O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana
O judaísmo não é o meu objeto,
é meu método.
F. Rosentzweig.
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Hoje, quem abrir o blog do JH vai tropeçar em palavras chave de tradição ortodoxa e logo vai se perguntar como fez o Carlos Alberto: é um site religioso?
Quando mestre Jayme me convidou para trabalhar no JH a resposta era não.
Hoje, quando o blog parece repetir o fenômeno político da expansão religiosa em Israel a resposta seria, aparentemente sim
Também em Israel as minorias religiosas sempre mais ativas impõem um perfil religioso ao estado. E religião sabemos bem como funciona: tem a verdade e não admite diferenças.
A resposta que mestre Jayme enviou ao Carlos Alberto não aborda a questão central: não existe um Judaísmo Humanista. O que pode existir é um Humanismo Judaico. Esta diferença induz a confusões. Confunde as pessoas que confundem a palavra humanismo com “bondade”. Ofende pessoas que não entendem como pode haver judeus não humanistas. Dá a impressão que sou humanista e todos os “eles” não.
“Muito humano aquele médico”. Quem nunca ouviu esta expressão? Humano porque atencioso? Agradável? Que se esforça por ajudar? São atitudes que podem ser desenvolvidas em qualquer pessoa. Mesmo em assassinos.
Ser um bom ser humano não é o mesmo que partilhar do pensamento humanista. Concordam?
Yeshaaiau Leibowitz a quem o Jayme cita na resposta ao C.A. costumava dizer que humanismo nada tem a ver com religião judaica. É um problema dos laicos e dos ateus. Cumprir mandatos-mitzvot sem querer transformar deus num funcionário privado é o dever do judeu religioso. Se isto traz resultados positivos para a vida humana é consequência e não objetivo. Nada tem a ver com religião que seria para Y.L. a prática desinteressada da Torah. Sejamos honestos: ele tinha razão.
Citar o Talmud como faz Jayme é arriscado. Não corresponde ao judaísmo religioso contemporâneo, e o meu caro amigo Jayme sofre isto na própria pele em Israel. O pensamento religioso incorpora o Talmud, mas o Talmud não incorpora o que fizeram com a religião depois dele. A ortodoxia lê o Talmud como texto santificado e se guia no dia a dia pela obra medieval de Yosef Caro, o Chulhan Aruch, com se fosse um mandato divino.
Talmud é maneira de pensar, desdobrar e atualizar a Torah. O Talmud que Lévinas nos trouxe de volta, nós os judeus laicos, não é lido com mesma intencionalidade pelos Haredim. Radicais que não são de raiz.
São tementes, Hared, e adoram quem Hozer Ba Tzshuvá, retorna à resposta verdadeira do como ser judeu enquanto nós amamos quem HoZer ba Sheela, aquele que volta a fazer perguntas e levantar dúvidas. É mais de raiz. É radicalmente judaico.
Então, como responder ao Carlos Alberto de Paula, e aos membros do blog que dão a aparência de um blog religioso? Como tomar posição num local onde esta posição nunca foi tomada? Em primeiro lugar esclarecendo que falo somente me meu nome.
Resposta antiga que venho usando. Que usei na defesa de tese de doutorado na ECO-UFRJ no ano 2000. Na minha banca havia um rabino convidado por mim, e outro no público que veio por conta própria vestindo preto dos pés à cabeça e saiu assim que fiz a minha apresentação.
Comecei dizendo ao público que a religião judaica é assunto serio de mais para que fique na mão dos religiosos. Eu me propus construir um pensamento usando o judaísmo como método e não objeto. Um método humanista de pensar o mundo dos homens. Pensar deus é proibido dentro do judaísmo.
Se o humanismo é uma maneira de pensar um projeto para o humano, esforço de muitas tradições, o humanismo judaico é uma forma de pensar o ser humano a partir de princípios presentes na tradição judaica. Só isto? Isto é muito. Faz toda a diferença.
Embora usemos as mesma fontes que os Haredim a nossa leitura e nossas conclusões são outras. O Humanismo jamais se aliaria às forças obscurantistas que dominam a politica em Israel e excluem quem não balançar conforme o cântico.
Se vocês olharem sem medo vão perceber que o estado de Israel dos Haredim caminha em direção a uma maneira fundamentalista de viver o judaísmo. Até comunidade Talibã judaica com mulheres escondidas atrás de véus já temos por lá. Uma islamização da religião judaica?
O fundamentalista não suporta o outro e não consegue sobreviver sem dar a impressão que deus, se é que existe, o nomeou como seu representante sobre a face das ideias.
Quanto ao humanismo, fico novamente com a bela formula de Emanuel Lévinas:
O Humanismo do outro Homem: um sonho de Hanuká para quem comentar esta frase.
Quanto aos nossos companheiros religiosos, aconselho vivamente a leitura de Yeshaaiau Leibowitz. Quanto mais melhor para a pessoa e para a religião.
Quanto ao Alberto, o meu muito obrigado pela pregunta. Perguntar é sem duvida um dos alicerces do Humanismo Judaico. Baruch há bá. Bem vindo seja.
Shabat shalom.
Paulo Blank
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Grande Amigo Paulo, saudades de nossas conversas.
Seu texto me fez refletir, pensar no humanismo. Mas o que seria? Se importar com o pensar do outro? Ou agir de acordo com o que nós gostaríamos que todos agissem? Ter Deus no coração, mas as mãos dadas com o nosso semelhante? Entender o que faz o outro ter uma opinião diferente da nossa, ao contrário de "perdoá-lo ou até mesmo tentar convencê-lo daquilo que acreditamos?
Prefiro usar como resposta a última pergunta. Devemos entender o nosso semelhante. Isso deve ser o início para o nosso humanismo.
Grande abraço
Shalom
Rafael Augusto
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