O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana
DIVAGANDO
E aqui estou eu, que nada sei do que sabem os sábios, perguntando-me que culpa terão os outros dos meus próprios pecados, e dos meus defeitos, e dos meus erros, por malvados e piores que sejam “os outros”.
E aqui estou eu, como judeu, como sionista, como inimigo da guerra, como porta-estandarte da concórdia, insistindo e indagando qual a relação entre os povos árabes e as suas idéias e as suas guerras e os seus fanatismos e os seus ódios, e os meus próprios defeitos, os meus falhos, as minhas mentiras, as minhas atrocidades, os meus desprezos.
E aqui estou eu, como judeu anônimo, que sabe pouco mas que procura respostas, limitando-me a constatar que a culpa dos nossos defeitos é nossa e não dos “outros”, por malvados e piores que “os outros” sejam.
E aqui estou eu, cansado de ter que ouvir repetidamente o conto sobre o malvados que são “os outros”, nem nervoso ficando como outrora, porque sei que se trata de auto-defesa de quem quer provar que nós somos os malvados que somos por culpa do “outro” e não nossa.
FAZENDO AS CONTAS
E sim, a culpa é nossa. E me incomoda quando alguns arrancam os cabelos porque morre um judeu inocente em Sderot, mas nem estão aí quando morrem 7 ou 8 ou 23 palestinos inocentes pelo simples fato de estarem nas proximidades da casa de um pretenso terrorista.
Sim, aqui estou eu, farto da hipocrisia que se esconde sob esse montão de mentiras e manipulações.
A culpa – gostemos ou não - é essencialmente nossa. Enquanto sigamos ocupando, a culpa continuará sendo nossa. Enquanto continuemos a pensar que vamos ficar com um só metro quadrado que não nos pertence, a culpa continuará sendo nossa. Enquanto continuemos a fingir que somos a vítima e eles o verdugo – sem vice-versa -, a culpa continuará sendo nossa.
E sim, aqui estou eu, depois de ter entendido que sobre muitas coisas não se aprende nem nos livros nem nas universidades. E que quando alguém diz ser judeu progressista, mas defende posições de direita, uma de duas: ou se mente, ou nos mente, e que quando alguém se diz da direita, mas defende o fundamentalismo que hoje carcome os pilares do Estado de Israel, uma de duas: ou se mente, ou nos mente.
Sim, por mais que não gostemos, os povos árabes não tem nada a ver – a não ser subsidiariamente - com a barbarização ética do povo judeu assentado no Estado de Israel. Os governos de Israel é que são os verdadeiros e principais culpados, pois inculcam o medo, manipulam a verdade, injetam o ódio, para permanecerem no poder, já que essa é a fórmula que a direita e o militarismo aplicam desde sempre “all over the world” com “excelentes” resultados.
Ou será que alguém em sã consciëncia – não hipnotizado pelas consignas manchadas de sangue inocente - acredita que têm igual peso um qassam que pousa numa casa do Neguev ferindo ou até matando o inocente que ali estava, e os bombardeios “de resposta”, nos quais sempre morrem mais do que aqueles que eram o alvo original? Ou alguém acredita que Israel pode matar cinquenta dos “outros”, mas que nossos inimigos não podem matar um dos nossos?
DEDUZINDO
A única solução pragmática para o problema do Oriente Médio é – segundo a minha opinião – negociar como se tudo o que passou não tivesse acontecido; como si o presente fosse o princípio do caminho e não uma curva mais de uma estrada cheia de buracos.
Não comparar situações, pois fazê-lo conduz a um beco sem saída, o mesmo de sempre, cheio de cadáveres. Negociar com os piores inimigos, pois são eles “os outros” com os quais temos que chegar a um acordo permanente.
Abandonar unilateralmente os territórios ocupados (com exceção de Jerusalém, cujo status de capital de dos Estados será parte da negociação), trazendo para dentro das fronteiras do Estado de Israel - usando a força, se necessário - a todos os enganados pelos sucessivos governos desde 1967 que cairam no conto do vigário de que Eretz Israel hagdolá (O grande Israel) e outras bobagens pelo estilo, e principalmente aos que em nome de um messianismo desprezível querem destruir o Estado de Israel e em seu lugar erigir um Israel bíblico.
CONCLUINDO
O sonho sionista está finiquitando. O estão matando pelas costas os judeus extremistas, os fundamentalistas laicos e religiosos, os aproveitadores, os corruptos, os políticos vendidos. Desde Beguin até Netaniahu(com exceção parcial do governo Rabin). Hoje Israel é um país mais, como todos. Subdesenvolvido, injusto socialmente, pobre, sem qualquer possibilidade a curto e médio prazo de reverter a situação.
E a culpa é nossa, como coletivo. E em particular dos israelenses - sejam os esquerdistas de opereta, porque deixaram que a direita desfizera o feito, deslegitimando as bases programáticas e éticas sobre as quais se fundou o Estado de Israel laico e democrático, ou sejam em igual medida os israelenses direitistas intolerantes, por pensar que a nós tudo está permitido e que os “outros” não passam de ser formigas, e que basta com dedetizar para que desapareçam.
E aqui estamos: um país quase econômica e eticamente falido, o qual quase nenhum judeu tem como destino final, e muitos, muitíssimos dos seus habitantes procurando urgentemente trocá-lo por uma cada vez mais atrativa diáspora que ganha força e legitimidade a cada bombardeio coletivo indiscriminado, a cada assentamento ilegal que se permite, a cada passo que o governo dá em direção do precipício.
Bruno Kampel
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