Como sírio e muçulmano sempre tive afinidades pelo Estado de Israel.
Como homem de negócios e defensor do sistema econômico liberal, Israel representa, do meu ponto de vista, um sucesso econômico surpreendente, entre tantos fracassos árabes. Eu não meço as realizações em termos de negócios ou dólares, entrando ou saindo (a Arábia Saudita é melhor nisto), mas usando conceitos do valor científico que, definitivamente, é o motor que mobiliza as realizações econômicas.
Enquanto muitos árabes e falsos esquerdistas do Ocidente vêem Israel como uma ferida instalada na região, eu vejo como uma bênção. Posso exemplificar a que me refiro.
Após a desgraça de Virginia Tech, descobrimos que amigos nossos perderam uma filha. Uns dez dias depois fomos visitá-los junto com outros amigos.
Nós conversamos sobre a tragédia e, um de meus amigos mais queridos, a quem respeito muito, relatou-nos um fato que ele tinha escutado. Era sobre como o Embaixador de Israel em Washington tinha conseguido, através de determinados contatos, transladar, por razões religiosas, os restos mortais do Prof. Liviu Librescu para sua família, antes que qualquer membro das outras famílias pudessem ver seus parentes mortos. Ele estava furioso com o Embaixador, mais do que contra a falta de boa vontade demonstrada pelas autoridades, de mandar simultaneamente os corpos dos muçulmanos também perecidos, especialmente o do estudante egípcio.
Waleed Shaalan. Eu lhe perguntei: “o Embaixador egípcio solicitou que o corpo de Shaalan fosse devolvido rapidamente à sua família, como exigem as tradições religiosas?” Ele não soube responder à pergunta mas, mesmo assim, continuou indignado com o Embaixador israelense. Ele se comportou como se a Embaixada israelense tivesse feito isso para ofendê-lo, ou ofender qualquer outro árabe. Para mim, isso confirmou minha admiração por um Estado que respeita seu povo.
Após algumas discussões inflamadas, praticamente todos concordaram que falta aos árabes qualquer sentimento de respeito para com seus povos (basicamente por falta da responsabilidade de seus governos). Os árabes deveriam adotar uma atitude que lhes conceda o que lhes cabe. Isto acontecerá, se eles se preocuparem mais com o “como” do que com o”por que” Israel obtém resultados.
A democracia israelense e sua prosperidade econômica, tão necessária em nossa região, é importante na medida em que nós podemos aprender como obter o que nós merecemos. Não é difícil imaginar nossos jovens, aprendendo o que eles merecem, quando observam a democracia israelense na televisão. Porém, é difícil imaginar que eles possam fazer o que necessitam, enquanto viverem sob um regime autoritário. Esta é a razão pela qual os árabes enviam seus próprios jovens para o terrorismo suicida, em vez de educá-los de forma que eles cresçam e sejam cidadãos do mundo; para que um dia eles possam usar suas relações para ajudar seu povo, como o Embaixador israelense em Washington ajudou a família Librescu. Como eles podem se desenvolver em um meio que anula a esperança no futuro?
Em 60 anos Israel construiu uma economia dez vezes mais forte do que a da Síria, com a quinta parte da população. Como este fato é explicado? Simplesmente: Israel é uma democracia efervescente. Não por nossa culpa, a Síria sofreu uma ocupação após a outra, a última, desenvolvida organicamente, representada pela família Assad. Alguém pode supor que uma família síria ocupando a Síria cause menos danos do que a conquista francesa da Síria. Mas, a verdade é que é muito pior. A família Assad, não tão civilizada, usa técnicas despóticas muito piores. O resultado é que a Síria não apenas sofre pela falta de oportunidades e liberdades, mas também pela ausência de esperança, de dignidade e de orgulho. É uma boa fórmula para a criação de terroristas suicidas.
Quando a conceituada organização Berkshire Hathaway de Omaha imaginou investir no Oriente Médio, comprou ações de companhias industriais israelenses com base em sua excelência. Eu não conheço nenhuma companhia de investimentos ocidental que tenha adquirido ações de uma companhia estatal árabe, além de empresas lucrativas de celulares, que não podem funcionar sem know-how e equipamento ocidentais. Isso não significa que, algum dia, não possa ocorrer. Mas, eu tenho certeza de que não acontecerá a curto prazo, com nenhum dos países que cercam Israel (com excepção, talvez, da Jordânia), enquanto eles não acreditarem naquilo que podem conseguir. Diz-se que, em torno de um terço de todos que ganharam os Prémios Nobel científicos é judeu. Esta proporção é incompreensível. Um terço provém de um grupo de 15 milhões de pessoas, e os outros dois terços pertencem a uma população muito maior, de seis bilhões de pessoas ou mais. Os árabes (na maioria egípcios), conseguiram dois ou três prémios Nobel da Paz e da Literatura (dentre 350 milhões de pessoas), mas nenhum árabe ganhou em ciências, seja nas áreas de Química, Física ou Medicina. Algum argumento até agora contra a importância de Israel na região?
As declarações que se escutam de pessoas como o ignorante Ahmedinajad, que aspira varrer Israel do mapa, ou do violento Hamas, que quer lançar os judeus no mar, me lembra o conto das duas fábricas, construídas uma ao lado da outra. Uma delas teve muito êxito, com empregados que ganhavam bem. A outra não foi tão bem sucedida. Seus empregados ficaram economicamente prejudicados. O gerente da fábrica não tão bem sucedida perde todo seu tempo lutando para destruir a fábrica próspera, quando deveria investi-lo em imitar e aprender com a fábrica bem sucedida, de forma que seus empregados também desfrutassem de similar prosperidade. Se parte dos palestinos não quer aprender (muitos querem imitar o sucesso da empresa ao lado, mas não têm a oportunidade de expressar suas ideias ou de galgar a posições de poder) nós sírios queremos aprender e imitar.
James A. Baldwin disse: “Nem tudo que se enfrenta pode ser mudado, mas nada pode ser mudado até que seja enfrentado”. Do meu ponto de vista a discussão sobre a divisão das terras está em segundo plano, atrás da necessidade de trazer prosperidade ao meu povo.
*Farid Ghadry, Sírio, Muçulmano e presidente do Partido Reforma, da Síria.
Notas
1. Tradução: Walda
2. Artigo originalmente publicado no blog da organização Reform Party of Syria em 5 de Maio de 2007.