JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

A força da saudação e o potencial de paz A idéia de saudação é que anima esta investigação de “ShaLôM”. Há muito a ser aprendido sobre uma sociedade e uma civilização a partir dos seus rituais de saudar. O quê é o sentido de saudar um outro ser humano? Recebemo-lo para dentro da nossa presença. Preparamo-nos para um encontro. Aprontamo-nos a considerar o rosto dum outro ser humano que é criado na imagem de Deus. No entanto, no momento de saudar nos engajamos também num risco: não estamos certos como seremos recebidos. Isso pode responder pela diferença entre saudar um amigo creditado e a primeira vez que reconhecemos a presença dum outro que quer chegar dentro do âmbito da nossa conversação e nossa vida. Como diferente é que nós, judeus e cristãos que nos temos engajado nessas discussões desde 1965, nos saudamos uns aos outros. Contudo, recordamos aqueles que vieram antes de nós – e com risco muito maior – estamos dispostos a falar diante aqueles que não os saudaram com “ShaLôM”. Penso aqui especificamente de Martin Buber, que disse a uma audiência em 1938 que judeus e cristãos compartilhavam “um livro e uma esperança”. Depois, durante os primeiros passos esperançosos a uma saudação genuína de “ShaLôM” entre as comunidades, Abraham Heschel declarou: Primeira e principalmente, encontramo-nos como seres humanos que têm muito em comum: um coração, uma face, uma voz, a presença de almas, temores, esperança, a habilidade para confiar, a capacidade para compaixão e entender, a realeza de ser humano. A minha primeira tarefa em cada encontro é compreender a personalidade da pessoa que encaro, para sentir o parentesco do ser humano, da solidariedade do ser. Encontrar um ser humano é o maior desafio à mente e ao coração. ... O humano é revelação do divino e todas as pessoas humanas são um no cuidado de Deus pela humanidade. Encontrar-se com um ser humano é oportunidade para sentir a imagem de Deus, a presença de Deus. ... Quando engajado numa conversa com uma pessoa de cometimento religioso diferente, se descobrir que discordamos em matérias sagradas para nós, a imagem de Deus que encontro desaparece? A diferença no cometimento destrói o parentesco do ser humano? Abraham Joshua Heschel, “No Religon is an Island” [Nenhuma Religião é uma Ilha] em Moral Grandeur and Spiritual Audacity: Essays Abraham Joshua Heschel, editado por Susannah Heschel (Nova York: Farrar. Straus. Giroux, 1996), 238-39. Heschel propõe a possibilidade de encontro entre judeus e cristãos daquela da abstração à realidade da existência humana. A sua exortação ressoa com o sistema filosófico altamente sofisticado de Emanuel Levinas, que declarou que “A ética é ótica”. O olhar atento dum outro ser humano puxa a gente para dentro de uma rede de responsabilidade para com o Outro que se põe como a fundação do nosso ser no mundo. Num sistema em que a ética precede a ontologia, a entrada no encontro humano mantém uma situação profunda com conseqüência séria. Recolher um outro ser humano, uma face humana, para dentro das nossas vidas significa que a primeira palavra – a criação da possibilidade de comunicação mantém um grande momento. Quando estamos em situações que nos são pouco conhecidas, saudamos o outro com “ShaLôM” com a esperança de que, em algum lugar das conversas e ações que seguem ao nosso primeiro encontro a possibilidade de que “paz” e bem-estar sejam criados. Nós judeus saudamos com “ShaLÔM `AlêYKeM”, chamando por meio disso para dentro da possibilidade uma rede de referências aos textos da nossa TORáH SheBiKTaB (Toráh escrita) e da TORáH SheBe`AL PéH (Toráh Oral). Biblicistas investigaram o significado lexical de ShaLôM. A sua pesquisa indica que ShaLôM denota o sentido de inteireza e integralidade. “Peace” [paz] Anchor Bible Dictionary, cf. Eugene Fisher, “Shalom in the Hebrew Scriptures and New Testament” [Shalôm nas Escrituras Hebraicas e no Novo Testamento] em The Challenge of Shalôm for Catholics and Jews: A Diological Discussion Guide to the Bishops’ Pastoral on Peace and War [O Desafio de Shalôm para os Católicos e os judeus: Guia da Discussão Dialógica à Pastoral dos Bispos sobre Paz e Guerra] (UAHC Department of Education and NCCB [National Conference of Catholic Bishops] 1985), 1-3. No entanto, a sua extensão semântica é muito mais ampla que a ausência de guerra ou conflito. Conota o esforço cônscio para entender que os objetos tanto animados como inanimados têm a possibilidade para um sentido de inteireza e tranqüilidade, o qual é um potencial a ser realizado. A lente para enxergar como essa inteireza vem entrando na realidade nos conduzirá através de vários textos do período clássico do Judaísmo rabínico. Sempre que possível, vamos tentar a restringir a nossa investigação à camada tanaítica. No entanto, vamos também tomar a liberdade de citar fontes posteriores, quando iluminarem as anteriores. Quem é o autor da paz? Nas horas mais íntimas que os judeus passam nas suas comunidades de culto, os textos de oração diante os seus olhos apresentam uma fonte singular de toda a inteireza e bem-estar. É Deus, a Fonte de todas as fontes, o “Rei cujo nome é Paz” [Cânticos Rabbi 1:1]. A doxologia do QaDÍSh que pontua as maiores rubricas do serviço conclui com o versículo escritural de Jô 25,2 “Que o Único que faz Paz nos Céus (literalmente: nos Lugares Altos) faça paz para nós, todo o Israel. Digamos: ‘Amém’.” O Criador de tudo tem a força de estabelecer a harmonia nos mundos sobrenaturais. O uso da forma participial de “`OSéH” a respeito dos mundos superiores indica ação contínua que pode ser contrastada com o tempo imperfeito “Ya`ASéH” (reforçado pela repetição do pronome “HU´”) que revela uma situação de potencialidade – duma optativa, duma esperança de que Deus vai trazer a paz a nós e a todo o Israel. O abismo entre os céus invisíveis e o mundo da existência terrestre parcialmente conhecido está sendo ligado pela esperança de que a inteireza virá de Deus. Essa declaração de esperança comunal está sendo reforçado nas HaTIMÔT, as coletas, de outras orações. Depois da recitação vespertina do SheMá` na SháBaT, a oração HaShKIBeNÚ “Faze-nos deitar em paz” está sendo recitada com as palavras concludentes: “Bendito és Tu, oh Senhor, que estende o tabernáculo de paz sobre nós e sobre o Seu povo e sobre Jerusalém”. A oração durante a semana é “Que estende um tabernáculo de paz de paz sobre Israel”. Alguns livros de oração liberais incluem a frase “e sobre o mundo”. Essa oração usa a bela imagem da “SuKáH”, o abrigo temporário em toda a sua fragilidade que expressa a teia igualmente fina ou paz ou inteireza que Israel espera que Deus vai estabelecer. Na oração concludente das dezoito benções – recitadas três vezes no dia – a rubrica focaliza na paz. Deus está sendo urgido para trazer uma paz eterna a Israel – que este conheça inteireza e prosperidade. Nas versões, tanto a matutina como a vespertina desta oração, o venerador afirma a esperança de que Deus “abençoa Israel, Seu povo, com paz”. Em três festivais – e diariamente na terra de Israel – a bênção aarônica conclui: “Que Deus vos abençoe e vos faça acompanhantes desta oração pela paz. Que Deus ilumine a Sua face para vós e seja gracioso para com vós. Que Deus levante a Sua face divina para vós e estabeleça paz para vos” [Nu 6,24-26]. A bênção aarônica confirma a idéia de que Deus é a fonte única de inteireza e paz. A paz é o degrau mais alto na escala na retórica da bênção: Deus nos mantém e nos guarda. Deus dá graça (HêN) sobre nós e, finalmente, estabelece ShaLÔM para nós. Vamos notar, no entanto, que a bênção aarônica volta para nós para a imagem de saudar. Dois do três membros da bênção se referem à noção do rosto divino chegando à humanidade – a luz de Deus ilumina a graça que estende aos humanos; e o voltar ou levantar da face divina – talvez um sinal de reconhecimento (por assim dizer) – permite “aplicar” paz/inteireza sobre nós. Baseados nessas observações sobre a fonte única de paz que jaz no reino divino, podemos agora levantar a pergunta seguinte: O indivíduo judaico é elemento passivo no processo de inteireza? Posto de outro modo: Quando Deus faz paz nos lugares altos e fará isso finalmente na terra, os seres humanos têm alguma parte no estabelecer ou agir em direção à paz nos reinos designados para nós? Podemos alegar choque pela natureza extravagante dessa pergunta e começar a carregar os nossos argumentos de muitas fontes sobre a natureza da responsabilidade humana. Deixai-me pedir a vossa indulgência e chegar à responsabilidade do judeu individual e do povo de Israel por uma rota um pouco mais indireta. A intenção piedosa e o saudar intencional No segundo capítulo da Mishnáh Berakôt aprendemos que: Se alguém estiver lendo num rolo da Toráh e o tempo para ler o SheMA` chegar, se tiver demonstrado intenção para a oração, essa pessoa terá satisfeito a sua obrigação de cumprir o mandamento. Se não tiver, não terá cumprido o mandamento. Durante as seções estabelecidas do SheMA`,a pessoa pode saudar outra por respeito e devolver uma saudação. O meio da seção, alguém pode saudar ou replicar a uma saudação. No meio duma seção, alguém pode saudar e replicar a uma saudação por causa de respeito ou reverência. Essa é a opinião do Rabi Méier. O Rabi Judah diz: “No meio das seções pode saudar por causa de reverência e replicar a uma saudação por causa de estimação. No espaço que separa as seções pode saudar por causa de reverência e replicar (a uma saudação de) “paz” (ShaLÔM) a qualquer pessoa. A Mishnáh Berakôt 2:1. A segunda Mishnáh destingue entre as seções como entre a primeira saudação e a segunda, entre a segunda ao SheMA` entre SheMA` a “e deve chegar a passar” e entre “deve chegar a passar” a “E Deus falou a Moisés” e entre “E Deus falou a Moisés” a “Verdadeiro e duradouro”. A justaposição de duas tarefas sagradas está sendo apresentada. Alguém pode estar engajado na tarefa de ler o texto de Deuteronômio 6,4 como parte de estudo escritural. Se o tempo apropriado chegar para cumprir o mandamento de recitar essa passagem como oração, então a pessoa deve “dirigir o seu coração” ou demonstrar intenção específica para ler a passagem na Escritura como a própria oração. No entanto, o problema chega a ser mais complexo quando a Mishnáh descreve o dilema no lugar onde as orações da rubrica SheMA` e as suas benções são recitadas. Posto simplesmente, a Mishnáh pede quando é apropriado desviar a atenção da pessoa da recitação da oração a fim de saudar (ShOÊL) ou replicar a uma saudação dum venerador companheiro? A solução do problema por dois Tanaím, Rabi Méier e Rabi Judah está sendo oferecida. Os específicos da sua resposta são menos importantes que as próprias categorias. Ambos os TaNAÍM se aproximam do problema com a divisão da sua rubrica em “seções” (PeRaQíM) – literalmente: “capítulos”). Essas seções são consideradas ou como unidades inteiras – a gente pode interromper entre elas ou no seu meio. Vamos notar as categorias que possam motivar o saudar, ou “reverência/respeito” (KaBÔD) ou “temor” (YiR`aH). Essas categorias formam as unidades primárias da piedade rabínica no aproximar-se à Divindade. Não há discussão entre R. Méier e R. Judah de que alguém deve interromper as orações. A sua disputa é quando a saudação deva ser oferecida e qual a motivação para a saudação deva ser. A atenção deve ser desviada apropriadamente das orações pelas mesmas razões pelas quais alguém se aproxima à divindade. Desejar “ShaLÔM” a um outro ou responder à saudação de “ShaLÔM `AlêYKeM” dum outro pode ser o primeiro passo para a realização de que a Mishnáh considera a casa de oração e a comunidade de oração uma reflexão do macrocosmo de Deus. A saudação de paz no momento reto põe a balança entre o reconhecimento da unicidade de Deus e do reconhecimento da imagem de Deus que aparece na forma dum outro ser humano que merece honra ou temor. A comunhão com a intenção apta referente a unicidade de Deus, cujo dono gracioso é paz, parece ser balançada com esforços humanos em relação a criar uma rede recíproca de criar uma comunidade cuja saudação é paz. Para esse fim, podemos entender a admonição de Abbaye: Uma pessoa deve ter sempre a mente afiada sobre o temor de Deus, dando uma resposta suave que mande embora qualquer raiva (Pr 15,1), aumentando a paz com os seus irmãos e parentes e com todos os seres humanos – inclusive com os idolatras na rua - assim que possa ser amado em cima e popular na terra e aceitável para os criados companheiros [T(almud).B(abilônico). Berakôt 17a]. “ShaLÔM”, então, não é exclusivamente o dom gracioso de Deus. Os seres humanos têm um papel a jogar na realização o sentido de inteireza ou completação. Os seres humanos mortais podem não ser capazes de experimentar ou mesmo descrever as dimensões da inteireza, mas saudando uns aos outros se relembram da tarefa. Para incrementar a paz (MaRBêH ShaLÔM) é expressão de esforço humano para a meta de inteireza, sobre a qual teremos a oportunidade de ouvir outra vez dos rabis. BeRIT ShaLÔM (Aliança de Paz) e ZeBaH SheLeMÍM (Oferta de Pazes) A possibilidade dum BeRIT ShaLÔM, “um convênio de paz” entre Deus e a humanidade é mencionado três vezes no TaNak (Levítico 25,12; Ezequiel 34,25-26 e 37,26). Quando a possibilidade dum convênio é introduzida, a dinâmica duma conexão humana e divina com respeito à paz chega a ser possibilidade. Deus oferecerá um convênio de paz, em que os seres humanos podem participar e beneficiar. A idéia do ZeBaH SheLeMÍM mencionada no livro Levítico continua mantendo a possibilidade de apresentar uma oferta a Deus no altar – o ponto de mediação entre o Único nos céus e aqueles que se apresentam como membros legais da comunidade conveniada. Em ambos os casos – o convênio e as ofertas – discernimos que shalôm faz parte do relacionamento entre Deus e a humanidade. O indivíduo a quem o BeRIT ShaLÔM está sendo outorgado é Pinchas ben Eliezer, que age zelosamente em nome de Deus e acaba com a vida daqueles que cometeriam idolatria, o ato de traição do Único, cujo nome é Paz. Os rabis expõem a promessa desse convênio estendido a Pinchas: Grande é a paz que Deus deu a Pinchas, pois o mundo está sendo governado somente por paz, e tudo da Toráh é paz, como está dito: “Todos os seus passos são paz” (Pr 3,17). E se alguém voltar duma viagem, saúdam-no com paz, pedindo manhã e noite de paz. Depois de ler o SheMA`, finalizam com “que estende a tenda da Sua paz sobre o Seu povo”. A oração diária finaliza com paz e a bênção sacerdotal igualmente [Num. R. Pinchas, 21,1]. O dom gracioso de paz a Pinchas é ocasião para expressar novamente a inteireza que governa o mundo, fazendo explicita a intenção da Toráh, a revelação divina, que é conduzir os humanos a ShaLÔM e inteireza. Nota que a ponte entre a declaração geral de soberania e as expressões litúrgicas de paz no SheMA` e `AMIDáH é a saudação duma pessoa no retorno duma viagem. É essa saudação de paz que leva a sua participação na comunidade que se reúne para oração e petições pela bênção de paz. A oferta de culto do ZeBaH SheLeMÍM no altar (Levítico 3,1) também provê um entendimento do papel jogado por “ShaLÔM” no saudar. No seu comentário a Levítico, Baruch Levine traduz essa frase como “o dono sagrado de saudar”. Destaca que o oferecer do ZeBaH era compartilhado entre a divindade, o sacerdócio e o venerador. O culto, os SheLeMÍM assumiam a forma dum sacrifício de animal oferecido a Deus, quando alguém chegou diante dEle para O saudar numa refeição sagrada. Foi adotado como o nome dum sacrifício particular, porque expressava a comunhão experimentada pelo venerador e os sacerdotes na presença de Deus, ao saudarem os seus hospedes divinos. Baruch A. Levine, The JPS Torah Commentary: Leviticus (Philadelphia: Jewish Publication Society, 1989), 14-15. O oferecer era sinal de inteireza entre a humanidade e a divindade, que os rabis interpretavam como uma admoestação para trabalhar para a paz entre criaturas terrestres. Vem e vê como é grande a recompensa de alguém que leva a efeito a paz entre um ser humano e outro. A Escritura declara: “De pedras pacíficas (inteiras) edificarás o altar do Senhor teu Deus” (Dt 27,6). Agora, essas pedras não podem nem ouvir nem ver; não podem nem cheirar nem falar. Mas enquanto, pelas ofertas que vêm sobre elas, espalham paz entre os humanos, são salvas da espada porque a Escritura ordena: “Não levantarás qualquer ferramenta nelas” (Dt 26,5). Quanto mais isso se deve aplicar a um ser humano que pode ouvir e ver, e que pode cheirar e falar, se promover paz entre uma pessoa e o seu vizinho [Pesikta Rabbati 199b]. O contraste entre os mandamentos a respeito da construção dum altar não-animado que serve como o ponto de meditação entre a humanidade e Deus com o senciente ser humano é indicação clara da obrigação dos seres humanos de imitar o ato de veneração sacrifical, levando inteireza ao seu mundo. ShaLÔM está sendo criada entre Deus e os humanos pelos sacrifícios no altar feito de pedras inteiras. É promovido por seres humanos, cuja natureza senciente os impele a trabalhar para a paz. Aarão, o Sumo Sacerdote: um paradigma para ShaLÔM Aarão chega a ser a figura paradigmática para procura humana de paz. A declaração atribuída a Hillel admoesta: “Sede dos discípulos de Aarão, amando a paz e procurando a paz, amando as suas co-criaturas, levando-as para mais perto da Toráh.” [Pirqe Abot 1,12.] Os pais, segundo Rabi Nathan, expandem-se sobre essa passagem, referendo a ação de Aarão a Malaquias 2,6 “Ele desviou muitos da iniqüidade”, descrevendo o comportamento exemplar de Aarão. Se Aarão encontrou uma pessoa má na rua, saudou-a com as palavras: ShaLÔM `AlêYKeM. Se aquela pessoa quis cometer um pecado no dia seguinte, disse: “Ai de mim. Como então poderia levantar os meus olhos e olhar para Aarão. Devo-me envergonhar diante dele, porque me deu a saudação de paz.” Aarão está sendo descrito também como pacificando vizinhos que estavam brigando até que se abraçassem [Abot d’Rabbi Nathan 12,24b]. A virtude de estabelecer uma vida marital pacífica, o ShaLÔM BaYiT está também sendo atribuído às atividades de Aarão [Abot d’Rabbi Nathan 25,25b]. Nessa procura de inteireza, o altar e o seu servente perpétuo são unificados na atividade de espalhar shalôm. Nota que, no primeiro exemplo dos Pais Segundo ao Rabi Nathan, é a saudação que evoca os atos de contrição interior pelo homem que quis pecar. Era a recordação da saudação de Aarão “ShaLÔM `AlêYKeM” que preludiou a sua transgressão proposta. Do ato de atrair discípulos de paz à bênção aarônica de paz, os rabis sacavam do poder que ShaLÔM mantinha sobre as atividades universais dos seres humanos. Compuseram uma ladainha de dons de paz que são ligados a declarações proféticas. Na estrutura literária dessa passagem podemos discernir a graça artística das homilias rabínicas e o papel singular da paz como tecendo uma roupa de inteireza. Grande é a paz, porque é igual a qualquer coisa, como está dito: “Ele faz paz, criando tudo” (Is 54,7). Grande é a paz, porque, mesmo se os israelitas venerarem ídolos e paz há entre eles, Deus, pode ser, diz: “o satã não os pode tocar”, como está dito: “Efraim está ligado a ídolos, deixa ele sozinho” (Isaias 4,17). Grande é a paz, porque está dada ao penitente, como está dito: “Criador do fruto dos lábios, paz, paz para os de longe e para os de perto” (Is 57,19). Grande é a paz, porque Deus não tem dado dom mais belo aos retos; porque, quando um homem reto passar do mundo, três anjos ministrando andam diante dele. O primeiro diz: “Ele vai entrar na paz”; o segundo diz: “Ele descansará na sua cama”; o terceiro diz: “Ele anda ereto”. (Is 57,2). A Toráh está sendo comparada somente com paz, como está dito: “E todos os seus caminhos são paz” (Pr 3,17). Deus conforta Jerusalém somente com paz, como está dito: “E o Meu povo morará numa habitação de paz” (Is 33, 18) [Números Rabbath, Naso 11:7]. Essas declarações indicam a natureza microcósmica da paz no pensamento rabínico. A paz susta a punição divina pela idolatria de Israel. Oferece o caminho para o penitente voltar a Deus. Acompanha os retos quando entram no próximo mundo na companhia dos anjos. A TORáH – o caminho da vida judaica – é comparada com a paz. Finalmente, o horizonte último do pensamento escatológico judaico, a restauração de Jerusalém é descrita em termos de Deus trazendo paz à cidade. A humanidade e a divindade são juntadas num círculo de paz. “A bem da paz”: um caminho prudente Essas descrições das atividades de Aarão, as ofertas no altar e a dança cósmica de paz com a humanidade estão sendo lançadas numa série de declarações prudentes pelos rabis. Oferecem um número de situações humanas, onde litígios provavelmente surgem e, em cada caso, estabelecem uma ordem social que permite a manutenção da ordem social. A discussão está sendo mantida em Mishnáh Gittin 5:5: “Essas são as coisas que eles (os sábios) declararam a bem da paz.” A lista trata da própria ordem de chamar as pessoas ao lerem a leitura escritural, continuando com como o cozimento comunal num pátio deva ser organizado. Litígios sobre as fontes d’água na cisterna, a própria ordem de capturar animais para evitar furtos são também esclarecidos. Atividades nas quais judeus se misturam com não-judeus, tais como respiga, são permitidas a bem da paz. A lista conclui com duas atividades relacionadas especificamente a não-judeus. Tem uma bênção permitida quando trabalharem nos campos durante o sétimo ano, enquanto aos israelitas tal bênção não é dada. É também permitido saudar não-judeus “a bem da paz”. As atividades descritas em Mishnáh Gittin chegam a ser a base para atividades sociais e comerciais entre judeus e não-judeus na lei judaica posterior. É notável que saudar é permitido, porque atrai o não-judeu para dentro do âmbito da paz. Talvez não está a paz que discernimos dentro da intimidade daqueles que estão dentro da comunidade israelita convencionada. No entanto, a extensão do saudar é indicação que trazer a mensagem de paz, da Toráh, se estende como parte da prudência que Israel exerceria na sua longa marcha ao horizonte escatológico da paz. Conclusões Discernimos que, dentro dos estratos antigos da Lei Oral, a idéia de paz ou inteireza está encontrada dentro da própria natureza da divindade. É um dom único da clemência e graça de Deus que é dado sobre o povo judaico. No entanto, é igualmente verdadeiro que os judeus são admoestados a encherem as suas vidas diárias com a procura da paz ou inteireza dentro do mundo que habitam. Estão para viver a realidade das suas petições piedosas estabelecendo uma rede social de paz e harmonia. Comentando o Salmo 24,14, os rabis declaram que: “A Toráh te manda, não correr atrás ou obedecer aos mandamentos, mas somente para os cumprir quando as ocasiões apropriadas vierem. Mas precisas procurar a paz no teu próprio lugar e o prosseguir a outro” [Números Rabbah Hukkat 19:27]. A atividade humana é o elemento chave na procura da paz, como o aprendemos de rábi Simeon ben Elazar: “Se uma pessoa estiver sentada no seu lugar ficando silencioso, como pode procurar paz em Israel entre uma e outra pessoa. Mas deixa ele sair do seu lugar vagando pelo mundo e procurando paz em Israel.” A passagem conclui com a alusão ao mesmo texto do salmo: “Procura paz no seu próprio lugar de morada, procurando-a num outro lugar” [Abot d’Rabbi Nathan, 12.26a]. Nesse modo, podemos discernir que os judeus se movem a saudar os seus co-seres humanos com uma saudação que expressa uma esperança tanto imediata como escatológica. O desejo de paz – de paz sobre ti – os impele a levar o dom divino de paz ao seu próprio povo e a outros no mundo. É a sua convicção firme que “Os discípulos dos sábios aumentam a paz no mundo, como está dito: “E todas as tuas crianças poderão ser ensinadas do Senhor e grande será o shalôm das tuas crianças.” Os rabis sugerem que a palavra final seja vocalizada, não BaNáYiK (tuas crianças), mas sim BòNáYiK (teus edificadores). Cada saudação de paz é oportunidade de edificar harmonia no mundo – o ShaLÔM ou inteireza de paz, realizando dentro do reino humano a bênção apresentada pela TORáH – aqueles que constroem a paz levam a efeito a bênção de paz. -------------------------------------------------------------------------------- Tradução Pedro von Werden SJ. Michael A. Signer, Paths of Peace (Darkei Shalôm) in the Jewish Tradition

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