Diário de Guerra 37 - Os Guardiões da Paz – Jayme Fucs Bar
Muitas pessoas me perguntam de onde vem o meu judaísmo Humanista. Posso dizer que tive a sorte de, desde adolescente, ter frequentado o movimento juvenil judaico sionista e socialista - o Hashomer Hatzair. Esse movimento teve um impacto muito forte na minha vida, na formação da minha identidade judaica e como ser humano.
O Hashomer me ensinou a amar o Israel não dos reis, mas sim o Israel dos profetas. Vejam como ficou definido, na carta de sua independência em 14 de maio de 1948: "Um estado judeu em base dos princípios de liberdade, justiça e paz, ensinados pelos profetas de Israel”. Nosso compromisso com esses princípios é a essência do nosso sionismo e a forma que nos faz entender como ser judeus e judias.
Ser parte desse movimento te exige uma certa profundeza e complexidade de ver e entender o judaísmo e o mundo em sua volta. Somos um movimento que, mesmo antes da criação do estado de Israel e logicamente atualmente, sempre que foi necessário, saímos em todas as frentes de guerra para proteger e garantir a existência do estado de Israel. Mas a diferença é que nunca renunciamos à luta, sem trégua, pela necessidade de chegar a uma Paz entre judeus, árabes e palestinos.
Eu sei que para muitos pode parecer uma ideia utópica, e até contraditória, saber lutar nas guerras sem abrir mão na crença da Paz. Principalmente dentro dessa complexa realidade que é o Oriente Médio. Mas é preciso saber que essa é a nossa postura, apesar de muita gente achar que a palavra Paz nessa região perdeu totalmente o seu sentido. Nós não sabemos viver sem acreditar que a Paz um dia será possível, pois esse conceito na crença na Paz no judaísmo é milenar. Suas raízes estão totalmente inseparáveis do que está escrito na Torá.
O Hashomer Hatzair não é um movimento judaico religioso. Ele é secular humanista e vê o Judaísmo como civilização. Mas você não precisa ser religioso para usar as fontes da Torá. A Torá não é monopólio de ninguém. É uma saga humana que pertence a todos e é uma grande fonte de ensinamento e sabedoria. Nela se expressa, de forma muito clara, essa necessidade de chegar a paz, que nós tanto almejamos.
Falar e sonhar pela Paz é um valor judaico antigo. Não é uma ideia pós-moderna, de um grupo que muitos rotulam como "esquerdistas". A palavra Paz aparece em 121 versículos da Torá e está escrita de várias formas, como se fosse um grito. E um desses gritos ordena que o povo de Israel abençoe a paz. Veja que sempre que abençoamos alguém usamos a palavra Shalom (Paz).
Nos tempos antigos, as pessoas caminhavam muito a pé ou às vezes de burro. Sempre que observavam um grupo vindo em sua direção, cumprimentavam como forma de benção: "Shalom Alechem" (que a Paz esteja com vocês). E o outro lado retribuía com a mesma frase. Hoje a palavra Shalom (Paz), que usamos no nosso dia a dia, vem dessa benção.
SHALOM (Paz) é a palavra que mais aparece nas várias bênçãos que os sacerdotes faziam ao povo de Israel. Os sacerdotes entendiam que, se chegássemos a Paz, chegaríamos a um nível muito alto de perfeição. Muitos não sabem, mas nos diversos nomes de Deus um deles é SHALOM (Paz). A raiz da Palavra SHALOM (Paz) vem de SHALEM, que quer dizer perfeito, completo. Talvez os sábios quisessem nos dizer que a forma de você chegar mais perto do Criador é você conseguir, através da Paz, o equilíbrio que tanto necessitamos em nossas vidas.
Uma passagem interessante na Torá é sobre o sacerdote Aarão, irmão de Moises. Está escrito que ele era “um amante e um perseguidor da paz”. Isso significa que Aarão, apesar do povo de Israel ter que travar guerras sem fim por sua sobrevivência, enfrentando poderosos inimigos entre eles as forças egípcias, ele amava a paz e buscava obter a paz mesmo quando ela estava longe de poder ser alcançada.
Estamos vivendo aqui em Israel uma guerra terrível, com muitos mortos, dores e destruições, mas jamais devemos esquecer de procurar fazer tudo para alcançar a Paz, mesmo sabendo que talvez seja preciso nascer uma nova geração.
A Paz (Shalom) no Judaísmo é uma Mitzvah (ato de boa ação) a ser alcançado, vejam mais alguns exemplos:
1. E darei paz à terra e não haverá terror, e expulsarei uma fera maligna da terra, e uma espada não passará pela sua terra” (Levítico 206);
2. “A paz esteja no seu exército, a paz nos seus palácios” (Salmos Kekab 7).
3. “Afaste-se do mal e faça o bem, busque a paz e siga-a” (Salmos 44:15),
4. “Que Adonai levante para ti o seu rosto e te dê a paz” (Bamadbar 6:26)
5. Que aquele que cria a PAZ nas alturas traga PAZ para nós, para Israel e para todo o mundo. E digamos Amém (Livro de Jó Yoav)
Me lembrei de uma frase que ouvi de um madrich (educador) do Hashomer, o Sergio Goldenstein Z"L (infelizmente já falecido). Eu era um jovem, ainda adolescente e fazíamos uma discussão sobre a crença em Deus e alguém perguntou ao Sergio se ele acreditava em Deus. Ele respondeu assim:
"Não sei se acredito em Deus, mas se Deus existe, com certeza ele acredita no Hashomer".
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