O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana
Lúcia Helena Marques Ribeiro ainda não recebeu nenhum presente
A minha história com o judaísmo não é uma linha reta. Nasci em uma família protestante, metodista de algumas gerações. Cresci indo todos os domingos à escola dominical onde aprendia as histórias da Bíblia. Acho mesmo que a minha escolha pela Literatura (sou professora do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília), nasceu daí, no encantamento das narrativas dos livros da Bíblia: a história de José e a interpretação dos sonhos do Faraó; Moisés e a passagem pelo meio do mar; Davi e o gigante; Salomão e os seus cantares; e as mulheres, Dalila, Débora, Sara e Ester, além dos profetas. Me encantavam, também, as parábolas, a história de João Batista, Jesus e as pregações sobre o amor; amar a si mesmo, amar ao próximo e, principalmente, amar aos inimigos. Por outro lado, sempre me intrigou a história mais recente do povo judeu, o seu eterno êxodo promovido por equívocos históricos, fosse pelas cruzadas, ou pela insanidade do nazismo.
Cresci em Porto Alegre e o bairro Bom Fim, onde desde o final do século XIX muitas famílias judias que emigraram para o sul do Brasil fugindo dos "progroms" russos, ou da onda facista que varria a Europa a partir do século XX, instalaram as suas casas e o seu comércio. Ao cruzar as ruas do Bom Fim, observava aquela gente que se vestia diferente e, aos sábados, andavam pelas ruas em grupos de famílias, com muitos filhos, em direção às sinagogas, esses templos que, como o que eu frequentava, eram motivo de curiosidade e algum desdém de uma sociedade de maioria católica. Tinha uma profunda admiração sua pela música e pelas suas danças; pelo ritual dos casamentos ou do shabat.
A admiração me levou à leitura dessa história. Durante toda a minha adolescência, além dos livros do Moacyr Scliar e das dezenas de vezes em que assisti ao filme "O violinista no telhado", lia tudo que caísse nas minhas mãos sobre o povo judeu, dos livros do Velho Testamento, à Idade Média e, principalmente, sobre o holocausto. Lia sobre o Gueto de Varsóvia e coleções sobre a juventude hitlerista, até mesmo sobre as unidades Panzer. Queria entender desde o porquê do genocídio, até a formação do Estado de Israel. Claro que li e entendi muito menos do que queria. Muitas vezes, em sala de aula ou fora dela, me confundiam com os membros da comunidade judaica, em parte pela minha aparência, em parte pelas minhas eloquentes defesas dessa história.
Em resumo, como a vida também não é uma linha reta, pesquisas sobre a genealogia da minha família, tanto do lado paterno quanto do lado materno, chegaram até mim, acendendo luzes (ou um Menorá) sobre a minha descendência de cristãos novos, vindos para o Brasil, não só da Península Ibérica, como do Arquipélago dos Açores, no meio do século XVIII. Fiz essa descoberta, poucos meses depois do meu filho casar com uma moça judia e de ser aceito em uma tradicional sinagoga nos EUA.
Retomei as minhas leituras, agora mais direcionadas pelo entendimento de que o judaísmo não é uma religião mas uma postura questionadora diante da fé e da história. Me agrada saber que a minha afinidade com "o povo dos livros" vai além da minha simpatia ou genealogia, mas nasceu de um sentimento de identificação com alguns valores humanos.
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