Diário de Guerra 29 – Ai Que Loucura – Jayme Fucs Bar
Há muitos anos trabalho com um motorista de Jerusalém Oriental. Ele palestino árabe muçulmano e eu judeu. Conheço ele já há bastante tempo. O nosso encontro foi por acaso, em um desses dias que eu estava subindo a pé o Monte das Oliveiras, local onde tinha estacionado o meu carro. Nesse dia desci a pé com os meus turistas cristãos, fiz o percurso das igrejas e finalizei na tumba de Maria.
Deixei o grupo tomando uma água,
subi a pé essa grande e cansativa ladeira, para pegar o carro e dar continuidade ao passeio.
No meio da subida, já cansado, passou um táxi de 9 lugares e o motorista me chamou: - “Ei, guia! Está subindo para o Monte das Oliveiras”?
Eu já meio mal-humorado respondi: - “Não tenho dinheiro para pagar o táxi”.
Rapidamente ele me retrucou: - “Quem está aqui te cobrando táxi? Estou te oferecendo uma carona, pois essa é a minha direção”.
Entrei no carro e ele logo se apresentou. “Meu nome é Maher, falou. Sou árabe muçulmano e vivo aqui no bairro do Monte das Oliveiras. Trabalho com turistas das igrejas ortodoxas russas”.
Chegando lá em cima, entendi em alguns minutos, pela cordialidade e a gentileza, que o Maher era realmente uma pessoa muito especial. Logo trocamos telefones e, a partir desse dia, começamos a trabalhar juntos. Eu como guia e ele como motorista.
Na verdade, somos de dois mundos, de duas culturas e de duas histórias bem diferentes. O que temos em comum é o nosso lado humano e o grande respeito um pelo outro.
Com o tempo Maher se tornou um grande amigo. Sempre disposto a ajudar e prestar favores. Sempre falamos sobre nossas famílias, nossos filhos e nossas preocupações. Principalmente dessa realidade absurda que nós estamos vivemos, que sempre tenta nos separar e nos exilar numa grande muralha de desconfiança, de ódio e de violência. Mas isso de forma alguma vai existir entre nós. Muito pelo contrário!
Nesses dias complicados, de medo e insegurança que todos vivemos aqui em Israel, resolvi ligar para o Maher. Ele me atendeu de imediato. Primeiro me perguntou como eu, meus filhos e netos estávamos passando esses momentos tão difíceis. Depois ele apenas me disse 3 palavras, que entendi imediatamente seus sentimentos: “ Ai que loucura”. Verdade, todos nós estamos vivendo uma loucura!
Mandei um forte abraço a ele e à sua família, e disse que se precisasse de qualquer coisa estaria sempre pronto a ajudar. Senti em nossa conversa uma forte emoção e uma grande tristeza. Convidei Maher para sair um pouco dessa loucura e vir passar uns dias junto com sua esposa, como meu convidado, em uma de minhas casas em Belmonte, Portugal.
Maher me agradeceu num tradicional Shukran, Salam maleku.
Terminei essa conversa e pensei comigo mesmo que ninguém escolhe nascer judeu, muçulmano ou cristão. Mas quando a vida te dá oportunidade de conhecer o outro, o diferente, não tenha medo, você vai descobrir o óbvio. O que nos unifica é que somos simples seres humanos. Ai que Loucura!
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