JUDAISMO HUMANISTA

O Judaismo Humanista é a pratica da liberdade e dignidade humana

“Acredito que o terrorismo não estatal ou oposicional é mais habitualmente definido como se segue: O terrorismo é o uso estratégico de violência e ameaças de violência por parte de um grupo de oposição política contra civis ou não-combatentes, e geralmente tem a intenção de influenciar públicos diversos.” (Goodwin, 2006, pg. 2028)

Não tenho dúvidas: Goodwin acredita que Hamas, Hezbollah e afins são terroristas. Em seu artigo, o autor usa ainda o termo terrorismo “revolucionário”, definindo-o como o uso da violência para mudar a ordem política, social ou econômica. Por que esses grupos recorrem à estratégia do terrorismo e quem são esses militantes que levam conflitos ao extremo?

Tenho dificuldade de entender aqueles que defendem o terrorismo, ou mesmo aqueles que baseiam seus argumentos no desespero de uma população oprimida. Ora, a pobreza e o desespero são fatores legítimos para a perpetuação do terrorismo? No entanto, o que realmente me preocupa é o fato de que o terrorismo está no topo da estratégia de resistência palestina. Já o terrorismo em si, não é uma invenção dos nossos vizinhos. O colega Amir Szuster abordou esse assunto em seu artigo: não há evidências fortes de que o terrorismo tem sua fonte única em massas pobres ou no puro desespero.

Assim afirma Martha Crenshaw (1981): “Terrorismo é um refúgio da elite quando as condições não são revolucionárias…terrorismo é mais provável de ocorrer onde a passividade da massa e a insatisfação da elite coincidem”. De acordo com a autora, o terrorismo é um recurso mais fácil e barato que estratégias baseadas em mobilização de massa, especialmente quando a repressão torna a mobilização difícil. Turk (1982) afirma: “Porque qualquer grupo pode adotar táticas de terror, é um engano imaginar ou (i) que o terrorismo é a arma dos fracos ou (ii) que os terroristas são sempre pequenos grupos de pessoas marginais – ou, no máximo, ‘lunáticos’(…) Terror é violência organizada, mas a natureza da organização não pode ser especificada na definição de terror.”

“Algumas das muitas investigações das origens socioeconômicas de insurgentes que se envolveram no terrorismo, na medida em que eles se preocupam em tratar de questões de causalidade, também apontam para um tipo de fraqueza como a fonte do terrorismo. Uma idéia dessa literatura é que pobres, de baixa escolaridade, essas pessoas são especialmente susceptíveis a se tornarem terroristas, por estarem desesperados por recursos, status ou poder, não têm a capacidade de utilizar outras estratégias para garantí-los. A evidência para esta afirmação, no entanto, é bastante fraca. Na verdade, como a tese de Crenshaw sugere, muitas pesquisas demonstram que os membros de grupos revolucionários  que praticam o terrorismo são tão prováveis, se não for mais provável, a vir de camadas sociais de elite, assim como de trabalhadores, ou de classe baixa (Krueger e Maleckova, 2003).”

Assim chegamos à primeira conclusão desse artigo: o terrorismo não é uma luta desestruturada e desesperada, muito menos um fenômeno da pobreza. Não há um fator social ou econômico que possa definir por completo a escolha do uso do terror contra populações civis. Não é fruto da ignorância vinda da falta de escolaridade ou de esperanças, quiçá de outro tipo de ignorância.

Vejo como um erro, no entanto, pensar que o Estado de Israel não tem alguma influência na estratégia extrema dos palestinos. Isto é, a repressão israelense seria um fator que impede a mobilização. Importante lembrar que o Hamas foi eleito pelo povo palestino e que, mesmo com independência e liberdade, não encontrou uma nova via de atuação. É um sinal de que a via terrorista é uma escolha moral. Além disso, inúmeras ONGs trabalham livremente na Cisjordânia e em Gaza sem limitações.

Mkhaimer Abusada, cientista político da Universidade Al Azhar (Cairo, Egito), afirma em artigo no New York Times que todas as tentativas do Hamas de conseguir um cessar-fogo duradouro são feitas apenas para se fortalecer, podendo assim tentar a conquista de todo o terrirório em discussão. Haveria interesse na reconciliação?

Com relação ao argumento de que o terrorismo é uma resposta ao terrorismo de estado, não acredito que se aplique ao caso israelense. Primeiramente, porque terrorismo de estado não é um conceito certo para configurar a atuação israelense. O próprio Goodwin prefere não se aprofundar no tema nos artigos citados. Em segundo lugar, as políticas israelenses são guiadas pela vontade de manter a calma e as condições para o desenvolvimento econômico e a maioria dos momentos de tensão entre palestinos e israelenses vieram através do aumento de ataques a civis isralenses. Mais uma vez, a insatisfação palestina infelizmente nunca levou a ações que trouxessem melhorias no processo de paz. “(…) se eles estão respondendo ao terrorismo de estado, por que revolucionários não atingem apenas o estado? Terrorismo de Estado parece ser uma melhor explicação para uma estratégia de guerra de guerrilha (ou convencional) do que para uma estratégia de terrorismo.(Goodwin, 2006, pg. 2035)” O terrorismo seria uma escolha moral e ideológica, mais do que uma escolha estratégica. Fosse ele baseado em objetivos estratégicos, pode-se dizer que não é um objetivo muito eficiente. Ao menos não para as ambições nacionais do povo palestino em um potencial contexto de paz com israelenses.

Fontes:

GOODWIN, Jeff. A Theory of Categorical Terrorism. Social Forces, North Carolina, v. 84, n. 4, p.2027-2046, jun. 2006.

GOODWIN, Jeff. “The Struggle Made Me A Nonracialist”: Why There Was So Little Terrorism In The Aantiapartheid Struggle. Mobilization: An International Quarterly Review, v. 12, n. 2, p.193-203, jun. 2007.

Crenshaw, Martha. 1981. “The Causes of Terrorism.” Comparative Politics 13:379-99.

Turk, Austin T 1982. “Social Dynamics of Terrorism. ” Annals of the American Academy of Political and Social Science 436(1): 119-28.

Krueger, Alan B., and Jitka Maleckova. 2003. “Education, Poverty and Terrorism: Is There a Causal Connection?” Jo. 1997. “Further Submissions and Responses by the African National Congress to Questions

Foto do artigo: Uol

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