JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Registração temporal

O profeta ZEKARYóH [Zacarias], autor de um dos últimos livros proféticos na Tenak, era contemporâneo e sucessor do profeta HaGaI [Ageu]. Segundo EZRA [Esdras] 5,1 e 6,14, era o filho do sacerdote IDO [Ado], o qual no tempo do prefeito ZeRuBòBéL [Zorobabel] e do sumo sacerdote Yehoshua sucedeu o seu pai como sacerdote (Ne 12,16). A mensagem de ZEKARYóH concentra-se na reconstrução de Jerusalém e do Templo, este que no ano 516 aC [antes da contagem de tempo] foi finalmente terminado.1 (cf. Zc 1,16; 2,1-5.11-13; 6,15; 8,3).

Exatamente como HaGaI, ZEKARYóH se empenhou cheio de fogo para a reconstrução do Santuário: “Este povo diz: O tempo ainda não veio para construir a casa do Eterno” (Ag 1,2).

Segundo a opinião dos dois deles, a reinstalação da Casa de Deus representava a condição para a vinda do Reino Régio de Deus. O processo da construção do Templo ficara parado por cerca de 20 anos, como conseqüência do medo e da falta na capacidade de impor dos exilados voltados, os quais inicialmente tinham mais interesse pela sua segurança própria e pela construção dos muros da cidade do que para a reconstrução do Templo.

Reconhecemos nesse livro o tempo agitado das partes depois do seu retorno. No entanto, o profeta quase não discute com os povos ao redor, os quais trabalhavam contra a reconstrução do Templo, ameaçando os retornados na sua existência nua. Entre as linhas somos testemunhas duma rachadura definitiva entre o Judá judaico no sul e da comunidade samaritana no norte, ambos intrincados numa luta religiosa e cultural. Ficou uma ferida que nunca sarou.

Brevemente depois da reassunção do trabalho no Templo, ZEKARYóH apóia a iniciativa de HaGaI. O acabamento aproximante do Templo deixa nele o fogo de expectativa messiânica arder altamente.

Um livro, um profeta?

Os primeiros seis capítulos visionários do livro ZEKARYóH testemunham dum entusiasmo utópico, o qual é tão característico para esse profeta. Antes de tudo, nessa parte percebemos como ZEKARYóH apresenta a transição da profecia à apocalíptica. As visões estranhas cheias de linguagem simbólica têm de ser, também para o profeta, explicadas por um assim chamado MaDRIK, um guia celeste, o qual faz transparente o significado metafórico da visão. Esse fenômeno tipicamente apocalíptico nos lembra do livro Daniel o qual, na tradição rabínica, já não está mais contado aos profetas.

Em círculos acadêmicos, domina a opinião de que o livro ZEKARYóH conste, assim como YeSha`YóHU [Isaias], de duas partes. Segundo isso, os capítulos 9 – 14, com as suas imagens incompreensíveis e utópicas, originar-se-iam de um autor outro que aquele dos primeiros oito capítulos. De fato encontramos na última parte elementos e indicações, os quais apontam a um tempo mais posterior. Pelo ângulo de ver da interpretação da Bíblia rabínica, diferenças desse jeito da crítica de texto, apesar disso, não têm importância essencial. Ali são somente determinantes dum conexo de redação final do todo para a interpretação das diferentes partes. Também no livro ZEKARYóH, falas de ameaça e profecias de salvação se juntam razoavelmente. Não há motivo na base do conteúdo para separar o livro.

Os profetas cumprem uma tarefa dupla. Com palavras ameaçadoras exortam os ateístas, consolam os dispostos à arrependimento com promissões messiânicas. Muito mais agudamente que HaGaI, ZEKARYóH exorta para um despertar. Nos seus sermões, intervêm a favor de forasteiros, viúvas e órfãos dentro da comunidade. Assim como muitos outros profetas, põe ética acima do ritual.

ZEKARYóH 14

Nessa conferência, me quero restringir a um assunto principal e ao fio vermelho no livro ZEKARYóH: a relação entre Israel e os povos. Depois duma interpretação breve do capítulo último e 14, aprofundarei mais o assunto “Israel e os povos”, apresentando-o numa margem mais ampla da tradição rabínica.

A imagem de futuro em ZEKARYóH 14 é mais que uma exortação profética, na qual a comunidade tem de escolher entre remuneração e punição. A imagem final respira a esfera duma profecia inevitável, o que reforça as tendências apocalípticas no livro. ZEKARYóH prediz como o Eterno vai completar o Seu plano insondável de catástrofe e salvação no fim dos dias. O profeta descreve o que os rabinos chamam de hevyeh yene há-mashiah, as dores de parto do tempo messiânico. Pouco tempo antes da vinda do reinado de Deus, todos os povos, segundo o plano de Deus, se voltarão contra Israel. A situação vai ter o aspecto de desespero completo, mas então Deus inverterá os papeis, mudando a opressão de Israel em triunfo.

Esse processo doloroso está tão necessário como as dores duma mulher que precedem o nascimento de uma criança. Assim o rábi Shimon bar Yochai ensinou que a três dons divinos cada vez precederá um período de sofrimento: ao dom da Toráh, à tomada da terra prometida e à vinda do mundo futuro.

A Toráh só podia ser dada depois um período de deserto cheio de privação e sofrimento numa situação de completa dependência do Eterno.

A tomada da terra andava de novo com provações e luta. A geração velha precisava desaparecer primeiro, para possibilitar um começo plenamente novo.

Assim também a vinda do Reinado de Deus será possível somente depois de um período de pena e dor, no qual Israel, circundado por inimigos, está completamente dependente da ajuda de Deus.2

A visão de futuro em ZEKARYóH 14 está carregada pela noção da conversão de Israel, a qual outra vez iniciará a conversão dos povos. Conversão é aqui, não tanto a condição profética, quanto antes uma certeza apocalíptica. Percebemos aqui a profundeza verdadeira da frase talmúdica: “O Santo, louvado seja Ele, lhes faz surgir um rei, cujos regulamentos são duros como os de Haman. A seguir, Israel faz conversão, e os leva de volta ao bom” (bSanhedrin 97b3).3

Forçada pela situação, toda a humanidade chegará com Israel a entendimento A catástrofe está tão segura como a salvação, esta que seguirá àquela: “A metade da cidade sairá em cativeiro, mas o restante do povo não será exterminado da cidade.” (14,2). Também os povos serão punidos, os restantes, porém, subirão, junto com Israel, a Jerusalém para servir ao Eterno.

Mudança

Na sua previsão ao “Dia do Eterno”, o profeta se dirige diretamente à cidade de Jerusalém: “Vê, um dia chegará para o Eterno em que distribuem no teu meio o teu saqueado!” (14,1). A tensão apocalíptica entre catástrofe e liberação encontramos refletida nas interpretações muito divergentes dessas palavras de introdução.

Segundo uma explicação na palma da mão, os saqueadores de Jerusalém se acham tão seguros da vitória final que com toda a calma distribuem a sua presa no meio da cidade santa.

Em 14,4, o profeta prevê que então serão exatamente os habitantes de Jerusalém, que coletarão as riquezas dos povos dentro dos muros da sua cidade.

O targum4 (tradução aramaica) que quer antes de tudo encorajar a comunidade, não espera até essa mudança apocalíptica nos acontecimentos. O tradutor do targum, já na tradução do primeiro versículo, antecipa a mudança favorável no destino de Israel, traduzindo: “E a casa de Israel distribuirá as possessões dos povos no teu meio, oh Jerusalém!” O maldiçoamento se mudará para uma bênção: “Assim como éreis uma maldição entre os povos, casa Judá e casa Israel, salvar-vos-ei, e sereis uma bênção” (8,13).

A despeito da decomposição acadêmica da crítica de texto, está chegando a ser evidente sempre mais uma vez a sua unidade redacional e de conteúdo! Segundo o decreto insondável de Deus, os povos vão primeiro a Jerusalém para o combate: “Juntarei todos os povos contra Jerusalém” (14,2; cf. 12,3). A Cidade Santa será devastada e saqueada, a metade dos seus habitantes, porém, fica.

A última afirmação representa uma pequena indicação à mudança salvífica futura. Pois, de imprevisto, o Eterno Mesmo aparece no campo da batalha, fazendo as contas com os inimigos de Israel: “Então o Eterno sairá lutando contra aquelas nações como no dia da Sua luta, no dia do encontro” (14,3).

O que é que profeta quer dizer com “como no dia do combate, o dia do encontro”? Segundo a tradução do targum e da maioria das traduções, refere-se com isso no dia em que Deus salvou Israel, junto ao mar dos juncos, da mão de faraô5 (cf. Ex 14,25ss.; 15,3ss.). “O dia” perto do mar dos juncos representa uma pré-figuração do “Dia do Eterno” e da liberação messiânica. Também então se tratará, não duma luta comum, mas sim de um encontro pessoal (qerab) entre os inimigos de Israel e o Próprio Eterno. Assim como o Eterno, no passado, fendeu o mar dos juncos para abrir a Israel uma saída, assim fenderá o monte das oliveiras, por meio de um terremoto, em duas partes (14,4). Nascerá um vale do leste ao oeste, pelo que Israel, diferentemente dos seus inimigos, escapará do extermínio por essa catástrofe natural: “E fugireis para dentro do vale do Meu monte” (14,5).

O targum lê as consoantes do hebraico aqui num modo diferente, não NaÇTeM (fugireis), mas sim NiÇTaM (será preenchido ou fechado). Lemos então “e o vale do Meu monte será fechado (enchido)”.

Segundo Rashi, podemos isso entender como uma explicação de conteúdo. Quando no Monte de Oliveiras nasce uma fenda do leste ao oeste, e as partes norte e sul do monte se afastam, o vale anterior ao redor do monte será enchido pelo deslocamento das duas metades do monte.

Mas será que o targum tenha em vista uma explicação de conteúdo? Sem dúvida quer mais. A tradução aramaica sublinha mais uma vez especialmente a convergência com o milagre no Mar de Juncos. Como no Mar de Juncos, o caminho de fuga de Israel será fechado para os seus perseguidores. Talvez os inimigos de Israel serão enterrados por um mar de terra [solo]. Israel fugirá à planície , assim como no grande terremoto no tempo do rei Usias (14,5)6 (cf. Amos 3,1).

Num momento movido e elevado, o profeta parece esquecer a sua audiência. Abandona a sua apresentação descrevedora do futuro, dirigindo-se no seu testemunho pessoal a Deus: “Então o Eterno, meu Deus, virá, todos os santos conTigo” (14,5). O exército celeste entrará em Jerusalém, para assistir “ao restante de Israel” na luta contra os seus sitiantes. A salvação futura será ainda mais milagrosa que o êxito de Egito. “Embora o Dia do Eterno tenha um precursor na história, será um dia sem par” (14,7). Só Deus conhece o momento escondido, QetS HaYòMIM – o momento definitivo da salvação, motivo tipicamente apocalíptico com subtom profético. Exatamente porque o momento não está conhecido, a pessoa humana precisa preparar-se cada dia de novo para ele.

Os mistérios últimos ficam ocultos nas palavras do profeta: “E acontecerá naquele dia, que não haverá luz, nevoeiro pesado e nuvens escuras” (14,6) YeQòRÔT (nevoeiros) de YòQóR (ser pesado).7 VeQiPó´ÔN (no lugar de YeQiPó’ ÔN [nublado escuro} de QeF´Ei[coagular-se]). Assim Rashi interpreta o texto hebraico, que está difícil para ser entendido.

Cf. yeqarôt shel midbar – Névoa densa sobre a planície do deserto. Yalkut Salmos § 730, remetendo a Salmo 37,21).

Remete-nos a uma previsão análoga sobre “o Dia do Eterno” em Is 13,10: “Pois as estrelas do céu e as suas constelações não deixarão brilhar a sua luz. O sol chegará a ser escuro no seu levantar, e a lua não deixará brilhar a sua luz.”

David Kimchi traduz mais ou menos na mesma direção, mas a partir duma contemplação mais positiva: nesse dia acontecerá que vá haver nem luz clara nem nuvens densas e escuras. Segundo a opinião dele aparecerá no “Dia do Eterno” uma luz vaga, sem diferença clara entre dia e noite. As palavras no versículo 7 “nem dia nem noite” parecem confirmar a vista dele. “Nem dia nem noite” significam a mistura misteriosa de desgraça e liberação, a qual designará o Dia do Eterno. No fim da tarde, na profundeza mais profunda do desterro, a luz clara da liberação messiânica irromperá (versículo 3): “No tempo do anoitecer haverá luz.” Assim ensina uma tradição rabínica que o messias nasce no mesmo momento em que Jerusalém foi devastada (no ano 70).

Numa explicação análoga, também Rashi interpreta “dia e noite” em sentido figurado. O profeta fala, não dum dia normal de vinte-e-quatro horas, mas sim sobre “o Dia do Eterno”, do qual os Salmos dizem: “Mil anos são nos Teus olhos como o dia de ontem” (90,4). ZEKARYóH fala sobre o assim chamado Reino de Mil Anos, no qual a luz do mundo por vir ainda não irrompeu, mas em que já começou um fim da longa noite da opressão de Israel. Só no fim desses mil anos, a luz plena do mundo por vir brilhará.

Outros intérpretes entendem “dia e noite” no versículo 7 verbalmente. “Sol e lua, o ritmo de dia e noite desaparecerão. E acontecerá que não vá haver luz nenhuma, nem a deliciosa luz (YòQóR) do sol, nem a luz fria (QeF´eY) da lua”.8 Tal modo de ler lembra a promissão do profeta YeSha’YóHU [Isaias]: “Não o sol te servirá como luz no dia, nem a lua te brilhará como brilho claro, mas sim o Eterno será a tua luz” (60,19).

A última interpretação se junta excelentemente às benções maravilhosas, as quais ZEKARYóH agora faz seguir (14,8): “E acontecerá naquele dia, áquas vivas fluirão de Jerusalém etc.”. A partir de Jerusalém, água acordadora de vida fluirá, fertilizando a terra inteira. Nessa promissão ouvimos a voz do profeta YOEL [Joel]: “E uma fonte irromperá da casa do Eterno aguando o vale Shitim” (4,18).

As benções do tempo messiânico são, não fins em si mesmos, mas sim a formação exterior do Reinado de Deus: “E o Eterno chega as ser rei sobre toda a terra”. Cheio de promissões escondidas, continua então soando: “Naquele dia, o Eterno será único e o seu nome único” (14,9). Todos os povos reconhecerão Deus como o único, exclamando o Seu nome somente.

Aqui o livro ZEKARYóH mostra o seu conexo claro. Também em 2,10-11; 8,21-22; 12,3 percebemos como esse motivo universalista surpreendente, o qual eleva Israel acima de todo o particularismo e sobre toda frustração histórica.

Cura genuína pode acontecer só ali onde cada rancor for superado. Com essa promissão entre Israel e os povos, a oração Alenu finaliza, oração essa com que serviços sinagogais de Israel finalizam:

Por isso esperamos a Ti, Eterno nosso Deus, para ver logo o triunfo da Tua gloria, que todos os horrores desapareçam da terra e os ídolos sejam exterminados, que o mundo seja aperfeiçoado pelo Reino do Todopoderoso, que as crianças das pessoas humanas invoquem o Teu nome e todos os malfeitores da terra confessem-se a Ti, que os habitantes do orbe reconheçam e entendam que diante de Ti cada joelho se deva dobrar e cada língua deva jurar perante de Ti etc.

9

A cidade de Jerusalém chegará a ser o coração religioso do mundo. Vasta10 e plenamente habitada porém, Jerusalém elevar-se-á sobre a terra em redor, de Gewa no extremo norte até Rimon, perto de Beersheba no extremo sul (cf. Zc 2,6; Ez 18). O ideal profético do Reino de Deus não é somente um espiritual. Abrange também o anseio do povo de poder viver realmente em direito e segurança: “E habitar-se-á nela [Jerusalém]” (14,11). Na sua elevação, a cidade será intangível: “Não haverá mais proscrição [destruição], Jerusalém habitará em paz.”

O juízo sobre os povos

Nessa esfera familiar duma cidade segura, o profeta deixa agora como um trovão descer o martelo do juízo sobre os inimigos de Israel. “E esse será o tormento com que o Eterno atormentará todos os povos que marcharem na guerra contra Jerusalém” (14,12). De um a outro momento perecerão: “A sua carne apodrecerá, enquanto ainda estão de pé, e os seus olhos apodrecerão nas suas órbitas, na sua boca e língua deles apodrecerá” (14,12). ZEKARYóH pinta imagem amarga do pânico que se apodera dos inimigos de Israel. Quando alguém quiser pegar a mão do seu próximo para procurar ou dar ajuda, este o entenderá como ameaça e passa imediatamente à agressão: “E acontecerá naquele dia, uma grande confusão do Eterno nascera entre eles, assim que um pegará a mão do outro e a sua mão se levantará contra a mão do seu próximo” (14,13; cf. 12,4). Os habitantes de Yehuda se vão misturar na luta contra os saqueadores para liberar os patrícios que ali sobravam (cf. 14,2). “E também Yehuda lutará (em – para) Jerusalém” (14,14; cf. também 12,6-7). Como agora os papeis estão trocados, os saqueadores de Israel mesmos chegam a estarem sem recursos (14,14).

Sonho universalista de futuro

Exatamente tão abrupto como ZEKARYóH tomou na mão essa espada de julgamento sobre os povos, volta a pô-la definitivamente de volta na bainha (14,16). Deixa os povos participarem no futuro messiânico11 (veja também 2,15). Os sobreviventes entre os povos reconhecerão o Reinado de Deus e subirão anualmente a Jerusalém para festejar ali junto com Israel a festa dos Tabernáculos.

Porque a festa dos Tabernáculos? A ÇuKóH, o tabernáculo, é o símbolo da presença protetora de Deus: “Pois me abrigará no Seu tabernáculo no dia da desgraça; ocultar-me-á no esconderijo do Seu tabernáculo, levantar-me-á acima duma rocha” (Salmo 27,5). A frase final das benções depois do Shemá da noite diz: “Que estenda a Sukah de Paz sobre nós e sobre todo o povo de Israel”.12 Para festa de Sukah, a cabana de folhas, a maioria dos peregrinos foi a Jerusalém. Como festa de agradecimento pela colheita e como iniciação da oração por chuva (cf. 10.1-2), a festa dos Tabernáculos é significativa para todos os povos. A obrigação de morar em determinados tempos numa cabana de folhas, vale para cada um. Nenhuma [outra] festa promove tão fortemente a solidariedade das comunidades. Todas as diferenças de grau e categoria caem na cabana. Por isso, essa festa é, de modo especial, símbolo para o valor igual de todas as pessoas humanas. Os povos, porém, que não quiserem junto com Israel e os outros servir aos outros, não terão parte na bênção da chuva e da colheita boa (14,17).

Só para o Egito espera, neste caso, talvez uma punição especial. É que esse país está sendo irrigado pelo Nilo e está, por isso, menos dependente de chuva. O Egito aguarda a punição com a qual os povos já no dia do juízo são atingidos (14,18).

A vida inteira será santificada. Cavalos não devem mais transportar soldados, mas sim peregrinos nas suas costas, no caminho a Jerusalém. Nas campainhas na sua frente estarão as mesmas palavras que no frontal do Sumo Sacerdote: “Santo ao Eterno” (14,20)13 (cf. Ex 28,36).

Para os sacrifícios quase inumeráveis de Israel e dos povos, todas as panelas e frigideiras em Jerusalém e Judá serão procuradas. Comerciantes de animais para sacrifício não mais aparecem perto do Templo, pois cada possuidor dum animal dará este voluntariamente para o serviço e sacrifício.

Israel e os povos

Até aqui a interpretação desse capítulo magnífico no fim do livro de ZEKARYóH. Fio vermelho através desse capítulo é a relação ambivalente entre Israel e os povos. “Aquele é um herói que sabe fazer um amigo do inimigo”, o Talmude diz. Exatamente esse aspecto é que confere a esse capítulo final de ZEKARYóH o seu esplendor heróico. Não é um conto de vitória barato, não um antegosto barato do dia da vingança, mas aqui fala amor sincero pela humanidade e a esperança de que o bom finalmente vencerá. Com o olhar a esse capítulo pretendo agora dedicar uma breve contemplação à relação entre Israel e os povos dentro da tradição rabínica.

Excomungados da comunidade do Eterno

O Tenak descreve o nascimento e o desenvolvimento ulterior do povo judaico. A história de Israel é como o subir e descer dos anjos na escada no sonho de Jacó. Israel passa por uma história movimentada e variada. Experiências ficaram de significação que deu decisões para o modo como ele via a si mesmo e outros povos.

O Eterno embalou Israel no país Egito como um feto no ventre da sua mãe (cf. Salmo 139,13). O nascimento do povo judaico era traumático. Os israelitas fugiram pela senha estreita pelo mar dos juncos ao encontro da vida e da liberdade. Além da liberdade, porém, esperava também a luta do tornar-se adulto. O Egito está gravado na memória coletiva uma como nação sem piedade, na qual a vida de inúmeros trabalhadores forçados foi sacrificada para os monumentos de cemitério imensos. O Egito é a “casa de escravos” (bet abadim, Ex 20,2), bastante estranho, mas também “o Jardim do Eterno” (GaN¯YHVH Gn 13,10). A atitude ambivalente referente ao Egito percebemos na mistura de respeito e aversão, com a qual Israel olhará o mundo de fora.

Egito e Edom (Esaú) – este os rabinos identificam com Roma – subjugaram e perseguiram Israel impiedosamente. Israel, apesar disso, não deve retribuir mal por mal, pois como isso desceria esse “povo de sacerdotes” ao nível desprezível dos seus adversários.

Assim a Toráh nos põe: “Não detestes o edomita, pois é teu irmão!” (Dt 23,8).

Jacó continuava se dirigindo, quando voltou de Labão, a Esaú como “meu irmão”. E Israel sabe: “O Egípcio não deves detestar, pois estiveste estrangeiro no país dele” (também Dt 23,8).

O povo judaico se deve lembrar das crueldades de Egito, mas não deve retribuir aos seus inimigos com a mesma moeda: “Da experiência de que éramos, exatamente primeiro, vítima de intolerância, devemos aprender tolerância. Do fato de que éramos expostos no Egito à práticas mais grosseiramente imorais, devemos aprender comportamento moral”.14

E apesar das más experiências, a aversão contra Egito ficava limitada. Na vista em esses dois povos, a Toráh ensina : “Crianças que nasceram deles, podem deles vir na terceira geração à assembléia do Eterno” (Dt 23,9). Se um egípcio o um edomita se acrescentar a Israel, os seus netos e netas podem casar com um homem judaico ou com uma mulher judaica, até lá, a primeira e a segunda geração só podem casar com outros prosélitos.

Recusa radical

No deserto começou por assim dizer o tempo da juventude de Israel. Numa crise “pubertária” de identidade, o povo tinha saudades à matriz, às fontes de água e panelas de carne do Egito. Obviamente, o povo também tem lembranças boas da casa egípcia de escravatura! Depois de Ele tinha liberado Israel contra a própria vontade, o Eterno levou a Sua recém-adquirida noiva ao Sinai sob o baldaquim de núpcias, onde lhe leu o contrato de núpcias – a Toráh. Santificada ao Eterno, num casamento sem par ligada a Ele, chegou a ser cada vez mais adulta. Uma série de povos extremamente hostis cruzava o seu caminho, como p.ex. os amalequitas, os amonitas, os moabitas e os sete povos canaanitas15 (cf. Dt 7,1ss.). A aversão referente a esses povos é mais radical do que aquela contra Egito e Edom. Para sempre, a Toráh limita Israel de Amon e Moab: “Um amonita ou moabita não deve entrar na assembléia do Eterno. Para sempre, porque não vos cediam pão e água no caminho quando saístes do Egito” (Dt 23,4-5).

Os Egípcios eram inicialmente benévolos ao clã de Jacó. Ódio e opressão só aos poucos aumentararam. A aversão sentimental cresceu por assim dizer simultaneamente com o tamanho de Israel. A dureza dos egípcios baseava-se em medo de estranhos e propriomania16 (cf. Ex 1,10; Flavius Josephus, Antiquitates, II,9). A dureza de coração de Amon e Moab, ao contrário, está obviamente mais fundamental do que aquela do Egito. A sua inimizade contra Israel é que parece, como em Amalec,17 sem ter motivo! A sua inospitalidade não era para ser perdoada, porque se originava de uma indiferença quase natural. Quem estiver disposto à compaixão, nunca deve se considerar como pertencente a Israel.

Por isso, Israel também não devia misturar-se com os povos canaanitas. Mesma uma aliança com eles era excluída.18 O israelita se devia manter longe daquelas culturas, para que não pudesse ser infectado pelo modo inumano e impiedoso de viver delas19 (veja Dt 20,18). O Midrash desenha em contornos duros: “De cinco coisas Canaã tem dado ordem às suas crianças: amai [somente] uns aos outros, amai o roubo, amai a impudicícia, odiai os vossos donos e falai nunca a verdade”.20

A exclusão de amalec, Amon, Moab e dos povos canaanitas está, aliás, de importância somente histórica. Eles não existem mais. Nenhum povo pode ser identificado com eles. A sua recusa não está então certamente um exemplo da atitude de Israel referente ao mundo de fora em geral.
•Um dia, todos os povos subirão a Jerusalém para, junto com Israel, festejar e louvar o Eterno (cf. Is 2,3 e Zc 14,16).
•O Eterno retifica YONóH [Jonas], porque este se recusa a advertir os não-judaicos habitantes de Nínive. Os 70 marinheiros os quais por ironia, exatamente por causa da sua fuga, aprendem temer o Eterno e Lhe oferecem sacrifícios, estão sendo modelos para a totalidade de todos os povos na terra.
•Todas as pessoas humanas que temem a Deus são irmãos e irmãs.
•Sara disse: “Quem teria a dito: Sara amamenta crianças?” (Gn 21,7). Só YitSHóQ [Isaac] tinha nascido. Sobre quais crianças (plural) então Sara está falando? São segundo o Midrash todas as crianças dos povos cujas mães foram convidadas na festa da circuncisão. Os peitos de Sara parecem ter bastante leite para amamentar todas essas crianças abundantemente. Também as crianças dos povos são que Sara as considera como as suas próprias crianças.21 O Midrash aponta a um parentesco simbólico de todas as pessoas humanas e povos, que querem louvar o criador do céu e da terra.

Cada vida conta

Israel é o povo escolhido por Deus e jóia, am seguia – o povo que é a posse especial de Deus. Assim como Shabat está posto à parte de outros dias, assim Israel está posto à parte de todos os povos para como povo de sacerdotes, viver em santidade especial22 (Dt 7,6). Apesar da fé nesse escolho, os sábios sublinham a igualdade de valor de todas as pessoas humanas. Todos os povos e famílias se originam de um só pai: “Só uma pessoa humana [só Adão] foi criada primeiro.Porque é isso assim? Por causa das famílias diferentes, para que não briguem uma com a outra [afirmando que se originem dum primeiro pai mais excelente que as outras]. E como elas já agora, já que há somente um só pai ancestral, guerreiam umas com as outras, quanto mais iriam guerrear uma com as outras, se aquele fosse criado duplamente”.23

A Mishna ensina: “A cada um que arruinar somente uma única alma de Israel, a Escritura lho conta como se tivesse arruinado o mundo inteiro. E a cada um que sustenta uma única alma de Israel, a Escritura lho conta com se tivesse sustentado o mundo inteiro”. Isso soa muito paticularisticamente, também quando considerarmos que se trata nisso duma advertência a juizes judaicos, os quais dentro da própria comunidade, num crime capital, tinham de fazer um julgamento judicial.

Tanto mais se faz notar que temos outros manuscritos que rezam: “Quem deixar um homem se perder [isso é israelita ou não-israelita], àquele a Escritura o atribui como se tivesse destruído o mundo inteiro etc.” A igualdade em valor de cada pessoa humana, desconsiderada a sua nacionalidade ou da sua fé está aqui garantida.

Uma tradição no Midrash vai ainda mais um passo para frente: “O rábi Johanan deu como a sua opinião própria a conhecer: Cada aflição que Israel e os povos [um com os outros] compartilham é uma aflição [genuína], mas uma aflição, que [só] vem sobre Israel mesmo, não é uma [genuína] aflição, [pois Israel nela se converterá e orará, até que a catástrofe vá ser desviada]”24 (veja DtR 2,22; há, aliás, ainda outras variantes do texto).

Abraão disputou com Deus para salvar da ruína os habitantes ateístas de Sodoma e Gomorra (Gn 18,17-33) Israel sacrificou 70 touros durante a festa de ÇUKÔT. Serviam para a reconciliação de todos os povos no mundo.25 O rábi Yehoshua ben Levi deu aos inimigos de Israel a vantagem plena de dúvida quando disse: “Tivessem os povos do mundo sabido quão bom o Santuário teria sido para eles, o teriam circundado com campos de guerra para o vigiar em vez de o destruir. Era para eles mais necessário do que para Israel. – Exatamente aqueles povos, que se mostraram tão hostis à Toráh, precisam da reconciliação”.26

Muitos sacerdotes do Santo, Ele seja bendito

A separação de Israel do círculo dos povos não é para ser vista como absoluta. Ela está somente orientada para deixar Israel se distanciar de imoralidade e comportamento imoral. A escolha de Israel designa, portanto, também de modo nenhum um desprezo de outras culturas. É que todas as pessoas humanas são criadas segundo a imagem de Deus. Também em outras culturas há revelação e também outros povos possuem os seus retos. A toda a humanidade está, na história de salvação de Deus, atribuída uma tarefa.

Inicialmente, Deus quis revelar a Toráh a todas as pessoas humanas. Os sábios referem as palavras de Gn 5,1 “Este é o livro das histórias de nascimento de Adão” à Toráh como livro de leitura para toda a humanidade27 (GnR 1,5). A Toráh foi revelada no deserto do Sinai, na terra de ninguém, para que Israel não ficasse com a Toráh somente para si mesmo: “Por isso, a Toráh foi dada no deserto, comunitária e publicamente, na terra de ninguém. Se alguém [dos povos] a quiser aceitar, que venha e a aceite”28. Cada povo podia entender a palavra de Deus no Sinai: “o rábi Johanan disse: O que significa o versículo da Escritura: ‘Deus deu a sua palavra, das mensageiras [plural] de boa notícia havia um grande exercito’ (Salmo 68,12)? [Isso significa:] Cada palavra que saiu da boca do Santo, Ele seja bendito, foi desmontada em 70 línguas”.29

Assim como Israel, os povos podem acelerar por amor e justiça a vinda do Messias: “Teus Sacerdotes se vistam com justiça e teus piedosos jubilem!” (Salmo 132,9). “Teus sacerdotes – esses são os retos dos povos, pois são sacerdotes do Santo, Ele seja bendito, neste mundo, assim como [o imperador que ama pessoas humanas] Antônio e os seus amigos”.30

Cada pessoa humana, sem consideração a que povo pertencer, tem a capacidade de santificar a sua vida com feitos retos. Num pronunciamento comovente, o filósofo Maimônides dá a sua voz a esse ideal judaico: “Não deixes em ti surgir a idéia, com o dizem ‘os estúpidos dos povos’ e muitos judeus semi-formados, que Deus já destine a pessoa humana já desde o nascimento para ser boa ou má. A coisa não está assim, mas cada pessoa humana tem a possibilidade de chegar a ser um piedoso como o nosso ensinador Moisés ou um malvado como Jerobeam, ser sábio ou tolo, misericordioso ou cruel, avarento ou esbanjoso. Do mesmo jeito está com as demais qualidades de caráter”31. Mesmo um não-judeu, que se ocupa como estudo e prática da Toráh, é equivalente ao Sumo Sacerdote em Israel.32

No quadro da confrontação atual entre Judaísmo, Cristianismo e Islame, o rabino americano Irving Greenberg traçou a tendência universalista do Judaísmo até o fim: “Vós sois as Minhas testemunhas, a lavra do Eterno diz” (Is 43,10). O povo Israel consta de servos de Deus; são chamados e escolhidos para testemunhar do seu Deus amante e do Seu plano divino com a humanidade e o cosmo. Segundo o meu entendimento de língua, o conceito “povo Israel” se refere, não só a israelis, nem mesmo exclusivamente a judeus, mas sim a todos que afirmam que Deus concluiu uma aliança válida com Abraão e os seus descendentes, mas também a todos que se põem a tarefa de salvar o mundo, assim que a aliança possa ser cumprida, quer dizer também cristãos e também moslins chegam a serem reconhecideas como crianças de Abraão e de Sara, quando se limpam do ódio contra judeus e da teologia de substituição.33

Escolha

A posição do povo judaico no meio dos outros povos recebe mais transparência, quando contemplarmos essa posição à luz da escolha de Israel. Pois alguém poderia pôr a pergunta justa: Como o Eterno, como criador do céu e da terra e pai de todas as pessoas humanas, pode escolher um povo determinado? Não será que, por trás disso, um problema se esconde? Sabemos que a Agada está ambígua e rica em paradoxos; nenhum conceito, porem está tão contraditório como a escolha – BeHIRóH. Assim, esse assunto provocou então discussões veementes . Muitos eruditos da Toráh lutavam com a idéia da predileção de Deus para Israel, como esta de modo nenhum harmoniza com o subsom universalista e penetrante, que estamos acostumados a ouvir na melodia do Judaísmo.

Como Deus pode fazer diferença entre as suas criaturas? Não é que disse: “Não é que sois para Mim como os filhos dos etíopes, o Eterno diz? Não conduzi para cima Israel da terra Egito e os Filisteus de Caftor e Aram de Qir?” (Amos 9,7). E apesar disso os rabinos perseveram na eleição do povo judaico. Não há, para eles, contradição àquilo que Amos diz. O valor igual de todas as pessoas humanas não está na discussão de modo nenhum. Israel não se põe diante os outros em lugar nenhum. Ao contrário, exatamente porque Israel está consciente da própria futilidade e da própria impotência , o Eterno escolheu esse povo. Rashi dá (a seguir ao midrash) uma acertada interpretação a Dt 7,7: “Não porque fosseis mais numerosos [maiores] que todos os povos, o Eterno inclinou-Se a vós e vos escolheu – já que sois o menor entre todos os povos’. ‘Não porque fosseis mais numerosos” [com isso está sendo entendido] porque não vos elevastes a vós mesmos, quando vos dôo o bem em abundância. Por isso, a Toráh diz, ‘o Eterno vos desejou…, pois sois o menor’ – vós, que vos fazeis sempre menores, assim como Abraão, que disse: ‘Porque sou poeira e cinza’ (Gn 28,27), e assim como Moisés e Aarão, que disseram: ‘Mas quem somos nós’? (Ex 16,7), e não como Nebukadnezar, que disse: ‘Igualar-me-ei ao altíssimo’ (Is 14,14) usw,”34

A escolha de Israel não é privilégio, está condicionada e ligada a uma tarefa (cf. Ex 19,5). Quando Israel faltar, isso lhe dá somente desvantagem: “Só vós reconheci de todas as estirpes da terra, por isso castigarei em vós todos os vossos pecados” (Amos 3,2).

O filósofo-poeta medieval Yehuda Há-Levi compara a posição de Israel no meio dos povos com o coração como eixo da vida: “Israel está entre os povos como o coração entre os membros, é o mais doente de todos e simultaneamente o mais sadio … Não te estranhes, quando diz: ‘ele carrega as nossas doenças’ (Is 53,4). Pois enquanto estamos em miséria, o mundo se encontra em calma; os sofrimentos que nos encontram contribuem a fortificar a nossa Toráh [ensino], a nos purificar e a eliminar as escórias de nós. Pela nossa pureza e promoção, o espírito divino está pegado ao mundo.”

Yehuda Há-Levi explica, como Israel sente primeiro a pena mais profunda do mundo em que vivemos, enquanto o restante dos povos continua vivendo despreocupado. Assim como o servo sofrente de Isaias carrega as doenças da comunidade, assim Israel sofre da imperfeição da criação. Então Israel se assemelha ao coração, que é o primeiro que sofre emitindo sinais, quando outros órgãos no corpo não funcionam bem. Simultaneamente, Israel é o “motor” do mundo. Assim como o coração, que mantém todo o corpo em vida, Israel liga o espírito de Deus com a criação, assim que esta continue existindo.35

A peça de ensino da eleição não faz parte de um “povo de senhores” ao que outros povos devam servir, mas, ao contrário a isso, a doutrina de um povo que está destinado para servir a outros.36 Israel está eleito, não tanto para si mesmo, mas sim para a humanidade. O particularismo judaico precisa ser visto no quadro do universalismo judaico. Como nenhum outro, o profeta Isaias percebeu isso, quando falou sobre os eleitos: “Eu, o Eterno chamei-te em justiça e te pego na mão, cuidando de te e te fazendo a aliança do povo, a luz das nações, para abrir olhos cegos, conduzir presos para fora do cárcere e da prisão, aqueles que estão sentados na escuridão” (Is 42,6-8).

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Notas literárias 1 a 36 e mais Indicações de literatura: no fim do!

Texto alemão: Israel und die Völker

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