O trem andou no sábado por Marcos Wasserman

[Jayme Fucs Bar]

 Não constam dos anais que um trem tenha circulado em Israel, num sábado e muito menos que, no mesmo dia, veículos do exército trafegavam nas ruas de Jerusalém. Não foi por causa de qualquer guerra. A culpa é do inverno.

De repente Israel foi surpreendida com um  ataque meteorológico, que poucos podem referir ter acontecido algo semelhante, no longo  de muitos e muitos anos. Foi uma tempestade de verdade, não daquelas que se constuma dizer “num copo d’água”. O país, parecia estar em estado de guerra.

Ventos poderosos, chuvas torrenciais e trovões ameaçadores, ribombando pelos céus com resultados inesperados. A temperatura em Jerusalém, e na cidade de Zfat, baixou a um nível de -2 ,resultando uma tempestade de neve de longa data não vista.  A Capital ficou paralizada, com neves em alguns lugares, de até 1 metro de altura.

Em Tel Aviv, onde eu moro a temperatura chegou a 5 graus e fomos bombardeados com uma chuva de granizo que deixou as ruas esbranquiçadas, um lençol de gelo não visto de longa data.

Trinta mil casa ficaram isoladas sem eletricidade e a minha contava-se entre elas. Vou contar o que aconteceu.

Em plena luz do dia de repente a eletricidade caiu. Conforme me ensinaram numa outra oportunidade, a primeira coisa que você faz é abrir a caixa de luz, baixar todos aquelas pequenissímas alavancas, mais de vinte, e depois lentamente fazê-las voltar ao seu lugar. Procedi de acordo com o manual. Sem resultado. Não havia luz, evidentemente que não havia aquecimento.

Tratei de ligar para a companhia de eletricidade. Sem resultado. Todas as linhas ocupadas. Todas as minhas tentativas para resolver a situação foram infrutíferas. Só restava retirar do armário as roupas mais quentes que ajudavam um pouco embora tiritando de frio. Assim passamos a noite.

No dia seguinte, tentei comunicarme novamente com a companhia de eletricidade. Um disco me dizia para esperar, enquanto isso me informava se eu tivesse algum problema de eletricidade, na minha residência, e se não conseguisse falar com eles por telefone que o fizesse por internet?! Pipocas. Se estou desconectado eletricamente, como é que vou usar a internet? Pelo celular? Estava descarregado.

Depois de quarenta e cinco minutos de espera no telefone, finalmente ouvi uma voz humana de uma pessoa que muito condoida escutou pacientemente minhas lamúrias e prometeu ajudar, sem frizar quando viria o anjo salvador para restabelecer a luz na minha casa.

Para minha agradável surpresa em menos de uma hora apareceram dois senhores, muito bem trajados com ares professorais. Eu diria que eles seriam pelo menos no mínimo engenheiros de altíssimo gabarito. Abri a porta e recebi-os com todos os salamalekes, a que eles faziam jus. Foram diretos à caixa de eletricidade. Um deles tirou um pequeno objeto, parecia um lápis ou um termômetro que foi encostado em um dos pontos críticos do painel. Ambos os senhores se entre olharam e deram o seu doagnóstico.

“A caixa de luz não está desconectada. A eletricidade está aqui. Portanto o problema não é externo e sim interno. Nosssa função é tratar de problemas exteriores., No que se refere ao seu problema específico, recomendamos chamar um eletricista para tratar do caso!!!

Fiquei praticamente sem fala. Procurei e achei. Um que estava 24 horas de plantão. Foi como tirar a sorte grande. Em plena tormenta chegou o meu eletricista salvador que vendo minha cara assustada, tratou de acalmar-me e garantiu que ele resolveria o problema. Após algumas horas – foi feita a luz, como no tempo da criação do mundo. Paguei a conta bastante salgada  com enorme alegria.

Foi quando pude  retornar ao nosso mundo e abri a televisão para saber o que estava acontecendo. Numa reunião de emergência estavam reunidos: o Primeiro-Ministro, o Prefeito de Jerusalém, a Polícia, o Comandante dos Bombeiros e até o Exercito entrou nesta, porque sem o auxílio da força militar seria difícil enfrentar o caos.

Nesta situação de emergência, para não dar a impressão que tudo era negro, não faltaram crianças brincando na neve.

Ainda quando antes do meu resgate da escuridão à luz das velas, recebi um telefonema de um amigo comentando a tragédia da  massa humana de refugiados sírios, no Líbano e na Jordânia, aglomerados em tendas e sem qualquer tipo de auxílio. Pudemos vê-los depois filmados, e transmitida a imagem pela televisão.

Sírios feridos na guerra civil são contrabandeados para hospitais de Israel, onde estão sendo tratados. Israel ofereceu ajuda humanitária à Gaza e à Cisjordânia, que também estão sofrendo da mesma tormenta. Ouvi no rádio uma notícia que até agora me é difícil acreditar, que neste frio atroz Israel forneceu combustível para acionar a usina elétrica na Faixa de Gaza.

Por culpa da tempestade batizada pelo nome de “ALEXA”, numa situação caótica, embora controlada, um trem andou num Sábado em Israel.