Rami Elhanan, pai da jovem Smadar, 14 anos, que morreu em um atentado suicida em Jerusalém em 1997, apoia o acordo
A libertação de 1.027 prisioneiros palestinos, em troca do soldado israelense Gilad Shalit, gerou reações de protesto mas também de apoio entre parentes de vitimas de atentados em Israel.
Parte de familiares de vítimas de atentados atribuídos a prisioneiros palestinos se disse indignada com o acordo de troca firmado entre o governo de Israel e o grupo islâmico Hamas, mas outra parte, em contrapartida, vê o acordo como um passo positivo na busca por entendimento entre israelenses e palestinos.
A BBC Brasil ouviu argumentos dos dois lados. Shalom Rahum é o pai do adolescente Ofir, de 16 anos, que foi assassinado em 2001, depois ser capturado em uma emboscada armada pela palestina Amna Muna.
Muna, condenada à prisão perpétua, deverá ser libertada na próxima terça-feira, mas não poderá retornar à sua casa na Cisjordânia e será deportada para a Faixa de Gaza.
Em 2001, ela fez contato com Ofir pela internet e, se apresentando como turista, combinou um encontro com ele em Jerusalém. Ofir foi ao local combinado, onde era esperado por Muna e outros militantes palestinos, que o sequestraram e o assassinaram a tiros.
"Me sinto traído"
"Me sinto muito mal hoje, sinto que fui traído pelos políticos que tinham me prometido que perseguiriam os assassinos de meu filho até o fim", disse Shalom Rahum à BBC Brasil.
De acordo com Rahum, "o único consolo" que ele tinha após o assassinato do filho era saber que Muna não sairia da prisão até o fim de seus dias.
"Agora me tiraram até esse pequeno consolo", afirmou. "Esse é um acordo de rendição, e os terroristas libertados ainda poderão matar muitos israelenses."
Rahum também afirmou que não pretende entrar com um recurso junto à Suprema Corte de Justiça de Israel, contra a libertação de Amna Muna.
"Isso não passa de um teatro, todos sabem que a Corte não costuma interferir em decisões políticas do governo, é uma perda de tempo tentar recorrer", concluiu.
"Cuidar dos vivos"
Já Rami Elhanan, pai da jovem Smadar, 14 anos, que morreu em um atentado suicida em Jerusalém em 1997, apoia o acordo. Smadar Peled Elhanan passeava no calçadão Ben Yehuda, no centro de Jerusalém, quando um homem-bomba se explodiu perto dela.
"Não sei, não me interessa e não quero saber se o responsável pelo atentado que matou Smadar está na lista", disse Elhanan à BBC Brasil. "Se estiver, provavelmente a mãe dele ficará contente com sua libertação", acrescentou. Para Elhanan, "é necessário cuidar dos vivos, os mortos nós não podemos reaver".
"Acho que a libertação dos prisioneiros palestinos é uma medida positiva, pois poderá amainar o conflito. A questão dos 6 mil prisioneiros palestinos que estão nas cadeias israelenses é um dos fatores que causam muito ressentimento por parte da população palestina e, para que haja paz, todos os prisioneiros devem ser libertados", acrescentou Elhanan, que pertence ao Fórum das Famílias Enlutadas pela Paz, Reconciliação e Tolerância, que reúne famílias israelenses e palestinas.
O pai de Smadar também disse que entende a dor de Shalom Rahum, pai de Ofir. "A tendência natural das pessoas é de se concentrar no próprio sofrimento, mas temos que entender que do outro lado também há mães e pais que sofrem, temos que romper esse circulo vicioso, para que não haja mais famílias enlutadas", concluiu.
Lista oficial
A lista oficial dos 477 prisioneiros que serão libertados nesta terça feira foi publicada no site da Autoridade Penitenciária de Israel no domingo. A partir da publicação, cidadãos israelenses que quiserem protestar contra a libertação de prisioneiros específicos, poderão apresentar recursos perante a Suprema Corte.
Segundo o acordo entre Israel e o Hamas, mais 550 prisioneiros deverão ser libertados dentro de dois meses. Com a soltura dos primeiros 477, o soldado israelense Gilad Shalit, que está no cativeiro do Hamas na Faixa de Gaza desde junho de 2006, deverá ser libertado
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