Antes de iniciar minha fala gostaria de agradecer o convite para estar aqui junto com meu amigo Fernando e meus companheiros de Mesa. O dever de representar a parcela jovem da comunidade judaica continua soando como uma grande responsabilidade para a minha participação em eventos do diálogo interreligioso, ainda mais naqueles que demandam uma intervenção. Porém, é um prazer tentar vencer esse desafio e espero somar minhas palavras àqueles que me antecederam e que eu possa agradar aqueles que me sucederão.
Gostaria de começar minha intervenção com uma pequena fábula judaica que minha mãe me contou e segue no imaginário coletivo do povo judeu por várias gerações. Rei Salomão, o sábio, percebeu que uma vida agradável é resultado de parcimônia no modo como se enxerga as contingências históricas nas quais a vida se insere. Para estar sempre atento à isso, pediu à um joalheiro que lhe fizesse um objeto que o lembrasse sempre desse lema. O joalheiro tinha o prazo de uma semana e ao final de sete dias entregou um anel no qual estava escrito "Isto também passará".
Nesse sentido, todos os eventos da nossa vida, toda alegria e toda a tristeza que observamos em nosso percurso também passarão. No discurso do Papa aprendi que a Igreja também acredita que o ouro e a prata também passarão, afinal "Tudo que é sólido se desmancha no ar". Infelizmente, a juventude também passará. Como aprendiz de historiador, pergunto a vocês: O que há de permanecer? A memória ou a lembrança? A fé ou a crença? O conhecimento ou a educação? Não temos essas respostas, mas de alguma maneira todos esses elementos mantêm a chama da juventude em nós.
Nós jovens, devemos aproveitar a energia que temos para conhecermo-nos e conhecermos o próximo, reciclarmo-nos e reciclar o próximo, preservamo-nos e preservar o próximo, amarmo-nos e, principalmente, amar o próximo. Dessa maneira, garantiremos no futuro um mundo mais justo, menos desigual, e com uma melhor postura frente a natureza. Contudo, para seguirmos esse caminho devemos nos esforçar para apreender o que é a nossa identidade, o que é a identidade do outro e quais são os limites dessas duas.
Dois professores me ensinaram, através de seus escritos, duas maneiras diferentes de apreender a identidade do outro, ambos reconheciam a necessidade do contato com o outro para estabelecer a minha identidade. Paulo Freire, em sua perspectiva pedagógica, me ensinou que o diálogo começa quando o educador-educando se programa para dialogar com o educando-educador. É preciso ter a total crença de que ensinando se aprende, e esta prática acontece COM o educando-educador, ou seja, não há papéis pré-concebidos quando se trata do diálogo com o outro.
A partir de um âmbito totalmente diferente, Umberto Eco me ensinou que a condição fundadora da Ética é o reconhecimento da corporalidade do outro, de suas necessidades básicas. Só assim forma-se um olhar humano ao próximo humano, independente se o outro é católico, muçulmano, judeu, morador de rua ou filho do Eike, manifestante ou policial. No instante em que reconhecermos a corporalidade e as necessidades básicas do outro, reconhecemos sua condição humana, e assim poderemos tratá-lo com ética e sinceridade.
Nesse sentido, não utilizo nenhuma referência religiosa mas dois autores humanos para entendermos que a força de engajamento do jovem deve ser utilizada com objetivo de aprender a tênue linha que separa o outro de si mesmo, de mim mesmo. Para daí podermos lembrar, crer, educar e ter a certeza que isso ficará para a eternidade.
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