JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

O diamante do Maggid de Dubno - Jayme Fucs Bar
Jacob ben Wolf Kranz foi um judeu que viveu no século XVIII e
que era mais conhecido como o Maggid de Dubno. Kranz foi um dos mais famosos comentaristas dos textos sagrados de sua época, além de ser um pregador incomparável. Ele ilustrava suas pregações com parábolas da vida cotidiana.
Com essas parábolas, o Maggid de Dubno conseguia explicar as passagens mais difíceis do Tanakh, esclarecendo muitas perguntas desconcertantes sobre as leis judaicas. Ele também foi um eminente rabino e um grande erudito. Em muitas ocasiões, foi consultado por grandes autoridades religiosas do mundo judaico.
As palavras portuguesas “magia”, “mágica” e “mago”, como também palavras semelhantes em outros idiomas, podem ter origem no hebraico, na palavra maggid. Esse termo descreve dois conceitos distintos.
O mais comum é o de um pregador judeu, especializado nas narrativas da Torá e na história judaica. Nos dias de hoje, utilizamos o termo “darshan” para designar esses pregadores.
O outro significado de “maggid” aparece no contexto do misticismo judaico descrevendo uma entidade celestial, mais comumente um anjo, que se manifesta como uma voz que entrega segredos místicos a um cabalista, ou, por vezes, um ser que se manifesta pela boca dos escolhidos. Como bom exemplo, temos um dos famosos livros escritos pelo rabino cabalista Yosef Karo, de nome Maggid Mesharim.
No livro, Yosef Karo declara que as páginas foram escritas pela boca de uma entidade celestial, que, por curiosidade, era uma mulher.
O Maggid Mesharim é uma espécie de diário estranho e muito místico, em que Karo registrou, durante muitos anos, as visitas noturnas de uma entidade celestial, seu “maggid”, que o estimulava a realizar atos de justiça, além de exortá-lo a estudar a cabala, a dizer suas orações com a máxima devoção, a não beber vinho demasiadamente e a não comer carne.
Mais do que isso: o maggid de Karo o ordenava a ser modesto ao extremo e a ser gentil e sempre paciente com as pessoas. Estranho ou não, é importante compreender a existência, dentro do judaísmo, do conceito do “maggid” místico celestial!
Ninguém foi tão famoso como o Maggid de Dubno com as parábolas! Toda vez que alguém fazia uma pergunta ou pedia um conselho, o Maggid respondia contando uma história, que nada mais era do que uma forte ajuda espiritual.
O conceito de explicar situações humanas por meio de parábolas
é uma prática judaica muito antiga, já utilizada no período do Segundo Templo. Para ajudar a entender essa riqueza, apresento uma das parábolas do Maggid de Dubno.
Um dia, um estudante que estava andando com o Maggid confessou, de forma muito dolorosa: “Eu não tenho jeito! Não vou ser nada na vida! Me sinto uma pessoa cheia de defeitos e incapaz de fazer alguma coisa boa em minha vida! Diga-me: o que posso fazer para me tornar uma pessoa melhor?”.
O Maggid de Dubno respondeu: “Vou te contar uma história”.
Ele começou: era uma vez um rei que tinha um dos mais belos
diamantes do mundo. Ele estava muito orgulhoso daquela pedra, que achava ser perfeita em todos os detalhes, e não hesitou em mostrá-la a todos os dignitários que passavam por seu palácio.
Um dia, o rei notou que sua pedra não era perfeita. Havia uma
pequena rachadura no diamante. Embora a rachadura fosse muito fina, aquilo estragava completamente o magnífico conjunto de brilho e luz que a pedra poderia emitir: “Que desastre!”, pensou o rei. “Espero que haja alguma maneira de reparar o defeito!” Instantaneamente, o rei chamou os melhores joalheiros de seu reino e lhes perguntou: “O que vocês podem fazer para que esse diamante recupere sua perfeição original?”.
Os lapidadores não conseguiram dar nenhuma solução para esse
grande problema. De repente, no meio do silêncio geral, um jovem levantou a voz. Seu nome era Eliahu, e ele acabara de terminar seu aprendizado de lapidador do reino.
“Majestade”, disse Eliahu, “já que não é possível restaurar o brilhante, como todos os mestres e grandes lapidadores aqui presentes admitem, eu gostaria de criar uma nova joia se aproveitando da imperfeição do diamante”.
O rei, ainda cheio de dúvidas, mas sem ter outra saída, deu seu consentimento a Eliahu, que havia deixado de ser aprendiz há pouco tempo e era muito inexperiente.
Eliahu trabalhou duro, em segredo, por várias semanas. Quando ele
terminou sua tarefa, foi ao palácio mostrar o resultado ao rei. O monarca estava morrendo de ansiedade para ver como seu diamante estaria! Para falar a verdade, não tinha grandes esperanças. Ele supôs que Eliahu teria dividido o brilhante em dois, para transformá-lo em duas pedras menores.
“É uma pena”, pensou o rei, ciente de que dois pequenos brilhantes
não valem nada comparado a um grande. No entanto, o que mais poderia esperar?
Quando Eliahu removeu o diamante do tecido que o escondia, o
rei sorriu com satisfação. O jovem não havia dividido o diamante em dois. Não! Ele teve uma ideia muito mais criativa. Em vez de considerar a rachadura como uma imperfeição, ele a usou para embelezar o diamante! Naquela fenda, Eliahu imaginou o caule de uma rosa, por isso, havia esculpido o resto da flor no brilhante: as raízes por baixo, as folhas dos lados e as pétalas por cima. Dessa forma, ele transformou o diamante imperfeito em uma das mais maravilhosas joias de todos os tempos. O rei, que sempre valorizou seu diamante, apreciou a pedra muito mais a partir daquele dia.
Terminada a história, o Maggid de Dubno virou-se para o aluno:
“Assim como aquele diamante, todos nós temos defeitos, mas cabe a cada um de nós ter a sabedoria para saber lapidar as nossas imperfeições e transformá-las em algo útil, bom e valioso em nossas vidas”.
E depois de dizer essas palavras, o Maggid calou e continuou andando em silêncio ao lado do aluno!
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