do partido conservador era vista como uma afronta à velha tradição colombiana do poder executivo. Havia políticos que denunciavam os judeus como figuras indesejáveis numa sociedade fortemente cristã e tradicionalista.</p>
<p>A revista Patria Nueva de Cartagena justifica qualquer atitude antijudaica, e registra que “O antissemitismo que se consolidou nos costumes e tradições colombianos não é de caráter ofensivo ou beligerante; trata-se de um antissemitismo defensivo”. Seus colunistas acham “que os colombianos devem defender-se perante a invasão de elementos indesejáveis”.</p>
<p>Estas tendências antissemitas existentes na Colômbia, inspiradas no fascismo italiano, no nacional-socialismo alemão e na falange espanhola, acusavam os judeus de serem “geradores e semeadores de doutrinas esquerdistas e revolucionárias”, verdadeiro perigo para o futuro do país. Os judeus se defendiam destas infames acusações dizendo “que é uma grande tolice confundir o Judaísmo com o movimento comunista”.</p>
<p>A ideia de vincular os judeus ao comunismo atraía tanto as massas conservadoras quanto as liberais. O judeu era visto como elemento “perigoso” para a sociedade. Para a imprensa nacionalista, os comunistas incendiavam plantações e fábricas, invadiam os lares dos colombianos e pervertiam a juventude. Era necessário adotar uma linha política rigorosa contra “aqueles que introduziam costumes degenerados e insanos”, fazendo referência camuflada aos judeus. Esses comunistas eram vistos como agentes dos “soviets”, na Colômbia. O pedido do governo e da oposição naquele momento era para “expulsá-los do país em 24 horas”.</p>
<p>No entanto, temos que admitir que o antissemitismo colombiano não atuou com violência, se comparado aos demais países como Argentina, em que membros da Liga Patriota (Mazorca) assaltaram o bairro Once, apedrejando as vitrines das lojas, batendo em 70 judeus, causando em janeiro de 1919 o primeiro “pogrom” da América Latina, a chamada “Semana Trágica”.</p>
<p>Em 30 de janeiro de 1939, o chanceler Lopez de Mesa emitiu uma circular direcionada às embaixadas e consulados colombianos solicitando “colocar todos os obstáculos possíveis aos novos vistos em passaportes de judeus”. O chanceler entendia que “o número de 5.000 judeus estipulado pelo governo da Colômbia era uma cifra alta, impossível de ser atingida”. Como o desespero dos refugiados judeus era maior que os entraves burocráticos, as representações diplomáticas na Europa receberam um verdadeiro “aluvião” de petições para vistos para migrar à Colômbia ou vistos de trânsito para outros países. O general Solano, (cônsul colombiano em Marselha) foi descoberto pelas autoridades e acusado de lucrar com a venda de vistos a judeus. As embaixadas latinoamericanas eram procuradas por judeus alemães, austríacos, poloneses, italianos e franceses.</p>
<p>A Embaixada da Colômbia, em Berlim, dirigida por Ernesto Caro, começou a informar a Bogotá sobre a enorme quantidade de pedidos de vistos encaminhados por judeus que desejavam sair da Alemanha nazista. Mesmo com uma política migratória restritiva, apenas em janeiro de 1939 os funcionários colombianos da Embaixada expediram 45 passaportes com vistos a judeus alemães. Esses vistos não agradaram ao governo alemão, que obrigou o dono do prédio, o judeu Rosenthal, a rescindir o contrato de aluguel com os colombianos. Logo, o edifício seria confiscado por ser propriedade de um judeu, passando imediatamente a ser propriedade da Frente Alemã do Trabalho. Rosenthal precisou fugir de imediato para a Grã-Bretanha, reclamando desde lá ao governo colombiano a quitação das dívidas pelos alugueis pendentes. Naturalmente, o governo colombiano negou-se a pagar as pendências existentes e mudou a embaixada para outro endereço.</p>
<p>Na nova sede, as petições de vistos não cessavam. Tamanho o volume de vistos solicitados que, em 1941, o responsável dos negócios em Berlim, Santiago Lopes, escrevia ao chanceler Lopez de Mesa, para que nos vistos de judeus fosse registrado que “o portador do visto não poderá aceitar nenhum emprego ou iniciar negócios na Colômbia, sem autorização das autoridades competentes do país”. A Colômbia não ajudaria os judeus, que foram posteriormente levados a campos de extermínio.</p>
<p>A pressão por parte da Alemanha de Hitler sobre a Colômbia era tão grande, que em 31 de maio de 1939, a pedido das autoridades nazistas, o cônsul colombiano em Frankfurt, o judeu Ernest Lagebach, foi substituído pelo colombiano Jaime Jaramillo Arango.</p>
<p>ITÁLIA - O CASO RASTREPO</p>
<p>Também a Itália de Mussolini pressionou as representações diplomáticas colombianas. Numa carta em 3 de março de 1939, o Sr. Rastrepo (responsável pelos negócios da Colômbia em Gênova) pedia autorização a seu governo para substituir o vice-cônsul em Trieste, Humberto Donati. Segundo o funcionário, o motivo do pedido era o fato de “o Sr. Donati ser de raça judaica”.</p>
<p>Em 1939, Rastrepo intercedeu a favor dos judeus italianos, para que pudessem receber os vistos que os salvariam. Ele escreve ao chanceler da Colômbia, para que conceda salvo-conduto a um exilado judeu de Viena que queria retirar seus pais da Áustria em virtude da política antissemita do Terceiro Reich após a Anexação. Obviamente, o objetivo da família Schwarz era recomeçar a vida em alguma cidade da Colômbia.</p>
<p>Rastrepo não titubeou em encaminhar o caso Schwarz às autoridades governamentais competentes, ciente das disposições de não conceder vistos a judeus. Ele escreve: “Mesmo sabendo das restrições adotadas pelo governo colombiano em relação aos refugiados de guerra, me permito repassar o caso Schwarz ao Ministério, sendo este pedido um caso muito especial”.</p>
<p>Esta postura mais favorável aos judeus aparece em outras correspondências do alto funcionário colombiano, principalmente nas cartas a favor dos Guastalla, uma família de judeus italianos que encontrou refúgio no Brasil.</p>
<p>Não sabemos exatamente quantos vistos expediu Rastrepo, mas não resta dúvida de que este funcionário da Colômbia na Itália, sempre que possível, advogou em favor dos judeus.</p>
<p>VIDA COMUNITÁRIA NA COLÔMBIA</p>
<p>Não obstante a profunda rejeição aos judeus implantada pelo governo colombiano, os judeus não deixavam de chegar à Colômbia. O mecanismo dos refugiados era procurar familiares ou conterrâneos. Vale lembrar que pedidos de contato dos familiares ao governo, alegando união familiar, facilitavam a emissão de vistos; mas a compra deles também fazia parte das numerosas estratégias adotadas pelos judeus durante a 2ª Guerra.</p>
<p>Por volta de 1940 havia 6.000 judeus na Colômbia. Esta cifra parecia exagerada e, portanto, foi decretada uma nova legislação desestimulando a chegada de imigrantes. O artigo No. 7 desta legislação ordenava que “os estrangeiros que tenham declarado exercer determinada profissão ou ofício, radicando-se em determinado lugar, não poderão dedicar-se a outra profissão ou mudar de endereço, a não ser depois de terem obtido permissão do Ministério de Relações Exteriores e prévia autorização da Polícia Nacional. Sem essa permissão, ou caso o estrangeiro mude de domicílio ou profissão, será determinado um prazo para que abandone o país, e se ele não o fizer será expulso”.</p>
<p>O decreto dificultava o estabelecimento definitivo dos judeus na Colômbia, pois na verdade a maioria deles era composta por comerciantes. Assim, declaravam outros ofícios como mecânicos agrícolas, especialistas em tratamento de águas, experts em técnicas de irrigação ou qualquer profissão útil ao país, mas jamais comércio.</p>
<p>Este decreto oficial foi driblado pelos judeus, o que indica claramente que cotas ou restrições migratórias jamais representaram um obstáculo intransponível para o seu estabelecimento no país. A enorme vontade de refazer a vida da tragédia vivenciada na Europa falava mais alto que as próprias barreiras encontradas.</p>
<p>Recentemente chegados e radicados na Colômbia, os judeus fugidos do nazismo eram recebidos por organizações e instituições beneficentes, tais como o “Centro Israelita de Beneficência”, fundado em junho de 1937, cujo primeiro presidente foi Jacobo Sasson, ou pelo “Comité Pró-Inmigrantes dependiente de la Diócesis de Bogotá”, fundado pelo padre alemão Struve, católico e fervoroso antifascista. Em 1939, este padre, odiado pelos nazistas alemães residentes na Colômbia, dava assistência a 10 judeus.</p>
<p>No início, a vida dos judeus nas cidades da Colômbia era dura e o idioma espanhol um obstáculo. Em 1937, o jornal El Fascista os tratava com desprezo e pejorativamente também os denominava de “polacos”. Alguns eram contratados para trabalhar como motoristas de táxi ou particulares, defendendo essa categoria através de greves durante a gestão do prefeito Jorge Gaitán. Outros perderam suas licenças e ganharam a antipatia da população local.</p>
<p>O jornal El Fascista, em 13 de fevereiro de 1937, fala de “tres omnibus de la colonia polaco-judia” que, covardemente, furaram a greve, fazendo com que o sindicato dos taxistas e motoristas autônomos solicitasse a não inclusão de judeus nas empresas da categoria. Era uma das primeiras campanhas antissemitas no país.</p>
<p>Os judeus precisavam subsistir e, portanto, aceitavam qualquer ocupação. Este fato gerava uma situação bastante incômoda, a ponto de ter que concorrer em quase todas as áreas com os colombianos. Era comum os jornais colombianos divulgarem brigas de rua, entre o “desonesto comerciante judeu e o honesto comerciante local”.</p>
<p>No final dos anos 1930 e início da década de 1940, a imagem do mascate ou clienteltchik polonês, o vendedor a prazo (parcelas fixas), começou a fazer parte da paisagem das ruas de Bogotá e demais cidades colombianas. A atividade dos comerciantes judeus e seus agentes nos bairros mais pobres era vista pelos habitantes locais como algo a ser combatido e denunciado às autoridades. A polêmica surge quando o cidadão comum não consegue entender “como é possível que um mascate que (ontem) comia apenas uma vez ao dia, hoje tenha loja própria e viva como rico”.</p>
<p>A denúncia geral dos comerciantes, dos políticos e da imprensa era que a restrição das cotas migratórias não funcionava no caso dos “polacos”, pois eles, brilhantemente, conseguiam burlar as ditas leis, criando um clima de animosidade e xenofobia no restante da população.</p>
<p>O jornal El Espectador participou também desta campanha antissemita, denunciando “5 mil judeus que exercem uma atividade diferente daquela declarada ao entrar no país”. Os colunistas admitiam que, em pouco tempo, os judeus souberam exercer um comércio ambulante e ainda estabelecer lojas, aproveitando-se da Colômbia para “manter um comércio obsoleto e paquidérmico”.</p>
<p>Os judeus também se dedicaram a setores ainda inexistentes no comércio local, como a alfaiataria. O grêmio dos alfaiates colombianos local combateu fortemente os judeus, pois estes não trabalhavam com preços competitivos, ofereciam pagamento a prazo fixo e ainda se gabavam de sua esperteza face a seus concorrentes diretos.</p>
<p>O jornal judaico La Tribuna saiu em defesa dos membros da comunidade, explicando que “a fermentação industrial e comercial, a redução de preços dos produtos manufaturados no processo de concorrência, outorgando vantagens à população, são elementos que detonam todo sistema feudal”. Resumindo, o comércio colombiano estava decadente e os judeus se aproveitaram de uma situação previamente vigente.</p>
<p>Gradualmente, os judeus colombianos foram migrando do comércio para a pequena indústria, abafando a acusação de que eles, estavam afundando o comércio local. O setor de peles (peleteria) era algo desconhecido, no qual foram pioneiros. Eles também introduziram a indústria de calçados nas cidades da Colômbia. Desta forma nascia uma classe média emergente preocupada em que a população carente pudesse calçar sapatos, pela primeira vez.</p>
<p>A maioria dos artigos publicados na imprensa deixa clara a sensação de ineficácia do establishment diante do sucesso dos imigrantes judeus. Para os jornalistas da época “o semitismo centro-europeu provoca enorme progresso nas áreas do comércio e da indústria, desbancando o elemento colombiano e causando grande prejuízo ao país”.</p>
<p>Esta afirmação preparou o terreno para difundir na Colômbia os Protocolos dos Sábios de Sion, um panfleto antissemita anônimo que circulava livremente nas sociedades latinoamericanas desde 1920. A acusação milenar de judeus gananciosos, usurários e exploradores iria alimentar a literatura colombiana. Na verdade, trabalho duro e saber quando poupar dinheiro explicam o rápido avanço dos judeus na modernidade.</p>
<p>PROSPERIDADE E SOLIDARIEDADE</p>
<p>Diferentemente de outras cidades latino-americanas, em Bogotá não havia um bairro judaico. À medida que progrediam economicamente, os judeus colombianos procuram bairros de nível mais elevado. Este processo é normal e aconteceu também em Buenos Aires (migrando dos bairros Once e Villa Crespo para Belgrano) e em São Paulo (do Bom Retiro rumo a Higienópolis e Jardins). Este processo migratório judaico era urbano e, geralmente, ia acompanhado de um acentuado clima antissemita. Na Colômbia a chamada “questão judaica” nunca teve fortes repercussões nem atos de violência contra a integridade física dos judeus, como aconteceu na República Argentina. O antissemitismo aparecia no confronto entre os temperamentos das pessoas: “o colombiano é bondoso enquanto o polaco (judeu) é repleto de maldade”.</p>
<p>Mas, nem sempre a Colômbia confrontou a bondade com a maldade. Alguns escritores amenizaram estas opiniões saindo em defesa dos comerciantes e artesãos, tentando defender uma “raça digna de respeito”. Havia jornais, como El Faro, de Ibagué, que não hesitavam em fazer propaganda dos comércios judaicos. Os judeus popularizaram o mercado têxtil, tornando acessível o comércio de roupas, que até aquele momento era exclusivo de uma minoria. A comunidade judaica foi prosperando gradualmente; fundou-se o primeiro colégio, uma padaria e um açougue casher.</p>
<p>Os membros da comunidade acompanhavam com preocupação os acontecimentos na Europa conquistada por Hitler. Um exemplo era o do Sr. Lambert Ullman (judeu dono da “Marion”), que não autorizava a entrada de nazistas colombianos no seu armazém “ao saber que seus familiares haviam sido gasificados em Luxemburgo”. Como vemos, na comunidade havia consciência sobre o Holocausto. Duas associações judaicas trabalharam incessantemente para unir a comunidade, a Federación Israelita (patrocinadora da Nuestra Tribuna) e a Unión Hebrea. A relação entre ambas instituições era complicada, até 16 de março de 1936, data em que se juntaram numa única entidade.</p>
<p>Na Colômbia também achamos judeus fora do comércio. Através do judeu Bernardo Pellman, houve tentativas institucionais de criar colônias judaicas agrícolas nos 29.308 km² da região de Cauca,“contando com o apoio do governo, que aceitou oferecer toda ajuda financeira para sua concretização”.</p>
<p>As autoridades locais de Bogotá desconheciam os avanços internos da comunidade. Em 1936, o prefeito Jorge E. Gaitán pedia uma doação à comunidade para a fundação de uma escola com financiamento dos judeus de nacionalidade inglesa, americana, alemã, polonesa, francesa, italiana, espanhola, mexicana e sírio-libanesa.</p>
<p>A resposta da comunidade judaica a Gaitán não demorou: “Todos os judeus da Colômbia formam uma unidade nacional, étnica, cultural, sem distinção de procedência e sua representante é a Federación Judía de Colômbia”.</p>
<p>Outro exemplo do desconhecimento generalizado vigente na Colômbia é o fato de incluir nas “listas negras” como fascistas ou nazistas, judeus oriundos da Itália ou da Alemanha. Se o polonês era sinônimo de “judeu”, o alemão era sinônimo de “nazista” e o italiano de “fascista”. A Colômbia vivia submersa na ignorância e pouco conhecia do que acontecia além de suas fronteiras.</p>
<p>PALAVRAS FINAIS</p>
<p>No período entre 1918-1945 a Colômbia recebeu judeus com desconfiança, e a opinião pública nada fez para apagar a intolerância e os preconceitos existentes, todos enraizados numa sociedade hispânica e católica. Convenientemente doutrinada, essa opinião pública colocou a população local contra o elemento judaico, gerando uma animosidade entre as diferentes partes da sociedade.Desta forma, não é incorreto afirmar que a Colômbia foi um dos países mais restritivos da América Latina. Foi também um dos países que votou contra a Partilha da Palestina, em 1947 e não reconheceu o Estado de Israel quando foi criado, em 1948. Foi somente na década de 1960 que Embaixadas foram abertas nos dois países, estabelecendo relações diplomáticas. Em 1988, foi assinado um amplo acordo comercial entre Israel e Colômbia, levando ao fortalecimento dos laços.</p>
<p>Com nove sinagogas espalhadas pelo território colombiano atualmente, a maioria dos judeus vive em Bogotá – cerca de 7 mil, e mais 6 mil na cidade de Barranquila. Há pequenas comunidades em Medellin e em cidades de veraneio como Cartagena, Santa Marta e na Ilha de San Andrés, além de outras em cidades menores como Bello. Segundo estatísticas da comunidade, o número de judeus sefaraditas e asquenazitas é praticamente o mesmo, possuindo cada segmento suas próprias entidades religiosas e culturais. A Confederação das Associações Judaicas da Colômbia, instalada em Bogotá, é a entidade-teto da comunidade, reunindo todas as instituições judaicas do país.</p>
<p>BIBLIOGRAFIA<br/> Donadio, Alberto - Galvis, Silvia, Colombia Nazi 1939-1945. Editorial Planeta, Bogotá 1986, 358 págs.<br/>
Hernandez Garcia, J.A., Emigración judia em Colombia em los años 1930 y 1940. Um caso particular: los polacos. Pensamiento y Cultura Vol. 10 (noviembre de 2007).<br/>
Hernandez Garcia, J.A., Judíos en Colombia, entre el antissemitismo y el triunfo comercial. Bogotá.<br/>
Osterwald, Ariane, Los judíos colombianos: La historia de um pueblo escondido. University Honors in Spanish Studies. Department of World Languages and Cultures. College of Arts and Sciences. Spring 2003. [Texto na Internet].</p>
<p>Prof. Reuven Faingold é historiador e educador, PHD em História e História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. É também sócio fundador da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil e, desde 1984, membro do Congresso Mundial de Ciências Judaicas de Jerusalém.</p> Conhecimento e visão de Deus na poesia de Yehuda Ha-Levi - Cecilia Cintra Cavaleiro de Macedotag:judaismohumanista.ning.com,2016-07-08:3531236:Topic:1099422016-07-08T10:48:46.069ZJayme Fucs Barhttps://judaismohumanista.ning.com/profile/JaymeFucsBar
<p><b><a href="http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/6187">Conhecimento e visão de Deus na poesia de Yehuda Ha-Levi</a></b></p>
<div class="post-body entry-content"><div><b>Cecilia Cintra Cavaleiro de Macedo</b></div>
<div><b>RESUMO:</b> Yehuda Ha-Levi foi um pensador judeu medieval. Embora seja considerado por alguns estudiosos um filósofo no âmbito do neoplatonismo, sua única obra que apresenta conteúdos filosóficos é o Kitab al Khazari/Sefer ha Kuzari, na qual…</div>
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<p><b><a href="http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/6187">Conhecimento e visão de Deus na poesia de Yehuda Ha-Levi</a></b></p>
<div class="post-body entry-content"><div><b>Cecilia Cintra Cavaleiro de Macedo</b></div>
<div><b>RESUMO:</b> Yehuda Ha-Levi foi um pensador judeu medieval. Embora seja considerado por alguns estudiosos um filósofo no âmbito do neoplatonismo, sua única obra que apresenta conteúdos filosóficos é o Kitab al Khazari/Sefer ha Kuzari, na qual desfila sérias críticas à filosofia de seu tempo e uma defesa incondicional da religião judaica frente às suas concorrentes. De fato, Ha-Levi é mais um poeta religioso que um filósofo, mas, sem dúvida, um dos mais importantes poetas do judaísmo medieval. Neste artigo é discutida a questão do conhecimento e da visão direta de Deus na poesia de Yehuda Ha-Levi, com breves alusões também ao tratamento do tema na obra Kitab al-Khazari, em busca de seu significado no contexto da fé do autor.</div>
<div><b>Palavras-chave:</b> Conhecimento de Deus. Judaísmo. Yehuda Ha-Levi.</div>
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<div><b>Texto completo:</b> <a href="http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/6187/5713" target="_parent">PDF</a></div>
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