Mas não se enganem ao achar, que é mais um livro sobre os imigrantes judeus que chegaram ao Rio de Janeiro e se instalaram na Praça Onze, no inicio do século XX.
“Mentch: a arte de criar um homem”, trata da trajetória de um menino marcado pelas vozes de duas mulheres decididas a transformá-lo num mentch (palavra em ídish que se refere a pessoas atentas aos valores éticos e praticantes do bem).
Com o lançamento marcado para o próximo dia 19 de julho, na Livraria da Travessa de Ipanema, o autor não esconde a ansiedade de ver a reação das pessoas após lerem o livro, que demorou 6 anos para sair do forno.
“É um livro que tem muitos conflitos. Para começar, uma mãe oriunda do movimento socialista europeu, que aposta na revolução comunista como única maneira de resolver as injustiças do mundo e o sofrimento do povo judeu. Por outro lado, uma avó, educada por um rabino cabalista, busca reconstruir dentro da casa de vila, a aldeia do interior da Polônia onde nasceu. Enquanto a avó se esforça para apressar a chegada do messias salvador, a mãe se engaja numa organização de esquerda judaica em pleno coração do Rio do Janeiro”, revela Paulo.
Acho que já deu para sentir, que essa história é diferente de tudo que você já leu com temática judaica, não? Bem, enquanto aguardamos pelo lançamento do livro, o Nosso Jornal fez uma entrevista exclusiva com Paulo Blank, onde ele nos conta um pouco sobre o que pulula em sua “mentch” (vale o trocadilho).
.É um livro autobiográfico?
-Como diz Amós Oz, é o leitor quem vai decidir. Mas posso adiantar que não é um livro de memórias.
.Mas você morou na Praça Onze.
-Costumo dizer que sou um judeu retardatário pois, morei na Praça Onze de 1949 a 1961, ou seja, na década de 50, quando a comunidade judaica, praticamente, já havia se mudado desse bairro.
.Você enfoca duas personalidades muito fortes em nossa cultura judaica, a mãe e a avó. O psicanalista ajudou na composição desses personagens?
-Freud dizia que os poetas e os escritores sabiam muito mais sobre as pessoas do que os próprios psicanalistas. O psicanalista, escritor e poeta Helio Pellegrino dizia que toda obra de Freud não passava de uma nota de rodapé da comédia humana de Balzac. Respondi a sua pergunta?
.Você fala que a mãe do menino é uma socialista, que acreditava num mundo mais justo e que o comunismo seria a salvação, inclusive para os judeus, que deixariam de ser perseguidos. Como você vê, hoje, o pensamento do judeu de esquerda em relação àquela época?
-A decepção com o sonho da revolução socialista como ideal de mundo é mencionada na história e acredito que não exista, hoje, um judeu comunista nos moldes daquele tempo.
.Quem você acha, ser o público-alvo do seu livro? A comunidade judaica?
-Acho que a temática judaica não é, necessariamente, para os judeus. Não é um livro étnico, mas que narra pela ótica judaica, a luta pela vida, os conflitos sociais e a cultura humana. Como disse um escritor russo, “a gente deve sempre escrever, sobre a própria aldeia. Quanto mais mergulho no particular, mais universal me torno”. Como autor, me preocupo em construir e desenvolver os personagens. A Praça Onze é a aldeia e o sionismo, socialismo e conflitos de classes do século XX são os temas que abordo no livro. O livro não é sobre a mãe ou a avó, é sobre o menino.
.A visão do menino sobre o mundo em sua volta?
-O narrador é o menino, o livro é escrito na primeira pessoa. O autor assume a mente do menino. Nessa narrativa, as figuras centrais são as duas mulheres, mãe e avó, mas também há outros personagens de destaque como o lerer (professor) Roizen. Fala sobre uma época onde o antissemitismo, integralismo eram muito presentes naquele ambiente, pós guerra.
. É um romance com ou sem aventura?
-É um romance com mistério e isso vai se desenrolando aos poucos. Começa na casa do menino, vai para a rua e depois para a escola. É uma historia que vai sendo costurada aos poucos. Trabalho muito com a imaginação.
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