JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana



FREUD E A JUDEIDADE - Davy Bogomoletz

“Se eu estiver certo, os alemães dirão que sou alemão,
e os franceses dirão que sou filho da humanidade.
Mas se eu estiver errado,
os franceses me chamarão de alemão,
e os alemães me chamarão de judeu.”

Albert Einstein, sobre a teoria da relatividade


Fragmento de poema exposto na Estação Armênia do Metrô de São Paulo:

“Filhos da diáspora,
Filhos da destruição,
Filhos do massacre,
Dispersos pelo mundo,
Crescendo em terra estranha,
Perseguidos por dois milhões de fantasmas,
Teus filhos, quando adormecem,
Mãe Armênia,
Te sonham em línguas estrangeiras.”

Diana Der Hovanessian, 1995







O PARADIGMA E O PARADOXO: UMA DOCE DIATRIBE
Um passeio por dois mil anos, dois exílios, duas disciplinas
e dois paradigmas.

A vida humana é marcada pela pólis, o convívio, a contigüidade, de um lado, e pelo pólemos, a querela, a discordância, etc., de outro. A vida é uma briga. E em geral, uma briga na pólis, a cidade, o ajuntamento. Ou seja, a nossa vida consiste nesse jogo eterno de ajuntamento e rejeição, de aproximação e afastamento, de amor e ódio. Vivemos todos na pólis, mas não vivemos sem o pólemos. Schopenhauer, com sua história sobre os porcos es-pinho nas noites de inverno, tinha toda a razão.
Um dos grandes problemas da humanidade foi sempre o de conviver com esse eterno conflito. E sempre houve quem tentasse encontrar saídas para essa situação intranqüila, desconfortável. O Partido Nacional Socialista alemão quase chegou lá. Faltou pouco. As religiões foram, certamente, um dos instrumentos mais antigos para tanto. Depois veio a filosofia, e hoje so-mos nós, os psicanalistas, que brigamos com essas eternas brigas.
Na mitologia grega a briga é um a priori. Os elogios de Hesíodo aos homens das primeiras estirpes incluíam sempre a bravura, a excelência nas artes da guerra. Portanto a guerra estava lá, desde os primórdios dos pri-mórdios.
Na mitologia monoteísta hebraica a primeira briga ocorre entre os humanos e seu criador, Deus. Mas há algo antes da briga, que é o paraíso. O homem é expulso do paraíso porque não confina a sua vontade aos limites que lhe foram dados. Por algum tempo, porém, viveu no paraíso, onde não havia briga.
Se fizermos um confronto entre essas duas antropogonias, a grega e a hebraica, surgirá um paralelo com as duas grandes correntes psicanalíticas – a clássica, representada por Freud, Melanie Klein e Lacan, e a pós-clássica, (outros nomes seriam de algum modo ofensivos à teoria clássica, e não pretendo comprar agora uma briga) – representada por Winnicott, Bowlby e possivelmente Kohut. (O paradigma de Kohut, suspeito, não é o freudiano).
Uma das diferenças básicas entre as duas antropogonias e as duas vertentes da psicanálise é essa etapa inicial, paradisíaca, que existe numa e não na outra. Uma concepção das origens do humano que coloca o conflito já no primeiro momento de sua existência implica numa visão de mundo – portanto, num paradigma – em que o homem é um inteiro no momento em que passa a existir. Já a visão de mundo que fala de um momento inicial em que não há conflito indica que algo acontece antes de o indivíduo tornar-se inteiro e entrar em conflito – interior ou externo.
Recentemente traduzi para o português um artigo de Zeljko Loparic em que ele analisa, a partir das proposições de Kuhn, os paradigmas adotados por Freud (e portanto por Melanie Klein e Lacan) e por Winnicott – e talvez por Kohut. Segundo Loparic, uma das diferenças básicas e mais importantes entre as teorias de Freud e Winnicott é: Para Freud a vida emocional começa, do ponto de vista psicanalítico, no momento em que o indivíduo é um inteiro e se relaciona com outras duas pessoas – ambas inteiras. Para Winnicott a relação inicial é entre um – que nem sequer é um – o bebê, e um outro, a mãe, que ainda não é inteira (do ponto de vista do bebê).
Para Winnicott a questão do pai – que Freud e Lacan privilegiam acima de tudo – é secundária à questão representada pela mãe. (O modo como Klein refere-se à mãe não nos interessa aqui, pois é uma visão que praticamente a exclui como agente no processo de desenvolvimento do bebê.) E nessa área, em que a relação com a mãe é fundamental e fundante, ainda não há conflito. Ou não deveria haver.
O paraíso existe, talvez no sentimento oceânico de Ferenczi, e certa-mente no estado inicial de não integração de Winnicott. O paraíso é sentir-se só na presença do outro, como diz ele, é poder estar ao lado de alguém e simplesmente ser, sem fazer absolutamente nada – nem pensar, no caso de um adulto. O paraíso consiste em depender sem receio, para depois rebelar-se e ir para o exílio ou, na linguagem bíblica, ser expulso do paraíso.
A frase inicial que serve de epígrafe para o livro de Betty Fuks, a frase de Jabès segundo a qual “O exílio foi, talvez, a primeira questão, pois o exílio foi primeira palavra – e antes—do—exílio é o antes—da—palavra”, está correta se ‘exílio’ significa ‘não simbiose’, mas leva a um grande equívoco se seu sentido for: ‘antes do exílio (e da palavra) não havia nada’. Pois o que há antes do exílio é aquilo que permite a todo o resto existir. E isto por mais que linguagem, como diz a autora, seja “tudo aquilo que contém expressividade, sem necessariamente estar contido no discurso”, como lembra Chaim em sua resenha ao livro (ver adiante).
No mito grego é como se o homem fosse um mero desenvolvimento a partir do animal: Um animal magnífico, mas vindo da terra assim como todos os outros. A mãe terra os produz. No mito hebraico há uma mudança qualitativa, uma descontinuidade entre a existência animal e a existência propriamente humana – há um “paraíso”. E há também um sopro – que não gratuitamente é dito, tanto em hebraico quanto em grego – e só aqui as duas culturas concordam, até onde me é dado saber – pela mesma palavra que diz ‘espírito’ e ‘alma’ – rúach, em hebraico, e pnêuma, em grego.
No mito hebraico, o homem que vem do pó da terra (do reino da natureza) recebe dois acréscimos: esse hiato entre o não ser e o começar a ser plenamente, o tempo depois do útero e antes do mundo, e o sopro, o pnêu-ma, o rúach. Neste sentido, o teórico da psicanálise que melhor compreendeu o espírito do judaísmo não foi o judeu Freud, mas o cristão Winnicott. E por falar nisso: Teria o cristianismo de Winnicott algo a ver com as suas teorias psicanalíticas, como o judaísmo teve a ver com as de Freud? Por que nunca ninguém pensou nisso? Ou será que alguém já pensou – e eu não estou sabendo? É possível.
Mas há dois lados nesse judaísmo, e poucos são, judeus ou não, os que levam isso em conta. Há o lado de Adonai, o Deus que ampara e perdoa, e há o lado de Elohím, o Deus que julga, que define e limita. Não são dois deuses, mas um só – e essa é a grande contribuição do monoteísmo judaico à espécie humana (a meu ver, claro). Um Deus ao mesmo tempo pai e mãe, ao mesmo tempo perdão e exigência, ao mesmo tempo limite e tolerância. Um Deus paradoxal, diria Winnicott – e quem não entende de paradoxos terá que escolher entre um lado e outro. Pois a grande contribuição do judaísmo à espécie humana é esse paradoxo – e foi Winnicott que o transformou em teoria psicanalítica. A mãe ama e odeia o bebê, porque se apenas o amar, fará dele – como diz a psicanálise clássica – o pênis que ela não tem. A mãe que apenas ama é a mãe carente, não centrada, que busca em outrem a completude que não lhe é possível perder. Essa mãe ‘narcísica’ faz do filho um espelho, que lhe completa a imagem de si mesma. A mãe incapaz de odiar nega a própria agressividade, e jamais admitirá que o filho se separe e tenha vida própria. Pior: seu amor é falso. (A mãe judia da piada é exatamente assim. Por falar nisso, e a dona Amália, a mãe de Freud? Pelo que dizem, podemos suspeitar de uma mulher “fálica”, que não teria conseguido admitir a incompletude.)
Essa “mãe judia” – judia ou não – é a mãe que precisa da intervenção do pai para romper a simbiose. Mas essa é uma mãe doente, emocionalmente subdesenvolvida. Se pensarmos uma mãe não muito doente, veremos que ela também odeia o filho – o suficiente para volta e meia querê-lo longe, porque ela tem uma vida própria, e por isso não estranha (e até suspira de alívio) quando ele deseja o mesmo. E esta mãe não precisa que o pai rompa a simbiose – ela própria a desfaz. O filho é dela, porque senão ela não se daria ao trabalhão que ele dá, mas não é dela, porque ela já tem a si própria (e talvez também ao marido), não é ele que a completa. O filho é dele mesmo, e isso só é possível se ela é dela mesma. “Se eu sou eu porque eu sou eu, e tu és tu porque tu és tu, então eu sou eu e tu és tu. Mas se eu sou eu porque tu és tu, e tu és tu porque eu sou eu, então nem eu sou eu nem tu és tu”. Assim disse um dos grandes mestres hassídicos, o Rabi Menahem Mendel da cidade de Kotzk, mais de cem anos antes de Winnicott. E por que ele o disse? Porque acreditava que o exercício do judaísmo não pode ser uma imitação. A relação com Deus ou é verdadeira ou é nada. Ou existe autenticidade, ou nada vale nada. Ele chegou a isso graças a um movimento religioso que provocou, no judaísmo tradicional, ou clássico, uma revolução semelhante à que Winnicott trouxe para a psicanálise. Uma revolução que, metaforicamente falando, destronou o pênis do pai e colocou no trono, em seu lugar, o colo da mãe (eu disse propositalmente colo, não seio). O hassidismo resgatou, para o judaísmo, a dimensão da compaixão divina que andava um tanto esquecida pelos judeus da época. Seu fundador, o Rabi Israel ben Eliézer, também chamado Baal Shem Tov, deve ter percebido, como percebemos nós, psicanalistas, nos pacientes que nos procuram, que os judeus de então precisavam de um tempo extra num lugar parecido com o paraíso materno, no colo, na acolhida às suas necessidades primárias, de não conflito, não exigência, não cobrança, e inventou esse movimento espantoso chamado Hassidismo.
O Rabi Menahem Mendel era, ele próprio, terrivelmente exigente, e exigia espontaneidade e autenticidade, e por isso caiu em depressão e passou os seus últimos vinte anos sem falar com ninguém. Paradoxos.
Mas para entender do que se trata aqui temos de voltar aos tempos de dois rabinos bem anteriores. No primeiro século da era cristã viveram os rabinos Hilel e Shamai, representantes dos dois paradigmas de que estou falando. Hilel era suave, bem humorado, acolhedor. Shamai era sério, exigen-te, impaciente. Hilel queria que o homem fosse bom, Shamai exigia que ele o fosse. E assim diz Jayme Barylko, no artigo “Hilel e Shamai, una polêmica existencial”: “Shamai estabelece a idéia. É função dos homens educar-se, aproximando-se à idéia. Se ocorre o fracasso, são os homens que fracassam, não a idéia. A pedagogia de Hilel centra-se no homem: as idéias devem ser reduzidas à dimensão humana, caso contrário são idéias sem vigência, ou, em última instância, anti-idéias. (...) Shamai é um humanista extremado. Ama os homens tanto ou mais que Hilel, por isso insiste em exigir-lhes o melhor, não lhes faz concessões. Hilel é tanto ou mais humanista que Shamai, por isso insiste em começar de baixo.” Para Shamai, Deus é grande, por isso é preciso exigir o máximo dos homens no esforço de servi-lo condignamente. Para Hilel, o homem é pequeno, por isso não se pode exigir dele um esforço grande demais. E Deus, diz Hilel, porque é grande, compreenderá se o homem não fizer tudo que deveria ter feito. O Deus de Shamai é um Deus freudiano, que se fosse psicanalista agiria como o bom cirurgião: para o bem do paciente, é preciso não ter piedade alguma de suas queixas e dores temporárias (as ‘demandas’ lacanianas). Já o Deus de Hilel é um Deus winnicottiano: um Deus que se fosse psicanalista agiria como a mãe suficientemente boa, e ensinaria o paciente a brincar, se ele não o sabe, para depois acompanhar e estimular o seu crescimento.
Por isso diz Shamai: “Faz muito e fala pouco”, uma proposição perfeitamente racionalista, que primeiro concebe o bem e depois o busca na vida prática. E Hilel diz: “Não julgue o teu próximo antes de teres estado em seu lugar”, uma percepção nítida de que não é possível exigir que o outro cresça, pode-se apenas tentar compreendê-lo, ajudando-o assim a crescer. Shamai exige e cobra. Hilel exorta e perdoa. Os dois amavam-se como irmãos, cada qual achando que o outro era o maior em sua geração.
O cristianismo – poucas décadas depois – dividiu o paradoxo judaico em dois e acusou o judaísmo de ser apenas um dos lados, o lado de Shamai, reservando para si próprio o monopólio sobre o lado de Hilel. Mas o juda-ísmo não era o lado de Shamai. Roma era esse lado. O cristianismo inicialmente pendeu para o lado da pura compaixão. Depois, em Roma, agora cristã, deu-se não a restauração do paradoxo, mas a criação de uma contradição terrível: O discurso acolhedor acompanhado da prática impiedosa. (É muito mais fácil ouvir cristãos do que judeus falarem do ‘medo do inferno’).
Roma não conhecia o paradoxo. O cristianismo esqueceu-o. O juda-ísmo o manteve, salvo em tempos sombrios, como diria Hannah Arendt. Tempos como aqueles em que o Baal Shem Tov teve que re-inventar o judaísmo, criando o Hassidismo, a princípio apenas compassivo (algo parecido com a regressão à dependência, que Winnicott tão bem estuda e trabalha).
Tudo isto a respeito da parte teórica do trabalho de Fuks. A meu ver, o seu trabalho é magnífico. E gostei muito do que a autora diz ao final: É uma pena que a psicanálise se aferre aos modelos já consagrados e se feche para o novo, ou seja, que os psicanalistas se entrincheirem em seus oásis, (nos caravansarai da IPA, diria eu) em vez de aceitarem o exílio do não saber.
Mas e a própria autora? Não terá ela também ficado presa no oásis do paradigma freudiano, em vez de abandonar o conforto do acampamento e errar no deserto, com as teorias tão paradoxais e tão menos poderosas, mas tão mais próximas da realidade humana, desse novo paradigma não clássico?
Eu poderia aplicar a Fuks, enquanto teórica, (já vi vários teóricos serem muito diferentes na clínica...), o título de “discípula de Shamai”: a idéia de que ao homem cabe viver no exílio, em vez de apenas sentir-se exilado enquanto vive entre os seus, é uma exigência muito bela, mas muito pesada para o homem comum. Mesmo para um judeu. Pois não é isso que transparece de suas palavras? Parafraseando uma de suas conclusões, ao final do livro, é como se ela dissesse: “Para que os judeus precisam de uma nação, de um estado, de um país? Viviam tão bem no exílio, eram um exemplo tão instrutivo para o resto da raça humana... Que pena – resolveram ter um país próprio, e com isso estragaram tudo...” (Daí as duas epígrafes no início deste trabalho, como exemplos de que a questão da nacionalidade não pode ser relegada à categoria inferior de “sintoma” ou “atuação”).
E neste ponto recordo-me de uma piada muito piedosa, segundo a qual, em pleno Yom Kipur, o judeu, no auge de sua aflição, apela ao Criador: “Mestre do Universo, somos o teu povo eleito há cinco mil anos. O Senhor não acha que já chega?...”
Se Fuks fosse discípula de Hilel, talvez não fizesse um livro tão bonito, tão denso, tão sagaz como este, mas certamente exigiria menos da humanidade, enquanto psicanalista, e dos judeus, enquanto teórica.
A autora, o ilustre Chaim Katz, na bela resenha que fez para o seu li-vro, e esse francês terrível chamado Jacquy Chemouni, autor de “Freud e o Sionismo”, belíssimo mas concluído de um modo lamentável, três talmudistas de primeira qualidade, capazes de empilhar pilhas e pilhas de gotas de orvalho umas sobre as outras, cada uma com o seu nozinho, e sem deixar que se misturem, propõem aos judeus seguirem ad eternum a sua bela, tão bela vocação do exílio. Ora, Betty, que tal sugerir ao Mandela que volte para a cadeia e leve adiante os seus vinte e sete anos de tão magnífica e edificante prisão? Que tal sugerir ao Ghandi que, em vez de alcançar a independência da India, seguisse em frente deixando os ingleses matarem indianos, até que o último, até que ele mesmo fosse santa e maravilhosamente morto? E que tal sugerir aos cristãos, todos eles, que, para ensinar a humildade à raça humana passem finalmente a dar a outra face – que até aqui não deram não, salvo engano de minha parte?
O fato é que fiquei maravilhado com o livro de Betty Fuks, menos com as suas premissas e com as suas conclusões (no que se refere aos judeus). E isto me lembra uma outra história: “Um discípulo perguntou ao seu rabino hassídico como fazer para que a sua prédica na sinagoga não chateasse muito a congregação. O rabino disse: Faça um discurso sem introdução, corte as conclusões, e não ponha nada no meio.”
Eu próprio, infelizmente, não sou um bom discípulo desse rabino. E Fuks também não: A meu ver, o “meio” do livro é uma belíssima aula tanto de psicanálise quanto de epistemologia. Mas não custa rir um pouco. Não porque rir seja o melhor remédio, mas porque sem ele a vida toda passa a ter gosto de remédio. Sou, portanto, um bom discípulo de Winnicott, ou pelo menos tento ser.
Mas voltando ao ponto: Fuks fez um recorte dentro de uma questão teórica e fez quase tudo o que era possível, e muitíssimo bem, a meu ver, no interior desse limite. Mas é ela própria quem diz ao final do livro que à psicanálise não cabe limitar-se ao já sabido, e o que estou pedindo a ela aqui é que faça um novo estudo, sem prazo, sobre o que há antes do exílio, e sobre por que esse antes é tão importante. Fuks certamente não educou os seus filhos desde o início com base no pólemos, nem os jogou de saída na pólis, para aprenderem a viver no exílio do colo da mãe. Isto é óbvio, porque senão não haveria, na dedicatória do livro, esse agradecimento tão comovido a “Andréia, Anna e Daniel, aqueles que amorosa e incondicionalmente me incentivaram a ultrapassar os obstáculos e a prosseguir com a escrita.” Esse incondicionalmente não teria existido se a autora lhes tivesse conferido a “voca-ção do exílio” desde o início.
É desse início que estou falando. Ao livro falta a primeira parte. Ou então um equilíbrio interno entre a tendência de Shamai e a tendência de Hilel, que o tornasse suficientemente completo.
Cá entre nós: Nenhum paciente procura a análise porque tem saudades do paraíso que teve e perdeu. Ele a procura porque tem saudades de um paraíso que não teve, e por isso ainda não perdeu. Por outro lado, nenhum paciente deixa a análise porque aceitou a condição de ‘exilado’. O paciente só deixa a análise se, ao aceitar essa condição como parte da vida adulta – o exílio da infância – recupera a capacidade de conviver com os próximos sem os ressentimentos que essa perda, quando mal assimilada, acarreta. Coloca assim num mínimo de equilíbrio o dentro e o fora, o princípio do prazer e o princípio de realidade, o eu e o outro. Mas é a esse equilíbrio instável, que não é um equilíbrio entre dois opostos, mas um contínuo ininterrupto entre regiões distantes, que Winnicott chama de “espaço transicional”, e que De-leuze aclama como uma das maiores contribuições da psicanálise à filosofia.
Que eu saiba, a psicanálise não expulsa o paciente para o exílio. (Os antigos kleinianos o faziam, e conhecemos os resultados). Ao contrário, ela o acolhe e lhe permite deixar de se sentir um pária, um apátrida, e só então, depois de acolhido, ele aceita que o exílio é a condição humana, não só a dele, e então já pode ir embora. Essa acolhida não precisa ser explícita, como ad-voga Winnicott na sua teoria (pois na prática a acolhida winnicottiana é tão discreta quanto a dos bons psicanalistas clássicos, esses que, pela sua experiência, acabaram jogando fora a fria neutralidade dos seus tempos de calouros). Mas tem que ocorrer a acolhida – sob pena de instaurar-se uma relação sado-masoquista que não precisa de chicote para funcionar. Quando Lacan disse (segundo ouvi dizer) que o melhor paciente é aquele que não precisa de análise, estava selada a sorte do paradigma clássico: O melhor paciente, para o psicanalista “clássico”, é aquele que teve bastante do que precisava, não tem mais necessidades emocionais, e por isso pode simplesmente deitar no divã e brincar com o analista. Pois esse tipo de paciente já vive no espaço transicional, adquiriu a capacidade de enriquecer com os bens culturais e de ampliar cada vez mais esse espaço, preenchendo-o com coisas cada vez mais bonitas, não precisando mais tanto da presença da figura materna para defendê-lo dos terrores do mundo – interno e externo.
Freud, é óbvio, viveu intensamente no espaço transicional, e Lacan também, com o seu simbólico, e ambos pensaram coisas que só a idéia da transicionalidade – nem razão nem emoção, nem prazer nem realidade, nem ego nem id nem superego, apenas bandas de Moebius e nós bohomeanos – poderia explicar. Mas eles não chegaram a teorizar sobre a transicionalidade, talvez pelo mesmo motivo que levou Einstein a rejeitar tão violentamente o princípio da incerteza de Heisenberg: a incerteza não fazia parte dos seus paradigmas, nem do super-paradigma (“é possível saber tudo, porque tudo está incluído no determinismo”), que legitima os paradigmas secundários. (Lacan fala de um “resto”, mas creio que o deixa à margem...).
Segundo Loparic, que com isso me surpreendeu, Winnicott chegou a esta idéia ao se dar conta de que a violência das crianças desadaptadas, depois de evacuadas de Londres durante a Guerra, era um sinal de esperança, não de destrutividade. Que o ato destrutivo pudesse ter um sentido contrário levou-o a cismar até se dar conta do paradoxo – pois só isso explica essa aparente contradição. Mas aí está a banda de Moebius que o ilustra tão bem. Já Freud, sabemos todos, nunca abriu mão da sua crença na destrutividade humana, nem na pulsão de morte, nem na hostilidade básica do homem, ou seja na radical descontinuidade entre o bem e o mal. Pelo que pude depreender de um outro livro, “Política e Psicanálise – o Estrangeiro”, de Catarina Koltai, Lacan também não. Para ambos o bicho homem é um ser mais deplorável que admirável.
E isso me leva de volta a Hilel e Shamai. Certa vez eclodiu entre eles e seus discípulos a controvérsia: O homem devia ou não devia ter sido criado? Os shamaianos disseram: Não devia. Os hilelianos disseram: Devia. Por fim venceram os shamaianos, mas os hilelianos não se conformaram, e acabou-se chegando a um compromisso: “o homem não devia ter sido criado, mas já que o foi, que faça disso o melhor que puder.” Engraçado pensar em Winnicott discutindo tais coisas com Freud. Ou com Lacan.
Voltando, então, à questão de Freud e a judeidade, gostaria de acrescentar duas coisas.
A primeira diz respeito precisamente à sua judeidade. Recebi a tempo, graças à Internet, a resenha de um professor de psicologia israelense para o livro “Por que teria Freud rejeitado Deus?”, de uma psicóloga americana. Ele desanca o livro, e entre outras coisas diz que Jakob Freud não era nenhum erudito em judaísmo, que ler a Bíblia numa edição ilustrada era prova de afastamento do judaísmo, e não de apego a ele, que Freud podia perfeitamente ter recebido uma educação judaica digna do nome, se os pais quisessem, que Amália Freud reunia a família nas noites de Natal, não só nas grandes festividades judaicas, e assim por diante. Ou seja: Quanto à cultura judaica de Freud, diz o israelense, “Pffuui”. Ainda assim, para um homem que aprendeu espanhol sozinho para ler o Dom Quixote, acumular um bom número de conhecimentos judaicos não era difícil. Mas não se deve endeusar esses conhecimentos e exagerar sua profundidade. Chemouni conta (de modo fascinante) que Freud passou sua juventude tentando tornar-se um intelectual alemão, fazendo parte de um clube nacionalista de cultura alemã, até ser expulso em 1878, percebendo, com meio século de antecedência, que a rejeição alemã aos judeus era “final”, muito antes da “solução” homônima que acabou acontecendo. Só então, depois de expulso, assumiu a condição explícita de judeu. E passou o resto da vida mais como grande anti-anti-semita que na condição de integralmente judeu. Chemouni conta também que, mesmo não assumindo publicamente sua simpatia pelo Sionismo, deu a um de seus filhos o dinheiro necessário para matricular-se numa das várias agremiações sionistas que então surgiam em Viena. E também conta que ele gostou muito quando lhe disseram, bem antes da Guerra, que muitos jovens judeus que chegavam à então Palestina traziam como única bagagem um e-xemplar de “O Capital” e outro da “Interpretação dos Sonhos”. E Moshê Ater, que traduziu “Moisés e o Monoteísmo” para o hebraico, e lhe acrescentou um erudito pós escrito (não muito elucidativo quanto à questão da judeidade), conta que a única tradução para a qual Freud escreveu um pre-fácio exclusivo foi a de “Totem e Tabu” para o hebraico.
Outra coisa: uma injustiça a meu ver cometida por Fuks, e que eu gostaria de questionar, é com relação a Gerard Haddad, autor de “O Filho Ilegítimo”, o psicanalista judeu discípulo de Lacan, que ensinou ao mestre um pouco de Talmud.
Diz Fuks sobre ele: “Haddad (...) termina por incorrer no erro de juda-izar a psicanálise e psicanalisar Freud. Com isso desperdiçou a possibilidade de refletir sobre uma possível articulação entre as interpretações talmúdicas e psicanalíticas como constitutivas de dois campos que mantêm entre si uma ligação e uma oposição necessária à preservação de suas próprias diferenças e semelhanças.”
A meu ver, é uma reprovação apressada e injusta, porque foi exatamente isso que Haddad tentou fazer, mas utilizando para tanto a fonte primária, o próprio Talmud, mais que as idéias desses maravilhosos “talmudistas” franceses que Fuks tão bem articula. Aparentemente, Fuks reprova o livro todo a partir do seu primeiro capítulo, onde ele realmente comete esse “pecado” (analisando o “sonho da injeção de Irma”). Mas na página 33 ela mesma permite a Anzieu fazer a mesmíssima coisa: acrescentar associações pessoais aos sonhos de Freud (o “Vaticano”, que Anzieu localiza no sonho de Freud, e que o próprio Freud não menciona). Esse tipo de injustiça me deixa triste.
A injustiça principal, porém, é porque Haddad buscou a mesma coisa que Fuks, embora de um modo mais literal, menos erudito e menos brilhan-te. E como testemunha de defesa – de Haddad e minha, naturalmente – cito a resenha escrita por Paulo Blank para o Caderno Idéias, na época do lan-çamento do livro, redigida quase nos mesmos termos, com as mesmas preo-cupações e as mesmíssimas intenções que este trabalho de Fuks, ou seja, reconhecendo em Haddad exatamente as mesmas coisas que ela tão bem percebe nessas ‘articulações entre as interpretações talmúdicas e psicanalíticas’, desde as quais ela nos manda com tanta doçura para o exílio.
Uma última contribuição: recebi do México, também via Internet (hoje em dia nem a “cola” conhece mais fronteiras...) um artigo de uma psicanalista argentina, “Freud e o Velho Testamento”, no qual ela fala da diferença entre os estilos “rabínico” e “patrístico”, o primeiro característico do Velho Testamento, o segundo, do Novo. Segundo ela, o estilo rabínico é exata-mente esse que Fuks identifica em Freud e na psicanálise: Polissemia, relação entre textos aparentemente desconexos, indefinição de tempo e espaço, enfim, “exílio”, exigindo do leitor um trabalho sistemático de interpretação para que o texto adquira sentido e vida. Já o estilo “patrístico”, que herda mais do pensamento grego que do pensamento judaico, é preciso, definidor, unívoco tanto quanto possível, busca a exatidão dos termos e não sua “liberdade poética”. É uma diferença parecida com a que existe entre a poesia, com sua “licença”, e a prosa, com seu rigor. E ela acrescenta a reflexão de que o estilo patrístico caracteriza o que Kuhn, segundo Loparic, chama de “ciência normal”, a pesquisa realizada cotidianamente em tempos de paradigmas estáveis e confiáveis. Já o estilo “rabínico” caracteriza justamente a ciência em tempos de “revolução paradigmática”, conforme o termo de Kuhn, quando os cientistas vêem-se impossibilitados, por falta de ferramentas definidas, de proceder à pesquisa dita “normal” e passam a coletar fatos, dados e inferências como o fazem num período “pré-científico”. Mas é este período que permite chegar ao novo paradigma, caso contrário não ocorreria a “revolução”. Portanto, Fuks tem toda a razão quando diz que só o ‘exílio’ permite a renovação, enquanto o cidadão da ‘pólis’ produz um saber que acumula mais e mais daquilo que já se tinha de sobra. A controvérsia entre Kojève e Lacan, que Fuks menciona, sobre qual tradição religiosa mais contribuiu para o desenvolvimento do pensamento ocidental, deveria terminar em empate, pois o pensamento cristão possibilitou a ciência dita “normal”, e o pensamento judaico possibilitou a ocorrência da ruptura de paradigmas, e portanto as revoluções científicas.
De qualquer modo, mesmo tendo feito tantos questionamentos ao trabalho de Fuks, tenho certeza de que ele, em si mesmo, enquanto trabalho concreto sobre uma questão definida e importante, é magnífico. Mesmo afirmando que falta-lhe uma complementação, ou um preâmbulo, admirei profundamente a sagacidade, a precisão e a beleza com que a autora constrói os seus argumentos, e fiquei muitíssimo comovido com a legitimação por ela feita a esse velho pensamento judaico, tão vetusto mas tão contemporâneo no seu nomadismo semita e na sua inconclusividade poética que resgata para o humano, como disse Blank na supra-citada resenha, “a figura do Excluído, enraizado na trama essencial da obra freudiana e fora, portanto, da des-diferenciada ‘maioria compacta’. (...) É esta a linguagem do Talmud, e sem dúvida também a da interpretação psicanalítica, que pressupõe a existência de um outro texto nas entrelinhas do texto, e de outro nas entrelinhas daquele, rendendo-se finalmente à radical impossibilidade de tudo saber, sonho máximo do Ocidente [moderno], ou seja, à impossibilidade da onipotência”.
Só faltou ali a palavra ‘exílio’, mas a idéia do ‘excluído’, colocada por Blank, dá uma medida ainda mais atroz a esse quase—destino judaico ao qual Fuks e seus dois ilustres amigos (Katz e Chemouni) atribuem as virtudes de uma “vocação”.
Algumas observações, aliás, para Chaim Katz, por cuja brilhante resenha fiquei conhecendo o livro de Fuks: Primeiro, a não conjugação do verbo ser no presente do indicativo, na língua hebraica, não “questiona” o presente e a presença: toma-as a um só tempo por óbvias e por evanescentes. Paradoxo. Por isso o judeu – e o judaísmo – nunca é, está sendo, e esta é a realidade humana, que tantos denegam. Segundo, discordo quando ele diz, a partir de Fuks, que “a judeidade (recusa da ortodoxia) é um desejo de dife-rença”. Isto, por excesso de abstração, apaga a especificidade da questão dis-cutida, porque todo aquele que se afasta da sua cultura de pertença “deseja a diferença”. Portanto, isto não se aplica especialmente ao judaísmo. O judaísmo certamente ama a renovação, como um desenvolvimento do mesmo, mas ama muito pouco a inovação, instauradora da diferença. Tanto que as proposições rabínicas de inovações, raras vezes aceitas pela comunidade dos rabinos, mantêm esse título, de ‘inovação’, por muitas gerações. Se fossem fatos corriqueiros não precisariam de um nome. Por isso Freud tinha que ser ateu – não era suficiente que ele fosse judeu. O judaísmo certamente abomina a mesmidade, mas as diferenças de opinião amadas pelo judaísmo sempre partem de uma base – um ‘mesmo’ mínimo – totalmente aceito pelos dois lados. Por isso Hilel e Shamai se amavam. E por isso Freud tinha que ser judeu, apesar de ateu! (No Grande Sinédrio de Jerusalém – composto por setenta juízes – havia um princípio: Quando uma sentença era unânime, recomeçava-se o julgamento, pois a unanimidade a tornava “manca” – a sentença “inteira” precisava de maioria, e portanto de alguma oposição. Sem o jogo dos contrários, algo estava errado.)
O que o judaísmo trouxe como contribuição à humanidade, então, não é só um Deus que ao mesmo tempo é duplo e é nada, também trouxe uma razão que, por mais afiada que seja, nunca é suficiente. E que só agora, no finzinho mesmo do século XX, começou a ser digerida pela humanidade pós-moderna, herdeira de Heisenberg (que amava o Nazismo...), com as fascinantes idéias da desterritorialização, da ressignificação, da trans-disciplinaridade, e dessa possibilidade tão antiga quanto o homem mas tão reprimida (a golpes de cassetete, não de superego) até recentemente, e que é a minha “maravilha” favorita, a transicionalidade, mãe do paradoxo, mãe do colo como lugar de onde se parte, não para onde se volta, e mãe do ursinho de pelúcia que tantos adultos tanto amam em seus mais variados disfarces. Mãe, também, da possibilidade de alguém ser ao mesmo tempo judeu ou palestino ou português ou espanhol ou italiano ou turco ou mesmo armênio, e agora africanos de vários lugares, e viver em outro país, sem medo. Os na-zistas – bisnetos bastardos de Descartes [vide Bauman] – odeiam a transicionalidade e abominam o paradoxo. Pois a transicionalidade permite a tantos povos em diáspora amarem a terra onde vivem agora, e quem sabe até serem amados pelos que lá já viviam, porque na era da pós-modernidade muita coisa de um lugar adquire o direito de morar em outro, inclusive pessoas, algo inimaginável nos tempos medievais e modernos (mas não nos tempos antigos!), quando os homens se dividiam não em hóspedes e hospedeiros, mas em superiores e inferiores, em colonizadores e colonizados, ou em nacionais e estrangeiros, portanto expulsáveis (e atualmente tantos há que desejam retornar a esses tempos...)
A transicionalidade como paradigma do pensar está em Freud e Lacan, mas não explicitamente, e por essa razão algumas vezes surpreendi no livro de Fuks situações que seriam facilmente resolvíveis se esse recurso lógico estivesse em funcionamento (por exemplo, do qual discordo, a pulsão, o “reino entre”). Mas não estava, induzindo a optar entre uma coisa e outra (não neste caso, é óbvio).
Assim como não se deve perguntar ao bebê, sobre o ursinho, “você inventou isto ou o encontrou por aí?”, ou à criança, “você gosta mais da mamãe ou do papai?”, tampouco se deve perguntar ao adulto: “Você gosta mais da sua cultura de adoção ou da sua cultura de pertença?”, porque essas perguntas fazem parte do mundo não paradoxal, não transicional, do mundo artificial cartesiano, dicotômico, racionalista, onde muitas perguntas ficam sem resposta porque são feitas com base na premissa errada (o Zen Budismo explica...) – de que cada coisa tem o seu lugar, e cada lugar a sua coisa, e de que cada pessoa é o que é e ponto final, e por isso a idéia do devir – tão simples no reino do paradoxo – acaba tão pouco compreendida e assimilada no reino da dicotomia, e também de que entre a fantasia e a realidade há uma barreira que, quando cruzada, leva diretamente ao hospício. Por falar nisso, maravilhosa é a piada do hospício pós-moderno, em cujo portão há uma placa que diz: “Nem todos os que estão, são, e nem todos os que não estão, não são”... Piada, aliás, que surgiu bem antes da pós-modernidade. Sabiam os loucos o que diziam?... (Até a famosa piada de Cracóvia–Lemberg (contada por Freud) fica muito mais compreensível quando explicada pela idéia da transicionalidade, em vez de pela idéia lacaniana do “Outro”.)
Concluindo: Se Hilel está para Shamai como Heisenberg está para Einstein e como Winnicott está para Freud, fica justificada a minha discus-são. Gostaria, apenas, que todos lessem o fascinante trabalho de Betty Fuks, pois sem essa base adianta muito pouco compreender Winnicott. Como disse o próprio, não me lembro mais onde: “Não é possível ser original a não ser a partir de uma tradição”.
Um outro conto hassídico diz que, quando perguntaram a um hassíd se o Messias, quando chegasse, se revelaria adepto do Hassidismo ou ficaria com o judaísmo clássico, respondeu: “Ficaria com o judaísmo clássico. Porque se ele for um adepto do Hassidismo os outros não o aceitarão”. Pois é isso que eu também digo: Nós, que “acreditamos” em Winnicott, “acreditamos” em Freud também (e em muitas coisas de Lacan), porque muitos pacientes realmente não precisam tanto do paraíso, e certamente não para sempre. Mas os que “acreditam” em Freud e Lacan raramente abrem espaço para as idéias de Winnicott, e com isso – penso eu – deixam a sua psicanálise não no exílio, e sim na grande cidade que armaram para si no meio do deserto. E dali, do conforto de sua cidadela paradigmática, alheios ao que eles próprios chamam de ‘novo’, chutam os traseiros dos pacientes mandando-os passear no deserto. Dizem as crianças, e eu concordo: “Assim não vale”. (E eu o digo por experiência pessoal com dois psicanalistas, um dos quais aferrou-se ao velho paradigma e quase me levou à loucura, e o outro mudou de paradigma e me salvou a vida).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATER, M., “Tzavaató shel Freud”, (O Testamento de Freud), in FREUD, S., Moshê haÍsh veEmunát haYichúd (O Homem Moisés e a Fé Monoteísta), Editora Dvir, Tel Aviv, 1980.
BARYLKO, J., “Hilel y Shamai, una Polémica Existencial”, in KLIKSBERG, B., (org.), La Propuesta del Judaismo, Unión Israelita de Caracas, Caracas, 1997.
BAUMAN, Z., Modernidade e Holocausto, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1998.
BEIT-HALLACHMI, B., resenha para RIZZUTO, A. M., Why did Freud Re-jected God? A Psychodynamic Interpretation, Yale University Press, New Haven, 1998, in Mental Health, Religion and Culture, Vol. 3, n. 2, 2000.
BLANK, P., “O Grande Excluído”, resenha para HADDAD, G., O Filho Ilegítimo, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1992, in Caderno Idéias, Jornal do Brasil, 9/5/1992.
CHEMOUNI, J., Freud e o Sionismo – Terra Psicanalítica, Terra Prometida, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1992.
FUKS, B. B., Freud e a Judeidade – a Vocação do Exílio. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2000.
KATZ, C. S., “Judeidade: Exílio, Diáspora, Devir, Desejo de Diferença, Fuga do Mesmo”, resenha para FUKS, B. B., Freud e a Judeidade, op. cit., in Caderno Prosa & Verso, O Globo, 7/10/2000.
KOLTAI, C., Política e Psicanálise – o Estrangeiro. Editora Escuta, São Paulo, 2000.
LOPARIC, Z., “O Paradigma de Winnicott”, inédito, São Paulo, 2000.

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