O assassinato que impediu a paz
28/10 Nahum Sirotsky, correspondente iG em Israel
Em 1995, parecia que se aproximava a paz entre Israel e Palestinos. Foi quando o assassinato do então primeiro-ministro, Itzhak Rabin, preencheu o lugar da esperança com o luto de todo o povo israelense. Um estudante de direito de pequena estatura, magérrimo, de aparência realmente insignificante conseguiu se aproximar dele no instante em que deixava um gigantesco comício em que se cantavam os novos tempos. Atirou e o matou.
Ygal Amir está em isolamento, preso pelo tempo máximo permitido por lei. Mas a punição nunca supera a força do crime. Foram figuras fisicamente insignificantes que assassinaram o presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy e, pouco depois, seu irmão Robert, candidato à presidência. Foi também uma figura fisicamente insignificante, um estudante, que assassinou o príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro e precipitou a Primeira Guerra Mundial.
Há muitos casos semelhantes na história do mundo. São os insuspeitos na aparência os piores. Quem imaginaria que um ator frustrado assassinaria o Abraham Lincoln, um dos maiores presidentes da história americana, dentro do teatro. Hoje, Israel homenageou a memória de Rabin que, como militar, foi um de seus grandes heróis e como político enfrentou as resistências de extremistas da ultradireita para abrir caminho para um acordo de paz sabendo dos riscos que corria.
A história não se faz de suposições. A hipótese de que se não tivesse morrido haveria a paz não conta. Não houve, nem há. São tantos os obstáculos que não se pode prever quando acontecerá. As pesquisas indicam que é desejo das maiorias. Mas sonhos não rompem barreiras. Nem boa vontade.
Enumero apenas alguns dos problemas para os quais a solução não exige maiorias.
Os palestinos estão divididos em duas partes. A Cisjordânia, onde governa Abu Mazen do Fatah, que defende a hipótese de um Estado apoiado em leis seculares e reconhece o direito de Israel existir - a hipótese de um Estado israelense ao lado de um palestino na mesma terra sagrada. E a Faixa de Gaza governada pelo Hamas, islâmicos que querem um país sob as leis do Alcorão. Os grupos têm relações rompidas. Portanto, não existe uma única voz com quem negociar.
Mas, mesmo os palestinos do Fatah, querem uma Palestina com as fronteiras que existiam em 1967, antes de Israel vencer a chamada Guerra dos Seis Dias, conquistando o Sinai, do Egito, a Cisjordânia e a parte murada de Jerusalém, a antiga cidade, que estava sob domínio jordaniano, Golã.
Desde então, houve a guerra de 1973, duas com o Líbano, dois levantes palestinos, e as Intifadas, caracterizadas por luta com atos terroristas, como homens-bomba, e a paz com a Jordânia e o Egito.
Mas na área que a Jordânia recebeu de volta de Israel e entregou aos palestinos, assentaram-se cerca de 350 mil israelenses, que construíram cidades modernas, implantaram universidades, indústrias, centros agrícolas. Jerusalém antiga foi anexada e unida à moderna com uma lei declarando a unificação como definitiva e toda a cidade como capital de Israel. Não há apoio para a uma nova divisão da cidade da qual as legiões de Roma expulsaram os judeus há dois mil anos. Os palestinos se recusam a receber terras israelenses para compensá-los pelas ocupadas pelos colonos, cujas lideranças não admitem a hipótese de saírem de onde se encontram. A hipótese de conflito entre israelenses caso seja forçada a retirada não é remota.
Israel quer que os palestinos o reconheçam como um Estado judeu. Os palestinos e o mundo árabe rejeitam tal definição. O que parece uma discussão primária, na verdade representa uma decisão de vida ou morte. Sem ser qualificado de Estado judeu, Israel se abre para pressões irresistíveis do retorno dos milhares de palestinos exilados, que hoje somam milhões. Israel, um Estado democrático, possibilitaria a tomada do poder pelo voto, pois os muçulmanos logo seriam maioria. Entre os povos não há a tradição de confiança. São sempre minorias as mais politicamente ativas. E existem minorias que não concebem a coexistência. Não existem obstáculos naturais entre a terra palestina e Israel.
Obama anunciou no início de seu governo que promoveria a paz em dois anos. Passados dez meses as possibilidades do entendimento só diminuíram. Os lados sequer se comunicam. A necessidade de uma solução pacífica é cada vez maior, pois não faltam condições para confrontos. No Sul, em Gaza, há o Hamas com arsenais supostamente poderosos, tropas treinadas inclusive de homens-bomba prontos para o suicídio, No Norte, o Hezbollah aterrissa dezenas de milhares de mísseis capazes de atingirem as maiores cidades de Israel. O Partido de Deus tem Forças bem mais preparadas e motivadas. E a Síria que parece querer conversar, é aliada do Irã, que aparentemente não desiste de ter a bomba.
Obama não aposta mais em enviados especiais que, até agora, não produziram nada. Quem vem aí, como apoio total do presidente americano, é Hillary Clinton, a secretária de Estado, em primeira visita desde a eleição presidencial. O mar não está para peixe.
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