O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana
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Por Juarez Vaz Wassersten
Texto: O Judaísmo na Obra de Viktor Frankl
Procurei Deus e não encontrei.
Procurei a mim mesmo e também não me encontrei.
Procurei ao meu próximo e encontrei todos os três. (Talmud)
Frankl sempre evitou abordar a respeito da sua religiosidade em seus livros. Muito pouco se sabe sobre sua prática religiosa, a não ser através de fatos narrados por outras pessoas.
Pelas narrativas que apareciam, todos presumiam que ele era um homem crente e que, embora judeu, mantinha contato com correntes religiosas as mais diversas. No livro A presença ignorada de Deus, Frankl afirmou que: “... as diferentes religiões são como idiomas diferentes: ninguém pode dizer que a sua língua seja superior as outras; em cada língua o ser humano pode achegar-se à verdade ...” (FRANKL, 2010).
Sua condição de judeu explica porque ele foi mandado para campos de concentração. A perseguição aos judeus austríacos começa após a anexação da Áustria, pela Alemanha, em 1938. Descendente de pai e mãe judeus, Frankl tornou-se alvo das leis racistas criadas pelo regime de Hitler, que, aliás, também se opunha, embora de forma ambígua, às religiões católica e protestante. Para Emmanuel Levinas, “o nazismo apresentava uma forma de religiosidade pagã que se opunha a toda uma civilização monoteísta.”
No plano das confrontações entre correntes psicológicas, Frankl discordava de que a religião era tão somente uma expressão de processos psíquicos primitivos (uma infantilidade) ou algo que tem origem em alguma patologia dos seres humanos.
Na introdução do livro escrito por Viktor Frankl e Pinchas Lapide, A Busca de Deus e Questionamentos sobre o Sentido, Alexander Batthyany explicou: “Porque para Frankl a religiosidade é a expressão da busca humana pelo sentido e como expressão da busca de sentido é tão pouco redutível e discutível como a própria busca de sentido.” (FRANKL & LAPIDE, 2014).
No livro acima citado, Frankl fala da sua ligação pessoal a suas raízes de crença, de forma aberta, se eximindo muitas vezes da condição de psicoterapeuta ou de pesquisador. Cumpre ressaltar que o dialogo com Lapide, registrado por estenógrafos e que acabou sendo publicado na forma de um livro, talvez nem tivesse, originalmente, o objetivo de se tornar público, dado o seu caráter de intimidade.
Tanto antes, quanto depois da guerra, Frankl não costumava frequentar sinagoga alguma, nem tomava parte em atividades da comunidade judaica local. Sua pratica religiosa era mantida quase como um segredo por ele.
Elly, sua segunda esposa, era uma católica devota. Isto não foi impedimento para que o casamento fosse feliz. Depois da morte do marido, Elly contou ao seu biógrafo, Haddon Klingberg, que Viktor tinha o hábito de se recolher num quarto da casa para realizar a reza matutina, conforme o ritual judaico. Testemunhou que, todos os dias, por cinquenta anos, ele nunca deixou de fazê-lo. Nas viagens, levava sempre consigo os filactérios, peça obrigatória para a sua reza diária da parte da manhã.
Quando do seu retorno à Viena, após sua libertação, em 1945, Frankl logo voltou a trabalhar como médico, dar palestras e a publicar trabalhos científicos. Contudo, a medida que ia fazendo progressos com sua teoria (depois passaria a referir-se a ela pelo nome de Logoterapia), começou a enfrentar forte oposição dos seus pares. Ao seu redor, a maioria dos seus colegas era fiel às ideias de Freud. Sofria enorme pressão psicológica e estava a ponto de desistir por achar que seu esforço não estava encontrando a resposta que julgava merecer.
Foi quando, inesperadamente, em 1959, recebeu uma palavra de estímulo de um dos rabinos mais proeminentes dos EUA. O famoso Rabino Schneerson, líder da comunidade Chassídica do Brooklyn, fez chegar a Frankl uma mensagem dizendo para perseverar, que o seu trabalho seria devidamente reconhecido. A pessoa que havia sido portadora de tal mensagem declarou que a reação de Frankl foi de emoção incontida e que teria chegado às lágrimas.
Anos mais tarde, o Rabino Schneerson revelou que a sua iniciativa de ter dado tal estimulo a Frankl - que nem era muito conhecido à época, pois o livro Em busca de Sentido – Um Psicólogo no Campo de Concentração havia sido traduzido para o inglês há pouco tempo - teve por objetivo não tão somente apoiar a pessoa do pesquisador, mas, acima de tudo, apoiar o importante trabalho que ele estava realizando. A inclusão da dimensão espiritual do homem pela Logoterapia correspondia perfeitamente ao entendimento do Chassidismo.
A psicóloga brasileira, Bela Hertz, apaixonada pela Logoterapia, afirmou: “A Logoterapia inclui o estudo do espírito e da fé como uma dimensão do homem em suas mais expressivas manifestações, incluindo-se entre elas o fenômeno da religiosidade. Nessa linha, a dimensão noética ou espiritual também é levada em consideração no trabalho psicoterapêutico.” (HERTZ, 2011).
A visão de homem da Logoterapia se sustenta sobre 3 pilares:
O comportamento humano se verifica dentro de limites que lhe são impostos por condições biológicas (instintos, por exemplo), psicológicas e sociológicas (ambiente cultural em que está inserido, também apenas como exemplo). Mas, nada impede o ser humano de tomar uma atitude diante dessas condições.
Embora não esteja livre de restrições, o homem tem a capacidade de transcender, de ultrapassar seus limites. Tal liberdade de atitude vem da sua dimensão mais humana, a dimensão noética ou espiritual, segundo Frankl.
De acordo com o Velho Testamento, podemos interpretar o livre arbítrio como uma característica divina no homem, pois Deus criou o ser humano a Sua semelhança. E, conforme o Talmud, mesmo Deus sabendo o que nos aguarda a frente de nossas vidas, sempre assegura à nós seres humanos o direito de escolha.
Sem negar que as pessoas possam ter impulsos voltados para o prazer ou para o poder (uma boa situação econômica, por exemplo, é um objetivo legítimo, alias), Frankl afirma que tais objetivos não podem ser tudo na vida. O ser humano quer e precisa encontrar sentido no que faz. Deve estar comprometido com aquilo que efetivamente dá sentido à sua vida, o que pressupõe viver em função de algo concreto, além de si mesmo.
O paralelo é claro com a ética da responsabilidade no judaísmo que pode ser resumida no convite que Deus faz aos homens para participar da Criação divina. Deus quer a parceria dos homens. O homem é livre para ser responsável. É responsável porque é livre.
Cabe mencionar a frase de Hillel, sábio judeu da antiguidade,
Para Frankl, basta o homem fazer uso da sua liberdade interior para atuar no mundo a fim de melhorá-lo. Mas ele lembra da necessidade de termos responsabilidade, principalmente para com o próximo. Nos diálogos com Lapide, disse: “O homem é capaz de se superar, de esquecer a si mesmo, de se perder de
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