JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

Purim faz parte das pequenas festas judaicas, é uma festa marcante para o nosso povo, ela tem muias nuanças e significados diferentes, dependendo do angulo em que se olha e vivência Purim. Mas, uma coisa penso ser certa, o artigo abaixo no trás uma mensagem profunda e marcante, vale a pena ler.

“Eu não faria parte de um clube que me aceitasse como membro.”
- Groucho Marx

“A moderna máxima judaica é Incógnito, ergo sum, ‘Eu sou invisível, portanto eu sou.’”
- Sidney Morganbesser

O Caso para Genocídio

No livro bíblico de Esther, Haman, vice-rei e segundo no comando do grande e poderoso império persa, e cuja derrota celebramos na Festa de Purim faz uma pequena mas poderosa apresentação ao rei da Pérsia, Achashverosh, tentando persuadi-lo a adotar seu plano de genocídio contra os judeus.

“Há um determinado povo,” diz Haman a Achashverosh, “espalhado por aí e disperso entre os povos de todas as províncias de seu reino. Suas leis são diferentes de todas as outras nações, e eles não observam as leis do rei. Portanto não é correto que o rei os tolere. Se for do agrado do rei, deixe que eles sejam destruídos, e eu pagarei dez mil talentos de prata… para depósito nos tesouros do rei.”

O argumento de Haman é direto e claro: os judeus são diferentes. Eles são estranhos, forasteiros, uma obstrução para a sociedade normal. Não se encaixam no restante da família humana. Têm sua própria fé e suas próprias leis, que eles consideram superiores às leis do rei. São um aborrecimento, uma ameaça, um excrescência na sociedade, que sem eles seria harmoniosa e integrada. Eles devem ser eliminados.

O Talmud registra uma tradição oral descrevendo a apresentação de Haman com mais detalhes. “Eles não comem a nossa comida”, lamentou-se Haman a Achashverosh: “não se casam com nossas mulheres, e não casam suas mulheres conosco (ironicamente, à essa altura os dois não sabiam que a mulher do rei era judia). Eles desperdiçam o ano inteiro, evitando o trabalho do rei, com a desculpa: “hoje é o Shabat, ou hoje é Pêssach.”

Haman também discute os maus hábitos dos judeus: “eles comem, bebem e zombam do trono. Mesmo que caia uma mosca no vinho de um deles, ele joga fora a mosca e bebe o vinho. Mas se meu amo, o rei, tocar um copo de vinho de um deles, aquela pessoa joga o vinho no chão e não bebe.”

Os judeus, argumenta Haman, se veem como superiores a nós; eles ficarão para sempre de fora. Quem precisa deles?

Repetindo as palavras de Haman

Cerca de seis séculos depois de Haman, essas mesmas palavras são repetidas por Philostratus, professor e morador de Atenas e Roma no terceiro século, que resume a percepção do mundo pagão sobre os judeus.

“Os judeus,” escreveu Philostratus, “há muito tempo estão em revolta não apenas contra os romanos, mas contra a humanidade; é uma raça que construiu a própria vida à parte e irreconciliável, que não pode partilhar com o restante da humanidade os prazeres da mesa, nem juntar-se a eles em suas libações, preces ou sacrifícios, são separados de nós por um golfo maior do que aquele que nos divide de Sura ou Bactra, das Indias mais distantes.”

O mesmo argumento, de uma forma ou outra, seria repetido milhares de vezes no decorrer da história. O maior historiador romano, Tacitus, que viveu no primeiro século EC, tinha isto para dizer sobre os judeus: “os judeus consideram profano tudo aquilo que temos como sagrado; por outro lado, eles permitem tudo aquilo que abominamos… para com todos os outros povos eles sentem apenas ódio e inimizade, eles se sentam separados às refeições e dormem separados, e embora como raça sejam propensos à luxúria, eles se abstêm de intercurso com mulheres estrangeiras.”

Um exemplo que ele menciona para descrever os conflitos morais entre os romanos e os judeus é digno de nota. “Os judeus,” escreve Tácitus, “consideram crime matar qualquer bebê recém-nascido.” Os romanos, como os gregos antes deles, matavam mental e fisicamente bebês defeituosos. Na mente deles, manter essas crianças vivas era inútil e não-estético.

A Primeira Dama Intervém

De volta à história de Purim. Os argumentos do vice-rei persuadem o rei. Um decreto é emitido pelo trono persa. Todo judeu, homem, mulher ou criança, vivendo sob o domínio persa seria exterminado numa data específica.

Então, numa maravilhosa reviravolta de eventos, a Primeira Dama, a rainha judia Esther, convida o marido e Haman para um festim com bebidas. Como lembramos, Esther, dentre todas as milhares de jovens que foram levadas de todas as partes do império como candidatas em potencial para o papel de rainha, foi quem conquistou a afeição e as graças do rei. “O rei amou Esther mais que a todas as mulheres, e ela conquistou mais seu favor e graça que todas as outras; ele colocou a coroa real sobre a cabeça dela.” Anos depois, durante essa festa com vinho, o rei faz uma promessa a Esther, de que ele concederia a ela todos os pedidos feitos. Ela aproveita a oportunidade para fazer a fatídica petição.

“Se recebi favor de Sua Majestade e se agradar ao rei,” diz Esther a Achashverosh, “que minha vida seja concedida para mim ao meu pedido e meu povo como minha petição. Pois nós – eu e meu povo – fomos vendidos para sermos destruídos, assassinados e exterminados. Se tivéssemos sido vendidos como escravos e servas, eu teria ficado quieta. A compensação que nosso adversário [Haman] oferece não pode ser comparada com a perda que o rei sofreria [exterminando-nos, em vez de nos vender como escravos]”.

Obviamente, Esther está tentando abordar o assunto de dois ângulos, um pessoal e um econômico. Primeiro, ela expõe sua identidade judaica.

A rainha é membro do povo condenado à morte. Esther sabe, porém, que só isso não resolverá o problema, portanto ela continua a discutir dólares e centavos (Haman também, como registrado acima, usou uma abordagem dupla para persuadir o rei: lógica e dinheiro). Ao vender os judeus como escravos, argumentou Esther, Achashverosh estaria lucrando mais do que os exterminando. O dinheiro que Haman ofereceu a ele é minúsculo comparado com o potencial lucro da venda deles como escravos.

O rei, que nunca percebera que Esther era judia, fica furioso com Haman. Faz o ministro ser executado e seu decreto mudado. Em conversações subsequentes com Esther, Achashverosh concede aos judeus o direito de autodefesa contra qualquer pessoa que ouse feri-los. O clima no Império Persa para com os judeus é radicalmente transformado. O primo de Esther, o sábio Mordechai, é nomeado vice-rei, substituindo Haman. Porém, uma questão permanece. Haman não defendeu o extermínio dos judeus baseado em paixão venenosa sem sentido. Ele apresentou ao rei aquilo que parecia um argumento fundamentado e persuasivo. Os judeus, argumentou Haman, eram uma excrescência estranha, um povo bizarro, uma nação separatista que não aceitaria a autoridade suprema do rei e até consideravam a própria lei superior à do rei. Um líder não poderia tolerar tal “grupo superior” em seu império.

Esta é uma acusação forte. O rei a aceita, e como resultado emite um decreto exigindo que seus súditos eliminem todos os judeus – homens, mulheres e crianças. Porém, em momento algum de seu diálogo com o rei Esther refuta este argumento.

Por que Achashverosh consente em abolir seu plano original se acreditava que o pedido de Haman era válido?

Alguém poderia argumentar que o charme e a graça de Esther foram os fatores exclusivos para o rei mudar de ideia. Porém, como provado acima, é claro que Esther não confia somente nisso. Eis por que ela apresenta um argumento lógico de escravidão versus genocídio. Ela refuta a oferta econômica feita por Haman demonstrando que o rei perderia dinheiro. Como, então, pôde ela ignorar o forte e persuasivo argumento de Haman, advogando uma sociedade “livre de judeus”?

E além disso, a acusação de Haman tinha alguma verdade: os judeus de fato tinham suas próprias leis que eles não quebrariam mesmo se contrariassem as leis do rei? Os judeus são de fato um povo que permanece distinto das outras nações! Esther precisou abordar essas questões importantes.

Quando Falsas Noções Enfrentam a Realidade

Algumas questões são canceladas através das respostas; alguns argumentos refutados pelos contra-argumentos. Porém há aquelas crenças ou noções que não precisam de debate nem diálogo para desaprová-las. A realidade faz isso. Quando a realidade é exposta, eles se dissolvem no nada.

O argumento de Haman se enquadra nessa categoria. Esther respondeu ao argumento de Haman pelo genocídio judaico não pelo diálogo, mas pela sua simples presença. No momento em que ela se identificou como membro do povo judeu e produto da fé judaica, a tese até então “atraente” de Haman se desvaneceu.

Achashverosh conhecia Esther intimamente. Ela era sua mulher. Ele sentia sua alma, tocava sua graça, valorizava sua personalidade. Ele a adorava, seu brilho, seu charme, e faria quase qualquer coisa por ela (como ele disse explicitamente a ela). Ele sabia que o caráter e os valores de Esther eram nobres, dignos e puros. Ele a escolhera entre milhares e milhares de jovens, todas elas não-judias. Porém, o rei jamais percebeu que ela era judia – uma filha do povo judeu e um produto da fé judaica.

Quando Achashverosh subitamente descobriu que ela era um membro orgulhoso do povo judeu, aderente à fé judaica, imediatamente percebeu a falsidade dos argumentos de Haman – não pelo diálogo e debate, mas pela presença viva de Esther. A vida do dia-a-dia de Esther demonstrava, mais que qualquer outro argumento, o absurdo dos argumentos de Haman, de que os judeus ameaçavam a sociedade. Olhando para a beleza de Esther, seu refinamento e beleza interior, e sabendo que ela era um “produto” do povo judeu e do estilo de vida judaico, o rei entendeu que essa nação estranha que vivia por outro código, não deveria ser desprezada, mas respeitada. Eles podem ser muito diferentes, mas é uma diferença que eleva outras nações em vez de ameaçá-las.

Leo Tostoi escreveu: “o judeu é aquele ser sagrado que trouxe do céu o fogo eterno, e com ele iluminou o mundo inteiro.” O judeu pode ser muito diferente, mas é essa “diferença” que tem o poder de inspirar todas as nações do mundo a viver e amar mais profundamente, a encontrar seu caminho individual para D'us.

Quando o rei persa soube que a realeza de Esther era um sintoma de seu Judaísmo, ele não precisou ouvir mais nada. Entendeu. A última coisa que ele precisa se preocupar é com o povo judeu e sua fé. Quando muito, eles mostrarão ser a maior bênção para seu império. O decreto foi anulado.

Devemos nos Esconder?

A lição para os nossos dias é clara. Às vezes os judeus pensam que escondendo a “diferença” do Judaísmo e do povo judeu eles ganharão a aprovação do mundo. Porém os fatos provam o contrário: a assimilação, a ocultação da diferença do povo judeu jamais provocou o antissemitismo, A tradição nos diz que os judeus de Shushan, capital do império persa na época da história de Purim, eram bem assimilados. Porém, isto não impediu o vice-rei persa e o rei de acreditarem que apesar de todos os compromissos e tentativas dos judeus para não serem “judaicos demais”, eles ainda eram estranhos, distintos e diferentes.

Este padrão tem se repetido desde então. Jamais na história a assimilação resolveu o problema do ódio aos judeus. Os judeus da Alemanha foram os mais assimilados e integrados na sociedade, porém foi naquele mesmo país que brotou o pior ódio contra os judeus.

Muitos pensadores não-judeus, simpáticos aos judeus e também aos antissemitas, viram nos judeus e no Judaísmo algo diferente, bizarro e extraordinário. Na carta acima, de Tolstoi, ele continua: “o judeu é a origem religiosa, manancial e fonte da qual todos os outros povos extraem suas crencas e suas religiões.” John Adams escreveu que “os hebreus fizeram mais para civilizar o homem que qualquer outra nação.” Friedrich Nietzsche, por outro lado, acreditava que os judeus introduziram ao mundo as virtudes escravas como “a mão boa e auxiliadora, o coração caloroso, a paciência, o trabalho, humildade, amizade,” designados “para os fracos e invejosos”.

Hitler culpava os judeus por inventarem a realidade que nega a vida, a chamada consciência. Atualmente, muitos acadêmicos e leigos acreditam que os judeus são responsáveis pelo grande conflito no mundo atual.

Por mais que tentemos nos afastar da nossa identidade como judeus, o mundo não-judaico nos lembra de quem somos e de onde viemos. O não-judeu sente que desde o dia em que o judeu se postou no Sinai, ele ou ela tem sido diferente.

A solução para o povo judeu é portanto não negar sua diferença. Isso jamais vai funcionar. Em vez disso, o judeu deveria adotar seu Judaísmo, e assim como Esther, ter orgulho do estilo de vida e da moral ética da Torá. Quando aprendemos como adotar nossa diferença com amor e graça, em vez de com vergonha e culpa, o Judaísmo se tornará uma fonte de admiração e inspiração para toda a humanidade.

Assim como Esther, a presença de um judeu que é permeado pelo amor e dignidade da Torá e mitsvot – fala por si mesma. A graça de um verdadeiro judeu de Torá, a integridade, a inocência, a disciplina, a modéstia, o código moral, a sensibilidade a tudo que é nobre e digno na vida, o amor pelo homem e por D'us que a Torá inculca no judeu, a majestade de uma mesa do Shabat e a profundidade da sabedoria da Torá – tudo isso refuta os argumentos de Haman mais do que o debate jamais pode conseguir.

Reb Chaim de Volozhin certa vez declarou: “Se um judeu não faz kidush (santificar-se mantendo um estilo de vida distintamente judaico), então o não-judeu fará Havdalá por ele (fazendo o judeu entender que é realmetne diferente).”

Israel, por exemplo, jamais conseguirá se mostrar ao mundo como “um país normal”. Sua escolha é: correr de seu destino ou abraçá-lo, e assim se tornar uma fonte de orgulho para o mundo inteiro.

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