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''Eu, perseguido por causa do meu Alcorão'' entrevista com Nasr Abu Zayd

''Eu, perseguido por causa do meu Alcorão''


Nasr Abu Zayd apresentou nesta terça-feira uma conferência na escola superior Sant'Anna di Pisa na manifestação "O diálogo entre as culturas", organizada pela Reset-Dialogues on Civilizations.

Falar com Nasr Abu Zayd, filósofo e teólogo egípcio, significa enfrentar o coração do problema do fundamentalismo e do dogmatismo na religião muçulmana. O seu nome tornou-se uma bandeira da interpretação humanística, ou simplesmente humana, do Alcorão, o que constitui um problema para aqueles que defendem a natureza divina da letra do texto sagrado. O que lhe custou caro, porque uma sentença o declarou apóstata em 1994, modificando o curso da sua vida.

Mesmo que depois a Universidade do Cairo tenha o readmitido ao ensino, a justiça egípcia anulou o seu casamento, pronunciando um divórcio que o obrigou a se transferir com sua mulher para a Europa, onde começou a ensinar, a partir dos anos 90, antes em Leiden e depois em Utrecht, na Alemanha.

Entrevistamo-lo enquanto ele trabalha em uma nova exegese integral do Alcorão em inglês e em árabe e na tradução ao árabe da Enciclopédia do Alcorão em seis volumes.

A reportagem é de Giancarlo Bosetti, publicada no jornal La Repubblica, 02-03-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Qual é o núcleo da sua tese interpretativa?

Eu desejo pesquisar e analisar a estrutura interna e as inter-relações entre as partes do Alcorão não só como texto, mas também e essencialmente como "discurso", como "discursos", no plural. E por estrutura eu entendo o fenômeno do Alcorão como "recitação", como texto falado antes que fosse tomado, sistematizado e codificado na "mushaf", a coleta dos escritos. A minha análise busca indicar os múltiplos destinatários, assim como as múltiplas vozes que falam no Alcorão para dar um passo adiante na compreensão dos muitos modos de discurso que estão presentes: dialógico, polêmico, exclusivo, inclusivo e outros ainda.

Esse é o ponto que lhe é criticado pelos defensores da interpretação literal.

A sobre-enfatização do elemento divino levou ao triunfo da interpretação literal. E isso levou à situação em que certas decisões de natureza histórica acabaram sendo registradas no discurso corânico como uma injunção divina que vincula todos os muçulmanos a prescindir do tempo e do espaço. Descobrindo a dimensão humana incorporada na estrutura do Alcorão, uma hermenêutica humanística se tornaria possível.

Que relação existe entre o fato de que prevaleça uma ou outra interpretação e a relação entre o Islã e a modernidade? E com a democracia?

Colocar o Alcorão e a tradição profética no seu contexto histórico irá demonstrar aos muçulmanos que os temas da modernidade e da democracia devem ser discutidos de modo independente de qualquer limite teológico ou jurídico.

De que modo o seu ponto de vista pode ser defendido e encorajado entre os estudiosos muçulmanos? O senhor acredita na possibilidade de criar uma rede de pessoas que compartilham da mesma visão?

Sim, isso é possível e plausível. Trabalhando na Fundação "Liberty for all", a rede que está sendo criada. Um dos principais programas da fundação será dedicado ao ensino e à difusão, tanto em rede quanto por meio dos meios de comunicação de vídeo e áudio, a abordagem e a metodologia da visão moderna e da interpretação do Alcorão e da tradição profética.

Qual é a sua relação com as autoridades religiosas dos países muçulmanos? E com os muçulmanos que vivem na Europa como imigrantes ou como novos cidadãos?

As autoridades religiosas são aquelas que defendem o tradicionalismo. Desprezam qualquer iniciativa de mudança. Às vezes, são obrigadas a enfrentar as situações em evolução, mas fazem isso contra sua vontade. Por isso, não posso reivindicar uma relação positiva com nenhuma autoridade religiosa.

O senhor ainda é considerado apóstata? O que devemos pensar a respeito do fato de uma pessoa como o senhor ainda ser considerada um perigo? Um perigo para quem?

Para algumas pessoas, sim, sou um apóstata. Mas se trata de uma minoria cuja autoridade é contestada e ameaçada pela minha impostação. Trata-se de uma ameaça perigosa, porque destrói o seu monopólio e encoraja o pensamento autônomo.

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