JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG

Shalom! Bem-vindo à Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG!

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Data do final da década de 1960 uma fotografia do escritor argentino Jorge Luis Borges junto ao Kotel haMaaravi – o Muro Ocidental ou das Lamentações – em Jerusalém.

Suas mãos tateiam como se lesse, em braile, esse testemunho monumental da cultura e da tradição judaica. O muro, ruína do Templo, testemunhou séculos de história constituindo-se como um arquivo da memória judaica da dispersão. Diante desse muro, Borges parece um homem pequeno e frágil.
A fotografia, em preto e branco, sem data ou crédito, não é nítida. As seculares pedras da construção, justapostas, deixam ver os pequenos espaços que existem entre elas. Nas gretas e vãos que se formam, os fiéis inserem pequenos pedaços de papel com pedidos, orações, promessas. O poema "O muro das lamentações", de Iacov Cohen, com tradução inspirada, de Cecília Meireles, também ilumina essa metáfora:

Na alta colina há um velho muro de pé,
Todo cheio de fendas, de onde sai a erva grossa.
Mas sua força está íntegra,
No coração forte das pedras.

Diante desse velho muro há velhinhos curvados:
Inclinam-se, rezam, choram;
Contam seus lutos e redizem às pedras
Seu sofrimento ainda recente e vinte vezes secular.
E da extrema altura, sobre o muro arruinado
Nascem raios de sol dourados de piedade;
E o Deus que desce de onde descem essas luzes
Consola ao mesmo tempo os velhinhos e as pedras.1
Esse arquivo de pedras é um lugar de culto e de adoração. Os judeus ortodoxos, com seus trajes e chapéus negros, movimentam o corpo e movem seus lábios em orações diante dele. Os jovens soldados israelenses fazem ali seu voto de amor à pátria. Pais e filhos renovam, ano após ano, sua aliança com o Eterno. O Templo, que sobrevive metonimicamente nessa parede, é a casa do Messias, a promessa da construção do terceiro Templo e do corpo judaico que foi disperso nas diásporas e exílios.
Tal qual o Muro Ocidental, onde os textos são inseridos nas fendas, a Arquivo Maaravi – Revista Digital de Estudos Judaicos – espera acolher trabalhos de escritores e artistas que se dedicam aos Estudos Judaicos desde o Ocidente até o Oriente.
A proposta da revista, que passa pela concepção da tradição judaica com seu léxico, procedimentos e temas, como um arquivo aberto, ou como a Biblioteca de Borges, não é aqui concebido como o acúmulo de documentos inertes de um passado perdido ou como um testemunho petrificado de uma identidade perdida.
O arquivo da cultura judaica, que aqui tomamos através da metáfora do Kotel, espera lidar com o passado como estrelas próximas, ou muito longínquas, arcaicas até, que vêm até nós através de um certo rastro luminoso, ou, com o presente e o futuro, que podem se apresentar em todo o seu fulgor através de vestígios, como queria Walter Benjamin.
Entre a lembrança e o esquecimento, o arquivo judaico não poderá, assim, ser analisado, descrito ou reinventado a partir de uma obsessão milimétrica, mas a partir de fragmentos, regiões, níveis. Composto por diferentes obras, o arquivo judaico perpassa, onipresente, livros dispersos, delineando uma rede de textos que pertencem a uma tradição de autores que se conhecem ou se ignoram, estabelecendo conexões as mais inusitadas; autores que se criticam, invalidam-se uns aos outros, plagiam-se e, ao mesmo tempo, a despeito de suas vontades, reencontram-se, às vezes sem saber, no território de papel da literatura ou no campo plástico da arte.
Esses encontros, não só de palavras, mas também de discursos, imagens, criações artísticas e literárias, formam, em sua multiplicidade, um arquivo constituído de vozes, escolhas, recortes, bricolagens.
Abre-se, portanto, aqui, a Arquivo Maaravi para as leituras, análises, traduções e criações inscritas nos interstícios da tradição judaica.
A revista será editada semestralmente. Cada número trará um dossiê que será composto por artigos que deverão seguir as Normas Editoriais e enviados para o Conselho Editorial, que os avaliará para publicação.
Segue-se a programação dos primeiros 05 números (2007, 2008 e 2009) com seus respectivos dossiês:

Além do dossiê, haverá, na revista, sessões dedicadas à criação literária e artística, além de uma entrevista com escritores, artistas ou pesquisadores que se dediquem aos Estudos Judaicos.

Lyslei Nascimento
5767/2007

1. COHEN, Iacov. O muro das lamentações. In: Poesia de Israel. Trad. Cecília Meireles. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962. p. 33.

Atualizado pela última vez por Jayme Fucs Bar 12 Fev, 2010.

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