O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana
Sempre começo a escrever um texto quando algum acontecimento meio imprevisto e nada programado acontece comigo, uma situação que me leva a pensar e a refletir. No final, tenho a necessidade de escrever e divulgar meus pensamentos. Na semana passada, não sei como explicar, mas me deparei quase todos os dias com textos e frases do sábio Hilel, que vieram até mim por meios e idiomas diferentes, me trazendo a necessidade de escrever sobre esse iluminado sábio e a sua “Grande Paciência”.
Podemos dizer que, se existiu no período Bíblico um personagem que ensinava e praticava um judaísmo cheio de benevolência, humanismo, amor ao próximo, humildade e, sobretudo muita paciência com os outros, esse personagem foi o sábio Hilel.
Ele nasceu na Babilônia e viveu na Terra de Israel no período do reinado de Herodes, o Grande, e também no período do domínio romano, em que houve grandes turbulências e desafios que o judaísmo teve de enfrentar para poder sobreviver.
Dizem que Hilel viveu por volta dos 120 anos de idade, talvez por isso tenha ganhado o apelido carinhoso de “Hilel Hazaken”, “Hilel, o Ancião”, e morreu no ano 9 da Era Comum.
O sábio Hilel terá um papel fundamental nesse período bastante turbulento da nossa história. Ele perceberá a necessidade de se ampliar a propagação da lei oral entre a população judaica, em contraponto com a corrente dos saduceus, que ainda era a autoridade máxima no Templo de Jerusalém, permanecendo hegemônica até a destruição da cidade pelo general Tito, no ano 70 da Era Comum.
O movimento de Hilel será muito criticado em sua época pelas outras correntes judaicas, que irão considerá-lo como um grande “reformismo” do judaísmo e de suas leis. Na verdade, essa controvérsia sobre o “reformismo” e a grande tensão que ela causa sempre foram muito comuns no judaísmo. Será a proposta de Hilel que levará à criação e ao crescimento de um movimento popular chamado “tanaim”, que, em aramaico, significa “repetir (o que foi ensinado)”.
Imaginem vocês, que revolução bem estruturada foi realizada nesse período pelos tanaim! Eles organizavam pequenos grupos de estudos com seus mestres e, depois de um período de aprendizagem, parte desses alunos se tornavam mestres e criavam seus próprios grupos, mas sempre tendo como autoridade central um grande e sábio rabino que era chamado de nasi (príncipe em hebraico).
Sem dúvida, essa estrutura (muito pedagógica e inovadora para sua época) será uma grande revolução, um “grito manso” dentro do mundo judaico. O movimento de Hilel será uma tentativa prática e bem-sucedida de criar meios de sobrevivência para o judaísmo, diante das forças ameaçadoras que terá que enfrentar em busca da manutenção de sua existência física, cultural e espiritual.
E aqui entra mais uma história do nosso sábio Hilel, que fundará sua própria escola, o Beit Hilel, a qual, por sua vez, tinha como paralelo outra escola: Beit Shamai, mantida pelo sábio Shamai e conhecida por ser mais rígida, com uma postura muito íntegra, mas nada tolerante.
A pergunta que devemos fazer é: como Hilel Hazaken chegou a construir a sua própria escola sendo somente um simples e pobre aluno ele mesmo?
Hilel nasceu na Babilônia e, com cerca de trinta anos de idade, chegou a Jerusalém, onde foi estudar com os sábios Shmaya e Avtalyon. Ele não tinha dinheiro suficiente para pagar seus estudos e seu sustento, pois trabalhava como um simples lenhador e vivia em condições de grandes sacrifícios e pobreza.
Existe uma passagem que nos relata que Hilel era um simples e pobre estudante em Jerusalém, conta-se que a sua situação era tão difícil que não conseguia pagar seus estudos e que foi barrado na entrada da escola por seus mestres. Hilel não abriu mão da possibilidade de ficar sem frequentar a escola e subiu no telhado em pleno inverno, onde ficou deitado sobre um buraco no teto ouvindo as discussões e os ensinamentos. Hilel ficou tão concentrado nos estudos que não sentiu que nevava.
No dia seguinte, quando abriram a escola, alguém viu no teto algo estranho, uma coisa que parecia ser o contorno de um homem. Os alunos subiram lá em cima e descobriram Hilel coberto de neve, congelando e quase morto pelo frio. Rapidamente, ele foi levado para dentro da escola e colocado ao lado de um fogo, para aquecer seu corpo, mudaram suas roupas e o envolveram com cobertas quentes.
A partir daquele dia, os mestres da academia entenderam que, mesmo sem dinheiro, jamais poderiam negar os estudos de Hilel, que não somente conseguirá terminar seus estudos, mas, depois da morte de seus mestres Shmaya e Avtalyon, será eleito para liderar a academia.
Hilel, agora como líder de sua própria academia (Beit Hilel), será diferente de todas as outras existentes, pois ele falava a linguagem do povo, entendia suas dores e suas aflições, sempre tratando com humildade, paciência e tolerância os seus alunos e todos os outros ao seu redor. Ele ensinava a ética judaica através das passagens da Torah e buscava despertar reflexões nos outros durante o seu cotidiano.
Vejam algumas frases do sábio Hilel para entender um pouco do seu rico pensamento e de sua fascinante prática:
"Não faça aos outros o que não quer que façam a você. Aí está toda a Torah. O resto é mero comentário”.
“Sejam como os discípulos de Aarão, amando e buscando a paz, amando a humanidade e aproximando-a da Torah”.
Hilel será um dos grandes responsáveis por adaptar o judaísmo nesses tempos difíceis, que serão ainda piores com a destruição do Segundo Templo, cujas consequências levarão o judaísmo ao quase colapso de sua existência.
Ele é considerado um dos primeiros autores da Mishnah e foi o primeiro a estabelecer o princípio do amor fraterno como condição principal para todos os mandamentos da Torah.
Na tradição, conta-se que, em um dia em que os sábios estavam reunidos na cidade de Jericó, de repente se ouviu uma voz celestial que exclamou:
“Entre os presentes, aqui está um homem sobre quem o Espírito do Todo-Poderoso descansaria, se seu tempo fosse digno disso”.
Todos os olhos estavam fixos em Hilel!
Mas Hilel nunca fez nenhum milagre ou talvez nunca tenha precisado deles, pois o verdadeiro milagre estava sempre em sua intenção de ensinar e de praticar a humildade, a benevolência, o amor ao próximo e a paciência.
Hilel viveu sem pedir nenhum reconhecimento ou glória, simplesmente fez o que nós, seres humanos, temos a grande dificuldade de realizar em nossas vidas, que é:
Palavras do sábio Hilel: “Se eu não for por mim, quem será por mim? Mas se eu for só por mim, o que sou eu? E se não agora, quando?”.
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