JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

 

Como está sua Ecologia Interior?

Vilmar Berna

Um velho índio descreveu certa vez em seus conflitos internos: `Dentro de mim existem dois cachorros, um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil. Os dois estão sempre brigando...` Quando então lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletiu e respondeu: `Aquele que eu alimentar` (Autor desconhecido)

Quando queremos fazer alguma coisa bem feita, como cozinhar um alimento, por exemplo, precisamos nos planejar antes, ter todos os ingredientes à mão, nos assegurar do modo de fazer, da condição do fogão, etc. Na vida não é muito diferente. A felicidade não é obra do acaso, mas depende de uma série de fatores, entre eles, ter objetivos razoáveis, possíveis de serem alcançados, compatíveis entre si, e a determinação de persegui-los de forma consciente e de coração aberto às novas possibilidades, mas sempre lembrando que não há vida perfeita, felicidade perfeita, assim, devemos considerar como natural e razoável uma certa margem de erro e de incapacidade em alcançar os objetivos.

• Planeje o seu tempo dando espaço para vários objetivos em sua vida e realmente obrigue-se a cumprir suas metas, principalmente para não deixar que o trabalho, ou a internet, ou a televisão, por exemplo, tomem conta de todo o tempo da sua vida. Reserve um espaço para a prática de uma arte, exercício, esporte, aprender uma coisa nova, ir ao cinema, teatro, show, dançar, ler um livro, escrever um livro, pintar um quadro, pelo simples prazer de pintar ou escrever, sem se obrigar a ter fama ou fortuna.

• Não espere ter um ataque cardíaco, derrame ou outro problema sério de saúde para só aí entender que os benefícios do exercício físico e de uma dieta são maiores que os prazeres da preguiça e da gula. O exercício dá energia à vida, a preguiça e a gordura excessiva entorpecem. Se não der para sentir prazer com o exercício ou com a dieta, então que seja por disciplina consciente. Trace um plano de trabalho e se empenhe em realizar e, se fraquejar, tente novamente por que você não tem de provar nada a ninguém a não ser a você mesmo.

• Dê mais espaço para as suas emoções sem precisar explicar tudo o que sente, a não ser quando os sentimentos exigem uma explicação, pois o outro não tem de ser adivinho. Viva um dia de cada vez, sem ansiedade pelo futuro que você não domina nem sabe como vai ser ou culpa por um passado que você não pode mais mudar. Muito menos sinta-se tão comprometido com o outro a ponto de valorizar mais os sentimentos dele que os seus próprios sentimentos. Exercite-se em ser flexível com o outro, pois são pessoas diferentes e o que deve importar não é o quanto um ou o outro têm razão, como se amar fosse uma competição para ver quem ganha, mas o quanto podem ser felizes juntos. E, quando tiver de dizer o que o incomoda no outro, faça-o no momento oportuno e sempre com ternura e palavras mansas, pois o objetivo não é ter razão, mas manter a felicidade da relação. É preciso confiar na capacidade do outro em se proteger emocionalmente até mesmo de você, afinal, quando um não quer dois não brigam - nem se amam. É um erro nos fechar para novas possibilidades e insistir numa relação onde se esgotaram as chances de felicidade conjunta. Não sinta-se tão responsável quando um relacionamento não dá certo, pois ninguém é obrigado a gostar de ninguém, e existem tantos nãos no mundo quanto sins.

• Materialize promessas em encontros, reuniões, eventos, festas, que o aproxime dos amigos, parentes e mesmo vizinhos. Tenha mais atenção com o outro, tanto no sentido de valorizar as pessoas de bem, quanto proteger-se de oportunistas, ainda que nos sejam muito próximos. Assim que puder, identifique-os e não os deixe ficar tão à vontade e sem limites em sua vida. É uma forma de protegê-los deles mesmos para que não façam estragos que venham a se lamentar mais tarde. Não existem pessoas perfeitas, relacionamentos perfeitos, família perfeita, muito menos as pessoas têm de ser como imaginamos ou queremos que sejam, e perdoá-las é uma forma de aproveitar o melhor delas e até reforçar laços de afeto, mesmo quando pensam ou agem diferente de nós.

• Procure extrair qualidade de vida em cada momento, seja no cuidado com a alimentação, no respeito às horas necessárias de sono, na presença de uma boa música, em evitar engarrafamentos e barulho, no uso racional da televisão que tende a ocupar todo o nosso tempo livre e ainda gerar o entorpecimento dos sentidos e dos valores. Se esforce por manter sua casa limpa, organizada, perfumada. Torne-a um lugar para o qual você tem prazer em voltar sempre e se sentir em paz e protegido.

• Busque a coerência entre o seu pensamento, seu discurso, suas emoções e sua prática, mas sobretudo, aceite-se como você é, com capacidades e limitações, como qualquer outro ser humano. Recuse estereótipos ou preconceitos sobre como um homem ou uma mulher devem agir e seja você mesmo. Nem exija de você mais do que é capaz de dar. Não se compare com outros. Você não tem que vencer sempre, você só tem que ser feliz e fazer o melhor que tiver ao seu alcance.

• Realize com regularidade uma ação voluntária. Se temos a consciência de que o mundo precisa melhorar, nada mais coerente que nos empenharmos nessa melhoria, mas na medida de nossas possibilidades e limites, e não das necessidades de tudo o que precisa ser feito. Não pense que estará ajudando apenas o mundo, mas a você próprio, sentindo-se útil e valorizado.
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Será tarde demais?

Se você é dessas pessoas, como eu, que detesta reclamações, então pare de ler agora mesmo este artigo, pois meu intuito aqui é reclamar. Sei muito bem que em tudo existem vários lados, que não há nada bom nem mau completamente, por isso procuro viver positivamente, buscando sempre nas situações e nas pessoas o que há de bom e bonito.

Não se trata de rejeitar todo o mau e só pretender o bem, por que acredito sinceramente que carregamos dentro de nós igualmente a capacidade de escolher o bem ou o mal e o ideal é que cheguemos a um nível de equilíbrio entre o mau e o bem a ponto de nos tornarmos cada vez mais pessoas melhores, felizes, amorosas sem que isso signifique passar por cima dos outros, maltratar nossos semelhantes ou mesmo os que não são semelhantes, mas que, como nós, são passageiros neste frágil e diminuto planetinha que mais parece uma poeira cósmica perdida no espaço sideral.

Somos, acredito, o resultado de nossas escolhas. E não escolher é o pior tipo de escolha que podemos fazer, pois estaremos permitindo que outras pessoas escolham por nós. Pode até ser mais confortável, não ter que decidir coisa alguma e seguir o bando, como ‘marias vai com as outras’. Mas, por mais ridículo que possa parecer esta idéia, é exatamente isso que estamos fazendo quando aceitamos sem questionar situações que são um atentado contra a nossa natureza humana, e que nos faz cada vez mais infelizes, impacientes uns com os outros, irritados.

Então vou reclamar mais um pouco. Como deixamos que as coisas chegassem a esse ponto? Como iremos sair disso? Está cada vez mais impossível ir a qualquer lugar hoje sem ter de enfrentar engarrafamentos, agravado por um transporte público que nos obriga a andar espremidos como sardinhas em lata, ou falta de lugar para estacionar, ou flanelinhas, ou o calor insuportável das ilhas de calor em que se transformaram nossas cidades.

A programação da TV aberta é um verdadeiro atentado contra a dignidade humana, onde – com raras exceções -, quase que o tempo todo é mostrado o lado feio, mau, violento, da nossa natureza, onde o egoísmo, a falta de solidariedade, a esperteza, a ambição e o pior de nós é elevado como valor a ser perseguido, onde o dinheiro parece ter transformado tudo em mercadoria e, dependendo de quanto você tem no bolso, pode comprar tudo: amor, felicidade, Deus.

A falta de segurança tem feito mais mal a todos nós que o roubo de uma carteira ou carro. Nos roubou a confiança no outro. Nas grandes cidades as pessoas passam umas pelas outras sem um sorriso, como se cada um que se aproximasse fosse uma espécie de bandido em potencial, e nem adianta ser uma mulher bonita, por exemplo, ou um senhor bem vestido, pois os estelionatários são pessoas exatamente assim, muito simpáticos e envolventes. Ou seja, cada vez mais, as pessoas não são dignas de confiança, até que provem o contrário.

Os shows musicais parecem feitos para surdos. Invariavelmente o som é tão alto que mal conseguimos ouvir a voz dos artistas. Pode ser uma estratégia para que as pessoas não consigam se ouvir uma as outras, a fim de se suportarem melhor.

No cinema parece que só os EUA produzem filmes no mundo, e sequer conseguem ser muito criativos, pois de uma forma ou de outras as histórias são sempre uma variação qualquer de heróis individuais lutando contra o sistema, onde sempre se dá um jeitinho de tremular uma bandeira americana em algum ponto.

Como ambientalista costumo dizer que detesto ter razão, pois quando chegam a me dar razão, geralmente é por que é tarde demais.

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O que mais podemos querer?

`Há pessoas que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido` (Confúcio).

A vida, em geral, nos dá muito mais do que pedimos, ou sonhamos. E mesmo quando ela nos faz sofrer, oferece-nos a oportunidade de crescer e amadurecer e nos dá a percepção otimista do quanto vale a pena viver intensamente cada minuto e nos faz aceitar com generosidade nossas cicatrizes, pois assim como as carregamos no corpo físico - e isso não nos impede de viver e ser felizes -, o mesmo ocorre com as cicatrizes que carregamos na alma. Nossa tarefa principal é, quando sentirmos aquela tristeza sem causa aparente, procurar descobrir estas cicatrizes e os sentimentos que elas provocam e não deixar que nos façam sofrer ainda mais do que os fatos que as geraram já fizeram. Nossas cicatrizes nos tornam pessoas únicas, e muitas vezes nos tornam também pessoas melhores, ou que aprenderam a tirar da dor a inspiração para a arte, por exemplo.

O que mais podemos querer? Muitas vezes temos bem a nossa mão tudo o que precisamos para ser felizes, mas, insatisfeitos, sempre estamos à busca de mais alguma coisa que falta. Pessoalmente, preciso de muito pouco. Ficaria feliz e plenamente satisfeito se pudesse ler e escrever mais, comer bem, aprender definitivamente a dançar, concluir meu curso de mergulho, dormir as horas necessárias, amar e ser amado de forma completa, generosa e sem ansiedades, gozar de boa saúde física, mental e emocional, viver em maior contato com a natureza e em sintonia com a minha religiosidade.

O que mais podemos querer? Não somos uma ilha. Nossos desejos devem ser generosos e incluir os que ainda dependem de nós, mas na medida de nossas forças e possibilidades. Devemos nos esforçar sinceramente para fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, e não tudo o que preciso ser feito, pois devemos ter a humildade de reconhecer que existem problemas que foram criados por sucessivas gerações ou por milhares de pessoas, e não será uma pessoa, por mais bem intencionada que esteja, que conseguirá assumir para si ou seu pequeno grupo, sozinha, as dores do mundo. Muito menos devemos assumir para nós, mesmo que o consigamos suportar, os fardos de outras pessoas, especialmente das que nos são próximas, pois cada um deve ser capaz de assumir os riscos e os perigos dessa vida, responsabilizando-se pelos seus atos, caso contrário só irá gerar mais sofrimento inútil e não irá adquirir o necessário aprendizado moral que forja os bons seres humanos.

O que mais podemos querer? Um mundo melhor, onde a idéia de não-violência seja mais que uma promessa, mas uma possibilidade concreta. E que não seja apenas uma idéia bem aceita para os que admiramos ou conseguimos tolerar, mas inclua também – e principalmente – os que nos são indiferentes, e mais os nossos inimigos e adversários. Por mais ingênuo e arriscado que seja, e efetivamente é, é preferível viver num mundo em que - coletivamente - acreditamos que todos são bons, generosos, honestos até que – individualmente – nos provem do contrário e nos obriguem a nos defender e tomar providências.

E que a idéia de não-violência seja mais ampla, e inclua os que não são semelhantes, os animais e o próprio planeta.

E que esses novos compromissos sejam mais que palavras, e se confirmem em atos concretos.

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Estética e Felicidade

Existem mentiras e meias verdades que o mercado apresenta como verdade e as pessoas não costumam questionar. Se isso não significasse infelicidade, tudo bem, mas o problema é que fazem as pessoas gastarem dinheiro e ainda ficam infelizes tentando ser o que não são e deixam de sentir o prazer de serem como são.

Por exemplo, quem disse que gordura é sinônimo de doença? Essa é uma das mentiras que o mercado adora repetir para que as pessoas emagreçam e tentem permanecer magros, gastando rios de dinheiro em academias e laboratórios, como se ser magro fosse garantia de adoecer menos. Se isso fosse verdade, seria fácil para os donos de farmácias, laboratórios, hospitais que teriam nos gordos seu público alvo para enriquecer.

Também é mentira que os gordos tendam a morrer mais ou ficar mais doentes que os magros. É mentira que ser magro é garantia de correr menos riscos com doenças ou mortes. Não estou falando de doença, estou falando de biotipo. Claro que existe a obesidade ou a magreza patológica, aí sim, doenças que precisam ser tratadas por que impedem a vida normalmente.

A indústria do emagrecimento sabe que não pode usar o argumento da saúde, pois ele não se sustenta, por isso usam o da beleza. Vendem um padrão de beleza que não existe no cotidiano, e os consumidores passam a vida sentindo-se infelizes com seus corpos, quando deveriam se sentir felizes, maravilhosos, sensuais, por que são como são, gordos ou magros, pretos ou brancos, morenos, loiros, cabelos cacheados, lisos ou enroladinho, etc.

Quanto à atividade física, é uma questão de gosto. Tem gente que gosta e se sente bem, tem gente que não gosta. E mais uma vez, uma pessoa com bom condicionamento físico não significa que esteja com mais saúde, se não atletas não morreriam nem teriam problemas de saúde, ainda que se comparados em relação a quem não faz exercício. O problema, mais uma vez, é quando a falta de atividade física, ou a atividade em excesso, impedem de alguma forma que a pessoa seja feliz ou desenvolva suas atividades normalmente. O mercado, mais uma vez, vende a mentira de que o ócio, a preguiça, são pecados mortais a serem combatidos, por que precisa que as pessoas produzam excedentes para a mais-valia, e até mesmo o lazer, o ócio, têm de ser produtivos de alguma forma (ou seja, ou fazer a pessoa gastar ou ganhar dinheiro). Novas mentiras que infelizmente as pessoas tendem a assumir como verdade sem sequer questionarem, sem sequer ouvirem seu próprio organismo reclamar, ou mesmo a razão reclamar.

O ideal seria que as pessoas pudessem sentir prazer em ser como são em vez de pretender padrões de beleza que não condizem com a realidade. Basta olhar à nossa volta para perceber que dificilmente se encontram tais belezas em nosso cotidiano. As pessoas são naturalmente gordas ou magras, altas e baixas, feias e bonitas, cada um de acordo com seu biotipo que herdou da natureza através de seus pais e avós. Mas, infelizmente, nos desligamos tanto da natureza e nos tornamos tão infelizes com os modelos que o mercado arranja para nós, onde só conseguimos nos adaptar não sem muito esforço, e esforço que tem de ser permanente, que são poucos os que conseguem se curtir e se sentir felizes assim mesmo, como são. E fica cada vez mais difícil encontrar um parceiro que goste da gente exatamente por que somos assim. Mas quando a gente encontra, se apaixona para sempre.

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Aprendendo a Amar

Ninguém nasceu para viver sozinho, por isso o amor é tão importante, pois ele cria uma espécie de ponte que une diferentes personalidades. Isso não significa que duas pessoas que se amam se transformam numa só. É o contrário. Para seduzir e manter o outro a quem amamos, precisamos aperfeiçoar o que há de melhor em nós, e não se consegue isso através da anulação, mas do aperfeiçoamento de nossa própria individualidade. As pessoas aceitam naturalmente que a matemática, por exemplo, de tão importante deve ser aprendida na escola, com livros e cadernos sobre o assunto. Mas e o amor? Também é muito importante, mas ninguém nos ensina. Será que é por que acham que já nascemos sabendo amar? Por que temos de aprender sobre o amor sempre na base da tentativa e erro?

A primeira coisa que descobrimos é que não basta sentir-se atraído por alguém para dar certo no amor. Desejo (ligado ao nosso cérebro primitivo, instintivo), atração física (ligada ao nosso sistema linfático) e vínculos (ligado ao cérebro racional) são como tripés que sustentam o amor. Faltando uma das pernas, o banquinho não fica em pé. Mas não existe uma ‘pessoa certa para amar’, tipo príncipe encantado. O que existem são oportunidades de descobrir afinidades no outro que valerão a pena investir no estabelecimento de vínculos permanentes, eternos enquanto durem, como já dizia nosso poeta Vinícius de Moraes. Pretender construir uma relação de amor apenas baseado no desejo ou na atração física é como colher uma flor. No início ela é linda e perfumada, mas logo depois murcha e morre. A paixão tem uma natureza efêmera por si só e cumpre o importante papel de nos fazer romper a inércia e nos impulsionar em direção ao outro. A partir daí, é preciso o esforço de construir a relação a partir das afinidades descobertas, como uma flor que precisa ser semeada e mantida com cuidados que precisam ser constantes.

Existe a ilusão de imaginar que quem ama não briga. Às vezes os filhos não entendem as brigas dos pais e acham que eles não se gostam. Outras vezes, os pais escondem seus desentendimentos dos filhos. Precisamos entender que conflitos não significam desamor. Não há duas pessoas iguais no universo. Se somos diferentes uns dos outros, é natural existirem pontos de atrito e divergência, mesmo entre pessoas que se amam. Existem, entretanto, diferentes maneiras de expor nossas diferenças. A mais correta é através do diálogo, da conversa franca. A violência, seja por gestos ou palavras, nunca se justifica. Quem ama nunca agride. Mas, assim como um ambiente de permanente disputa e briga não é saudável, a ausência de conflitos também pode não ser; quando essa aparente harmonia resulta da opressão, em que um dos dois está dominado pelo outro, a ponto de não ser capaz, ou de não ter coragem, para expressar-se livremente, de acordo com sua personalidade. Às vezes nem tudo o que gera discórdia pode ser mudado naquele momento e é preciso reencontrar o ponto de equilíbrio, onde o amor, a amizade, sejam capazes de agir para superar as diferenças. O grande desafio de quem ama é ter a sabedoria de lutar pelo que pode ser mudado e ter paciência para aceitar o outro como ele é, ajudando e criando condições favoráveis para a mudança.

O amor é, sem dúvida, uma das experiências mais ricas que um ser humano pode ter. Mais que um simples sentimento, o amor é uma arte, uma habilidade. Por isso, não basta encontrar uma pessoa certa para amar. É preciso aprender a amar essa pessoa. E isso exige teoria e prática, como em toda arte, e uma grande atenção para as mudanças à nossa volta. O amor é uma arte muito especial, pois estamos sempre aprendendo, sem nunca acabar o aprendizado, pois a pessoa que amamos está em permanente mudança, assim como nós próprios e o mundo à nossa volta. Vale a pena nos dedicar a aprender essa arte e desenvolver cada vez mais nossa capacidade de amar.

Ao contrário do que se pode pensar, não existe um só tipo de amor. O mais conhecido é o amor entre homem e mulher. Neste tipo de relação, um quer o outro para si não admitindo dividir com outros. Já entre pais e filhos ocorre outro tipo de amor. Os pais não desejam os filhos para si, mas esperam que cresçam para a vida. O amor à pátria, a um time de futebol, estimula o amor coletivo, a vontade de construir um país melhor ou torcer pelo time do coração. O amor à humanidade nos motiva a sermos solidários com os que sofrem, ainda que não os conheçamos.

Mas de todos os tipos de amor, talvez o mais desafiante seja o amor a Deus, pois eleva nosso espírito e nos aproxima do Criador, transmitindo-nos um sentimento de plenitude, de ser parte de um todo muito maior que nossas simples existências, que nos torna tão infinitos quanto o Universo do qual fazemos parte sem nos dar conta por estamos aprisionados em nossas pequenas individualidades. Antes de trabalhar catequese ou doutrina de uma religião com os jovens deveria ser necessário despertar sua espiritualidade, sua religiosidade, sua crença num ser criador de tudo. Ao ouvirmos o canto de um pássaro, por exemplo, no meio das folhagens, apesar de não vermos a ave, pressupomos sua existência. Com Deus ocorre semelhante. Não podemos vê-lo, mas percebemos sua obra a nossa volta. A religião desempenha o importante papel de ajudar a trazer Deus para perto de nós. Mas este é um caminho de mão dupla, pois exige que também nos aproximemos de Deus, que nos tornemos dignas Dele. E como se faz isso? Buscando a Deus? Não, buscando ao próximo. Deus se revela no amor ao próximo. Aliás, o Evangelho define de forma simples e direta: Deus é Amor. Uma pessoa que estude muito e saiba muito sobre Deus, não é necessariamente uma pessoa que esteja próxima de Deus. É o caminho do amor que nos faz dignos de Deus.

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Vilmar Berna fundou e edita o Jornal do Meio Ambiente e o site www.jornaldomeioambiente.com.br considerados importantes referências na democratização da informação ambiental no Brasil. É autor de mais de 13 livros publicados. Como ambientalista fundou diversas associações ambientalistas sem fins lucrativos como os Defensores da Terra, Univerde e o IBVA – Instituto Brasileiro de Voluntários Ambientais, do qual é o atual presidente. Recebeu em 1.999, no Japão, pelas Organizações das Nações Unidas, o Prêmio Global 500 Para o Meio Ambiente, concedido antes a personalidades como Chico Mendes e Betinho. Em setembro de 2003, Vilmar recebeu também o Prêmio Verde das Américas.

Contato: vilmarberna@jornaldomeioambiente.com.br

Atualizado pela última vez por Jayme Fucs Bar 16 Out, 2009.

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