O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana
Paulo Blank
Amor e Trevas.
As sincronicidades estão por ai para quem quiser enxerga-las. Muitas vezes numa afinidade invertida difícil de ser percebida. Foi no que pensei assim que recebi uma mensagem do meu irmão. Amos Oz morreu. Sinto muito. Imediatamente sai do WatsApp e abri a pagina do Haaretz. Jornal israelense constantemente acusado pelo governo de ser esquerdista e traidor do seu país: “Amos Oz 1939-2018. Morreu o presidente da tribo da cor branca”. Branco da paz. Da israelidade. Termo do qual compartilhou e que remete à cultura judaico humanista que alicerçou a fundação do estado. Logo abaixo outra chamada. “Fonte governamental afirma sobre a relação com o presidente do Brasil: não temos o privilegio de sermos puristas”. Pois é. Amos Oz tinha.
Quanto às posições do novo presidente a respeito da homossexualidade, seus elogios à ditadura, declarações sobre mulheres, violência, a tal da fonte respondeu aos jornalistas que não era possível “diluí-las”. Seriam estas as “impurezas” que o governo israelense não pode se dar ao luxo de lembrar? A tal da fonte foi clara. Israel precisa dos votos brasileiros na ONU e do dinheiro que os acordos comerciais podem gerar. Isto sem
falar da mudança da embaixada brasileira para Jerusalém. O hit da direta radical antissemita europeia. E do sionismo evangelista cristão americano que aposta na guerra do fim do mundo para apressar o advento de Jesus.
O escritor encarnava a “pureza das armas”. A pureza adulta de ter que lutar pela pátria e saber guerrear pela paz. Pureza de uma israelidade que formou a democracia pela qual lutou na guerra da independência. Luta que precisou retomar contra a aliança entre o nacionalismo chauvinista e os fundamentalistas religiosos. Aliança que vem desmontando o estado laico com a ajuda do governo de Benjamin Netaniau e de seu esforço de se eternizar no poder. Nos dias de hoje o assalto a democracia é via a legalidade dos votos.
Encontrei amos Oz na FLIP. O clima era tenso. De um lado a mesma esquerda desvalida de ideias que mistura antissemitismo com critica Israel e já tinha tentado impedir o autor de ser homenageado numa feira de livros em Turim. Dos escritores árabes que se negaram a dividir com ele a mesma mesa num almoço de congraçamento. No auditório vi Amos Oz pensativo. Apresentei-me. Disse que vinha em nome dos Amigos Brasileiros do Paz Agora. Ao que ele me respondeu em tom de desabafo sem me deixar continuar: “Está sendo difícil ser judeu por aqui”. Uma velha expressão Ydishe dos judeus europeus que eu conheço muito bem.
Rivlin o presidente de Israel, que, apesar de ser do partido de Netaniau tem sido a prova viva que ser de direita não é ser, necessariamente, autoritário. Em nota distribuída hoje ele lamenta: “ Uma estória de amor e luz e agora a escuridão. Imensa. A tristeza cai sobre nós na entrada do sábado. Esplendor dos nossos criadores. Gigante espiritual. Você nos foi muito querido ” Em hebraico, suas palavras remetem ao livro “ Amor e Trevas” e ao cântico de despedida que David faz para o seu amado Abshalom morto na guerra contra os filisteus.
Sem homens como Amos Oz, vai ficando cada vez mais escuro e difícil encontrar judeus como ele.
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