JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

O Kibutz e a Nova Comunidade de Martin Buber - Jayme Fucs Bar

O Kibutz e a Nova Comunidade de Martin Buber - Jayme Fucs Bar
Lendo os textos de Martin Buber no livro Sobre comunidade, fiquei impressionado com o quanto suas idéias, consideradas utópicas em sua época, se tornaram muito atuais nesse momento em que as sociedades humanas têm que enfrentar novos e velhos desafios como: O crescimento do neo fascismo em varias parte do mundo, o desmantelamento das estruturas democráticas, o racismo, o anti semitismo, o xenofobismo sem duvida as desigualdades sociais e a exclusão de milhões de seres humanos a dignidade.
Essa realidade nos leva a fazer muitíssimas perguntas sobre a forma em que vivemos e sobre como nos organizamos como sociedade humana. Tudo isso nos leva a ampliar nossa reflexão sobre o paradigma de como criar uma possibilidade real de alternativa distinta do sistema de vida que vivemos hoje em dia.
Buber, já em seu tempo, considerava o Estado e sua estrutura social adoecida como “demasiado grande”. Ele entendia que esse grande centralismo era algo perigoso, impossibilitando a todos os seus cidadãos o exercício, de forma digna, do direito à educação, à saúde e ao bem-estar social, o que, conseqüentemente, levaria a muitas tragédias sofridas pela humanidade como um todo.
Buber propõe a criação de “novas comunidades” como o único meio possível de superar os futuros transtornos que o crescimento populacional causaria à nossa sociedade. Ele acreditava na necessidade de uma mudança estrutural, entendendo que essa mudança seria a forma de se conquistar uma vida melhor e de garantir segurança a todos.
A sociedade ideal para Buber é aquela que é suficientemente pequena e estruturada para todos os seus membros, que poderão ter uma participação ativa sobre todos os assuntos relacionados às suas necessidades. O autor chamava essa estrutura de “democracia direta”, diferente do que conhecemos no modelo da “democracia representativa”.
O Estado ideal seria aquele em que os seus cidadãos se dividiriam em pequenas unidades autônomas e independentes, vivendo organizados em pequenas comunidades no campo e em bairros nas cidades. A função do Estado seria criar as condições objetivas para o funcionamento e a organização dessas comunidades.
Para Buber, o modelo ideal que melhor poderia favorecer essa “nova comunidade” seria o socialismo, mas ele não propõe um socialismo de Estado do tipo da Rússia, da China ou de Cuba, pelo contrário: o autor sempre foi um grande crítico dessas estruturas sociais que se denominavam “socialistas”.
Segundo a sua proposta, Buber desejava “um socialismo democrático comunitário”, construído em pequenas estruturas comunitárias no campo e na cidade, que podemos melhor definir como uma sociedade de economia solidária.
Tudo isso parece para o leitor uma utopia, ou um sonho a se realizar, mas eu, que vivo num kibutz em Israel, posso dizer que essa “utopia” idealizada por Buber é uma realidade viva e presente!
Especialmente em momento dificeis quando a sociedade tem que enfrentar situações desafiadoras onde os nossos governantes, estão impossibilitados de dar a todos os seus cidadãos a segurança que merecem.
O kibutzim, em situações dificeis, sabem se organizar de forma prática e eficiente, criando a sua própria estrutura interna de proteção e ajuda mútua a todos seus membros.
A sociedade kibutziana já está bem adaptada ao novo modelo do mundo global, não só conseguindo proteger melhor a sua comunidade , mas se organizando de forma solidária, mais igualitária, mais justa para o bem-estar de toda a sua população!
Por outro lado, essa sociedade dá todo apoio à livre-iniciativa privada de cada um dos seus membros para poder gerar riquezas e prosperidade. A arrecadação comum obrigatória a todos os membros da comunidade é a “rede solidária”, um imposto interno sem nenhum vínculo com o Estado, que funciona assim: quem ganha mais paga mais, quem ganha menos paga menos.
Essa caixa comunitária tem o objetivo de oferecer tudo o que o Estado não tem condições de oferecer para os seus cidadãos.
Buber, em sua vida política, nunca alimentou qualquer esperança de que suas visões políticas pudessem alcançar e convencer a maioria, mas ele acreditava que era importante articular a verdade moral de seu próprio ponto de vista ao invés de esconder suas verdadeiras crenças em prol de uma estratégia política.
Essa autenticidade não rendeu ao autor muitos amigos durante toda a sua vida.
Buber estava de um lado ligado às ideias políticas do Hashomer Hatzair, tendo sido um de seus delegados no Congresso Sionista de 1929. O autor, porém, não aceitava as ideias do sionismo clássico de Herzl e estava muito influenciado pelas ideias do sionismo cultural de Achad Haam.
Em 1938, perseguido pelos nazistas na Alemanha, conseguiu fugir e imigrar para Israel, onde se integrou à Universidade de Jerusalém. Durante toda a sua vida em Israel, foi muito ativo na vida política. Buscando reconciliar o crescente conflito entre árabes e judeus, Buber vai, em 1949, fundar o Instituto de Educação para Adultos e será um dos fundadores do movimento Brit-Shalom, associação de intelectuais de esquerda muito ligados às ideias do Mapam — o partido sionista socialista operário.
Buber faleceu em 1965, em Jerusalém. Somente após sua morte, será possível vivenciar que o kibutz constitui um exemplo prático de sua “utopia” e que “o socialismo democrático” pode sim funcionar!
Talvez nestes atuais momentos de crises no mundo, as ideias de Martin Buber, principalmente a criação das “novas comunidades”, tornem-se reais para toda a humanidade.
Shabat Shalom!

Exibições: 76

Responder esta

© 2024   Criado por Jayme Fucs Bar.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço