JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Fonte:  http://ruadajudiaria.com/?cat=15

O Pedido

“O Cerco de Sebastopol”, 1854, William Simpson, Greenwich Hospital Collection

Contou o rabino Naftali de Ropschitz:
“Durante o cerco de Sebastopol, trotava o czar Nicolau no seu cavalo quando um arqueiro inimigo fez pontaria sobre ele. Um soldado russo, que observava de longe, gritou para assustar o cavalo do czar, que se voltou de repente no exacto momento em que a flecha disparava em sua direcção. Percebendo que fora salvo de morte certa pelo seu soldado, o czar agradeceu ao homem e disse que lhe concederia o desejo que ele quisesse. O soldado não pensou duas vezes: “O nosso sargento é uma besta e bate-me constantemente. Majestade, gostaria de poder ser transferido para uma nova companhia sob as ordens de outro sargento!”
“Idiota!”, respondeu-lhe o czar, “porque não me pedes antes que te faça sargento?”
Nós também somos assim: preocupamo-nos com coisas pequenas, rezamos para suprir as necessidades do momento e esquecemo-nos de ver para além delas.

Rabino Naftali de Ropschitz, Ucrânia, séc. XIX

Parábola sobre a parábola

Perguntaram uma vez ao Dubner Maggid: “Porque razão têm as parábolas um efeito tão grande nas pessoas?” Ao que o pregador respondeu: “Posso explicar contando uma parábola.”
E foi esta a parábola que contou;
Há muitos, muitos anos, a Verdade caminhava pelas ruas, nua como no dia em que nasceu. O povo recusava deixa-la entrar nas suas casas naquele estado. Qualquer pessoa com quem ela se cruzasse fugia a sete pés. Vagueava a Verdade com grande tristeza quando um dia se cruzou com a Parábola, que se vestia com roupas de esplêndidas cores. A Parábola perguntou-lhe: “Diz-me amiga, o que te faz andar tão triste?” Ao que a Verdade respondeu: “É terrível, minha irmã. Sou muito velha e por isso ninguém me liga.”
“Não é por causa da tua idade que as gentes não gostam de ti. Eu também sou velha, mas quantos mais anos passam mais as pessoas me apreciam. Deixa-me dizer-te um segredo: o povo gosta de adornos e encobrimento. Vou emprestar-te algumas das minhas roupas e verás como o povo também vai gostar de ti.”
E assim foi. A Verdade seguiu o conselho e vestiu as roupas da Parábola. Desde esse dia, a Verdade e a Parábola passaram a andar sempre juntas e o povo gosta das duas.

Rabino Yakov Krantz (1740-1804), conhecido como “o Pregador de Dubno” (Dubner Maggid), Ucrânia.
in Jewish Preaching 1200-1800, Marc Saperstein, Yale University Press, 1989.

O ceifeiro ladrão e a sua filha

Há muitos, muitos anos, um homem foi ao campo roubar trigo e levou a filha com ele para que ela o ajudasse na tarefa. “Filha”, disse ele, “fica aqui na estrada de guarda para que ninguém me veja.” Mas assim que o homem começou a ceifar a filha gritou-lhe: “Pai, estão a ver-te.” O homem levantou a cabeça e olhou para a esquerda, mas como não viu ninguém continuou a ceifar. “Pai, estão a ver-te”, gritou a criança uma segunda vez. O homem levantou a cabeça e olhou para a direita, como nada viu continuou a ceifar. Passados mais uns minutos a menina gritou uma terceira vez: “Pai, estão a ver-te”. O homem olhou para a frente, mas não viu ninguém e continuou a ceifar. “Pai, estão a ver-te”, gritou a filha pela quarta vez. O homem olhou para trás e como não viu ninguém ficou irritado com a criança: “Então filha?! Dizes que me vêem mas eu já olhei em todas as direcções e não vejo ninguém.”
A filha encolheu os ombros: “Mas pai, estão a ver-te dali”, disse ela apontando para o céu.

Conto tradicional dos judeus da Tunísia, publicado pela primeira vez nos finais do século XIX pelo rabino Abba Shaul Haddad. Este conto é muito semelhante a uma outra história tradicional contada pelos judeus da Índia.

Um bolo eternamente sujo 

História oral tradicional dos judeus da Tunísia, recolhida pelos investigadores do Israel Folktale Archive, na Universidade de Haifa. Existem paralelos deste conto na tradição oral dos judeus da Europa Oriental, Turquia e Pérsia.

No Inferno

E disse o rabino de Apt a Deus:
“Senhor do Mundo, eu sei que não tenho virtude nem mérito para poder merecer, depois da minha morte, entrar no paraíso ao lado dos justos. Mas, se porventura pensas colocar-me no inferno entre os pecadores, lembra-te que não me dou bem com eles. Por isso te suplico que os tires a todos do inferno, para que me possas lá pôr.”

Rabi Avraham Yehoshua Heschel, Apt (Rússia, século XVIII)
in Die Erzählungen der Chassidim (As Lendas dos Hassidim), Martin Buber, 1949.

A pergunta 

Rabino Zusya de Anapol (Polónia, século XVIII)
in Die Erzählungen der Chassidim (As Lendas dos Hassidim), Martin Buber, 1949.

1Palavra hebraica, literalmente significa O Nome, sinónimo de Deus no judaísmo.

Dedicado à memória de Simon Wiesenthal (1908-2005), um Homem que viveu além do seu próprio destino.

Jogo de Damas

Rabino Nahum de Stepinesht (Ucrânia, século XIX)
in Die Erzählungen der Chassidim (As Lendas dos Hassidim), Martin Buber, 1949.

 

O rei astuto e os dois pintores

Numa terra distante, há muitos anos, um rei mandou construir o mais belo palácio de que havia memória. Quando ficou pronto, o rei quis decorar as paredes dos salões com pinturas das paisagens do seu reino. Havia naquele tempo e naquelas paragens dois pintores famosos muito apreciados pelo seu talento. Sem saber como escolher entre os dois, o rei chamou-os a ambos e desafiou-os a pintar cada um uma parede de um dos imensos corredores do palácio. Entre eles, o rei mandou colocar uma pesada cortina, que os impedia de ver o trabalho do outro.
Aos dois disse o rei: “Têm três meses para pintar uma paisagem na parede. Nessa altura escolherei a pintura que mais gostar; o seu autor será convidado para decorar o resto das paredes do palácio e receberá uma sacola cheia de ouro e jóias.”
Um dos artistas, talentoso e trabalhador, tinha tudo preparado e começou de imediato a pintar. Praticamente não dormia e pouco comia dos manjares que os criados do rei lhe traziam. A pintura ocupava todos os seus pensamentos e gestos.
O outro era bastante preguiçoso. Todos os dias acordava tarde e passava o resto do dia refastelado, bebendo dos melhores vinhos das adegas do rei e comendo o que de melhor lhe serviam. Tudo sem levantar o pincel uma única vez. Quando ouvia o colega trabalhar, ria desabridamente: “Que tolo, está no palácio e nem sabe gozar o luxo”, dizia ele entredentes.
Os dias e meses foram passando. Um pintava dia e noite. O outro nada fazia. Até que faltaram apenas três dias para que terminasse o prazo dado pelo rei e o pintor preguiçoso acordou a meio da noite encharcado em suor: “Não fiz trabalho nenhum… o rei vai-me castigar com toda a certeza.” Aflito, o pintor não comeu nem dormiu. Dois dias passaram sem que ele conseguisse pensar num plano. Até que, finalmente, na véspera da chegada do rei, teve uma ideia. Pegou numa lata de óleo negro e pintou a parede inteira até que esta ficou brilhante como um espelho.
Na manhã seguinte o rei veio inspeccionar o trabalho dos dois pintores acompanhado por membros da corte. Virando-se para a primeira metade do corredor, o rei ficou maravilhado com o trabalho do pintor esforçado. Em cores vibrantes, o artista retratara fielmente a paisagem que envolvia o palácio. “Nunca vi nada tão perfeito. Aqueles pássaros, que beleza, quase que os oiço chilrear. E as flores… só lhes falta o aroma”, disse o rei, maravilhado.
Depois de alguns minutos passados na contemplação da pintura, o rei ordenou que fosse retirada a cortina, para que pudesse ver o que fizera o outro pintor. Para espanto de todos, a segunda parede era exactamente igual à primeira. Uma cópia perfeita, com todos os traços e pinceladas. Ali estavam as mesmas árvores, os mesmos pássaros chilreantes e os mesmos canteiros floridos. “Como é isto possível?”, interrogavam-se entre si os membros da corte.
Mas o rei não se deixara enganar com a mesma facilidade. Sem pensar duas vezes, o rei pegou na prometida sacola de ouro e jóias e colocou-a junto à parede verdadeiramente pintada. Outra sacola idêntica apareceu de pronto no outro lado, fazendo com que todos percebesse que se tratava de um simples reflexo.
Então o rei declarou solenemente: “Cada um de vós receberá o pagamento que merece. Vá, aproximem-se das vossas obras e que cada um recolha a recompensa posta ao lado da respectiva pintura.”
E assim foi.

Pequeno conto do rabino Nachman de Bratslav, Ucrânia, (1772-1810), publicado no livro Kokhavey Or (Estrelas de Luz), editado em Jerusalém, em 1896.

Atualizado pela última vez por Jayme Fucs Bar 2 Out, 2010.

© 2024   Criado por Jayme Fucs Bar.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço