JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Como pode ser que no calendário judaico já estejamos no ano de 5781?
E é a partir de quando que começamos a contagem?
Realmente, já ouvi muitas pessoas questionarem nossa forma de contar o tempo. Muitos me perguntam: de onde surgiu essa ideia?
O que vamos aprender juntos ao longo dessas linhas é como esse processo de definição da contagem do ano judaico aconteceu. Além disso, vamos entender melhor o calendário judaico e as modificações que ele sofreu através dos 3500 anos de história judaica.
O que sabemos é que no passado bíblico o povo de Israel sempre contava o ano em função de uma grande ocorrência histórica, que serviu como princípio dos anos. Para o povo de Israel, o evento que vai definir a contagem do ano judaico é o Êxodo do Egito.
Se tivéssemos mantido essa tradição e esse costume, estaríamos hoje no ano de 3333 (do Êxodo do Egito), que corresponde ao atual ano judaico de 5781.
Já sei que alguém aí deve estar se perguntando: como sabemos disso? Como é possível saber que esse é o ano 3333 desde o Êxodo?
Sabemos por que está escrito!
“No segundo ano, os filhos de Israel deixaram a terra do Egito”, essas escrituras aparecem no Livro dos Reis (I e A).
Mas como o judaísmo é muito dinâmico e vem sofrendo constantemente muitas mudanças, ajustes e adaptações durante a sua existência, essa tradição foi alterada no período da destruição do Primeiro Templo, em 586 antes da Era Comum, fato que levou ao cativeiro da Babilônia. Por força da influência externa dessa primeira grande diáspora, o povo de Israel absorveu muitos dos costumes da cultura babilônica e de toda a região da Mesopotâmia, fato que não só influenciou a contagem do tempo nesse período, mas também a própria nomeação dos meses do calendário judaico.
Muitos não sabem, mas a origem de todos os nomes dos meses do nosso calendario atual vem do idioma acádio e não do hebraico. Inclusive, a atual tradição de colocar o início do ano no outono tem sua origem no calendario da antiga Babilônia. Os nossos sábios adotaram esse costume durante o Exílio e o trouxeram consigo no retorno para a Terra de Israel.
Mas essa realidade mudou com a grande proeza realizada pelos asmoneus (os Macabeus), que conseguiram expulsar os gregos da Terra de Israel e liberar o Templo de Jerusalém do jugo dos estrangeiros, proporcionando o retorno da liberdade e da autonomia do povo judeu em seu próprio território.
Graças a esse grande acontecimento houve a definição de uma nova forma de contagem dos anos judaicos. A prova disso é o que está escrito no Livro dos Asmoneus: "O jugo dos gentios foi removido de Israel, e o povo de Israel começou a escrever em livros e notas um ano para Shimon, o Sumo Sacerdote".
Na verdade, após o fim do período dos Macabeus e a conquista da Judeia pelo império romano, a contagem do ano sofreu várias modificações, principalmente por influência da cultura romana. Apesar disso, podemos identificar um costume muito ligado à tradição judaica: contar os anos através da “shemitah".
Para quem não sabe, “shemitah” é o descanso da terra cultivada depois de sete anos para que ela se recupere (o “shabat da terra”). Essa é uma forma diferente de contagem dos anos dentro do próprio calendário judaico, comprovada nos pergaminhos de Qumran. Também sabemos que esse formato de contagem foi usado durante todo o período da Mishnah (Séculos II e III da Era Comum)
Após a destruição do Segundo Templo no ano 70 da Era Comum, houve um grande vácuo no mundo judaico quanto à forma e ao costume da contagem dos anos, mas sabemos que a manutenção de uma tradição persistiu em certos lugares, onde judeus passaram a usar a contar os anos a partir da destruição do Segundo Templo.
Mas quando os judeus começaram a contar os anos judaicos da forma que conhecemos hoje?
Na verdade, esse processo de redefinição somente começou depois da conquista da Judeia pelos árabes no ano 630 da Era Comum, quando a Terra de Israel deixou de ser dominada pelo Império Bizantino. Toda essa problemática envolvendo a contagem dos anos gerou uma discussão que por muito tempo procurou definir a resposta para essa pergunta:
A nova contagem dos anos do novo calendário judaico vai ser em função da criação do mundo? Ou a partir da criação do primeiro ser humano?
O que vamos ver será uma diversidade de ideias e de controvérsias sobre o assunto, entre elas a opinião do famoso sábio e rabino Saadia Gaon, que foi um dos grandes opositores da definição do calendário judaico através da criação do mundo.
Saadia Gaon formulou seu raciocínio com base nas provas e nos cálculos extraídos do que está escrito na Torah, segundo os quais o ano judaico atual, 5781, tem como referência a criação do ser humano e não a criação do mundo.
Existe uma outra definição criada pelo rabino Eliezer. Segundo ele, "o primeiro ser humano (Adão e Eva) foi criado em Rosh Hashanah, que é o primeiro dia da criação do mundo".
Talvez essa afirmação tenha gerado uma grande confusão, pois essa é uma ideia bastante contraditória, mas o interessante é que muitos interpretam essa afirmação do rabino Eliezer de forma diferente. Segundo essa interpretação, o sentido da criação do "mundo" está relacionado com a criação do "mundo vindouro" ou o "mundo” humano!
Por sua vez, os defensores da contagem dos anos judaicos a partir da criação do mundo usam como referência uma tradição do Talmud, que diz que a contagem do ano judaico teria sido mostrada a Moisés por Deus durante as duas semanas antes do início do Êxodo, numa lua nova do mês de Nissan. Esta revelação teria acontecido 2.448 anos após a criação do mundo.
Certo ou não, o importante é entender que os conceitos de tempo no período antigo eram muito diferentes de nossa forma de entendê-lo hoje. Por exemplo, o nascimento de uma pessoa (aniversário) era contado e comemorado no dia seguinte à data do nascimento! Explicando melhor: se uma pessoa nasceu no dia 13 de julho, ela comemoraria o seu aniversário sempre no dia seguinte: 14 de julho! De acordo com o pensamento judaico, o ano zero não existe.
Essa discussão se tornou um verdadeiro grande conflito durante os Séculos X e XI, com a divisão do mundo judaico em duas vertentes. A discussão não era em relação ao número do ano judaico em que os judeus estavam, mas sim sobre qual parâmetro deveria permanecer na contagem dos anos. Os judeus da Europa adotaram o conceito da contagem do ano judaico através da criação do mundo, mas os judeus do Oriente vão adotar o parâmetro da criação do ser humano.
Com o tempo, a discussão acabou se resolvendo com o surgimento de um certo consenso, segundo o qual a contagem do ano judaico está relacionada à criação do ser humano e não à criação do mundo!
Porém, ainda podemos ler em vários textos e artigos, ou até ouvir de vários rabinos, que a contagem do ano judaico se dá através da criação do mundo!
Mas... Deixo a vocês definirem o seu próprio critério! Estamos a 5781 anos da criação do mundo? Ou da criação do ser humano?
Mas não se esqueça de que também há aqueles que ainda mantêm a contagem do ano judaico através do costume mais antigo, registrado na Torah, que foi a saída do Povo de Israel da terra do Egito 3333 anos atrás.
Shabat Shalom!
Fontes pesquisadas:
 מניין השנים בלוח העברי – ויקיפדיה (wikipedia.org)
 המניין לבריאת העולם והתחלת השימוש בו - הרב ד"ר שי ואלטר
 הלוח העברי הקבוע – תולדות ומבנה - עלי מרצבך וערן רביב

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