JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana


O Kadish foi considerado tão vital para a vida religiosa do Judeu que ele era recitado em aramaico, a língua falada dos Judeus em tempos antigos, de forma a permitir que todo indivíduo
pudesse entendê-lo.

O Kadish é uma vigorosa declaração de fé. É uma das mais belas, espiritualmente tocantes e profundamente significativas preces na liturgia judaica. É um antigo poema aramaico, uma oração cujas palavras,
ritmos fortes, sons comoventes e respostas alternadas entre condutor e
congregação espalha uma energia totalmente hipnótica sobre os ouvintes.
Já se comentou bastante que o Kadish é o eco de Iyov em seu livro de
orações: “Apesar d’Ele poder me destruir, mesmo assim eu confio n’Ele”. É
um chamado a D’us desde as profundezas da catástrofe, exaltando Seu
Nome e louvando-O, apesar do fato d’Ele ter acabado de arrancar um ser
humano da vida. Como a oração de Kol Nidrei no “Dia do Perdão”, a
importância do Kadish é geralmente aceita como certa. É uma resposta das
profundezas da alma, quase uma primitiva e fascinante resposta à
sagrada necessidade de santificar o Todo-Poderoso. Sua apaixonada
recitação inspirou uma “saudável e alegre coragem” em uma época de
profunda tristeza.

O Kadish aparece nos serviços religiosos tradicionais não menos que treze vezes. Ele é recitado ao final de todas as principais orações e no final das rezas. Ele também serve como um marco a cada
transição nas rezas. É recitado após um período de estudo do Talmud, no
cemitério após o enterro, nas rezas durante o ano de luto, e em todo
yohrtzeit. Os Sábios disseram que aquele que recita o Kadish com toda
sua força interior e convicção merecerá a anulação de qualquer decreto
Divino severo dirigido contra ele. De fato, eles afirmaram que o mundo
inteiro, aparentemente, é mantido devido à sua recitação, e que ele
redime o falecido especificamente da destruição.


O Kadish foi considerado tão vital para a vida religiosa do Judeu que ele era recitado em aramaico, a língua falada dos Judeus em tempos antigos, de forma a permitir que todo indivíduo pudesse
entendê-lo. Como testemunho de sua força contínua, ele ainda é recitado
neste idioma até os dias de hoje. Outro motivo sugerido para o uso do
idioma aramaico comum é o de que ele funcionava como um instrumento
educacional. Ele ensinava que a vida cotidiana secular deve ser
inspirada e imbuída de santidade, o resumo do que é expresso no Kadish.
Inevitavelmente, o Kadish se tornou tão popular que os Sábios tiveram
realmente de prevenir o povo para que não viessem a depender dele como
algo com poderes mágicos, nem que aumentassem o número de suas
recitações, possivelmente levando à conseqüência indesejável de que uma
prece para os mortos pudesse se tornar central ao serviço religioso.

Por toda sua majestade, esplendor e importância, as origens do Kadish estão envoltas na obscuridade de nossa antiga tradição religiosa. Das
esparsas e breves, embora enfáticas, referências ao Kadish no Talmud,
fica evidente que a recitação da essência do Kadish - Yehei shmei
rabbah, “Possa Seu grande nome ser abençoado” - era um costume tão bem
estabelecido que sua origem e importância sempre foram tomadas como
certas. É provável que o Kadish tenha sido formulado após a destruição
do Primeiro Templo e era recitado, a princípio, após uma aula ou
discurso sobre algum tema da Torá. Ele, então, escorregou facilmente
para o serviço religioso no qual seus temas e respostas se adaptaram
admiravelmente.


Surgiram, então, cinco variações do Kadish básico que expressavam o Yehei shmei rabbah, o núcleo central de todo Kadish:

1. A forma abreviada, chamada “Meio Kadish”, é usada como um tema de transição entre determinadas seções das rezas.

2. O “Kadish Completo” é usado para finalizar seções importantes das rezas e, assim, inclui a oração Titkabel pedindo a D’us que aceite as rezas sinceras que acabaram de ser pronunciadas.

3. O “Kadish DeRabanan” [dos Rabinos] é usado como um epílogo ao estudo de literatura rabínica e contém a rubrica al Yisrael, uma oração pelo bem-estar dos estudantes de Torá e de todo Israel – na
esperança de que eles possam devotar a si mesmos, ininterruptamente, à
sua sagrada tarefa.


Até este ponto em sua história, o Kadish era considerado altamente importante, mas seu valor era apreciado somente pelos estudiosos e alunos que entendem o profundo significado das rezas. No
tratado talmúdico Soferim, um documento da era medieval, somos
informados que ele logo veio a ser usado como uma recitação solene no
final do período de shivah, durante o luto pela morte de um Sábio. O
Kadish começou a estar no topo da popularidade quando, para que fossem
evitadas distinções embaraçosas entre os estudiosos e os leigos, ele
começou a ser usado para todos aqueles que faleceram e por todos,
especialmente jovens, que não sabiam como recitar as preces ou estudar a
Lei Oral. Ele, então, começou a juntar as mentes de todos os Judeus,
sábios ou iletrados, e era recitado no fechamento de todo túmulo
judaico.


4. Assim, surgiu uma quarta forma do Kadish, o “Kadish do Funeral”, que acrescenta um parágrafo que se refere à ressurreição dos mortos e a restauração do Templo. Ele, assim, ficou associado com as
mais profundas emoções do homem.


5. O próprio serviço logo incorporou uma quinta forma de Kadish, o “Kadish dos Enlutados”, que era recitado durante o primeiro ano após o enterro, tornando-o a reza principal para o Judeu enlutado de
qualquer idade. Apesar de não haver nada explícito no “Kadish dos
Enlutados” que se refira ao túmulo, ao morto ou à vida após a morte, a
recitação do Kadish era tão bem adequada ao humor do enlutado que ele se
tornou uma apreciada prática do Povo Judeu, independentemente de sua
denominação

A Função do Kadish

O “Kadish dos Enlutados” executa duas funções pragmáticas: a) Ele se mescla ao espírito interno do enlutado, curando de forma imperceptível suas feridas psicológicas; e b) Ele ensina ao enlutado
lições profundas e vitais sobre a vida e morte, e a conquista do mal.
Então, não é acidente da história espiritual que o Kadish tenha se
tornado tão importante para aqueles atingidos pelo sofrimento, e que, no
curso dos tempos, ele tenha se tornado a marca do luto.

O Kadish como Consolo

Além dos conceitos encontrados no Kadish, as palavras oferecem conforto implícito.


Em tempos antigos, o Kadish era associado, embora indiretamente, com consolação (nechamah). Na mais antiga fonte que trata do “Kadish dos Enlutados”, encontramos que o condutor das rezas se
dirigia ao fundo da sinagoga onde os enlutadas estavam reunidos e os
confortava publicamente com a bênção dos enlutados e o Kadish. Deve ser
registrado que a recitação do Kadish coincide com o período de tempo
durante o qual a tradição impõe ao Judeu para que conforte os enlutados
por seus parentes, ou seja, doze meses. (Somente depois a tradição
reduziu este período para onze meses).


Em um espírito de consolação, esta bela liturgia começa com a admissão de que o mundo que é conhecido somente por Ele, o Criador Onisciente do universo, permanece misterioso e paradoxal para o homem.
Ele termina com uma esperança apaixonada, expressada nas palavras dos
amigos de Iyov que tentavam confortá-lo - oseh shalom bimromav, que Ele
que é suficientemente poderoso para fazer a paz entre os corpos
celestiais, possa também trazer paz a toda a humanidade.


Finalmente, rezamos para conseguir, nas palavras do Kadish, a nechemata, a consolação de todos do Povo Judeu, não somente por seus mortos, mas pela destruição de seu antigo Templo e sua cidade sagrada,
Jerusalém. De fato, muitos Rabinos mantêm que o Kadish encontra sua
origem na reza composta pelos homens da Grande Assembléia,
especificamente para o consolo da população em seguida à destruição do
Primeiro Templo e seu exílio subseqüente. Foi, na verdade, em resposta a
esta histórica tragédia que Ezequiel primeiro grita as palavras das
quais a tradição extraiu as palavras iniciais do Kadish: “Eu louvei e
santifiquei Meu nome e O tornei conhecido aos olhos de todas as nações, e
eles saberão que Eu sou o Senhor”. O Mestre de tudo trará salvação a
Seu povo.


Além dos conceitos encontrados no Kadish, as palavras oferecem conforto implícito. Por causa da acentuação e repetição dos pensamentos positivos de “vida” e “paz”, estes valores se tornam
marcados no perplexo e naqueles de coração entristecido. Ele transfere,
subliminarmente, o olhar fixo e interior do enlutado daquele que partiu
para o vivo, da crise à paz, do desespero à esperança, do isolamento à
comunidade.


De fato, o momento mais crucial quando a fé do homem é mais abalada, quando muito provavelmente ele se rebelará contra D’us pela morte que se abateu sobre ele, ele se levanta e recita os louvores ao
Criador: Yisgadal v’yiskadash..., exaltado e santificado seja Ele que
criou o universo... Todas as leis da natureza operam de acordo com Sua
própria vontade. Justo no momento quando o foco do homem está sobre o
Reino dos Céus, o mundo dos mortos, destino de seu amado, o Kadish,
serenamente e quase imperceptivelmente, transfere sua contemplação ao
reino de D’us na terra, entre os vivos -- v’yamlich malchusai
b’chayechon u’vyomechon, “Possa Ele estabelecer Seu reinado por toda a
sua vida e em seus dias”. Quando a visão do mundo está embaçada com
imagens de uma estrutura sem respiração, com mortalhas, caixão e túmulo,
com a decadência e decomposição finais do ser humano, o Kadish enche a
mente do enlutado com “vida” e “dias” e “este mundo” pela repetição
constante e hipnótica, dia e noite, das palavras chayim e yamim e olam.
Quando o enlutado experimenta desorientação e rompimento, um sentimento
de agitação e conflito e culpa, o Kadish o hipnotiza com pensamentos de
descanso e quietude eterna, e enfatiza cada vez mais a paz que D’us fez
nos céus e o shalom que ele traz às pessoas na terra.


Uma outra importante técnica de consolação no Kadish é a insistência, porque é uma prece de santidade que deve ser recitada somente em quorum público, nunca privadamente. A recitação, geralmente
feita ao lado de outros enlutados, cria uma camaradagem entre os
enlutados em uma época de profundo isolamento e desamparo. Ele ensina,
implicitamente, que outros também experimentaram dores similares; que a
morte é um fim natural, geralmente fora de hora, de toda a vida, que o
ritmo do homem seguiu a mesma batida desde os dias quando Adam
recusou-se a comer o fruto da Árvore da Vida.


O Kadish é, assim, uma oração reconfortante, grandiosa em sua concepção espiritual, dramática em seus ritmos e melodia e profunda em seus insights psicológicos.

Quando os Enlutados Consolam o Mestre

Quando recitamos o Kadish, oferecemos consolo a D’us por Sua perda


Um grande Sábio chassídico disse que a morte de cada uma das criaturas de D’us causa uma lacuna nos exércitos do Rei louvado. O Kadish, disse ele, é recitado com a esperança de que aquela lacuna será
preenchida. Coube ao laureado poeta de Israel, S. Y. Agnon, interpretar
isto com uma bela analogia.


O Reis dos Reis, D’us Todo-Poderoso, não é como um rei humano. Quando um rei de carne e sangue comanda seus exércitos em uma batalha, ele vê somente os grandes efeitos, a logística massiva e o
grande objetivo. Ele não conhece os homens individualmente. Eles não são
distinguíveis um do outro. Eles são máquinas humanas que carregam
rifles e executam uma função. Se ele perder metade de seu regimento, ele
sinceramente lamentará a morte das massas. Mas ele não se lamentará por
nenhum ser humano específico.


Não é assim com o Rei dos Reis. Ele é o Mestre do mundo; ainda assim, ele se importa com cada vida individual. Homens não são máquinas ou cifras. Eles são seres humanos. Quando os soldados de D’us
morrem, Ele lamenta, por assim dizer, cada homem. Seu Reino experimenta
um terrível vazio. D’us sofre, aparentemente da mesma maneira que um
humano enlutado sofre.


Quando recitamos o Kadish, oferecemos consolo a D’us por Sua perda. Nós dizemos Yisgadal: Teu nome foi diminuído; que Ele seja exaltado. Yiskadash: Tua santidade foi diminuída; que Ela seja
aumentada. Yamlich malchusoi: Teu Reino sofreu uma perda súbita; que Ele
reine eternamente.


Esta surpreendente interpretação do Kadish – que o vê como a tentativa do enlutado de oferecer consolo ao Mestre de todos os homens – é, ele próprio, uma consolação para a pessoa que está de luto. O
conhecimento de que D’us se importa com cada homem e que Ele sofre pela
perda de cada uma de Suas criaturas feitas à Sua própria imagem é uma
fonte de calor e conforto.

O Kadish Como Educação

Por baixo da superfície, a declaração do Kadish expressa um pensamento básico para um entendimento da atitude judaica em relação à vida: a aceitação da aparentemente injusta dor e tragédia irracional na
vida como sendo o justo – mesmo que paradoxal – ato de D’us Sábio. A
reza do Kadish é, assim, encontrada em fontes antigas delineadas com o
tzidduk ha’din, a oração que justifica os éditos de D’us. Esta prece é
recitada no momento do enterro e proclama: “O Senhor deu e o Senhor
tirou. Seja abençoado o Nome do Senhor”.


O Kadish ecoa este tema: “Seja Seu grande Nome abençoado para sempre”. É o espírito de reconhecimento de que o D’us Todo-Poderoso conhece nossos segredos mais íntimos; que Ele, de forma confiante e
justa, nos recompensa e pune; que Ele sabe o que é melhor para a
humanidade, e que tudo que Ele faz é para o benefício eventual de toda a
raça humana. É somente pela virtude desta aceitação da morte como o
justo e inexorável término da vida que a vida pode ser vivida em sua
plenitude. É somente através do difícil, porém necessário,
reconhecimento de que somente o Criador do universo entende o plano de
Sua criação que nós evitamos nos tornar incapacitados pelo teimoso
questionamento do imponderável que pode desgastar nossa própria
existência. Assim nós recitamos nas palavras do Kadish: “Exaltado e
santificado seja Seu grande Nome, no mundo que Ele criou segundo Sua
vontade”. É um mundo cujos caminhos ultrapassam nossa compreensão e se
adequam somente à Sua vontade. Como podem nossos limitados intelectos
compreender Sua louvada grandeza ou avaliar as infindáveis profundezas
da mente Divina? Se a tragédia nos atinge, se nossas famílias são
assaltadas pelas circunstâncias maléficas, nós temos fé de que o justo
D’us agiu de forma justa.

A Importância do Kadish

Uma Reflexão Sobre o Amor aos Pais

O Kadish é um aperto de mão espiritual entre as gerações que conecta duas vidas


A verdadeira função do Kadish vai ainda mais fundo. Além da cura psicológica que ele encoraja, além de educar o enlutado a se ajustar à tragédia, não haverá alguma influência misteriosa, algum poder
fantástico que afeta tão maravilhosamente a alma do enlutado? Como o
Kadish está relacionado ao luto pelos pais?


Colocado de forma simples: o Kadish é um aperto de mão espiritual entre as gerações que conecta duas vidas. Que melhor consolo existe para o enlutado que o conhecimento de que as idéias, esperanças,
interesses e compromissos do falecido continuam existindo na vida de sua
própria família? A recitação pelo filho do Kadish representa uma
continuação daquela vida; ela arrebata o mais profundo valor do
indivíduo das garras tenebrosas da morte.


Como isto acontece? A tradição judaica reconhece a influência importante do pai sobre o filho durante a vida daquele. O “mérito dos Pais” é um tema ousado e importante na literatura rabínica. Deve ser
lembrado que, coletivamente, os Judeus pediram por misericórdia a D’us
em reconhecimento das ações justas dos Patriarcas de quem somos
descendentes. A tradição também reconhece que os pecados dos pais –
motivos impuros, riqueza de origem obscura, vidas sem propósito, e assim
por diante – podem ter produzido conseqüências nas vidas de seus filhos
por muitas gerações. A alma do filho carrega, de forma indelével, a
marca dos pais, quer achemos ser isto justo ou não. Por tudo isto,
entretanto, o pensamento judaico nunca considerou os pais capazes de
redimir um filho errante pela virtude de suas próprias boas ações
perante D’us. Avraham não pode salvar seu rebelde filho Ishmael.
Yitschak não pode salvar seu filho avarento, Esav.


Curiosamente, entretanto, no complicado cálculo do espírito, o reverso é possível! As ações do filho podem redimir a vida dos pais, mesmo depois de seus falecimentos!

É uma troca perfeita, um “mérito dos filhos”. As virtudes éticas, religiosas e sociais dos filhos colocam auréolas em seus pais. O Talmud declara bera mezakeh aba, o filho favorece o pai. O Rabbi Shimon
bar Yochai também diz mah zar’o bachayim, af hu bachayim, enquanto seus
filhos vivem, também os pais vivem. Aqueles que deixam filhos dignos
não morrem em espírito. Seus restos mortais são enterrados na terra, mas
seus ensinamentos permanecem entre os homens.


Apesar de ser verdade que nenhum indivíduo pode interferir com D’us em relação à vida de outro – nem os pais pelos filhos, nem o filho pelos pais – uma pessoa pode, seguramente, modificar a importância
da vida de outra pessoa e conceder significado e valor a ela. Como a
árvore é julgada por seus frutos e o artesão por seu produto, assim
também um pai alcança importância pessoal pelo sucesso moral de seu
filho. De David, que deixou um filho digno dele mesmo, o Talmud se
refere à sua morte como “ele dormiu”, indicando a continuidade da vida.
De Joab, que não teve filho que pudesse herdar sua grandeza, foi dito
“ele morreu”, significando finalização. O reflexo do filho sobre seus
pais é verdade em vida e é verdade também após a morte.


É precisamente em relação a isso que o Kadish atinge seu mais profundo valor. O Kadish serve como um epílogo à vida humana da mesma forma que, historicamente, ele serviu como um epílogo ao estudo da Torá.
Foi aquela vida marcada primariamente por bondade, dignidade e nobreza,
ou pela vergonha e desgraça, por estupidez e fraqueza? Em qualquer
caso, o Kadish é eficiente. Os Sábios afirmam que as recitações do
Kadish pelo filho confirmam uma vida dos pais de bondade por um lado,
enquanto, por outro lado, produz arrependimento pela vida de pecados dos
pais.


De fato, os rabinos declaram que somos obrigados a honrar os pais na morte assim como em vida. O Kadish é a demonstração verbal da profunda e constante honra que os Judeus foram ordenados a dar aos pais
desde o dia que o quinto mandamento foi pronunciado no Sinai. A duração
da recitação do Kadish pelos pais é um amplo testemunho daquele
respeito. Pois, como é dito que a alma perversa se submete a um
julgamento durante todo um ano, o filho, em reverência ao seu pai,
termina o Kadish aos onze meses, testemunhando, em um mês de eloqüente
silêncio, a bondade daqueles que a possuíam.


Não é a recitação do Kadish sozinha que é emblemática dos ensinamentos dos pais, mas também o fato do enlutado provocar uma resposta de santidade dos outros, fazendo com que os outros proclamem a
grandeza de D’us com ele – que os Sábios chamam Kidush Ha’Shem,
santificação do Nome. O enlutado anuncia “Que seja exaltado e
santificado Seu grande Nome” e seus companheiros respondem “Que Seu
grande Nome seja abençoado por toda a eternidade”. O enlutado continua
“Que seja bendito e louvado, glorificado, elevado e enaltecido, honrado,
adorado e exaltado o Nome do Santo, bendito seja Ele” e a congregação
responde “Bendito seja Ele”. O Kadish é, assim, uma santificação pública
do Nome de D’us. É uma reza em miniatura, independente, que alcança as
alturas da santidade e é este grande triunfo espiritual que se reflete
na vida da mãe ou pai e confirma a exatidão de seus ensinamentos.


Se, por outro lado, os pais tenham enganado ou pecado, e tenham profanado o nome de D’us (chilul ha’shem), o Kadish, que é a santificação do nome (kidush ha’shem), é considerado verdadeiro
arrependimento pelo falecido e o salva da retribuição. O Kadish não é
uma reza explícita por esta redenção dos pais, mas sua recitação é uma
indicação que o bem nasceu deles e é, portanto, salvador.


O incidente fundamental e mais freqüentemente relatado em relação ao Kadish é a visão mística do grande sábio Rabbi Akiva. Este incidente é encontrado em numerosas fontes: o Talmud, Midrash, Zohar e
outros trabalhos literários, o que atesta sua ampla aceitação e sua
popularidade. Rabbi Akiva teve uma visão de um bem conhecido pecador que
morrera e fora condenado a uma intolerável punição. O pecador informou
ao Rabbi em sua visão que somente se seu filho, ainda vivo, recitasse
Barechu e o Kadish ele seria redimido. O Rabbi foi e ensinou ao jovem
estas rezas. Assim que o rapaz começou a recitar o Kadish, ele salvou
seu pai da perdição. O filho favorece o pai!


Além disso, este conceito do “mérito dos filhos” está historicamente associado com o núcleo e a resposta centrais do Kadish. A tradição registra um diálogo entre o velho patriarca, Yaacov, e seus
doze filhos. Yaacov estava ansioso sobre o futuro. Ele não estava certo
se alguns de seus filhos seguiriam os passos de seu tio Esav ou tio-avô
Ishmael. Algum de seus filhos desertará da fé de seus pais? Quando, com
grande consternação, ele confrontou seus filhos, eles declararam juntos
“Ouve Ó Yisrael (Yaacov), D’us é o Senhor, D’us é Um”. Com grande alívio
ao se assegurar do mérito de seus filhos, Yaacov respondeu em completa
gratidão “Bendito seja o nome da glória de Seu reino por toda a
eternidade”. Esta resposta tem sido santificada como o versículo
imediatamente seguinte ao Shemá, Baruch shem kevod malchuto leolam vaed,
“Bendito seja Seu grande nome por toda a eternidade”. O Kadish é um
firme aperto de mão entre as gerações!


Quando a morte se aproxima de nossos lares, ela traz um fim à vida física. A corrente é cortada. Isso é tudo. Mas o espírito é mais poderoso que o túmulo. Os pensamentos e as emoções, os ideais e as
atitudes de seus herdeiros atestam a influência imortal dos falecidos. A
recitação do Kadish é uma demonstração pública de que a vida dos pais
não foi vivida sem apoiar, em um certo sentido, a causa do bem. Não é
exagero dizer que o aperto de mão espiritual do Kadish ajudou a
assegurar a sobrevivência contínua do Povo Judeu, da religião judaica,
da sinagoga e de suas principais instituições.



Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg

Traduzido do original em inglês em (http://www.chabad.org/library/article.asp?AID=336516).




Este texto foi enviado carinhosamente por Moreh Marcel Berditchevsky




Esta mensagem foi verificada pelo E-mail Protegido Terra.
Atualizado em 16/03/2010





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