Diário de Guerra 1 – A Volta
Jayme Fucs Bar
No momento em que estourou a guerra em Israel, eu estava a trabalho em Portugal. Seguindo o instinto israelense, que é sempre muito claro nessas ocasiões, decidi voltar a Israel de forma imediata. E aí começou a corrida para conseguir lugar num voo da El Al, a única companhia disponível e com experiência em lidar com esse tipo de desafio.
Muitos outros israelenses fizeram a mesma coisa. Por isso, foi difícil encontrar um lugar, mas por fim consegui. Meu pensamento era estar em Israel o mais rápido possível, pois um de meus filhos foi convocado para atuar na linha de frente no norte de Israel. Assim como ele, milhares de israelenses estão lutando por nossa existência. Chego a Israel com um único objetivo: proteger meus 4 netos e apoiar minha nora neste momento difícil.
No aeroporto em Lisboa, me senti meio desorientado com a passagem brusca de uma realidade a outra. Da paz e do sossego em Portugal para um clima de guerra, uma guerra sangrenta causada por um grupo de terroristas islâmicos, cujo único intuito é nos exterminar, e não defender a Palestina.
Um jovem oficial me atendeu na seção de controle de passaporte e, com meu passaporte nas mãos, verificou que sou israelense, nascido no Brasil, me questionou: "Estás a voltar a Israel para a guerra?"
Expliquei a ele que adoro Portugal, mas voltar a Israel era uma necessidade vital neste momento de sobrevivência do nosso povo.
Ele mexeu com a cabeça aprovando minhas palavras e disse: “Entendo perfeitamente, eu estive na guerra no Afeganistão e ninguém aqui sabe o que é uma guerra contra o fundamentalismo islâmico radical.”
E continuou: “Esta não é uma luta pessoal de vocês israelenses. Admiro vosso povo, pois sei o que muitos não sabem, que vocês não estão lutando somente por vocês, mas por cada um de nós aqui na Europa e todo o mundo livre.”
Fiquei surpreso com a afirmação do oficial no balcão, que naquele momento deixou os outros viajantes de lado na fila. O rapaz carimbou meu passaporte e reafirmou “Vai, irmão, que Deus te proteja e todo seu nobre povo. Poucos sabem o que vocês estão enfrentando e fazendo por todos nós.”
Nem preciso dizer que saí dali muito emocionado.
Como era de se esperar, por questão de segurança, o avião não saiu no horário marcado. No vôo, todos sem exceção eram israelenses. Parecia que estávamos em casa; as formalidades comuns em voos normais não existiam.
Sentei-me ao lado de duas jovens que estavam aflitas para chegar, tinham familiares que haviam sido raptados pelo Hamas. Quando o avião pousou no aeroporto Ben Gurion, foram muitos os aplausos e gritos de Am Israel Hay Vêkaiam (O povo de Israel vive e existe).
Todo o processo de saída do aeroporto praticamente vazio foi muito rápido. Lá fora, jornalistas entrevistavam os jovens que chegavam para se engajar nas fileiras do exército de Israel, abandonando seus passeios e aventuras.
Yosique, que vive no meu kibbutz, foi me buscar. No caminho para casa, ele contou como estamos organizados no kibbutz para qualquer tipo de enfrentamento. Cheguei cansado, fui dormir um pouco e me preparar para encontrar minha nora e meus netos.
Ao chegar a casa deles, ouvi a única palavra em português que eles nunca esquecem: VOVÔ!
Abraços e beijos de felicidade e carinho. Sinto que cumpri minha a missão, que é ficar aqui com meus netos e principalmente procurar dar total segurança ao meu filho que está nessa guerra lutando por nós.
Quero que ele saiba que seus filhos estarão protegidos por mim e por nossa comunidade, custe o que custar.