Estradas em Israel são um arraso. Desbunde mesmo, cada uma com seu número de identificação, pares quando no sentido norte-sul, ímpares no leste-oeste, curtos para estradas grandes (um dígito), compridos para estradas pequenas (até quatro dígitos). Pavimentação impecável, cruzamentos coerentes e organizados, sinalização incrível e em três línguas, coisa obrigatória por aqui. Não apenas eu amo as estradas israelenses: todo o resto da população também. Isso deve ser uma das razões pelas quais os locais têm ou sonham em ter um carro, motivo que corre em páreo com o fato de o transporte público intercidades ser uma lerdeza e pouquíssimos felizardos desfrutarem da alegria de trabalhar na mesma cidade em que residem. Tudo isso colocado, vai aqui a má notícia para quem ainda não sabe: os congestionamentos por aqui, ou “pkakim” em hebraico, são um inferno.
Segundo as estatísticas do Governo, existem hoje perto de 2,8 milhões de carros circulando, e cada um dele roda cerca de 37 mil quilômetros por ano. Foi divulgado recentemente que o número de acidentes fatais no trânsito reduziu-se em cerca de 25% de 2011 para 2012 (algo em torno de 300 mortos). Isso colocou Israel, segundo a Secretaria Nacional de Segurança no Trânsito, no lugar de 11º país do mundo mais seguro para se dirigir.
Esses números condizem com a minha sensação como motorista. Embora haja tanto carro e um buzinaço sem tamanho – o israelense motorizado é um tanto neurótico e não perde a oportunidade de expressar sua opinião enfiando a mão com vontade na buzina –, o trânsito é civilizado, de forma geral: o sinal amarelo é obedecido e a faixa de pedrestes, respeitada. Esseparadoxo de extrema educação com quem está a pé e a falta dela para com o motorista vizinho é só mais um dos muitos nesse país.
Tel Aviv travou de vez. E a tendência é piorar, devido à quantidade de torres estratosféricas que estão sendo erguidas em meio às vielas da cidade, criando uma mistura de arquitetura bem interessante, que transita do Bauhaus, passa pelo semicortiço e chega em aranha-céus (fazia tempo que não usava essa palavra!) envidraçados. Em uma matéria meio antiguinha que li no Haaretz (de 2010), um dos maiores jornais das bandas de cá, o ministro das Finanças calculava 20 bilhões de shkalim por ano (arrendondando dá uns 5 e tantos bilhões de dólares) em perdas financeiras resultantes dos congestionamentos. Quase 20% desse valor teria sido gerado pelos congestionamentos em Tel Aviv e seus arredores.
Nossa amada capital, Jerusalém, está congestionada já faz alguns milênios e não ouvi falar sobre nenhum plano viável e próximo de corrigir o problema. O que já foi anunciado, isso sim, é que a composição de números que constam nas placas dos veículos – hoje são sete – vai aumentar para 8 para atender ao crescente número de veículos na rua. Enquanto isso, ninguém escapa desse fuzuê, e até a minha “hometown”, a pequena Raanana, mirradinha e suburbana com seus 90 mil habitantes, se rende ao caos em horários de pico, de manhã e no fim da tarde.
E assim, de buzina em buzina, a gente vai prosseguindo aqui, com a ajuda divina e do Waze, esse sistema bacaninha de GPS que ficou famoso também fora da aqui quando o Google o comprou, em junho passado, por 1,1 bilhão de dólares. A coisa que mais gostei nessa história da aquisição foi a exigência dos executivos da empresa: paga e leva, mas deixa a operação da empresa aqui em Israel. O Waze é, aliás, meu vizinho – o escritório deles está aqui em Raanana. Quem sabe não descolo um emprego por lá? Daí entro, contente da vida, na lista dos poucos felizardos que não precisam pegar estrada para trabalhar. http://www.conexaoisrael.org/transito-israel-waze/2013-10-16/colabo...
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No lugar certo, na hora certa
Miriam Sanger, nascida em Recife mas de sangue paulistano, formou-se em Jornalismo em 1991 pela Faculdade Cásper Líbero Chegou a Israel em julho de 2012 e vive com a filha pré-adolescente em Raanana, no centro do país. Temas ligados a cultura, judaísmo, sociedade e comportamento a interessam especialmente. Por isso, mas não só por isso, não tem dúvidas de que está no lugar certo, na hora certa. (SP).
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