JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

“CLIENTELSHIK”

De Shpola a Porto Alegre.

 

David Iasnogrodski – escritor, engenheiro, administrador – david.ez@terra.com.br

davidiasnogrodski.blogspot.com

 

“Palavrinha” diferente, mas muito conhecida pelos imigrantes de origem judaica que chegaram ao Brasil.

“Palavrinha” que tem uma mistura de clientela e cliente.

“Palavrinha” que estes imigrantes idealizaram para poder trabalhar e se comunicar com os “fregueses”. Eram os ambulantes. Eram os mascates. Eram os vendedores. Eram as pessoas que difundiram o crédito entre nós. Eram os freqüentadores das ruas, avenidas. Estavam presentes em todos os bairros com suas mercadorias.

 

Shpola é a cidade de onde veio o nosso personagem. Ficava na Rússia. Perto de Kiev.

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Está difícil!

Muito difícil...

Língua.

Clima.

Mas vou me acostumar. Tenho que me acostumar...

Sou jovem.

Vão me ajudar. Vou me ajudar!

Cheguei agora. Da Rússia. Da cidade de Shpola. Vim de navio. Que viagem...

Cheguei com meus pais. Tenho 14 anos. Sou “idisch”. Só falo “idisch” e russo.

Estou recebendo apoio de todos. De todos mesmo...

Cidade linda. Grande! Muito maior que a minha... Já tenho amigos. Estou gostando dos vizinhos. Estou me acostumando com a comida. É bem diferente... Amanhã começarei a trabalhar. Já estou estudando o português no “idish" shule” (colégio israelita) que fica atrás do “shill” (sinagoga). Ali na Rua Henrique Dias.

Amanhã vou trabalhar. Estou muito querendo trabalhar! Necessito ajudar em casa. Me ensinaram um trabalho novo. Vou ser um “clientelshik”. Isso é que me disseram... Um “clientelshik”. Me disseram que eu terei que conversar com pessoas. Não vai ser fácil... Mas vou vencer!

Já comprei uma mala. Já fui no centro e comprei meias, rendas e bordados.

Me ensinaram que tenho que sair bem “arrumadinho”. Me conseguiram um boné, um terno, gravata, camisa branca juntamente com sapato e meia preta. Estou satisfeito. Amanhã vou trabalhar. Não sei se vai chover ou fazer sol, só sei que amanhã inicio uma nova vida. Que bom!!! Serei um “clientelshik”. Vou bater nas portas e procurar “freguesas”. Esta palavra “freguês” foi uma das primeiras palavras que aprendi no colégio, assim como “muito obrigado”. Estas duas últimas aprendi no navio junto com meus pais e irmãos. “A gente tem que agradecer sempre: deve-se sempre dizer muito obrigado”, disse um “irmão de navio” que sabia algumas palavras nesta nova língua.

Acordei cedo. Saí à rua.

Peguei o bonde até o centro e fui para o bairro da Azenha.

- Meias, rendas, bordados...

- Meias, rendas, bordados...

Assim comecei a falar nas ruas e batendo nas portas oferecia as meias, rendas e bordados que tinha na mala para as pessoas que me atendiam nas casas. Na maioria eram mulheres. Na maioria foram corteses comigo. Será que me atendiam bem pois eu era um jovem; ou porque se interessavam pela mercadoria? Não sei. Só sei dizer que cheguei no por do sol em casa muito feliz, dizendo à minha mãe: “Estou trazendo um” guelt” (dinheiro) para nós”. Todos ficaram sorridentes com o resultado do meu primeiro dia de trabalho.

Assim iniciei minha vida de trabalho como “clientelshik”.

Assim continuei minha vida de “clientelshik”. Batendo nas portas. Visitando as ruas. Conhecendo a cidade que me acolheu tão bem juntamente com minha família. Sempre sorrindo. Sempre satisfeito.

Trabalho duro!

Trabalho com sol!

Trabalho com chuva!

Trabalho honrado.

Encontrando “colegas”.

Assim casei. Assim criei meus filhos. Queria e consegui que meus filhos fossem “doctors” ( doutores). Não queria que eles continuassem a vida que eu tive...

Eu, e tantos outros imigrantes, formamos o time dos “clientelshik” – os mascates. Os ambulantes que ambulavam por estas ruas e avenidas oferecendo: “Meias, rendas, bordados”.

Me orgulho muito de ter sido um “clientelshik” – os criadores do crediário, quando todos tinham “bigode”. O crédito era na confiança dos clientes...

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Meu pai foi este “clientelshik” acima relatado.

Muito andei com ele. Muito ajudei, na medida do possível... Muito conheci esta “minha” cidade graças aos ensinamentos dele.

Me orgulho, assim como meu irmão e minha mãe, do “clientelshik” Moshke (Mauricio) e de todos os demais integrantes deste grande time de “clientelshik” da cidade de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Que lindo!

O termo e a profissão.

Honrados.

Honestos.

Conhecedores da sua cidade e reconhecidos à cidade e à população que deu acolhida.

De Shpola a Porto Alegre...

 

 

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