JUDAISMO HUMANISTA

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O SURGIMENTO DA DIÁSPORA NA HISTÓRIA DO POVO JUDEU - Elias Salgado

O SURGIMENTO DA DIÁSPORA NA HISTÓRIA DO POVO JUDEU
Elias Salgado


Independente das grandes e polêmicas discussões teóricas e ideológicas no seio do judaísmo e fora dele, sobre a questão da relação diáspora x Israel, cabe estabelecer alguns parâmetros históricos e objetivos:
1- O monoteísmo, a fé na qual a religião judaica está baseada, nasceu fora da Terra de Israel, na Mesopotâmia;
2- As bases da formação da religião judaica têm início fora da Terra de Israel, no exílio, no deserto do Sinai;
3- Os judeus enquanto povo começam a ganhar forma mais consistente, ainda no exílio, no Sinai;
4- Cronologicamente, o judaísmo existiu fora de Israel grande parte de sua história. Contamos já mais de 1900 anos de existência da diáspora;
5- Mesmo após o advento da criação do moderno Estado de Israel, quando se acreditava que os judeus abandonariam em massa a diáspora, retornando ao seu Lar Nacional ancestral, eles continuam vivendo em Israel e na diáspora. E fica claro que tal situação não é passageira, ela é a realidade atual e futura do povo judeu.
Considerações à parte, é fato inquestionável que não existiria um povo judeu, uma religião judaica e uma nação judaica, sem a experiência histórica vivida pelo povo de Israel na Terra de Israel; no passado e na atualidade, pois quase tudo que está relacionado com as bases históricas, culturais, religiosas e nacionais do judaísmo, tem origem na Terra de Israel.
Mesmo em nosso dias, quando existe um estado judeu soberano e a opção de viver nele ou fora dele e ser sionista ou não, tudo indica que tal dialética, a da relação povo de Israel com a Terra de Israel, não se acaba, pois independente da decisão pessoal de cada judeu, o não judeu sempre aponta para esta relação; judeus-Terra de Israel; seja de forma positiva, aceitando o direito dos judeus à sua terra, seja de forma negativa, negando tal direito e manifestando uma nova forma de anti semitismo: o anti sionismo, onde grande parte das ações políticas dos governos do Estado de Israel são condenadas e muitas vezes tal condenação se dá através de afirmações tais como: “os judeus oprimem os palestinos” e não, “o governo de Israel ...”.
Mas como e quando surgiu a diáspora na história do povo judeu?
A historiografia determina que a diáspora judaica teve início no ano 70 d.C., com a destruição do segundo Templo de Jerusalém, pelos romanos.
Apesar de ser fato que a maioria absoluta da diáspora judaica teve início naquele período, sabemos que o fenômeno da diáspora, seja em sua forma forçada (exílio-Galut) ou espontânea (diáspora-dispersão), teve início antes de 70 d.C..
A bíblia narra sobre a existência de população judaica fora da Terra de Israel já no período do rei Salomão, entre (1000-925 a.C).
No ano 722 a.C. os assírios conquistam e anexam o antigo reino de Israel( do norte), e levam para ao exílio e à dispersão, com conseqüente desaparecimento histórico, as 10 tribos que formavam aquele antigo reino judaico.
Em 586 a.C o rei Nabucodonossor invade e destrói o primeiro Templo, levando ao exílio na Babilônia o atual Iraque, a quase totalidade dos judeus.
Cabe destacar que mesmo após a conquista da Babilônia pelos persas e a autorização de Dario para que os judeus voltassem para a Terra de Israel e construíssem o seu segundo Templo, grande parte dos judeus exilados na Babilônia, permaneceu naquela região, existindo até hoje alguns poucos descendentes diretos daqueles exilados de Babel.
E a comunidade judaica na Babilônia foi por muitos séculos, um centro hegemônico na vida dos judeus, rivalizando com Jerusalém pela centralidade do judaísmo. Lá foram criadas grandes academias de estudos e escrito o chamado Talmud Babilônico, que é certamente mais popular que o chamado Talmud de Jerusalém.

No período helenístico (a partir de 300 a.C), ainda antes da destruição do segundo Templo, já existiam comunidades judaicas espalhadas pelos territórios dos impérios grego e romano.Contudo é no ano de 70 d.C, que se dá a perda definitiva da soberania do povo judeu sobre a Terra de Israel, passando este a viver majoritariamente na diáspora por quase 1900 anos, dominado por diversos povos, em diferentes períodos da história, até 1948, quando finalmente, recuperou sua independência e soberania, criando o atual Estado de Israel, em seu território histórico.

Seja porque a vida na diáspora foi tão longa, ou mesmo porque na verdade a diáspora é uma realidade e uma experiência histórica inerente ao povo judeu, o fato é que o que hoje conhecemos como judaísmo, está impregnado de elementos diaspóricos e é inegável o potencial criativo do chamado judaísmo diaspórico.
Tal realidade estabelece que o judaísmo é hoje composto de um centro(Israel) e uma periferia(diáspora), onde o centro se vê rivalizado pelo judaísmo americano, que se configura atualmente na comunidade judaica mais numerosa no mundo(superando, ainda, a de Israel) e com um poder econômico e político( o chamado “ lobby judaico americano”) que não pode ser desprezado por Israel.

Apesar de que na atualidade, em termos gerais, a vida dos judeus na diáspora se dá no seio de países do Ocidente que possuem governos democráticos e onde judeus gozam de condições de igualdade de direito e de cidadania, fica claro que as trágicas experiências vividas em vários períodos da história do povo judeu na diáspora (Inquisição, pogroms, Holocausto, etc...), provaram que a assimilação e a conversão não são soluções contra o anti semitismo, como chegou a pensar grande parte dos judeus da Europa Ocidental e Central, após a Emancipação e o Iluminismo Judaicos. O extermínio de mais de 6 milhões de judeus e o conseqüente desaparecimento de centenas de comunidades judaicas e o fim de toda uma vida judaica, extremamente rica de elementos culturais, deixa claro para a maioria absoluta do povo judeu, a fundamental importância da existência de um estado judeu soberano, que garanta a segurança dos judeus da diáspora.
Cabe porém ressaltar, que não é só a possibilidade de um novo extermínio físico em massa e as perseguições anti semitas, que colocam em risco a sobrevivência dos judeus como povo e religião na diáspora
.Há vários outros aspectos que apontam como incertezas para o futuro. E em nossa opinião o mais grave deles está na inflexibilidade de certos segmentos do judaísmo em entender e aceitar a realidade e as novas dinâmicas, existentes na atualidade, no seio do povo judeu. Falo aqui da intolerância e exclusão, da “cegueira” que deixa “de fora dos muros”,ou antes disso, que cria tais “muros” e barreiras quase intransponíveis de acesso a levas inteiras de seres humanos, que por livre opção e por ascendência distante ou mesmo próxima, não são aceitos por tais segmentos.

Não é de mais lembrar, que há cerca 2011 anos atrás, tal atitude, criou um cisma irrecuperável no seio judaísmo, quiçá o que mais graves conseqüências causou á História dos Judeus no Ocidente.

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