A janela não existe mais Nem a casa Nem o aconchego dos pais Havia um chocolate com passas Que o pai trazia Quando era noite e o mar dormia E mais dormia E mais roncava Lembrando que existiria Malgrado qualquer progresso Qualquer cirurgia plástica No rosto azul da Bahia Pois de tudo quanto guardo De lembrança E de poesia Daquele tempo menino Ficaram janela e mar Como moldura e retrato Ou como trato de honra Que o mar fizesse comigo Ele que ouviu segredos Contados do parapeito Ele que guarda e cala Naufrágios e dós de peito Ele que cerze os segundos De um tempo que se rompeu Ele - o mar - permanece E cumpre o que prometeu