Tomo a liberdade de transcrever esse texto do Carlinhos:
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Direitos Humanos são sempre os direitos dos que pensam e agem diferente de nós. Será que nossos fundamentalistas judeus concordam com isso?
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A Declaração dos Direitos do Homem das Nações Unidas é muito jovem. Tem apenas 60 anos.
Mais antigo, com 220 anos, é o lema da Revolução Francesa: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.
Mais antiga ainda, com 233 anos, é a Declaração de Independência dos Estados Unidos: “Todos os homens foram criados iguais, e receberam de seu Criador certos direitos inalienáveis, entre eles o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade”. E, inspiradora de ambas as declarações, a Carta de Direitos da Revolução Gloriosa, de 1689, na Inglaterra – onde, há mil anos, surgiram também a Magna Carta e o habeas-corpus.
Bem mais recentes, com 79 anos, são as Quatro Liberdades defendidas pelo presidente americano Franklin Roosevelt, como contraponto ao totalitarismo nazi-fascista: exercer a livre expressão, livremente escolher seu culto, estar livre das necessidades, ficar livre do medo.
São belos princípios, belas declarações, belíssimos textos; infelizmente são pouco aplicados – e exatamente por isso são tantas vezes reafirmados. É necessário relembrá-los a cada passo da História humana.
Mais da metade do mundo sofre com ditaduras, que abominam a livre expressão, combatem o livre culto e utilizam o medo como forma de impor seu poder; mais da metade do mundo sofre com necessidades que, no atual estágio de desenvolvimento da Humanidade, não têm qualquer razão de existir.
Nem Liberdade, pois, nem Igualdade. Quanto à Fraternidade, sabe-se lá quando a teremos: basta lembrar que dois grupos com a mesma etnia, o mesmo Alá e o mesmo Maomé, sunitas e xiitas, só conseguem unir-se no ódio a seus parentes judeus, como eles descendentes do mesmo pai Abrahão, como eles crentes no mesmo Deus único.
Nós, judeus, sabemos quanto valem os direitos humanos – onde eles faltam, estamos sempre entre as primeiras vítimas. Mais do que isso, temos uma longa, complexa e gloriosa herança ética a respeitar. E, considerando-nos o povo eleito, um povo de sacerdotes, como acreditamos, como diz a Bíblia, nossa responsabilidade é muito maior que a de outros povos e nações. Temos o direito de exigir que nossa liberdade, inclusive religiosa, seja respeitada. Mas temos o dever de agir para que a liberdade dos outros não sofra qualquer desrespeito (e, mais do que tudo, não é admissível que um eventual desrespeito tenha origem em nós).
Foi triste, por exemplo, o episódio de Akko. Um morador árabe andava de carro, com o rádio alto, no Yom Kippur. Não era uma atitude adequada; mas reagir com violência e pedradas, como ocorreu, foi menos adequado ainda. Uma jovem foi espancada por usar roupas que os moradores de um bairro ultra-ortodoxo de Jerusalém consideraram inadequadas (mas que estavam de acordo com os costumes da imensa maioria da população e rigorosamente dentro da lei). E se as roupas da moça fossem mesmo inadequadas: será isso motivo para espancá-la, ou lapidá-la? Que tipo de roupas usava nossa mãe Eva? Teremos, ao menos alguns de nós, nos transformado em fundamentalistas tão irracionais e fanáticos quanto os do Irã?
Não, não podemos ser assim. Citando uma famosa revolucionária judia, Rosa Luxemburgo, “liberdade é sempre a liberdade de quem pensa diferente”. E, ao contrário de tantas outras nações, o povo judeu não pode abandonar seus compromissos com a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, com as Quatro Liberdades, com os direitos inalienáveis do ser humano. O mais antigo documento conhecido a tratar de direitos humanos foi-nos trazido há milhares de anos por Moisés e está na origem da História judaica.. E, como todos sabemos, a Humanidade estaria bem melhor se, em vez de tantas leis, normas, decretos e portarias, seguisse simplesmente os nossos Dez Mandamentos.
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*Carlos Brickmann é jornalista e consultor de Comunicação.
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