O Mistério das dez tribos perdidas de Israel – Jayme Fucs Bar

[Jayme Fucs Bar]

O Mistério das dez tribos perdidas de Israel – Jayme Fucs Bar

Segundo a tradição bíblica, as dez tribos perdidas de Israel foram exiladas após a conquista do reino de Israel pela Assíria e, desde então, seu destino é desconhecido. As dez tribos são: Rúben, Dan, Naftali, Gad, Aser, Issacar, Zebulom, Manassés, Efraim e parte da tribo de Levi.

A preocupação com o destino das dez tribos é antiga. Ao longo dos anos, foram apresentadas diversas hipóteses sobre o local de origem e a associação de povos e grupos étnicos como descendentes dessas tribos, mas não foram encontradas provas claras disso.

Em 722 AC, durante o reinado de Oséias ben Ella - rei de Israel, a Assíria, sob a liderança de Salmaneser V, conquistou o reino de Israel, destruiu sua capital Samaria e exilou muitos israelitas para a Assíria.

A história das dez tribos perdidas, a partir desse momento, ficou marcada na memória do povo de Israel e virou um verdadeiro mistério sobre o que aconteceu e qual foi o seu destino. Esse enigma criou, até o final da Idade Média muitas crenças, histórias e mitos. Uma dessas crenças prevaleceu e foi passada por muitas gerações, com o intuito de lembrar ao povo de Israel a nossa relação inseparável com a Terra de Israel.

A história fala que as dez tribos perdidas foram exiladas pelo rei Salmaneser V, da Assíria, mas muito acreditam que vivem até hoje e jamais perderam sua identidade judaica.

Eles viveriam numa terra distante e desconhecida, seriam independentes e livres. Viveriam numa região de difícil acesso, em um lugar escondido do mundo e lá manteriam uma vida judaica plena, onde quem organizaria a comunidade não seria um rei e sim um comitê de juízes.

Falariam e manteriam o hebraico antigo, viveriam em uma grande cidade, onde não faltaria nada, todos teriam o que necessitassem. A cidade seria muito bem fortificada e manteria um poderoso exército que, no caso de serem descobertos, poderiam se proteger de qualquer inimigo. Para se chegar a esse lugar existiriam muitos obstáculos intransponíveis, e isso os manteriam insolados do mundo.

Acredita-se que somente quando a redenção chegar, as dez tribos perdidas vão se juntar aos irmãos judeus que estão espalhados pelo mundo. E será através deles que todos poderão retornar à Terra de Israel, quando serão libertos do julgo dos invasores e reconstruirão o terceiro Templo.

O poder dessa história tem uma força enorme no povo judeu que se encontra na diáspora e tem sua terra dominada por novos invasores. Essa história traz a esperança perdida e será um modelo ideal para a vida judaica, expresso por uma certa magia, quando se chegaria ao fim do exílio e da redenção.

Um exemplo que fortalece esse conceito, de como essa tradição era parte da vida judaica nesse período, podemos ver no livro escrito em 1577 por Yitzhak Akrish - "Kol Maveshar, onde ele escreve:

"Todos os dias em que estive de visita em minha terra (Israel), ouvi muitas pessoas, grandes e pequenas, falando sobre as tribos perdidas, dizendo que existe um lugar, onde vivem as dez tribos perdidas de Israel. Eles são fortes e corajosos e, nesse lugar, não falta nada, exceto a adoração do templo e a profecia."

Essa história vai ser renovada ao público em geral por Eldad, um dinamarquês, no século IX. Ela conta sobre um viajante que afirmara ter chegado à um lugar muito longínquo, onde encontrou as dez tribos perdidas de Israel.

Essa crença na existência de um lugar onde vivem as dez tribos perdidas de Israel foi descrita como a antítese da vida dos judeus na diáspora, sua grande insegurança, um sofrimento contínuo pelo fato de serem judeus e terem que superar o peso de governos hostis, o antissemitismo, as perseguições, os pogroms e extermínios.

A existência de uma cidade onde viviam as dez tribos perdidas foi apresentada como uma espécie de apelo para preservar as forças espirituais do povo de Israel e seu desejo de viver com segurança, liberdade e independência.

Na Era Moderna essa crença ganhou um novo rumo. A história de uma terra escondida onde viviam as dez tribos perdidas estava praticamente esquecida. Com a mobilidade dos povos, dos novos meios de comunicações e da possibilidade de chegar e conhecer novas terras e culturas, tudo isso ajudou a estabelecer uma nova crença de que as dez tribos perdidas haviam se espalhados pelo mundo. Mesmo que assimilados entre os povos que viviam, mantiveram práticas e costumes judaicos.

Esses grupos de fato existem, mas não conhecem o Talmud e nem o judaísmo rabínico que vivemos na atualidade. Esses grupos provavelmente sobreviveram pelo seu isolamento geográfico e essas descobertas deslumbraram muitos judeus e pesquisadores pelo no mundo. Hoje eles procuram renovar os laços com essas comunidades e ajudar no seu retornar a casa de Israel. Um bom exemplo foi a descoberta dos judeus da Etiópia. Atualmente a maioria deles já se estabeleceu em Israel.

Isso me fez lembrar de um episódio que ouvi sobre um dos primeiros encontros entre esses dois mundos judaicos, que ficaram desconectados por mais de 2500 anos. Conta que um judeu alemão, que foi a trabalho como engenheiro na Etiópia, no final do século XX, tinha ouvido falar da existência de judeus negros da Etiópia.

Na sua curiosidade, pegou um guia e viajou dias para poder chegar numa aldeia onde viviam esses judeus. Quando finalmente encontrou com o líder da comunidade, se sentou e conversou muito com ele sobre suas culturas e tradições, tudo com ajuda do tradutor. Já quase no final do encontro, o líder judeu da Etiópia perguntou ao judeu alemão: - "De onde você tem tanto conhecimento sobre as nossas tradições?"

Ele responde: - "Como não teria, eu sou também judeu". Mas o líder judeu da Etiópia exclamou: – "Mas você não pode ser judeu! Você é branco!"

Muitas dessas antigas comunidades judaicas que se insolaram, não sabiam da existência de outros judeus no mundo. De fato, essas comunidades se misturaram com as comunidades não judaicas. No entanto, mesmo com a miscigenação e a influência de outras culturas e religiões, continuaram a desenvolver de forma independente, preservando sua herança e sua identidade judaica.

Vejam alguns exemplos de comunidades judaicas que ficaram isoladas ao redor do mundo e que muitos acreditam que grande parte delas são de descendentes das dez tribos perdidas de Israel:

• Judeus na Índia : Bene Ephraim- Bene Israel -Bnei Menashe -Judeus de Cochim - Knanya

• Judeus Africanos: Beit Israel ou Falashas ( Etiópia) - Qemant (Etiópia), Abayudaya (Uganda), Bnai Efraim (Nigéria) e Judeus de Tombuctu (Mali).

• Judeus na Ásia: Judeus Bukharan e Judeus de Kaifeng (China)

• Judeus na América Latina: Judeus indígenas de Venta Prieta – Pachuca (México), Judeus Bnei Moshe Incas (Peru e Equador) e Judeus Marranos - Bnei Anussim (Brasil).