O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana
De todas as festas judaicas, a Chanukah é a mais recente dos nossos festejos, pois surgiu após um episódio que ocorreu no ano 160 antes da Era Comum, após uma série de violentas lutas, guerras e emboscadas que durou sete anos.
Essa revolta eclodiu como resposta aos decretos dos gregos de proibição da prática do judaísmo e da comemoração de suas festividades e costumes. O Templo não só foi saqueado, mas também foi transformado em um templo pagão, com a imagem de Zeus sendo colocada em seu interior.
O interessante é que a forma com que comemoramos o Chanukah na tradição judaica atual é bem diferente de como a festa era comemorada desde o período dos Macabeus até a destruição do segundo templo, em 70 da Era Comum.
Sem querer mexer nas crenças que conhecemos e com as quais estamos acostumados em nossa atual tradição, é importante entender que as fontes históricas, como o Livro dos Macabeus e os escritos de Flávio Josefo, não relacionam a festa da Chanukah ao milagre do jarro de azeite, que foi encontrado no Templo e que duraria somente para acender a Menorah por um dia, mas que, por milagre, teria durado oito dias completos .
A primeira referência que temos sobre a tradição do milagre do jarro de azeite se encontra no Talmud da Babilônia, composto no Século II. Essa referência surge pela primeira vez em uma pergunta curta:
“O que é o Chanukah?”.
Assim responde o Rabino Shano Rabbanan:
"Os dias de Chanukah são oito… Quando os macabeus entraram no templo, e ele foi purificado… Eles examinaram e encontraram apenas uma jarra de óleo… Não tinha quase nada nela, exceto para acender um dia. Um milagre foi realizado e eles o acenderam por oito dias”.
Então qual é a verdadeira história de Chanukah?
Porque comemoramos oito dias?
O Chanukah, que quer dizer “Rededicação”, é a celebração de quando Yehuda Macabeu e seus irmãos retomaram o Templo, onde restauraram o culto à Adonai. Para celebrar esse evento e a reconquista de Jerusalém, oito dias de festejo serão determinados na Judeia, em lembrança da festa de Sucot, que não foi comemorada naquele ano por proibição dos gregos invasores.
Essa é a verdadeira origem da festa de Chanukah, a Festa da Rededicação do Templo e observância dos oito dias de festejos em homenagem à festa de Sukot.
As celebrações de Chanukah descritas aqui são completamente diferentes do que conhecemos hoje em dia. Imaginem que nesse tempo, antes do fim da autonomia judaica, se celebrava Chanukah sem se acender as oito velas. Pelo contrário: os judeus seguravam em suas mãos, nestes dias, as Quatro Espécies da festa de Sucot!
Eu sei que isso é meio confuso, mas, acredite ou não, era assim que os macabeus comemoravam a festa de Chanukah (a Rededicação do Templo). Além disso, não há uma única palavra a respeito do milagre da jarra de óleo e das lamparinas que queimaram oito dias!
Por que os sábios do Talmud da Babilônia criaram essa tradição?
O judaísmo que sobreviveu depois da destruição do Segundo Templo estará ligado à linhagem dos fariseus. Os sábios do Talmud provavelmente criaram essa história de milagre por motivos teológicos e, de certa forma, pelo seu grande desprezo pelos saduceus, os aliados dos macabeus que vão dominar o serviço no Templo até a sua destruição, no ano 70 da Era Comum.
Os nossos sábios serão sérios críticos ao processo de helenização que vai atingir os descendentes dos macabeus, que não somente abandonam os ideais judaicos e sim se tornam parte integral do mundo da cultura helenista. O pior: no final, levarão toda a Judeia a uma guerra civil, devido à disputa do poder entre dois irmãos. Em consequência, a intervenção militar dos romanos causará o fim da autonomia judaica na Terra de Israel.
Parece que os sábios judeus, sabendo da verdadeira história dos descendentes dos macabeus, estarão fartos dos assuntos de estado ou de toda a política relacionada com a dinastia fundada pelos macabeus, já bastante corrupta e helenizada, chegando ao ponto de se autodenominar como Reis de Israel sem pertencerem à Casa de David.
Outro fato bastante inaceitável pelos nossos sábios foi que, pela primeira vez na história judaica, os reis macabeus vão converter à força ao judaísmo outros povos da região, entre eles os idumeus, os moradores da Terras de Edom.
Então, o que é a festa de Chanukah?
Talvez a explicação que pode ser oferecida para essa questão é que o Chanukah atual foi criado pelos sábios do Talmud, que sentiam a necessidade da nossa sobrevivência, adaptando-se ao mundo e às mudanças que serão impostas, como meio de dar continuidade à existência cultural e religiosa do judaísmo na diáspora.
A necessidade de criar a história do milagre do jarro de óleo e o mandamento de acender as velas na festa de Chanukah foi uma reação das novas gerações, que tiveram que lidar com a preservação do feriado sem o Templo e sem a independência política alcançada pelos macabeus.
É até possível que, por algum tempo, a festividade de Chanukah tenha ficado quase esquecida no coração do povo judeu.
Então, como resgatar essa tradição sem o Templo?
Após a destruição, os sábios iniciaram um complexo processo de aprofundamento e de reestruturação da essência de muitos mandamentos judaicos, criando tradições dentro de uma nova realidade, que irão nos ajudar a aprender a sobreviver na diáspora, longe do centro religioso e cultural do judaísmo, fora do espaço nacional judaico que existia antes da aniquilação da autonomia judaica.
A festa de Chanukah, a partir desse momento, será uma festividade que fará os judeus se lembrarem das ameaças que surgirão, ou talvez um aviso de todos os desafios que o judaísmo terá que enfrentar durante 2000 anos, um método eficaz de satisfazer a necessidade de acreditar em milagres e em uma força divina que venha nos salvar.
Assim foi criado o imaginário da jarra de azeite, nada mais do que um alerta que nos faz recordar, por oito dias, todos os anos, que nos momentos mais difíceis sempre haverá uma luz de esperança para iluminar os nossos corações.
O verdadeiro milagre de Chanukah é que a luz do judaísmo está viva até os dias de hoje!
Com o movimento sionista e o surgimento do Estado de Israel, uma nova versão moderna da festividade de Chanukah será criada, colocando o milagre da jarra de azeite um pouco de lado e enaltecendo o heroísmo, a luta pela liberdade e o restabelecimento da nação judaica.
O curioso é que em todos os kibutzim, logo acima do silo, o local mais alto do kibutz, há sempre uma chanukiah, simbolizando a conquista e o restabelecimento do povo judeu na Terra de Israel.
Chanuka Sameach!
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