JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

As Carolinas, tanto a do Norte quanto à do Sul, tem estações de ano bem contrastantes e um clima dos mais aprazíveis em que já vivi - salvo durante os poucos dias abafados e quentes de Verão. As estações nessa região são bem delineadas: chegam tímidas, em anúncios sussurrantes e quase que imperceptíveis elas discretamente partem, fechando uma cortina diáfana que mal nos permite vislumbrar o prenuncio da próxima estação; e este ciclo se repete calma e previsivelmente como estivéssemos em um universo Newtoniano, ordenado e manso, tão diferente do visto pela óptica da Física Quântica: Um universo de Física fácil, onde as “quedas das maçãs” são meramente explicadas pela ação dos Ventos do Norte e os do Golfo do México - ou simplesmente por estarem maduras.

Entre as estações há um delineamento muito grande: Por exemplo, no Verão são esperados dias quentes que podem chegar até aos trinta e oito graus Centígrados e ao sol acima dos quarenta; de contrapartida, no inverno, podemos a chegar a 4 graus negativos no meio em Fevereiro, ápice do Inverno. Como eu disse, aqui temos uma meteorologia previsível onde as mudanças atmosféricas são quase palpáveis - salvo por um furacão ou tornado perdido que chegam a cada dez anos arrancando algumas arvores e telhas das casas. Mas, de modo geral, a Dona Natureza passeia calma pelas Carolinas, displicente e morosa como se tivesse o sotaque Sulista, arrastado como melado da Geórgia.

 Eu sempre começo a contar as estações a partir da Primavera, que, para nós no Sul, tem o seu começo em Maio. Conto as estações a partir da primavera, pois assim elas me lembram de mais o ciclo da vida: Na Primavera temos os dias mais quentes e mornos, salpicados de alguns dias frescos brigando com o calor, e no final ganha a briga o calor e se fecham as cortinas nos dias mais amenos, a brisa fresca - e o ar condicionado acaba por substituir as janelas abertas. À medida que se esquentam os dias, abrem-se as piscinas: Os lagos e as praias começam, timidamente, a ser povoados. Aparecem às sinfonias de cigarras, grilos e sapos e também as bermudas, biquínis, sandálias de dedo e as camisetas; óculos escuros; loções de praia e os cortadores de grama e ronco das Harley Davidson.

Os refrescos e sucos surgem em abundancia, mas a bebida do Sul é o Chá Gelado – O Ice Tea. Os velhos se animam e reaparece em cadeiras de balanço nas varandas, o trabalho de jardinagem inicial já foi feita no inicio da estação e de agora em diante a manutenção do jardim será no calor e com bastante suor; os carros começam a trafegar de janelas fechadas com os mais obesos sendo os primeiros a usar o ar condicionado. Também as capotas dos conversíveis começam a baixar; lojas e supermercados de materiais de construção e jardinagem estão no auge de seus displays e descontos de suas mercadorias; frotas de cortadores de gramas estão a venda e pirâmides de são erguidas: Pirâmides de sacos de fertilizantes, de terra de jardinagem, sementes, de tijolos, pesticidas.

Nessa época, aqui no Sul, é tradicional ver muitas crianças vendendo copinhos de limonada a dez centavos em frente de suas casas, na grama verde que sempre é molhada, outras brincando com seus cachorros e nos quintais de muitas casas ouvem-se risadas e barulhos de atividades nas piscinas e o cheiro barbecue e, grama cortada e das piscinas cloradas permeia os subúrbios.

Na Primavera, a grama renasce e cresce rapidamente. As arvores peladas do frio invernal, se enchem de folhas.  Na primeira semana da primavera, alguns grilos arrojados já se arriscam uma cantada fraca e rápida à noite; alguns sapos começam a coaxar. As águas dos riachos e rios ainda são frias. Só mesmo ao morrer a Primavera, ao nascer o verão chegara o coral de sapos e o som uníssono das cigarras, a orquestração de grilos criando uma califonia  de sons quase gregorianos de insetos e batráquio louvando o retorno de vida abundante. As noites são mais quentes, húmidas, abafadas e no campo, à medida que a estação avança, aumenta o ronco barítono e continuo de milhares de cigarras e o coaxar estrondoso de sapos e chega a estridente orquestra de milhões de grilos. O som é intenso e ate espanta alguns visitantes de outras querências. Os patos e gansos selvagens se refrescam em lagos, pais e filhos saem à pescaria ou caça, num Ritual de Passagem, beija-flores zunem pela manhã, roubando o néctar das azaléas, rosas, flores silvestres e das arvores frutíferas afloradas, sempre retardatárias ao desabrochar.

As plantas recomeçam o ciclo da vida timidamente: Suas folhinhas vão aparecendo, o capim queimado começa a renascer primeiro com preguiça e depois com uma pressa furiosa.  À medida que o tempo esquenta, vagarosa e gradualmente vai se modificando e a nossa indumentária: de bem agasalhados capotes e sobretudos invernais, passamos a usar os suéteres leves, camisas de mangas compridas ate chegar a um casaquinho fino  e camisetas e bermudas. A primavera é uma estação boa para se economizar energia gasta em ar condicionado ou calefação: É a época das contas de eletricidade baixas. Também é a época do bom apetite e nos da predisposição a exercícios, com pouco suor e sem a prostração causada por calor intenso.

.Nos condomínios, à medida que avança a Primavera, ha um zumbir constante dos compressores de ar condicionado, crianças brincando a luz do dia ate mais tarde, as juntas artríticas dos velhos doem menos e também as velhas dores físicas e mentais diminuem ou desaparecem com o sol intenso; os dias se tornam longos, languidos e lerdos. Tudo é quente, a vida rola lerda e dourada sob os olhos morosos do Hélio – e nos adoramos reclamar do calor.

Lá para o meio da Primavera já temos alguns poucos dias calorentos, um aviso do Verão eminente, mas, volta e meia há sempre uma noite de friozinho, como as das madrugadas antigas na baixada fluminense, como as de Petrópolis, como o de Santa Teresa e de Pedra Azul: Frio só de causar um bom sono.

Também as arvores começam a vestir-se de galhos e folhinhas novas e verdes, a grama deixa totalmente a cor areia e começa a se esverdear os passarinhos começam a trinar e aparecem mais revoadas de gansos e patos selvagens, buzinantes e alegres, quase sempre em formação de tipo de “V” riscando os céus em busca de seus habitat no Norte, seguindo o líder, no angulo da letra e sempre se  revezando um com outro na liderança do floco, como corredores de equipe de ciclistas num rallie.

Quando ainda tinha uma casa no lago, de varanda da, ao redor da hora do Ângelus, ha sempre uma nuvem amarelada no horizonte das Carolinas neste tempo de Primavera, dando aos céus uma nuance dramaticamente dourada quase Van Goghiana, com dramáticos por de sol em explosão de cores vibrantes. Também os carros e moveis são coberto por um tênue pó amarelado, resultante da prevaricação da natureza em sua reprodução ávida de permutação de pólen, no escasso tempo de verão. Aí muitos têm um certo desconforto: O pólen no ar torna-se tão intenso que trás desconforto e alergias a um grande numero de pessoas nesta ocasião - eu incluso. Mas pouca importância se dá as alergias: é época de sol, de praia, lagos, pescarias, de amar preguiçoso e aproveitar a vida que parece durar para sempre...

Cheguei ao outono: O final do verão é bonito mais triste: Os dias se tornam mais frescos e algumas folhas começam a cair. As roseiras ficam ressentidas e não mais há rosas; os pés de manjericão encarquilham as suas folhas amarelam e morrem. As hortênsias começam a queimar as suas folhas com manchas pretas das geadas periódicas. Mas as arvores e a natureza ainda continua engalanada com o calor da tarde. Ainda se ouve o bate-dentes dos esquilos, o trinar dos pássaros. Os zorros, gambás e veados já começam a aparecer saindo de suas tocas; algumas vezes os encontramos mortos nas estradas, que já começam a ter placas amarelas com um saltitante veadinho pintado em negro em certos trechos, alertando os motoristas incautos do perigo causado por possíveis veados na pista, em busca ávida de procriação, cruzando descuidadamente as estradas.

Mas ate o meio do Outono ainda ha luz em abundancia; temperatura ideal, como se o “Papai do Céu” colocasse um ar condicionado na terra e os humanos tornam-se bem humorados e dispostos, com muitos churrascos nas tardes amenas e viagens familiares nos finais de semana; os Shoppings ficam abertos ate tarde da noite e as estradas cheias de carros de gente alegre que agem como se tentassem esticar o Verão indefinidamente, fingindo ignorar os dias tíbios da primavera, uns acompanhando os esportes pela TV, outros viajando, velejando e sempre as muitas reuniões familiares.

Quando menos se espera o sol começa a ficar preguiçoso, os dias se encurtam e as noites se esfriam. As tardes ainda são razoavelmente quentes, mas nota-se que já necessitamos das mangas compridas e capotes a noite.

É o começo do Outono. Confesso não gostar do fim de Outono: As folhas das arvores começam a cair e os nossos quintais se enchem com vários centímetros de folhas mortas. Elas ao se decomporem criam um fungo que causa alergias. As nossas hortas começam a morrer: Primeiro os cheiros verdes, depois os pés de pimentão, finalmente os tomateiros e depois as arvores frutíferas, que  são as primeiras a sentir e sofrer com o frio, começa a transformar seus ramos em galhadas esqueléticas. Tudo vai se pelando, se amarelando exceto por alguns pinheiros, araucárias e magnólias, arvores impérvias ao frio. As ultimas florezinhas se desabrocham nos meus manjericões e um abelhão retardatário ainda insiste em beijar os seus néctares com um zumbido mais grave. Em uma semana ele também sucumbira com os manjericões...

E chega o Vento Norte, e cai mais as temperaturas.  A casa esfria e pede calefação e a madeira acumulada no verão vai ao fogo das lareiras. É o inverno que chega.

 Mas no começo, o inverno pode ser até revigorante e com a aproximação das Hannukah, parece haver uma alegria no ar: há a tradição linda e pagã das luzes e aí começa a época das festas que parece espantarão os miasmas do frio e as trevas da noite.

 Mas passados as festas o frio aperta. Sentimos o vento gélido pelas pequenas aberturas das portas, das janelas, dos capotes e ate entre a trama do tecido de nossas roupas, e a casa esquentada por fogo e eletricidade torna-se seca. O povo congrega-se em grupos fechados, em igrejas, templos, em casas, restaurantes, supermercados e escolas - e esta aglomeração trás sempre os resfriados e ate influenza. Os mais velhos, com velhas fraturas e contusões voltando a doer, se vacinam - e os mais novos aguentam melhor o tranco dos gripados e espalham germes liberalmente, pois pensam que  todos são – como eles - eternos.

Os dias se tornam turvos, o vento geme, não se ouvem mais os pássaros e passado as festas de primeiro de ano, fica só a friagem, as noites longas, os dias cinza, o frio, e mais frio.

Uns bebem demais, outros comem demais, outros chocalateiam demais - é época de cuidar do peso e contar cuidadosamente às calorias que o corpo clama alto e em bom som para tê-las.

Vem à saudade da primavera, do canto dos pássaros, dos grilos e ate das abelhas e marimbondos. Tornamo-nos introspectivos, enfiamos o nariz entre as paginas dos livros e conversamos poucos. Sim quando neva é ate bom. Muitos pensam que a neve é fria, mas as condições atmosféricas propiciatórias a neve é entre um e zero grau centigrados. Muitas vezes quando neva é um bom sinal de temperaturas mais elevadas, mormente quando a sensação térmica esta abaixo dos dez graus centigrados...

 O inverno se estica lenta e compassadamente. E uma estação que parece não ter pressa. Parece ser ate a realidade universal: frio, escuro e sem vida. É o tempo de reflexões, de Drashes Escuros,de ponderações, do Itzak e Yacoov, das leituras, do silencio e das avaliações. É tempo de trevas, de solidão, salvo uma esporádica visão de crianças na neve, e para o restante do mundo fora das Estações de Sky, é uma época de vazios e de espera. De espera constante ate Abril ou Maio, onde cuidadosamente começamos estudar a grama a procura de uma raminha verde... Para recomeçar o ciclo das estações, novamente, com promessas de vidas em nossos corações. 

 20 de Agosto de 2012

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