JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

“Y una hermana tan hermosa
Que se chama libertad”
Atahualpa Yupanqui
Que tradição é esta, que não cessa de festejar uma liberdade que nunca terminamos de alcançar?
Que pensamento é este, que atravessa o judaísmo relembrando a cada nova festividade que escravos somos de algum Egito em todos nós?
Mal saímos do Pessach e somos convocados a buscar a libertação das culpas através do perdão que a responsabilidade impõe, para em seguida, festejarmos em cabanas a árdua caminhada pelo deserto em direção a uma promessa que nunca se realiza e, em seguida, nos alegramos na Torah que nos convoca a cuidar do outro limitando a própria liberdade e os arroubos de dominação. Nesta maratona de ganhar e perder, novamente estamos em Hanuká acendendo velas para celebrar outra liberdade, ou seja, mais uma prisão a ser superada uma vez mais através de novo milagre.
A ritualização judaica do tempo constrói um ciclo repetitivo de portais que nos levam a vivenciar a passagem de um período a outro através de tensões entre apertos e aberturas. Tempo de rupturas que não chegam a fundar a boa nova da liberdade definitivamente conquistada. As liberdades parecem tão diversas quanto as formas de opressão que elas são capazes de gerar.
Difícil liberdade, diz o titulo do meu livro de cabeceira. Livro do filósofo judeu Emanuel Lévinas.
Outro dia, desejei um Hanuká alegre a um amigo que estava mudando de escritório. Apesar do muito que conhece de judaísmo, ele não sabia que o sentido da palavra Hanuká é inaugurar, fundar e, quando me ouviu, completou rindo: “Só me disseram que era a festa das luzes. Aquelas velinhas coloridas ela me lembram a minha infância”.
O meu amigo sente saudades da noite alegre da infância quando vê as velas de Hanuká brilharem.
Tenho encontrado pensadores judeus pós-modernos pregando em livros e artigos que o sentimento basta para definir um modo de ser. Como se o sentimento não tivesse razões que o próprio sentir desconhece.
Quando não damos conta do sentimento que experimentamos, a espiritualidade humana não se realiza. Mas, quando conseguimos pensar a experiência vivida, ela se torna coletiva e pode ser narrada e dividida com outros. Deste modo, apreendemos a nossa particularidade dentro do contexto de uma tradição que acolhe a vida individual.
Cada tradição expressa um projeto humano diferente. Cada tradição é uma linguagem. Outro modo de narrar tanto as origens quanto os futuros desejados.
A festa das luzes pode ter razões que as velas do candelabro de Hanuká não expressam.
Somente quando sabemos o sentido espiritual das coisas reais, ou seja, a sua filosofia, é que podemos entender o sentido do sentir quê a tradição quer alcançar e, então, o seu projeto humano e sua espiritualidade se transformam em uma só coisa. Quando isto acontece, HaNuká ultrapassa o sentido de uma festa das luzes e funda um HiNuCH-educação projeto de humanidade . Em hebraico HaNuKá e HiNuCH têm a mesma origem.
Todas as narrativas de todas as tradições são projetos do humano que transformam o particular em universal.
Hanuká: a estória de um pequeno recipiente que guardou o azeite que tornou capaz o milagre da multiplicação da luz. O milagre da multiplicação da luz se tornou possível graças a duas criações humanas. Milagre da sobrevivência do maior dentro do menor. Da espiritualidade voltada para a presença do humano sobre a espiritualidade milagreira que santifica coisas, transforma pedras e limites geográficos em valores do espírito. Sobrevivência do espiritual que atravessa tanto o material quanto o sentimento que se esgota no final da festa. Espiritualidade que ultrapassa e dá sentido novo à tradição mecânica de ritos religiosos.
Na tradição judaica, a Hanukiá acesa deve ser colocada perto da janela para que sua luz invada a rua, saindo da intimidade da família para anunciar aos passantes que, mais uma vez, é hora de celebrar o maior milagre do mundo.
O milagre da capacidade humana de refundar a tradição, o cotidiano, de reinventar o novo apesar dos nossos temores igualmente humanos de mudar, e os desejos igualmente humanos de persistir, no mesmo de sempre.
Milagre de transformar o conhecido, mesmo sabendo que, no final da festa, as velas se apagam um vez mais.
“Hanuká Ba hanuká”, diz uma canção hebraica. Hanuká dentro de Hanuká. É o que de melhor podemos desejar a todos nós.
Hag Sameach.

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